quarta-feira, agosto 31, 2005

beAtriz - Parte II

Link para a primeira parte

Era um jogo - de tabuleiro e peças - onde nunca tinha conhecido o final. Quem conheceu primeiro foi outro. E ao me dizer que se entregara a um alguém quase desconhecido, só expeliu duas palavras mortas: "Já era".
E a garota que achei que antes só inventava palavras, se tornou uma rainha noturna. Que se entregaria depois a ele novamente.
- Eu gostei da resposta quando ela disse como foi. "Foi muito é bom". Você entende quando digo que as mulheres nascem puras e a consoante R cede lugar ao T? Ela era virgem. Casta. E germinou seu corpo de mulher depois disso. E sabe do que mais? Ela gostou. Ficou mais sexy, não achas?
- Achei, Rubem. Achei. Ceder ou não a esses costumes é o que me basta. Mas ela é uma tentação... Afirmativamente era.
- E o que esperas? Avance. Uive para a lua. "Auuuuu". Continue o que o outro iniciou. Será assim para o resto da vida.
Ela pulara, pau a pau em busca da felicidade passageira do gozo. - Rubem vibrava. Talvez a vida para ele fosse um extremo protesto panfletário. Era um vírus de si mesmo que talvez embora não trouxesse vida a esse mundo ao menos o criticava com afinco.
- Você sabe o que acho sobre o desejo em si. É belo e envergonha até os astros se feito com clareza e não entregues ao carnal como... - E levantava-se de sua cadeira a estender-me a mão
- Lobos no cio?? Sim! Lobos no cio. - Para Rubem a vida, definitivamente, era intensa como um palco.

Ela tinha diferenças. Era uma garota que entendia de coisas diferentes de suas amigas. Mas caia em muitos conceitos comuns. Não me pergunte se o comum é bom e belo, não sei.
De qualquer forma, assim se apaixonou por alguém só por sua beleza. Daí surgiu o amor. Enquanto ela o beijava. Ela desejava mais a mim. Ele era o amor, o sexo ficava por minha conta.
Depois de um tempo ele ficou distante, mudou-se temporariamente, intercambio ou qualquer porra do tipo. O amor talvez permaneceu mais nela do que nele. Sua vida tão vazia tinha encontrado apego naqueles braços e agora a perda seria mortal.

Eles tinham um trato. Se distantes poderiam estar abertos a novas possibilidades. Ela esperou um bom tempo até seu lábio tocar outro. Depois cada vez mais próximas dos homens, abriu espaço para todos os artifícios. Eu, como amante, mas distante de todo fado, notei que um dia ela não mais me pertencia. Seu corpo seria de outro e sem saber, até Rubem já tinha provado.
Beatriz. A linda e bela Beatriz. Seu corpo era seu único presente. Sua nudez inculta, sua majestade. Entregou-se ao prazer sem rodeios e mazelas. Rubem foi mais além.
- Todas mulheres: putas ou filhas da puta. - acendeu um cigarro só para fazer pose blasé.

Thiago Augusto

terça-feira, agosto 30, 2005

Bienal do Livro Bahia

Começa nessa sexta-feira, dia 02 de setembro, a Bienal do Livro Bahia. Serão 10 dias de eventos literários no Centro de Convenções, em Salvador.
Vários escritores baianos e de outros estados estarão presentes, a exemplo de Moacyr Scliar, Luiz Vilela, Luiz Ruffato, Marcelino Freire, Mayrant Gallo, João Filho, entre tantos outros.
Eu estarei presente como colaborador do site Paralelos. Muito possivelmente estarei entrevistando alguns autores e postando comentários sobre o evento. Assim que algo sair por lá, aviso a vocês.
Enquanto isso, estarei aqui no 3 Vozes colocando vocês a par do que acontecer por lá. Irei sexta-feira e retorno na segunda. Na próxima semana, faço o mesmo.
Torçam por mim.
Abaixo o link com um comentário inicial sobre a Bienal que escrevi pro Paralelos.

http://www.paralelos.org/out03/000753.html


Rafael Rodrigues

Conto inédito de Caio Fernando de Abreu

O conto foi publicado no Paralelos.

www.paralelos.org

Acessem e leiam.

Lua





A lua. Que apesar de sozinha nos céus, reina absoluta na noite. Tem as estrelas como seu véu, iluminando o caminho dos solitários, inspirando românticos e sonhadores, sendo testemunha de amores... confidente das horas boas e ruins, inabalável, austera, inalcançável.

Lua leva-me, na neblina da noite me faz andar, me remete pra longe sem hesitar e para sempre com poesias hei de te adorar.

Leva-me não por ser diferente ou especial, talvez por minha tristeza fora do normal, quero ir para longe daqui, sem chapéu sobre minha cabeça tampouco sandálias nos pés, apenas livre a te rodear, voando pra onde o vento conseguir levar e onde este cansar, parar, a pé prossigo até o mais distante sonho, à mais improvável aspiração, deixando muito pra trás toda e qualquer decepção. Apenas recomeço, renovo.

