quarta-feira, junho 29, 2005

Brilho Eterno de um Mente Sem Lembranças

"Abençoados os que esquecem, porque aproveitam até mesmo seus equívocos".
(Friedrich Nietzsche)

Novamente. Caio no mesmo dilema.
Sem dizer que metade de mim quer
e a outra nega veemente.
Pois, inteiro é algo que nunca fui.


Eu poderia sonhar de forma atemporal.
Mas minhas memória não voltariam atrás
somente com o meu desejo de querer.
Quem sabe, não melhoraria a solidão.

Somente vã memórias que não se vão,
nem com meus gritos, minhas lágrimas
e os pedidos do não sofrer.
Vejam, mais uma vez meu falso teatro.

Porque mesmo a distancia,
ela incomoda meus sentidos
Me despe só com o olhar

O que aflige me no peito,
é a sua falta, que faltava
para completar meu martírio.

Como pode me pedir para esquece-la
se a memoria assim como nosso tempo
não volta nunca mais?

Do tempo perdido ainda não ganho.
Da minha memória que ainda tenho.
Sinto, ainda, que nada foi errado.

Faz frio. E chega uma tempestade,
que se permitirmos, matará tudo
o que construimos: o nosso laço.

Thiago Augusto

Utilidade Pública

Colocarei um trecho de um email que recebi da Kel e que está rolando pela rede:

"Sabemos que sair às ruas é complicado devido a compromissos diários, então estamos propondo que no dia 29/06/2005, QUARTA-FEIRA todos ao saírem de casa vistam camisas/blusas pretas, e se você não tem, amarre um lenço/pano preto no braço ou em qualquer lugar do corpo . MELHOR AINDA: Pendure um pano preto na sua janela em sinal de luto pela morte da dignidade dos políticos."


Pois é minha gente. Eu vou colaborar, e vocês? Parece não ser nada, e se formos analisar, não é mesmo. Mas vamos praticando isso, a internet já revolucionou tanta coisa, quem sabe não conseguimos revolucionar também a maneira de protestar?

Abraços a todos,
Rafael Rodrigues

terça-feira, junho 28, 2005

3 Vozes convida... Arthur Malaspina

Despedida

Entrou no ápice do assunto,
se sentou ao lado da garota,
tez escura, sorriso nos lábios,
um jeito estranho, um tanto nervoso de ser,
lá ao seu lado ele estava,
e lá desejava ficar,
mas um romântico não pode deixar de passar, como um
[vulto vermelho,
pelo mundo,

Ele planejava, uma despedida,
e observava o quanto os separava,
a vontade de viver,
Ele alimentava, e não se bastava mais,
queria mais,
Se espalhar pela metafísica,

Ele a olhava, e se entristecia,
mas quando o olhar desviava,
ele se alegrava e depois se ia,
Mas ele retornava, ao corpo ali no banco,
e ao lado dela ele se transformava,
em um pouco mais do que podia ser,
E quando ela virava e depois sorria,
ele lhe dizia que a queria ter,
mas ela nunca chegou a escutar,
Suas vozes de amor,
mas ela nunca chegou a saber,
O que lhe movia,
a ser,
e não mais ser,

E ele tomou coragem,
e se levantou,
Sem dizer palavras, ele a beijou,
e saiu correndo, e não retornou,
e ela nunca soube,
e nem ele mesmo chegou a saber,
como veio a se consumir,

E ela, com as chagas abertas,
um beijo que não cicatrizou,
E ela que nem mesmo soube,o vendaval que o levou,

Arthur de Oliveira Malaspina
(26/07/04)

* Natural de Itápolis, Arthur Malaspina tem 19 anos e é estudante de Letras na UNESP.
Abaixo link para o seu blog.

segunda-feira, junho 27, 2005

Noite de Natal

José abriu a geladeira, tirou uma cerveja e foi para a sala se sentar. Aconchegou-se em seu sofá marrom surrado e abriu a lata enquanto procurava pelo controle remoto. Ligou a TV e passou os canais, nada interessante, ficou com o jogo do Vasco.

Seus olhos estavam na televisão, mas seus pensamentos voavam e logo se assustava com um grito do narrador dizendo que quase saíra um gol do time adversário, isso despertava seus grandes olhos castanhos escuros e o franzia a testa em tentativa de se concentrar novamente.

Não sabia se o incomodava mais o barulho dos carros que cortavam a avenida em frente ao seu pequeno apartamento ou o silencia ensurdecedor desse feriado que o fazia se perder em seus próprios pensamentos. Era Natal e ele estava só, tinha parentes, mas não os queria visitar, o que dizer do rumo que tomou sua vida? Como contar que tinha vergonha de passar o quinto feriado sem apresentar nenhuma namorada ou mesmo namorado que fosse, sem uma satisfação. Era só, por opção talvez, medo, fraqueza.

Estava cansado daqueles pensamentos, não era seu hobbie mais interessante ficar amargurando erros, arrependimentos. Embora não agüentasse mais se ver sozinho, perdido, não suportava pensar em seus erros cometidos, nos amigos perdidos, nos amores que nem chegaram a ser amores, na sua vidinha vazia, inútil, sem sentido.

Foi na farmácia do apartamento, procurou os frontais que o psiquiatra passara para ajudar em seu sono, os havia comprado no dia anterior, queria ter o suficiente para as festas que seriam os dias que mais precisaria de um sono firme.

Deitou-se em sua cama e novamente vasculhou sua secretária eletrônica para ver se haviam mensagens, nada... pensou em escrever uma carta, mas para quem mandaria? Para os amigos que magoou? Não, era orgulhoso demais para isso. Para os pais que o encorajaram a estragar sua vida? Não, era passivo demais para isso também. Foi no computador checar seus e-mails, apenas mais e-mails de estranhos que o queriam adicionar no orkut, nenhum e-mail que gostaria de receber, quem não retribuía dificilmente achava uma fonte que jamais secasse sem ser reposta, não desligou seu PC, apenas voltou à cama para tentar dormir.

O silêncio voltava para o atormentar e o José não suportava mais o maldito silêncio, queria que ele se calasse. Ligou o som de uma banda qualquer, daquelas que falam de carros e mulheres gostosas em festas cheias de amigos e com muita bebida, tomou dois frontais, abriu sua caixa de sapatos e colocou o conteúdo na seringa esperando o sono chegar. Ao sentir-se mais sonolento tomou mais dos calmantes, a caixa inteira pra ser exato e tomou a picada do mosquito vermelho.

O silêncio não incomoda mais o José nos dias de Natal, ele tem novas companhias, pessoas de várias idades e sexos, todos são silenciosos, mas nunca solitários. Lá ele jamais ficará só de novo.