Com tua luz apaga minha mente e mente, me faz acreditar num mundo novo, limpo e agradável, sem pessoas verdes, fechadas, mortas e venenosas. Reacende a esperança, os sonhos apagados reescreve no teu solo e preenche as crateras da alma como de fase em fase enches a tua face.

Faz a maré do coração ficar cheia, em ressaca enquanto a mente deixa calma, límpida como tua luz e como és tu, deixa-me refletir também luz, encantar e inspirar, cessar de falar, apenas como fazes, deixa-me apenas ser.

segunda-feira, agosto 29, 2005

beAtriz - Parte I

Muito bem. Vamos começar. Como eu posso explicar para todos de uma forma que seja fácil de entender. Essa arma em minha mão? Esse artifício que criei talvez tenha sido proposital.
- Rubem, não faça isso. Você sabe como desaprovo totalmente.

Beatriz usava seu corpo como forma de se sentir querida. Chegou ao ato somente uma vez. Ainda cheirava como uma virgem, mas seminua descobria-se o labirinto sedutor de seu corpo.
- Não negue. Você a deseja com os olhos cada vez que ela sorri seu sorriso dissimulado e se desfaz das vestes e te mostra seu corpo nu. - Disse Rubem me olhando com sua fúria característica.
- Não nego. Eu estou em um meio entre o certo e o errado. E você me acusa de que?
- De um maldito hipócrita. Você a olha, nua. Vê o dorso nu e sente sua alma ser invadida pelo instinto, no entanto se ela se deita com outro que não você, nasce um motivo para reclamar aos quatro ventos que a santa agora se tornou uma pecadora - E falava como quem declama em um teatro.
- Nunca me deitei com ela. O que fiz no máximo foi vê-la dançar pra mim. Quase nua.
- Desejando-a nas carnes e nos dentes. Só não faz porque não podes. Te digo que é deveras prazeroso. Quer saber o que ela diz enquanto o desejo se consome? Ou ainda espera um dia quebrar essa sua linha de falsa moral e se entregar a ela que quase geme pedindo seu nome?
Me levantei, atônito. Rubem já me irritava a essa hora. Sua fala, o jeito de andar, parece um teatro de horrores - Que merda, corte o drama. Existe alguma vez que não consegue me irritar até esse ponto? - E nessa hora, Rubem se excitava de seu prazer hostil.
- Deixemos algo bem claro. Eu sou você, meu caro. Todas essas desculpas é só para não admitir para si mesmo, que no fim é o mais pobre dos filhas da puta. Que brinca oras com sua moral santa, e oras quase come a garota confusa que não pode ficar em suas mãos...
Beatriz e eu quase formávamos um par de amantes. Não existia amor algum. O que eu sentia era uma inexplicação. Era preocupado com os atos que ela deveria tomar. Mas sempre achei que sou/fui para ela um brinquedo.
Quando era necessário minhas ações, vinha até a mim e me mostrava o caminho de seus prazeres mais profundos. Quando não, nem trocava gestos, olhares e palavras. Uma garota ao mesmo tempo fria e difusa e incendiária quando me convidava para seus jogos.

(Continua...)

Thiago Augusto
(06-08-05)

domingo, agosto 28, 2005

Revista Carta Capital, 24 de agosto de 2005

Página 17:

"Sem perder de vista em momento algum que todos os envolvidos em corrupção, arrecadação ilegal de recursos, tráfico de influência e quantos outros crimes forem descobertos devem ser punidos, CartaCapital não compartilha do sentimento, visível em quase toda a mídia, de que esta crise é uma oportunidade sem-par para destruir o PT, sangrar Lula e enterrar para sempre o sonho de um governo de esquerda no Brasil."

Postado por Rafael Rodrigues

Igby

Oh Igby, os sinos tocam só por ti
Oh Igby, até aonde vai sem poder cair?
O mundo não te dará outra razão pra sorrir

Quando é que você vai perceber
que desse mundo não se leva nada
e tudo que resta é sofrer

Vai, Igby
Finja que o mundo ainda é de cores
Que entre você e si mesmo ainda há alguem

Vai, sem saber
que não há novos sonhos pra você

Pobre Igby,
Ainda pensa que será feliz

O que é essa cara triste? Talvez será solidão
Porque já pensa em chorar? Se seu mundo ainda não caiu...

Faça o melhor, mas nunca viverá em paz
Tente outra vez, mas a esperança ja morreu

Vai igby,
ainda há tempo pra sonhar
com flores, com novas canções
que nunca vão existir

- Ele acha que tem amor demais. (Não tem. Não tem.)
- Ele acha que não é capaz. (Não é. Não é.)

Thiago Augusto
(26-08-05)

Participação especial -> Ivy Exner

* Ivy Exner pode ser lida no seguinte endereço: http://adesvairadaliterata.blogspot.com

Dane-se a nova bosta no ventilador! Eu me preocupo com gente.