Eduardo Leite

domingo, junho 26, 2005

Ezequiel - II

* Bem, aconteceu meio sem querer. Sem alguma intenção criei esse personagem. E já que dei início, vamos ver onde vamos parar. Eu e ele. A coisa está sendo escrita em tempo real. Ou seja, as atualizações na história do Ezequiel só acontecerão quando eu me sentar para dar continuidade ao escrito. Tentarei fazer isso se não diariamente, pelo menos de dois em dois dias. Exceto nas terças feiras, quando temos o 3 Vozes convida. Enquanto "Ezequiel" não for acabado, não postarei outro escrito meu aqui.

“I can hear you cry…” dizia um dos versos da música que Ezequiel estava ouvindo. Se eles prestassem atenção poderiam ouví-lo chorar. Se parassem de discutir por bobagens. Bobagens inventadas. Merdas.

Ezequiel chorava como um bebê. Clichê maior não poderia ser. Chorava de soluçar. Apesar de acostumado com aquilo, não conseguia acreditar no que estava acontecendo: seus pais aos tapas em plena madrugada.

A voz masculina, grave, como sempre. A feminina, aguda, de fazer doer os ouvidos.

Ele chorava, mas chorava de raiva. Ódio. Amor ao contrário. Ou seria mesmo amor? Afinal, amava seus pais. Chorava porque os amava e não queria estar ouvindo aquilo mais uma vez, ou chorava porque os odiava por mais uma vez fazê-lo presenciar aquilo?

Tanto faz. Saber a resposta não o ajudaria em nada.


Continua...
Rafael Rodrigues

sábado, junho 25, 2005

Ezequiel - I

Já eram mais de três horas da manhã. E ele continuava acordado. O motivo não poderia ser mais simples: havia dormido a tarde inteira. Gastou todo seu sono em algumas horas.

Sabia que deveria tentar dormir mesmo assim. Estava prolongando a sua ida para o quarto não sabia muito porquê. De frente para a tela do computador procurava o que fazer, o que ler. Não havia nenhum amigo virtual para conversar. Estava só.

Sua idade? Vinte anos. Seu nome? Ezequiel. Atividades: estudante de direito. Talvez isso bastasse para descrever o personagem dessa história. Mas não basta.

Ezequiel não é um jovem normal. Seu passado o perturba e o condena a um futuro que também o condenará quando for passado. Seu presente é uma caixa de bombons barata dos quais ele não gosta.

Quando criança viu coisas que não queria ter visto. E não consegue esquecê-las. Ezequiel poderia tornar-se um psicopata. Desses que entram em cinemas e atiram em todo mundo. Clichês. Ezequiel detesta clichês, apesar de ser um. Mas entre ser um clichê gritante e ser um clichê normal – como todos são e por todos serem ninguém nota – ele prefere a segunda opção.


Continua...
Rafael Rodrigues

sexta-feira, junho 24, 2005

Desejo

Ela me conhece desde pequeno. Não lembro ao certo com que idade a vi pela primeira vez, mas creio que foi por volta dos meus cinco anos.

Filha de uma vizinha, ela ajudava minha mãe nas atividades domésticas. Família simples, gente honesta. Era como minha irmã de criação.

Sempre que podiam, meus pais ajudavam a sua família. Uma mão lava a outra, e não sei quem lavou a de quem primeiro. E isso pouco importa.

Importam apenas as lembranças que tenho dela. Lembro de ela me dando banho. Brincando comigo. Fazia minha janta e comia comigo vendo tv. Com o passar do tempo, essa mordomia acabou. Eu estava crescendo. E outras coisas também.

Ela também crescia. E eu começava a vê-la não como irmã de criação, e sim como mulher. Certa vez vi seus seios. Ela estava passando roupas e abaixou-se para pegar algo, não lembro ao certo - e não importa. Foi a primeira vez que me senti homem.

Pensando que a vida era como nos filmes e novelas, achei que fosse me iniciar sexualmente com ela. E como eu queria aquilo. Aquela morena de coxas grossas e seios firmes era a mulher mais bonita que eu já havia visto. Eu não conseguia mais disfarçar meus olhares para suas formas abençoadas.

Mas nada aconteceu. O tempo acabou por nos afastar. As obrigações do dia-a-dia (ela, mulher, começou a trabalhar, pensava em casar, eu, homem feito, comecei a trabalhar, e jamais pensei em casar, primeiro estudar) se colocaram entre nós. Além disso, ela sempre me viu como um irmão.

De todos os anos de convivência ficou apenas o desejo. O meu desejo.