Eu falei. Eu disse quando Dirceu entrou na história: que a coisa ia começar a ferver. E agora o cenário político está borbulhando e novas caras a brilhar: Delúbio, Marcos Valério, a mulher de Valério e mais umas 33 carinhas. Deixando Jefferson brilhando no altar como o salvador da pátria. Salvador do quê? Até agora não se provou o tal mensalão.
O que apareceu foi uma nova bosta no ventilador: Empréstimos feitos por Delúbio, ex-tesoureiro do PT, junto as empresas de Marcos Valério. E nada ainda muito esclarecido de como isto aconteceu. E não é novidade alguma que o caixa dois existe. Existiu sempre. PSDB que o diga! Se não fosse o tal caixa dois, nada de reeleição do Enrolando Cardoso. Aposte nisto.E as pessoas já dizem que aí está o Mensalão.
Eu até agora não sei se isto existe. Não confio na palavra de alguém sem palavra. E creio que o PSDB que está por trás disto tudo. Desta palhaçada que está o cenário político. Bosta no ventilador, uma atrás da outra.Quem serão os amigos de Sampa do Homem Cueca do cuecão que jorra dinheiro? Está claro pra mim que são o PFL e o PSDB os mais prováveis camaradas de Sampa. PFL e PSDB são os maiores interessados em denegrir e balançar o PT. Lembre-se; após este fato: Genoíno renuncia à presidência do PT.
E quem é o deputado Netinho Magalhães para falar? O avô dele é o corrupto mor e o mandante de muitos crimes. E, em São Salvador todos sabem disto. Fale deles e estará morto. Como alguém de origem tão imunda tem moral para falar algo contra Delúbio?
Eu quero que chegue logo neste tal de Mensalão aí. Que não existe. Que é invenção. E é a propina de sempre. E o PSDB provavelmente na fogueira. Eles que tanto querem fogo. Quero ver aquela voz fanhosa do Enrolando mor dizer que o governo dele era limpo. Rá-rá-rá. São os mesmos. Estavam todos aí. Uma cara ou outra nova. Mas em geral são os mesmos do outro governo.
Mas o que está muito claro para mim é que Jefferson e Valério não valem nada. Que os massacrem mesmo. Eles merecem. É óbvio que não prestam. E nem ligam de cínicos que são.
Eu sempre soube que em todo lugar havia gente que presta e que não presta. E não era no PT que ia ser diferente. O PT não é o Paraíso. É invento humano. Sempre soube disto. Não estou chocada com gente que não presta no PT. Agora, estou chocada é com o cinismo de uns petistas e outros que estão massacrando Delúbio. Isto me revolta! É claro que Delúbio não está só e está sendo ameaçado para não dizer. Para não revelar os nomes. Quem serão as figuras que o ameaçam? Estou curiosa.
Delúbio é o que mais me preocupa nesta história toda. Olho para ele e vejo o arrependimento. Ele é um homem bom. Errou. Quem nunca errou aí? Bondade, meu povo! Não podemos tratar da mesma forma gente boa e ruim. Delúbio não é mau caráter, é só um homem bom que errou. Não merece ser massacrado como Valério. E o PT me enoja quando faz isto com ele. O PT que prega tanto a boa intenção.
Eu estou preocupada com ele. Delúbio não agüenta. Está depressivo demais. Estou com muito medo que ele se mate. Eu me preocupo com gente. E não quero que alguém que errou morra por um erro que não cometeu sozinho.
Por favor, se você entende e concorda com o que eu falo, passe este texto para frente. Ou uma parte.
Só por hoje se esqueça um pouco da política e se preocupe mais com gente.
Obrigada,

Ivy Exner 28/07/05

sábado, agosto 27, 2005

Desamarrando nós

O dia não avisou que estava vindo. Somente quando olhei para fora e vi o clarear do fim da noite, foi que ouvi galos cantarem ao longe.
Não sei que motivo leva algumas pessoas manter galos em casa numa cidade que se diz moderna. Sabia apenas que aquela seria minha última noite naquele lugar. Não dormi, mas acordei com vontade de mudar.

Apesar do cansaço do dia anterior, uma quarta-feira bem movimentada, estava muito disposto e não sentia necessidade de descansar. Pelo contrário. Não via a hora de poder sair de casa, ir ao escritório pedir demissão e à faculdade trancar a matrícula do curso de filosofia que estava na metade.

Depois seria a hora de comunicar a meus pais que estaria saindo da cidade. O mais difícil a fazer.

Tinha plena consciência do que aconteceria. Ambos ficariam perplexos. Meu pai, colérico, perguntaria se eu estava louco e o que eu estava pensando da vida. Minha mãe começaria a chorar, olharia para o teto e perguntaria a Deus se foi para isso que havia me criado, o que fizera de errado e coisas desse tipo.
Enquanto eles faziam isso, eu iria até meu quarto buscar minha mala que deixara pronta e diria a eles que ligaria assim que chegasse a algum lugar. Os nós que me mantinham ali seriam facilmente desamarrados.

Além do trabalho e da faculdade – os quais eram dispensáveis para mim naquele momento – havia os amigos e a família. Estes eu poderia carregar no coração e na mente para onde quer que eu fosse. O mesmo eu não poderia dizer do meu suposto amor. Deixá-la não seria muito difícil. Seria, até, um alívio para nós dois. Nossa relação de quase um ano estava desgastada havia muito. Precisaria vê-la com urgência. Ligaria marcando um encontro. Na rodoviária, talvez. Não seria tão difícil.