Uma voz

quinta-feira, junho 23, 2005

Arbítrio

- Está bem, está bem. Eu vou . Mas espero voltar logo. Não faça cerimônias para me mandar. Já que tudo se encaminha para esse lado. Concordo com você. Irei o quanto antes. Não levarei nada. Lá tudo se consome, não é mesmo?
Por acaso faz alguma idéia de como é? Além do obvio que todo mundo já sabe. Certo. Então você só é o porteiro, de fato nunca entrou pra conhecer.
Mas que bom que há volta. Algumas escrituras e vários fofoqueiros dizem que não há. Ou estou enganado? Ah, não sabia disso. São círculos então. E pra onde vou é um sub-circulo. Está explicado. Não é propriamente o lugar. Irei dizer que é um tipo mais leve. Sem aquelas pregações de ódio mortal e dor.
É raro irem por espontânea vontade como eu? Verdade? Sabe, eu pensei da seguinte maneira. Pouco a pouco eu me sinto cada vez mais próximo. Levemente com uma moeda aqui, uma lasca mais adiante, como metáforas e luzes que não funcionam mais. Quando descobri que essa estranha possibilidade poderia acontecer. Pensei "Não devo ter mais nada a perder, porque não?" e claro se voltar posso dizer com muita honra a todos que me confrontarão nesses anos próximos que sim, fui e enquanto todos vocês só lêem a respeito eu fui até lá. E voltei.
Será que marca alguma coisa? Espero que não fique em meu rosto. Sei que não interessa. Mas eu gosto do meu rosto. Ele ainda consegue ser jovial. Não condiz com seu interior. É bom ao menos para manter seu espelho perante os outros.
Você fica muito sozinho aqui? Imaginei que não. Embora me disseram que isso é para poucos. Que? Ah sim, só a volta é para pouco né. Tenho que concordar com seu comentário. Mas acredito que fará bem para mim. Talvez eu seja muito niilista mas será mesmo necessário fechar os olhos para enxergar com mais luz na próxima abertura? Às vezes desconfio dessas parcas teorias. Os filósofos não dizem nada que eu não possa dizer também. Verdade que pensa assim? É bom saber que compartilha da mesma linha de idéia que eu.
Me diga uma coisa, como se consegue um trabalho desses? Você me parece uma boa pessoa. Achei que aqui iria encontrar um jovem Frankstein. Desfigurado e talvez até mórbido. Mas creio que exagerei em minha imaginação. Claro que sim, fique a vontade para contar o que quiser.
Um padre? Nossa, parece uma história daqueles livros de bolso dos anos 80. Chega a me dar um certo arrepio. Não acredito muito nessas coisas. O que é estranhamente paradoxal. Se não acreditasse, não estaria aqui, certo, meu amigo porteiro?
Acho que meu relógio parou. Não me venha com histórias. O tempo não pode parar em nenhum lugar. Ele sempre é constante e envelhecedor.
Cheguei cedo demais não é? Vim só para averiguar. Saber como funciona. Mas você é um bom vendedor. Me convenceu de primeiríssima. Estou até animado. Sem receio nenhum. Ciente de tudo que irá acontecer.
A neblina está se mexendo? Está chegando. Que ótimo. Me diga, piora até lá ou o caminho já machuca? Ao menos um pouco de calmaria. Sim, concordo, a calmaria antes da tempestade.
Acredito que ficará solitário agora. É para poucos, mas não imaginava que era tão poucos assim. E pelo movimento da neblina a frente de nós parece tão grande.
Então quer dizer que existem muitos lugares e esse é um dos últimos... É, faz sentido ter só eu aqui na espera. Ele encosta? Faz alguma alguma pausa? Ou tenho que ir rapidamente ao encontro? Certo.
E meu maço de cigarros eu... Tenho que deixar aqui mesmo? Porque? Hum... Evitar válvulas de escape né... Concordo. Mas o que no final se ganha com isso? Além dessa fração exorbitante que não está mais em meus bolsos? Ah, não se ganha com o que volta e sim com o que fica.
De fato se torna algo sem preço comensurável.
Bom colega, acredito que finalmente é hora de dar alguns passos adiante.
Foi um imenso prazer dividir esses escassos minutos com sua presença, agradeço por suas informações que mataram um pouco minha curiosidade. E por favor, você fuma? Então fique com os meus cigarros. Só tinha pego dois ou três, os outros estão intactos.
Muito obrigado amigo, você é cordial assim com todos? Que bom que gostou de minha presença, perdão se falei demais, esse meu jeito chega a incomodar.
Foi justamente o que pensei, que talvez você ficasse sozinho aqui. Achei que um pouco de conversa não faria mal. E sinceramente não fez.
Um aperto de mão e até amigo. E assim como você disse, espero que em breve eu esteja pisando por essa área.
Chego até ousar a prometer que voltarei aqui, não para ir de novo, mas para lhe dar um aperto de mão sincero. Obrigado.

E finalmente embarcou. Examinava rapidamente o que estava ao seu redor. Era possível perceber que estava levemente inquieto.
O Velho porteiro ainda tinha a navegação em seu campo de visão, ainda era possível visualizar no convés o colega que minutos atrás aquecia sua noite com palavras dispersas.
De longe, sendo abraçada pela neblina, a embarcação caminhava. Não era possível saber se para leste ou oeste, norte ou sul.
Mesmo estando quase encoberta pela noite. Ainda conseguia se ler o nome da condução. Escrito em amplas letras pálidas. "Barca Do Inferno" marcava sua lateral.

Thiago Augusto
(15/07/04)

terça-feira, junho 21, 2005

3 Vozes convida... Marcelo Barbão

A morte da literatura

Ontem, a noite foi de sofrimento e angústia. Olhava minha mesa, meus cadernos, meus escritos e a vontade era jogar tudo pela janela. Minha cabeça doía, meu estômago doía e a única pessoa que me observava, meu gato, não tinha respostas para nenhuma das minhas perguntas.

Quase desisti, pensei seriamente em deixar de escrever e virar apenas tradutor. Eu adoro traduzir. Dormi, desmaiei perdido, confuso, enfermo. Acordei de madrugada, fiquei andando pelos corredores de meu apartamento. Na verdade, caminhava indo e voltando pelo mesmo corredor já que só tenho um em casa. Li, enquanto andava sem destino. Arrotei tudo de ruim que tinha ingerido naquele dia.

Quando olhei novamente para minha mesa, meus cadernos e meus escritos, tudo fez sentido de novo. Eu sabia que a literatura de histórias estava morta e que havia perdido tempo com ela. Eu sabia que meus escritos não poderiam sair de minha cabeça como meras histórias. Então, tudo ficou claro, apesar de ser uma noite sem estrelas.

Quero continuar a escrever, mas não quero contar histórias, quero fazer literatura. Minha opinião? O cinema e a televisão contam histórias de uma forma muito melhor que a literatura. E a maioria dos escritores, hoje em dia, não escreve mais com palavras, mas com imagens. Não quero isso pra mim e condeno quem o faz (sim, não quero ser politicamente correto).

Literatura experimenta, literatura modifica a forma, literatura mexe com o tempo e a estrutura. Literatura só conta histórias interessantes quando esse não é o seu fim único. Para ser mais radical ainda, se a história permanece boa quando lida em voz alta, então o escritor não foi ao extremo nas possibilidades de criação. Sou radical mesmo, não quero escrever para leitores mesmo, não quero escrever coisas simples mesmo.

Se o texto sai fácil, não me interessa. Isso vai me levar a muito sofrimento? Não tenho nenhuma dúvida. Que vou escrever muitos outros posts sobre noites em que quase queimo tudo o que escrevi? Outra certeza. Que isso vai valer a pena quando (e se puder) olhar para trás? Mais uma certeza.

Agora, preciso re/de/formar algumas coisas que tinha escrito. É na forma que se esconde a salvação da literatura.

* Marcelo Barbão não é um dos integrantes do Los Hermanos. Ele é jornalista, escritor, editor, e entre outras coisas é também fundador da Amauta Editorial. Abaixo links para seu blog e para o site da Amauta.

http://www.gardenal.org/barbao
http://www.amautaeditorial.com

Esquecer

Eu sei que você anda olhando nosso email. Te conheço. Sei que não param de chegar aquelas mensagens automáticas que só servem para entupir a caixa de entrada e é você quem as deleta.

Sei também que você pergunta por mim através dos outros. Afinal, como é que depois de tanto tempo sem falar com a chata da Raquel - sua amiga e colega de departamento - ela me manda um email perguntando como estou? Com certeza foi pedido seu.

Não respondi. Não quero que você tenha notícias de mim. Isso soa ridículo, pois semanas depois do email eu liguei para você. Queria conversar, queria te ter de volta pra mim. Queria que tudo voltasse a ser como antes. Bem, quase tudo.

Queria mesmo era que você deixasse ela. Essa quarentona - à beira dos cinquenta - decadente que você sustenta. Vocês ainda fazem sexo? O nosso era tão bom...

Você não é o tipo do homem que as mulheres procuram. Mas pra mim você era perfeito. Está certo que brigávamos muito. E muitas vezes por culpa minha. Pare e pense: é fácil ser a outra? Coloque-se no meu lugar. Nos víamos todos os dias, mas só realmente nos víamos durante algumas horas das sextas feiras. Aquelas que tanto eu quanto você tinham furos nos horários de aula.

Falando nelas, você me ensinou muita coisa. Tanto nas suas aulas, que eu assistia sempre atenta, quanto naquele quarto de hotel de sempre. Só não me ensinou como esquecer você depois que tudo acabasse.

E acabou. Você passou a me tratar como uma puta. E isso eu não sou. Não sou qualquer uma. Me apaixonei por você, te amei. E não quero isso pra mim. Não quero que um idiota como você me diga o que fazer ou não.

De hoje em diante você não é mais nada pra mim. Eu me declaro independente de você. E agora o que mais quero é te esquecer.

Rafael Rodrigues

segunda-feira, junho 20, 2005

Junho



Artista: Kid Abelha
Álbum: Autolove
Título: Maio


maio
já está no final
o que somos nós afinal
se já não nos vemos mais
estamos longe demais
longe demais
maio já está no final
é hora de se mover
pra viver mil vezes mais
esqueça os meses
esqueça os seus finais
esqueça os finais
eu preciso de alguém
sem o qual eu passe mal
sem o qual eu não seja ninguém
eu preciso de alguém



Não sei porque às vezes me identifico tanto com músicas, geralmente pode-se perceber como está meu ânimo ou estado pelas músicas que ando escutando, e ando escutando muita coisa sobre intensidade, o viver intensamente, o amar intensamente, simplesmente.


Essa música em particular, apesar de ser uma banda bem pop que muita gente diz que a cantora não é assim tão cantora(que é bem verdade), mas o que importa é que de vez em quando o pop acerta, e acerta bem em cheio o ego, no momento frágil, no momento de relaxamento, no momento de diversão e essa falou bem quando diz: "eu preciso de alguém sem o qual eu passe mal sem o qual eu não seja ninguém eu preciso de alguém ".


Não sei bem se preciso de alguém, o envolver-se com alguém não tem me sido uma boa experiência so far, em grande parte minha culpa, mas malditas músicas de vez em quando me fazem refletir e imaginar um alguém pra ver a lua cheia qualquer noite numa praia, pra deitar no colo e sentir a mão escorregando pelos cabelos enquanto embala uma canção qualquer, um realmente se preocupar com você, querer te ver bem e perceber no olhar tua real situação, o fazer questão de estar contigo, conhecer o corpo inteiro até de perceber uma estria a mais, acho que fui bem claro no quesito de realmente conhecer a pessoa por completo, de viver, acho o melhor pra se fazer em dois, coisa difícil de se achar num mundo onde cada vez mais nos centramos em nós mesmos, nos nossos defeitos e limitações ao invés de nas possibilidades... elas são tantas...


Talvez tenha medo de nunca viver nada intenso de verdade por culpa minha, outra vez ou de simplesmente ser um romântico incorrigível no caminho da mais dura das descobertas, a de que viver em si seja uma utopia.


Eduardo Leite

domingo, junho 19, 2005

err



Bem... Hoje quero falar de um assunto bastante sério!!!
Depois dos inexpressivos lançamentos de Tim Burton pro cinema baseado nos quadrinhos e assim falo de Batman e Batman Returns que mais pareciam continuações de seu clássico Edward Scissors Hands inclusive com direito àqueles corais quando a mulher gato vai voando por Gotham enforcada pelo guarda-chuva do Pingüim e o Bruce Wayne, aquele ninfomaníaco inexpressivo também... Argh! Sem contar com as tentativas de Joel Schumacher(sei lá como escreve) lançando O Batman Val Kilmer e posteriormente o mais ridículo, o Batman George Clooney com direito a Batgirl sobrinha de Alfred(ai que dor no estômago).


Mas alegrai-vos, talvez o melhor filme baseado em quadrinhos já lançado... é assim o Batman Begins... nussa!

Eu parecia uma criança no cinema, vibrando com cada cena... caraca! Tudo bem, ele voa pela cidade, o que seria "explicável" pela tecnologia, mas se fosse mais fiel aos quadrinhos a gente ia ter que folhear uma página gigante no cine... tudo bem que eu odeio essas armadilhas, dá a impressão que o cara é um robocop(ele tem que virar o corpo inteiro pra olhar pros lados rs), e os closes são muito de perto nas horas das lutas pra não mostrar que não treinaram o Chris pra lutar como fizeram com o Keanu, mas foda-se... o filme tem roteiro, tem surpresas, tem ele como detetive, valeu cada centavo!!

O que tem a ver eu falar de filme nesse blog? Não tem nada a ver, mas o filme merece porra! É muito maneiro! x) Assistam e comprovem :P

Abraços

Eduardo Leite aos 7 anos

sábado, junho 18, 2005

Palavras esquecidas

* Texto escrito há bilhões de anos atrás.

Tenho a incrível – porém dispensável – facilidade de elaborar textos fenomenais (onde está a modéstia?) quando estou andando por aí. Indo ao centro da cidade resolver algo, voltando da faculdade para casa, ou ainda... Bem, não importa.

Dar-lhes-ei um exemplo. Dia desses, no trajeto casa-shopping, elaborei uma bela crônica, modéstia à parte. Isso seria ótimo se minutos depois eu não esquecesse completamente de tudo o que havia pensado. Eis aqui o porque de isso ser dispensável.

Frustrante. Assim defino o pensar em um bom texto para esquecê-lo em seguida. Fica aquela sensação de que era realmente uma idéia boa. Passo horas tentando recuperar fragmentos perdidos, sem sucesso. Acabo não lembrando de nada.

Um dia, indo para algum lugar, já à noite, veio em minha mente um poema. Deveria ser dos bons, pois lembro que pensei até em parar no meio do caminho e escrevê-lo em algum lugar, nem que fosse num muro qualquer. Infelizmente o horário não permitia tal luxo – seria arriscado parar numa hora daquelas. Resultado: esqueci o poema. Lembrei de alguns versos e tentei com eles escrever algo de bom. Pra variar, não consegui.

O meu consolo é que, pelo menos, dessas situações eu não tenha perdido tudo. Afinal, delas surgiu esse texto que, aliás, termina agora.