Ficaria surpresa com aquela imagem: eu, uma mala, e minutos depois, um ônibus. Não precisaria de muitas palavras. Diria que nossa relação estava muito complicada e que seria melhor terminarmos enquanto ainda existia algum respeito mútuo. Ela me faria algumas perguntas, eu as responderia, diria que estava “cheio de tudo e de todos”. E só. Lhe desejaria o melhor e prometeria mandar notícias em breve.
Deitado aqui, agora, imagino se teria mesmo coragem de fazer tudo isso.

Mas a preguiça de levantar me faz seriamente pensar em voltar a dormir.


Rafael Rodrigues

sexta-feira, agosto 26, 2005

Citação

"Não quero escrever mais. Quando era artista, eu vivia preocupado com o efeito, nas outras pessoas, daquilo que eu fazia, preocupado se ia vender, ganhar prêmio, ser elogiado pela crítica - era como se eu fosse um cachorro ensinado, um desses animais de circo que executa os seus pobres truques para ganhar um pouco de açucar.
Mesmo como artista de vanguarda, supostamente destrutivo, eu continuava fazendo o que os outros queriam e esperava que eu fizesse. Ao escrever, mudei apenas de linguagem, continuei querendo aplauso, coroa de louros, admiração. Medalhinhas e torrões de açucar [...] Agora eu quero ser eu mesmo, não quero aprovação ou estima ou respeito, de ninguém, de nada."

Rubem Fonseca em O Caso Morel

Bebel

Os amigos diziam que ele nunca ia aprender. Quando ameaçava deixar Bebel, apareceria no dia seguinte com ela, com um sorriso maior no rosto:
- Ela me deixa muito feliz, gente - E seus olhos começavam a lacrimejar.
Mas seus amigos sabiam o quanto Bebel tinha dado trabalho não só para Pedro mas para eles também.
Sempre impulsiva, não media esforços quando queria contraria-lo. E ele, sensivel desde os tempos de criança, se reunia com os amigos e chorava suas máguas.
- A Bebel fez de novo! Eu comprei tudo, tudo, tudo que ela pediu para o nosso jantar. Fiz do jeito que ela queria e sei lá o que falei que tudo desandou. Ela ficou irritada e tacou a champanhe em mim e... - lágrimas, lágrimas.
- Pedrão, a gente fala isso há tempos pra ti garoto. Larga dessa mulher, ela é estranha, muda de repente, da agua pro vinho. Toma aqui um lenço, rapaz!
- Vocês tem razão - e assoava o nariz - A Bebel me trata muita vezes como cachorro. Aquela... Aquela... Vagabunda não merece o meu amor, nem tudo que eu dei a ela. Eu dei - e começava a contar nos dedos - Amor, roupas, meu tempo, carinho. Pra que? Existe algum motivo? Largo dela hoje mesmo!
Dessa vez ia. Bebel já tinha feito Pedro sofrer demais. Mas logo no dia seguinte eles apareciam, de mão dadas, ele com um sorriso aparentemente mais feliz. Os amigos faziam aquela cara de incompreensão, e assim que Bebel se afastava, Pedro quase se desculpando, dizia:
- Pô, gente, ela me deixa muito feliz. Sabe como é.
- Ah, Pedro. Quer saber? Eu já cansei disso. Vocês brigam mais que marido e mulher. Tu tá sempre correndo atrás dela, Bebelzinha pra lá e pra cá quando acontece alguma coisa, mas nunca vi acontecer o mesmo. Ela te domina, rapaz. E você é cego e não ve isso.
Quem os conheceu há tempos, poderia dizer que foram feitos um para o outro. Mas algo mudava. Ainda apaixonados, mas Pedro menos... Lúcido.
O que aconteceu, é que cansado de seus ataques e xiliques, retrucou uma vez a um desses momentos e disse o que ela as vezes dizia: "Você deveria ir embora, nós só brigamos o tempo inteiro".
E foi o que Bebel fez naquela mesma noite. Desapareceu de sua vida. Não atendeu mais os telefonemas. E Pedro, chorou.
- Pedrão. Não fica assim não foi melhor assim... - E os amigos davam abraços e tapinhas nas costas para consola-lo.
- Mas, gente, ela... - Lágrimas - A Bebel, pô - Soluços - Era muito especial pra mim. - Silêncio tentando conter o choro que não parava - Mas gente, ela... - Pedro parou por alguns momentos em silêncio. Pos-se a pensar, e concluiu - Mas gente, ela era uma vaca mesmo!!
E nessa noite os amigos celebraram. Até o dia raiar.

Thiago Augusto
(31-07-05)

quinta-feira, agosto 25, 2005

O álibi

“Esse é um tema recorrente na história da literatura. De tão original que é, mesmo tendo sido utilizado por poucos autores, ele se tornou banal.

Infelizmente sou obrigado a me valer dele. Mas não por falta de imaginação e sim por compromisso com a verdade.

Vocês ouçam com atenção, por favor.