Rafael Rodrigues

sexta-feira, junho 17, 2005

Versão livre

* Esta é uma versão livre - por assim dizer - da música "Every Day Is Exactly The Same" da banda de rock Nine Inch Nails. Explico: fiz uma tradução ao pé da letra incluindo trechos que elaborei enquanto traduzia. Claro que têm a ver com a letra. Para verem a letra em inglês, acessem o seguinte link:

http://vagalume.uol.com.br/letra/n/nine-inch-nails/every-day-is-exactly-the-same.html


Todo dia é a mesma coisa

Eu pensei que pudesse ver o futuro. Assim como vivo a minha rotina. Coisas que se faz inconscientemente. Pensei que pudesse ver o futuro.
Pensei que tivesse algum propósito, algum lugar para chegar. Mas parece que eu estava sonhando.
Pensei que tivesse voz, mas agora vejo que nunca produzi sequer um som.
Eu só faço o que me mandam. Já chega!
Eu não quero que eles voltem aqui de novo.

Todo dia é exatamente igual.
Todo dia é exatamente igual.
Não há nem dor nem amor aqui.
Todo dia é exatamente igual.

Eu posso sentir os olhos deles me observando/ Em caso de eu me perder de novo. Me sinto acuado. Me sinto humilhado. Como se eu não pudesse dar conta de mim mesmo.
Às vezes acho que não posso. Mas não quero que eles voltem aqui de novo...
Às vezes acho que sou feliz aqui. Às vezes ainda pretendo ser.
Eu não consigo lembrar como isso começou/ Mas eu sei exatamente como isso vai acabar.

Todo dia é exatamente igual.
Todo dia é exatamente igual.
Não há nem dor nem amor aqui.
Todo dia é exatamente igual.

Escrevo em um pedaço de papel. Se alguém chega perto, o dobro e escondo. Espero que algum dia você o encontre. Vou escondê-lo atrás de algo/ Onde eles não possam ver.
Eu continuo aqui dentro/ Com meus pensamentos pequenos/ E minhas ações controladas. Eles continuam lá fora: Com seus pensamentos mesquinhos/ E suas atitudes egoístas.
Eu queria que isso pudesse ser de um outro jeito...

Todo dia é exatamente igual.
Todo dia é exatamente igual.
Não há nem dor nem amor aqui.
Todo dia é exatamente igual.

Rafael "Reznor" Rodrigues

quarta-feira, junho 15, 2005

Cores Primárias

*Música composta a alguem que ainda não ouviu por completo esta melodia. E só apreciou essa canção em pequenos fragmentos ao telefone.

Eu vou pintar em duas cores
uma canção policrômica
Um retrato em technicolor
Inspirado em uma aquarela

Vou transformar em melodia
seu sorriso dia a dia
E quando o céu decidir chorar
cantando essa harmonia para ver raiar

Eu vou desenhar em vários laços
seu nome com uma canção
Para caso um dia eu me distraia
e não esqueça que está no coração

Assobiar em branco e preto
sua canção favorita
Escrever em tons pastéis
um mar de rosas e ardor
Só para pintar de várias cores: com seu nome
- Amor

Thiago Augusto
(06/11/04)

Sobre o tempo

"Será que poderia morrer hoje e dizer que valeu à pena? Será que você poderia dizer isso?"

As perguntas feitas pelo Dudu no texto anterior me deixaram inquieto. E eu não posso respondê-las agora. Não quero. Eu não quero respondê-las com um "não".

Não que minha vida não tenha valido a pena. (Este é um texto escrito de improviso e apressado. Não esperem nada de mais.)

Nesses meus quase 22 anos eu fui um dos melhores alunos das classes por onde passei - até a oitava série, depois disso me tornei um grandessíssimo vagabundo -, fiz um número considerável de viagens, conheci muitas pessoas, fiz e perdi muitos amigos. Mudei bastante. Sou muito tímido, mas já fui bem mais. Tomei vários porres. Beijei mulheres das quais não lembro a face. Pulei o muro de casa diversas vezes. Sóbrio e embriagado. Li "Crime e castigo". Me apaixonei por literatura.

Ignorei a Igreja, sem jamais esquecer de Deus. Já briguei com Ele e fiz as pazes.

Decepcionei meus pais. Mas também dei algumas alegrias. Faço um curso que não é exatamente o que quero, mas que me fez abrir caminhos e percorrer novas estradas. Conheci novas pessoas. Ampliei meus horizontes.

Tento ser escritor. Já fui elogiado. Já fui xingado. E eu nem sou nada. Não tenho nada publicado. Não sei porque se dão ao trabalho de me xingar. Já recebi livros autografados do Fernando Sabino e do Marcelino Freire. Tenho um professor que é escritor e considero como um amigo, Mayrant Gallo. Conheci o João Filho. Troco emails com dodô azevedo, Augusto Sales, sou amigo da Crib Tanaka. Não ligo se não os conhecem. Vão ouvir falar deles, mais cedo ou mais tarde.

Já chorei por amor. Hoje em dia choro apenas com filmes. Meu coração era mole feito gelatina. Hoje ele é duro e frio.

Em contrapartida, nesses quase 22 anos eu não fiz nada de importante. Não há um legado. O tempo urge, eu sei. Já estamos no meio de 2005. Ele é o meu maior inimigo. Paciência. Tenho de conviver com ele. Ganhar sua simpatia.

Mas também, pra quê ter pressa? Tenho toda uma vida pela frente. E não sei o que está por vir. Tudo pode acontecer.

Rafael Rodrigues

terça-feira, junho 14, 2005

O que conta

Não é o tempo que conta, pelo menos não a quantidade, mas sim a qualidade
Contam os momentos, as barreiras ultrapassadas, as novas descobertas
Conta a profundidade, o conhecimento
A preocupação, não exagerada, na medida certa
Um mês pode soar como 30 dias apenas
Mas esses 30 dias podem dar sentido a uma vida
A vida em si deve ser vivida com qualidade, não necessariamente com quantidade
70 anos podem soar como uma tortura
E 20, apenas, como uma bênção, se bem aproveitados
Dois serem um é um prazer experimentados por poucos
Talvez os que vivam isso não queiram dividir com os reles mortais
Mas talvez, ainda, não seja por egoísmo apenas
Vai ver que como certas coisas na vida
Esse prazer não possa ser descrito
Nem que o dicionário tivesse milhões de palavras e o alfabeto 500 letras
Simplesmente é indescritível
Assim como o beijo esperado, desejado
Assim como dois serem um
Certas coisas na vida não se descrevem
Ah! Essa vida, cheia de surpresas
Cada dia uma surpresa
Tem que fazer valer cada dia
Já que o próximo é incerto
Será que poderia morrer hoje e dizer que valeu à pena?
Será que você poderia dizer isso?


Eduardo Leite

segunda-feira, junho 13, 2005

Me and You

("You" também deve se lembrar disso)


"O Amor que chega sem dar aviso, não é preciso saber mais nada." Zeca Baleiro in Quase Nada

Eu e ela sentados no banco da praça. Quando vejo se aproximar um homem com algumas coisas na mão.
- Mas veja só o casal apaixonado - E se ajoelha perto de mim.
- Olha aqui amigo - E me mostra flores. De plástico. Que não morrem. - Você não quer comprar uma dessas?
Olhei por alguns segundos as flores, percebi que vinham acompanhadas de um versinho feito a mão. Provavelmente improvisado pelo vendedor horas antes de sair de casa.
- Eu não quero não, muito obrigado. Primeiro que - e talvez quase utilizei uma frase comum - essas flores realmente não se comparam a ela.
E antes de terminar minha frase, ele ainda tentou mais uma investida. Mas insisti.
- Eu sou poeta, meu amigo, ela sabe - e a fitei - que meus versos são pra ela.

Murmurando um "tudo bem", o vendedor saiu desolado. Continuei por alguns instantes em silêncio. Depois não resisti e perguntei a ela:
- Ele realmente estava achando que eu ia comprar uma daquelas flores? Ele realmente tinha esperança disso?

Pois ainda prefiro as flores de verdade. Elas combinam bem mais com borboletas.

Thiago Augusto

3 Vozes convida... Cássia Matos

Lágrimas

Lágrimas que caem dos olhos,
pingos de esperança que caem no chão.
Lágrimas que esperam uma resposta,
demonstrando a quem se gosta.
Pena, foram choradas em vão.


Cássia Matos
(07/07/00)

Veja mais de Cássia Matos em 5 Minutos

Mural De Recados

Olá leitores.

Três Vozes lança seu "Mural De Recados" trazendo novidades:

- Estamos iniciando uma nova seção chamada "3 Vozes convida...'.
Uma participação especial a cada semana com um convidado diferente. Serão poemas, contos, crônicas - palavras, enfim - de amigos, conhecidos ou pessoas que admiramos.
Ainda não somos um blog pop, mas acreditamos que nossos leitores merecem ter o prazer de conhecer novos escritos de pessoas diversas e quem sabe assim ampliar seus horizontes literários. Mesmo que em fins de semana.

Agradecemos as suas visitas. E continue sempre nos visitando. E já sabem, Se gostarem de nós, passem pra frente.

Obrigado,
As Vozes

domingo, junho 12, 2005

Letícia

*texto escrito há séculos atrás

Seu nome, Letícia. Tinha quase a mesma idade que eu - apenas alguns anos mais nova. Do tipo de pessoa que todos elogiam, todos gostam. Todos gostavam de Letícia. Sempre muito bondosa e generosa, ela procurava ajudar a todos da melhor maneira possível.
Ela ouvia a todos. Dava conselhos, apoio, ânimo. Era por isso que todos gostavam de Letícia. Ela estava sempre com um grande e lindo sorriso no rosto. Sua felicidade contagiava todos à sua volta. Talvez por isso, apaixonei-me por Letícia.
Além de ser uma pessoa sem igual, ela era linda. Se Letícia não fosse tão boa pessoa, certamente teria problemas devido a inveja que causaria às outras garotas que lhe rodeavam. Felizmente, isso não acontecia. Letícia era unanimidade. Letícia causava admiração.
Seu cabelo com cachos castanhos, seus lindos olhos negros, suas mãos tão delicadas e belas... Ah!, como eram belas as mãos de Letícia! Ela me deixava completamente hipnotizado. Certa vez, havia um lindo e maravilhoso cílio caído em sua face, ela então pediu:
- Sopra...
Eu ouvi:
- Beija...
E beijei-a. Assustou-se com minha ousadia, mas não tive culpa. Letícia foi e continua sendo o amor de minha vida.
Na verdade, nunca realmente conheci Letícia. Não sei se ela existe. Sei que existe dentro de mim, em meu coração, em meus sonhos e em meus pensamentos.

Rafael Rodrigues

sábado, junho 11, 2005

Hoje...

Sem palavras. Sem espetáculos. Sem caminhos já previstos.

Foi. Aconteceu. Tão rapido que eu nem compreendi.

Estranho. Abstrato. Surreal. Foi como me senti.

Sozinho. Como terminei essa canção.

Thiago Augusto

Preparação Dia de Santo Antônio

"Solitary trees, if they grow at all, they grow strongest" Sir Winston Churchill

" Amor é uma mistura de alegria, medo de paz por um lado e ameaça de guerra por outro. É pensar que felicidade tem nome e endereço, é temer não estar à altura. É sofrer tanto quanto querer" Desconheço autor


"Ainda que eu falasse a língua dos homens.
E falasse a língua do anjos,
Sem amor eu nada seria.

É só o amor,
É só o amor.
Que conhece o que é verdade.
O amor é bom, não quer o mal.
Não sente inveja ou se envaidece.

O amor é o fogo que arde sem se ver.
É ferida que dói e não se sente.
É um contentamento descontente.
É dor que desatina sem doer.

Ainda que eu falasse a língua dos homens.
E falasse a língua dos anjos,
Sem amor eu nada seria.

É um não querer mais que bem querer.
É solitário andar por entre a gente.
É um não contentar-se de contente.
É cuidar que se ganha em se perder.

É um estar-se preso por vontade.
É servir a quem vence, o vencedor;
É um ter com quem nos mata a lealdade.
Tão contrario a si é o mesmo amor.

Estou acordado e todos dormem
Todos dormem, todos dormem.
Agora vejo em parte.
Mas então veremos face a face.

É só o amor, é só o amor.
Que conhece o que é verdade.

Ainda que eu falasse a língua dos homens.
E falasse a língua do anjos,
Sem amor eu nada seria." I Co 13, Camões em Monte Castelo - Legião Urbana

"Melhor estar completamente só, mas sem os arreios que te impedem de sonhar encontrar algo ou alguém que estar acompanhado e mesmo assim sentir-se completamente só amargando a frustração em dobro." Eduardo Leite

Feliz Dia dos Namorados! (amanhã)

sexta-feira, junho 10, 2005

Espaços em Dó Maior

(O autor deixou esse espaço para iniciar uma introdução. Mas seu pensamento já estava longe demais do seu próprio inicio e as dores já o tinham coberto com tanto desprezo que nem ele próprio conseguiu recordar suas próprias palavras)

E confesso que às vezes penso em abandonar a pena. Mas talvez seja exatamente minhas palavras o único gesto que tenho. E - quase como uma prostituta - as vendo para qualquer um que queira ler.