Há cerca de cinco anos atrás, um escritor publicou um romance que contava a história de um escritor – estão me ouvindo? Vou repetir, para não haver confusão: Um escritor publicou um romance no qual um escritor assassina várias pessoas, sete pessoas, para ser preciso. Na história, as mortes são relatadas com uma riqueza de detalhes que chamou a atenção de todos que tiveram a oportunidade de lê-la. No livro, o personagem é um escritor de sucesso, ao contrário do autor da obra. O fato de ser famoso faz com que as investigações não cheguem até ele, e o livro termina com o assassino impune. Talvez houvesse uma continuação do romance, se o autor não tivesse sido preso pelos policiais. E por que isso aconteceu? Vocês sabem. Depois de lançado o livro, foram mortas sete pessoas. Os crimes foram cometidos exatamente da mesma forma que relatava o romance.

Depois de preso, julgado e condenado, o escritor cometeu suicídio, já na prisão. Recentemente, vocês sabem. Senhores, eu estou aqui para lhes dizer que a vida deste homem foi abreviada em vão. Vocês cometeram um erro gravíssimo ao prendê-lo. De tão auto-confiantes que estavam, esqueceram-se de analisar evidências por demais banais, tão certos de que ele havia escrito o livro justamente para tê-lo como álibi...

Isso só acontece na ficção, senhores. Aqui, no mundo real, o assassino é outro, e está à solta. Ele poderia matá-los agora, se assim quisesse. Podem ter certeza disso.

Como posso estar tão seguro ao afirmar isso? Senhores! O assassino está aqui!”

Explosão seca de metal incandescente.*


Rafael Rodrigues
* Ref(v)erência ao conto “Snap” de Patrick Brock.

Puzzle

Há um quebra cabeça montado em minha frente.
Com tudo que eu já fui e o que deixei de ser.
Vejo as peças como contos e pedaços da memória
Que me cobrem de saudade e me embriagam de tristeza.

Sei que algumas peças demoraram para encontrar
seu ponto de caminho e seu local de encaixe
Mas vejo que agora com o quadro quase exposto
faltam algumas peças que não consigo achar

Será que eu as perdi quando criança?
Ou vieram com defeito desde a fabricação?
Será que está no bolso e eu não o revirei?
Ou me roubaram os sonhos e as levaram sem querer?

Faltam tantas peças viciadas de meu jogo
que devem ser a pista de outra trilha
escondida e que ainda não pude encontrar
porque talvez eu esteja mais perdido.

Não sei se faltam peças para dizer quem sou
ou se a chave de todas as respostas está em mim
Mas talvez tudo esteja errado desde o inicio
E eu deva começar a montar um outro enigma

Encontro uma das peças que me falta no chão
E tento encaixa-la e procurar algum sentido
mas ainda só percebo o silencio que me abraça
dividindo o espaço do vazio.

Há um quebra cabeça montado em minha frente.
Onde eu já encontro a resposta de quem sou.
O que falta são as peças que me prendem?
Ou no final elas me trarão o que desejo?


Thiago Augusto
(30-07-05)

quarta-feira, agosto 24, 2005

Direita? Esquerda? Vou ver...

Sempre fui petista. Não significa que seja um esquerdista. Isso é muito relativo.

Por exemplo. Para presidente, vereador e deputado votei no PT. Já para prefeitura, governo do estado e senado, votei no PFL. Explicarei o porquê.

Sou baiano. Terra do "Toninho Malvadeza". Sei do que o ACM é capaz (inclusive, a idéia de propôr o aumento do salário mínimo para R$ 384,00 foi idéia dele. Atitude que me fez sentir nojo dos deputados e senadores que se prestaram a apoiar tal medida.) Mas sei também que pelo menos por enquanto, a Bahia sem o PFL pode desandar. Depois que ele morrer, tranquilamente votarei nos partidos de esquerda nas eleições municipais, estaduais e "senadoriais".

Gosto de política, mas acho um saco acompanhar todos os acontecimentos. Um paradoxo, eu sei. Mas entendam: no meio de tantos jornais, revistas e sites lançando suas matérias por aí, fica difícil saber quem está sendo honesto ou não. Já escrevi sobre esse assunto aqui no blog e em um post recente demonstro minha preocupação em bem ler notícias.

A mídia quer porque quer convencer a população de algo que ainda não foi devidamente provado. Querem derrubar Lula, e o acusam de ser o comandante de toda a corrupção que desencadeou a crise no seu governo. Não há provas, não há documentos, e o presidente nega tudo. Diz que foi traído.

Isso é perfeitamente possível. Afinal, o presidente Lula, como todos sabem (imagino), não é um político na prática. Óbvio que ele determina os rumos do seu governo. Mas negociações de bastidores, por exemplo, não são feitas por ele. A teoria de que Lula nada sabia é plausível. Até que me provem o contrário, acredito nisso.

Não sou um expert em política, muito pelo contrário. Só comecei a prestar atenção nessa crise de umas semanas pra cá. Tenho tentado acompanhar tudo da melhor maneira possível. Revistas, tv, internet. Tenho buscado o máximo de informações. Tentando contatos e tudo mais, como já mostrei aqui no blog também.

Minha intenção é a de poder postar aqui comentários imparciais sobre o que anda acontecendo. Quando, no post anterior eu afirmei veementemente que não há necessidade de manifestações públicas, é porque realmente não há razão para isso. Não é que eu esteja a favor do governo. A continuação deste parágrafo merece o início de outro.

Acontece que a rede Globo, a revista Veja e os políticos, não vêem a hora de saírem nas ruas os caras pintadas que ajudaram a derrubar Collor. Lembrando que naquela época, tanto a Globo quanto a Veja colocaram muita lenha na fogueira e hoje sabemos que Collor foi inocentado de todas as acusações de corrupção que fizeram conta ele.

Não devemos cometer o mesmo erro novamente.

As CPI's estão aí para investigar as denúncias e os fatos e punir todos os que forem considerados culpados. Cabe a nós acompanhar o processo de apuração e cobrar dos políticos seriedade e honestidade. Ainda não há espaço para protestos e pedidos de impeachment como alguns falam por aí.

Era isso o que eu tinha a dizer. Qualquer novidade, vocês lerão no decorrer da semana.

Em tempo: Ontem na CPI dos Correios foi ouvido o ex-deputado e atual presidente do PL, Valdemar Costa Neto. Não pude assistir muita coisa, mas pelo que vi, ele defendeu o PT e negou todas as denúncias a respeito de mensalão. Disse que isso não existia, que foi invenção do Bob Jefferson pra escapar das acusações que lhe vinham sendo feitas. Disse também que acredita que o presidente Lula não sabia das irregularidades dentro do seu partido e do governo. Defendeu Genuíno e Dirceu. Ele quis limpar a barra de todo mundo, essa é a verdade.

Espero que tudo que ele disse na CPI seja verdade, apesar de achar muito difícil que seja. Resta esperar os acontecimentos futuros.


Rafael Rodrigues

terça-feira, agosto 23, 2005

Me pergunto

Às vezes me pergunto porque pessoas me adicionam no MSN e não conversam comigo, se for só pra fazer volume por que não usam o orkut? É ótimo pra isso.

Me pergunto por que certas pessoas desaparecem de minha vista assim que me torno mais presente, quando estava ausente fazia falta e presente fazem de tudo pra me afastar.

Me pergunto o porquê de tantos namoros que foram às favas porque simplesmente não se sabe cuidar do que possuem, apenas se investe na conquista.

Me pergunto por que ficamos tão insensíveis às demonstrações de afeto mais simples, desejando apenas o que possa massagear nosso ego.

Me pergunto por que ficamos inertes diante de tantos escândalos na política e pagando uma das maiores cargas tributárias do mundo sem gozar da metade do que gozam países como o Canadá que pagam menos.

Me pergunto por que diabos será que contribuirei 35 anos da minha vida à Previdência e terei que continuar contribuindo quando me aposentar.

Me pergunto ainda mais por que motivo continuo escrevendo pra esse blog se a maioria que lê nem se dá o trabalho de comentar, só os 3 que escrevem que lêem e comentam, será que não seria melhor apenas fazermos os textos e passarmos uns pros outros.

Me pergunto se essa atitude mencionada em cima não seria a mesma que tomam ao cuidar de todo o resto de suas vidas, apenas olhar de relance e deixar passar batido.

Me envergonho de tantas pessoas que são criativas nesse país e que continuam atirando pérolas aos porcos porque, como já foi dito aqui outras vezes, cultura ainda não é moda.

Me pergunto mais ainda por que motivo continuo escrevendo coisas sem sentido com a intenção de mudar algo.

Talvez não seja só tempo que me desmotive a compartilhar pensamentos, mas a falta de reciprocidade, mas quem se importa?


Eduardo Leite

Mais sobre a crise

Este ainda não é um post oficial, mas quase.

É importante que o maior número de pessoas entenda uma coisa:

Há uma crise política no nosso país? Há.
Ela é gravíssima? É.
Já sabemos quem são os culpados? Ainda não.

Tudo o que se tem em mãos são acusações, palavras de um contra o outro. De provas, ainda não há nada.
O jornalista Franklin Martis diz isso em seu site:

"Ou a CPI muda a forma de trabalhar, ou corre o risco de não conseguir desmontar a tese de que o dinheiro veio de empréstimos legais. Já imaginaram se isso acontecesse? Seria a glória para Marcos Valério e Delúbio Soares. Seria a desmoralização da CPI."

É pouco provável que o dinheiro tenha vindo de empréstimos legais, mas como ele disse, não é impossível. A oposição e vários veículos de informação querem derrubar o presidente Lula para evitar que o PT consiga a reeleição em 2006. Essa é a verdadeira motivação dos parlamentares que, sentados em suas cadeiras nas sessões das CPI's, não perdem a oportunidade de fazer um discursozinho para quem quer que esteja os assistindo. São poucos os políticos que estão ali para investigar, averiguar. A maioria quer mesmo é aparecer na TV e posar de santinho.

Não pensem que quem está fazendo discurso na TV em favor da ética é necessariamente ético e honesto. O PT fazia isso, e olha no que deu. (Digo isso e saibam que sou petista).