Pensaria em fumar se gostasse disso, - só para ter o sabor masoquista de sentir meus pulmões sendo agredidos pela droga. Poderia talvez fazer uma sangria como em tempos antigos. E deixar o sangue quente e ruim escorrer fora de minhas veias.

Há momentos que penso em contar toda minha vida no papel. Expor cada personagem para no final, no grande ato, eu declarar todos meus defeitos. E talvez me sentir inebriado pelos aplausos achando que talvez meus desafetos possam ter valido alguma coisa.
Então esqueço disso tudo, já sabendo que talvez meu fluxo de consciência seja tão igual quando a estética de tudo aquilo que chamo de minha arte.

No final, ser estúpido, sem retórica e sem necessidade me soa mais belo do que ser o que poucos homens são. Já que meu estado e meus pensamentos agora me transformam em alguém a procura de uma explicação que talvez nem exista. E que ainda assim meu coração insiste em procurar.

Essa descoberta que nasce ao perder a ignorância é uma prisão sem barras que massacra nosso coração que não pode localizar a dor. E minhas várias palavras soam ridículas ao saber que muitos já sentiram a mesma catarse que sinto agora.

O mundo continua não sendo cruel e nem vil. O que insisto em perguntar é saber o que fizemos. E ainda me perco olhando o vazio indagando a mim mesmo "o que eu fiz?".

Peguei a felicidade, arma quente com pólvora de sangue, e apertei o gatilho. Atirei na razão. Que se multiplicou e transformou-se em minha loucura mas não me faz babar pelos cantos. E dela nasceu o labirinto que hoje estou.
Os fios são do móbile que eu mesmo me tornei, que assim como o autor dessas palavras se agita em meio a um furacão.

Voltei a minha introspecção e tenho pena dela. Eu escrevo só por minha própria compaixão mas já me disseram que os escritores escrevem só para si mesmos.

(O autor queria finalizar de uma forma completa que soasse um texto reflexivo a quem o lesse, porém, em seus pensamentos já não mais existia espaço para qualquer poética e ele acabou por deixar o escrito aos meios e mandou para a tiragem inicial).

Thiago Augusto

O tempo e o artista - Final

III

a palavra não vem

pensa
pensa
pensa
pensa
e a palavra não vem

nunca
nunca
nunca
nunca
nunca

Arnaldo Antunes

(por Thiago Augusto, 08/03/2004)

quinta-feira, junho 09, 2005

Reinvento

Eu vou e volto.
Subo e desço.

Invento.

Tenho toda a liberdade
Pra fazer e desfazer.
Construir e destruir
Tudo o que quiser.

Mato e desmato.
Faço sumir e aparecer.
Eu faço o que quiser.

Eu sou um escritor.
E mesmo que amador,
Tenho consciência disso.

Escrever.


Rafael Rodrigues

O tempo e o artista - II

II

Imagino o artista num anfiteatro
Onde o tempo é a grande estrela
Vejo o tempo obrar a sua arte
Tendo o mesmo artista como tela

(Tempo e Artista - Chico Buarque)


A Esperança Equilibrista

Como artista, devo confessar como às vezes minhas palavras saem, assim, simples e ficam escondidas em um caderno por ai.
Passa algum tempo e certas palavras que nem mesmo sabia ter criado me aparecem escritas, com minha letra, minha emoção.
O que parecia banal, muita vezes se torna sábio e muito confortável de ler. Embora alguma vezes encontro aquele poema que seria dedicado para alguém e que nunca teve fim.
Faltou substância. Emoção. Amor.
Pequenos fragmentos que surgem de mim mesmo. Filhos inacabados perdidos pelo tempo e pelo amor. Orações esdrúxulas que sempre ficarão ao léu.
Talvez uma ou duas frases possam ser reaproveitadas. Mas o que mais me emociona nessa arte, é que ao contrario da vida, meu erros não me afligem. Me completam, mostrando que sou, assim como todos, um homem de idéias e emoções que nem sempre nos completam.
É o meu desafio: no próximo, mostrar quem realmente sou. Fazer com que minha verdade se espelhe no papel. Toque a alma do leitor.

Escrever é uma arte. Eu sou um artista. Mãos a obra!


Thiago Augusto
(08/03/04)

quarta-feira, junho 08, 2005

Nunca tivera um dia tão...

* Texto escrito há séculos atrás...

Ele acordou às sete da manhã. E se não fosse aquela goteira, sabe-se lá se não estaria dormindo até agora. Pela primeira vez iria se atrasar. Ainda tentou ganhar algum tempo, “saio sem tomar banho”, pensou. Não deu. Ao ligar o liqüidificador, na tomada, não notou que havia um botão acionado. E foi aquela chuva de vitamina. Banho com certeza.
Decidiu então que comeria no caminho. Antes de tomar o ônibus, foi ao bar da esquina.
- Um pão com queijo e um café por favor.
Não tinha tempo para um bom desjejum. Comeu o mais rápido que pôde. Teve tempo até para se engasgar. Veio o dono do botequim ajudá-lo: invocando São Brás, tapinhas nas costas e tudo o mais.
Entrou no ônibus. Ao querer pegar o dinheiro na carteira, um desastre: uma freada espetacular, um tombo sensacional. Duas senhoras caídas, e ele embaixo. Aquele não era mesmo o seu dia.
Finalmente no trabalho. Pediu desculpas pelo atraso, sem maiores complicações, era um funcionário exemplar. Seu chefe quis saber sobre o incidente do dia anterior:
- Estava arrumando a seção, quando de repente um gato preto surgiu diante de mim. Deve ter entrado pelos fundos. Foi um baita susto! Acabei tropeçando no armário e derrubando três espelhos, que ficaram aos pedaços. Por sorte, nada me aconteceu.
O chefe compreendeu. Ao menos não iria descontar aquilo do seu ordenado.


Rafael Rodrigues

O tempo e o artista - I

sempre que o tempo quiser
vou lá
sempre que o som me chamar
vou lá
basta eu querer pra buscar
a nossa intenção, nossa geração
versos de drummond
samba de vinícius de moraes
eram assim como rituais
hoje são formas atemporais
ventos do leste ao mar
viravam canções, hinos tropicais
varriam porões
fonte dos caminhos atuais
gira a rosa dos tempos
roda em circulado
o canto nobre que a re-velô

abre as portas do tempo
e deixa o sol clarear
o novo é o dom de modernizar
(Rosa Dos Tempos -Eduardo Gudin)


I

Minha inspiração acabou. Estou doente e talvez saiba porque. Pensei sobre minha poesia e refleti sobre o tempo e os artistas. Quem sou eu? Um artista, então? Talvez eu quisesse escrever palavras muito bonitas mas perdi meu dom precioso por agora. Sem poesia nenhuma para dizer.

Estou ansioso. Deveras ansioso. E de certa forma doente. Qualquer palavra que possa escrever hoje me parecerá viciada, ridícula e obtusa.

Eu pensei nos artistas. Mas nada de belo parece que quer sair. Lembrei-me de um texto antigo, que percebi ser ruim demais para essas linhas. Talvez todos os artistas passem por isso. Dias onde a inspiração não vem nunca.

Thiago Augusto

terça-feira, junho 07, 2005

Textorama e Edições K

Olá pessoal.

Segue abaixo o link para uma "matéria" minha que saiu na Revista Paradoxo.com sobre as Edições K e o "Textorama", livro do Patrick Brock que foi lançado em Salvador em abril e eu estava lá na ocasião.
A Paradoxo é uma revista eletrônica bem legal. Vale a pena dar uma olhada. Na revista toda. E é obrigatório vocês clicarem no link pra ler meu texto lá, ein?

Abraços,
Rafael Rodrigues

http://www.revistaparadoxo.com/materia.php?ido=2295

domingo, junho 05, 2005

Carolina

Carolina não gostava muito de se olhar no espelho. Sabia que toda vez que passava por ele iniciava uma conversa entra ela e ela mesma.
No espelho fantasiava histórias. Se achava a personagem principal de algum filme, a garota do momento ou apenas uma Carol mais feliz.
Sempre pensava nele. O que estaria fazendo nesse momento? Mas nem sabia ao certo quem ele era.
Se ela pode sentir alguma coisa que não sabia explicar por alguém que quase nunca viu, pensava porque não poderia ocorrer o oposto.
- Será que mesmo sem eu saber, alguém passa por mim todos os dias e se sente tão estranho só por estar passando por mim? E se de repente ele pensou um dia em me dar um "olá" mas não disse só por timidez.
Ela nunca foi uma menina de sonhos. Mas imaginava que o que acontecia ao seu pequeno coração também acontecia ao coração dos outros.
Carol fazia poses em frente ao espelho, sorria para ela mesma, e conversava com ela como se fosse outra pessoa.
- Talvez sim. As vezes alguém que está sempre ao seu lado. Mas você sabe, as coisas não podem acontecer assim tão rápido. O Amor assusta muito as pessoas.
- Sim, eu sei. Mas é interessante pensar assim. Afinal, porque só isso ocorreria comigo? Deve ter mais de uma pessoa por ai que ao menos fica nervoso ao meu lado.
- Talvez em toda sua existência como gente, Carol. É bem possível mesmo. Se não você seria o monstro mais terrível da face da terra.
- Eu já te disse que não me acho feia. Mas não sei se você está falando de beleza. Eu me acho uma pessoa interessante.
Distraída com sua própria conversa não sabe se é ela ou o espelho quem está mais certo. E após algum tempo, ela mesma se cansa de sua conversa e finalmente diz adeus ao seu alter-ego.
Carolina olha para seu porta retrato toda noite antes de dormir e ainda espera que alguém o preencha. No fundo ela é uma garota normal com um único sonho. Se sentir especial.

Thiago Augusto

sexta-feira, junho 03, 2005

Uma Noite Vivendo Dentro Do Furacão

(Poemas de uma noite onde a tristeza é a cocaína)


I
Minha vida foi destruida quando a sua foi concertada
Nosso sangue ainda é o mesmo. Somente o meu escorre pela boca.
Meu pecado foi não ter cometido pecado algum
que tivesse razão como seu significado.

II
Alguem por acaso viu minha felicidade em algum canto qualquer?
Recompenso bem quem entrega-la de volta.

III
Você desapareceu e isso me deixa triste.
Agora eu choro por ai pois perdi
a unica coisa que ainda vivia:
O meu outro lado dentro de você...

IV
"Quem é que se encontra aqui dentro de mim?
Quem eu vejo no espelho sou eu mesmo?
Eu mereço tudo que acontece comigo?
A minha alma mudou de endereço..."

V
Eu sinto odio de mim mesmo.
Pra dizer que alguem
sente algo por mim
que seja mais profundo
do que uma moeda de 10 centavos

VI
Dai eu percebi que algumas lágrimas
Caiam do meu olho esquerdo.
Eu não queria chorar. E pensei:
Se eu chorar, resolve?
Era tarde demais. E lagrimas demais.

VII
Estou cansado. Dormir não resolverá.
Tardes vazias são deveras ruins.
Assim como saladas verdes.
Continuo achando que tem gosto de papelão.
Não. Nunca comi.

VIII
Refrões são legais em músicas.
Na vida, são puro tédio.
Tudo se repete. Tudo se repete.
A Vida passa. Passa. Passa.
Tudo se repete. Tudo se repete.
A vida passa. Passa. Passa.
Você morre. Morre. Morre.
E depois alguem escreve a mesma palavra que eu
Só permutando palavras. E tudo.
Novamente se repete.
Odeio o refrão da vida.

IX
Para cada dor da minha vida,
irei fazer um corte físico.
Para depois lembrar através das minhas marcas,
cada vez que minhas lágrimas esquentaram meu espírito.

X
Estou sangrando sem sentir dor.
E não tomei analgésico.

XI
Cocaina ou tristeza?
No fim as duas servem.
Uma é de graça a outra não.
Uma vicia e a outra já está implicita
Nesse troço que é a vida. Fazer o que?

XII
Porque todo mundo fala do incrivel paradoxo
Do palhaço que alegra mas que é triste?
E eu sou o que? O não paradoxo do homem infeliz?
Também quero meus créditos, oras bolas.

XIV
Tudo vai e volta.
Assim a mão que te afaga é a mesma do tapa.
Minha vertente de trabalho costuma ser a tristeza.
Porque eu sempre pego essa primeira premissa
Quando ela já está em uso.
E aqui nessa face, sempre prevalesce o tapa.


XV
Eu queria fazer algo que preste um dia.
Que todo mundo olhasse e dissesse
"Esse me fere profundamente."
Porém, a unica coisa que me fere
É esse dimorfismo inutil que
Estou vivendo agora.
Me tirem daqui. E apaguem as luzes.
O show já terminou.
Thiago Augusto
(02/07/04)

quarta-feira, junho 01, 2005

Soneto

Feito por um amigo, ficou mto bom ;)
Eduardo Leite
Não sei o que estou sentindo
É um turbilhão de sentimentos
É uma mistura de pensamentos
A cada vez mais me consumindo

Sinto meu coração acelerado
Mas não como prova de vida
Sinto-o no meu peito gelado
Com vontade fugir da vida

Tenho medo de me machucar
Meu coração já está calejado
Tento tanto não me acovardar

Não sei o que quero ouvir
Também nem sei se quero saber
Só sei que sinto medo do porvir


José Pires Rodrigues Filho