A oposição é oposição, e está fazendo o papel dela. Um papel ridículo, que o PT também fez no passado. Acontece que dessa vez, a coisa é diferente. A direita é maior que a esquerda, todos sabem disso. E quem tem mais, bate mais. Essa é a verdade.

Para terminar, repito e insisto: não acreditem em tudo o que vocês lêem e assistem. Coloquei posts abaixo com palavras de dois jornalistas renomadíssimos e de grande credibilidade (um eu nomeei e o outro não, por questões éticas) que traduzem tudo o que eu quero dizer. Por favor, não se deixem levar por opiniões maldosas.

E outra coisa: não há necessidade de caras pintadas. Não há necessidade de mobilização pública por parte de ninguém. Nem contra nem a favor do governo. Principalmente contra. Não tem porquê sairmos de caras pintadas. Podemos fazer mobilizações sileciosas. Aquela de vestir uma peça preta é uma boa. Tenhamos consciência do que fazemos ao invés de fazermos coisas manipulados pelos veículos de informação. A Globo (por exemplo) já ferrou o Lula várias vezes, já ferrou o Collor (até hoje nada foi provado contra ele, e mais, ele foi considerado inocente no caso de corrupção pelo qual foi julgado), então, vamos com calma.

Abraços a todos,
Rafael Rodrigues

segunda-feira, agosto 22, 2005

Preâmbulo











PREÂMBULO


“Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembléia Nacional Constituinte para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL.”
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Me emocionei ao ler esse texto pela manhã na aula de Direito Constitucional (tou fazendo cursinho pra concurso público), uma emoção de felicidade e tristeza ao mesmo tempo. Felicidade em ver um texto tão sublime, conciso, sóbrio e cheio de democracia, de respeito, de tolerância, de orgulho. Mas tristeza em ver que é, ainda, um texto muito além de nossa atual realidade. Não falo apenas do governo que falha conosco constantemente, mas no âmbito de “consciência coletiva” onde desrespeitamos esse lindo preâmbulo da NOSSA Constituição.

Começo me perguntando sobre os direitos sociais e individuais, e aí posso citar as centenas de milhares (ou milhões) de pessoas vivendo abaixo da linha da pobreza e doentes, que passam horas na fila para receberem um diagnóstico sem exame, isso quando não morrem esperando.

A liberdade, por onde anda esta danada? Onde você consegue perceber a liberdade nesse país quando todos se preocupam tanto com a vida de seus semelhantes tentando enclausurar mais outra pessoa em sua já prisão coerciva? Como outrora havia dito, a liberdade é inata no ser humano, ele nasce com esta, mas deve lutar todos os dias de sua vida pelo direito de exercê-la, devido à nossa intolerância e inveja disfarçados de valores.

Segurança é algo que nos falta mais do que tudo, que nos cerca e prende dentro de nossas próprias casa, que nos insere na individualidade forçada, neurose aguda, síndromes de pânico. A segurança de nosso Estado prende consumidores de maconha e namorados em carro ao mesmo tempo que acoberta traficantes que ameaçam a segurança, homens ocupadores de altos cargos públicos que roubam nosso dinheiro dado com muito esforço num país onde se encontra uma das maiores “cargas tributárias” do mundo. Para quê? Pelo menos em segurança eu sei que eles não investem, as vítimas de seqüestros relâmpago que nos digam.

Nosso bem-estar é ameaçado pela falta de segurança, pela falta de saúde, pelas vítimas de acidentes de carro, pelos bandidos armados na rua, pela polícia que confunde-se com a bandidagem, mesmo tendo pessoas honestas e comprometidas com seu dever.

O nosso desenvolvimento é comprometido pela falta de iniciativa pública para as pesquisas, pois é mais lucrativo e seguro assegurar um relacionamento de favores com nossos “amigos” de países desenvolvidos que impulsionar o desenvolvimento interno gerador de empregos e competição interna que em tese aumentariam a qualidade, produção e mobilidade monetária aqui dentro e para aqui.

A igualdade e justiça que não são valores supremos em nossa sociedade não fraterna, individualista e altamente preconceituosa, hipócrita, egoísta e pseudo-moralista fundamentada num caos social e comprometida com os lucros dos donos do capital e o afundamento exponencial do pobre assalariado e dos miseráveis com soluções nada pacíficas das controvérsias e esquecida por Deus.

Me envergonha ver o que fora sonhado para nós e o que vem sido feito de fato. Nos drogamos cada vez mais no futebol, carnaval e fuxicos diversos para que nossos sentidos já entorpecidos venham a ser completamente ceifados em função de uma alienação geral. Me envergonha mais ainda ser parte atuante dessa sociedade patética e fraca levada pela mídia como bonecos de fantoche, sendo influenciadas a todos os movimentos externos com apoio da maioria porque a nossa moda jamais foi e jamais será a cultura, por confundirmos amor-próprio e individualismo com egoísmo, desrespeito e ambição incessantes. Me entristece saber o buraco em que estamos inseridos e como camuflamos nossa tristeza e descontentamento geral em consumismo exacerbado e Faustão ou Gugu aos domingos ou somos manipulados em nossa sincera fé por instituições que são apenas mecanismos de alienação no tocando ao esmorecimento e passividade diante dos fatos e da sociedade como um todo.

Desejo e peço a todas as forças metafísicas existentes no âmbito fantasioso de meu ser que, nós que carregamos a maldição da consciência e cultura, possamos começar a mudança em nós mesmos, abolindo e não dando espaço às medíocres preocupações artificiais e sim nos empenhando na mudança da “consciência coletiva”, cultura, liberdade, igualdade, respeito, tolerância e ética imensuráveis, pois esse é o peso do saber, a responsabilidade de se lutar contra o emburrecimento de nós mesmos, o conformismo com o caos e à não cumplicidade com os responsáveis com tudo isso. Você e eu.


Eduardo Leite

Conto inédito de Caio Fernando de Abreu

Retirado do blog do escritor Caco Belmonte:

"Este blog vai divulgar nos próximos dias um conto inédito de Caio Fernando Abreu. O texto, escrito em 1973, NUNCA foi publicado e também não vai estar em nenhuma edição impressa. A arqueóloga responsável pela descoberta chama-se Jussara Silva. Ela é jornalista e foi amiga do autor. Maiores detalhes só na próxima edição. Aguardem!"

Enquanto isso, vocês podem entrar no site que vou deixar abaixo para conhecerem um pouco sobre esse grande escritor brasileiro - que, aliás, (é até uma vergonha eu dizer isso), eu conheci recentemente.

Deixo também o link pro site do Caco e um trecho do conto inédito.

Página sobre Caio Fernando de Abreu

Blog do Caco Belmonte

Trecho do conto:

"Que não me doa hoje o existir dos outros, que não me doa hoje pensar nessa coisa puída de todos os dias, que não me comovam os olhos alheios e a infinita pobreza dos gestos com que cada um tenta salvar o outro deste barco furado."

Rafael Rodrigues

Igby Goes Down ou A Queda de Igby

- Pense, foi melhor assim - Foi o que disseram para Igby logo depois de sua derrota. De pé, olhando qualquer rosto bonito a sua frente não sabia ao certo qual resposta dar ao amigo.
Primeiro pensou exatamente em frases estúpidas proferidas sempre em momentos de desilusão, infelicidade ou qualquer coisa do tipo. Depois refletiu novamente sobre seu estúpido nome: Igby. Retirado de um famoso romance da década de oitenta. Nunca conheceu nenhum outro com a mesma nomenclatura em sua vida. E ainda sentia o desprazer de ter um nome tão americano. Havia sempre quem perguntasse se o pai era um fanático pelas terras do tio Sam.
Por alguns segundos saia de si mesmo e finalmente a olhava de novo. E ao lado dela, não havia Igby algum. Somente alguém que ele desejava ser. Mas não era. E nunca seria depois de então.
Via toda alegria absinta ao seu redor e sentia-se deveras infeliz. Sem motivo. Como quase tudo que existia em sua vida.
Igby tinha mudado muito durante muito tempo. Tanto tempo para nem mais saber quem era e muito menos para visualizar o que ele chamaria depois de "si mesmo". Mas por alguma razão sabia que qualquer desejo de felicidade não seria encontrado onde estava. Sentia-se sempre um tanto incomodado quando assistia tantas pessoas passando a sua frente. Estando sempre felizes e sorridentes como talvez somente ele infeliz tivesse uma vida imperfeita e quebrada.
Por diversas vezes achava sua vida um próprio exagero. Sua vida era seu palco para encenar seu drama pessoal como ele mesmo fosse uma caricatura.


Igby estático. Pernas marcando seu compasso firme ao chão. Com olhos ainda incrédulos a olhou de verdade pela ultima vez. Estranhava o fato de tudo não ser mais do que um mero retrato, que exposto em sua galeria, foi observado por algum tempo até a beleza escorrer ao chão imundo.

Dessa vez não havia mas nada do que encantamento. E se afirmasse que seguiria até o fim? Poderia também fechar as cortinas e abrir as portas para seu passatempo preferido: Seu lado irônico.

Naquela noite Igby se surpreendeu por estar diferente. Não sabia ao certo se parte dele estava morta ou se um novo desenlace foi criado dentro de si. Talvez, se é que podemos falar algo que nasceu na sombra das duvidas.

Praguejou por alguns minutos. Se surpreendeu sem compreensão do que tinha acabado de ver. E prosseguiu com sua vida. O que quer que aconteça faria sentido logo depois. Se não tivesse ainda não seria o fim.

Thiago Augusto
(16-06-05)

Prévia de meu próximo post

Estou colhendo material para escrever um pouco mais sobre a crise política que está aí pra todo mundo ver, parecendo Big Brother.

Uma de minhas leituras é uma entrevista que o site No Mínimo fez com o jornalista Franklin Martins. Sim, aquele que vira e mexe aparece em quase todos os jornais da Globo.

Um pouco da entrevista pra vocês e o link pra ela inteira logo abaixo.

"Não é simples a situação. Eu acredito que nós estamos no meio do processo de apuração e existem duas hipóteses: chega no Lula ou não chega no Lula. Se chegar no Lula, vai para o impeachment. Eu, pessoalmente, acho que não chega no Lula. Quando falo em chegar no Lula, não é um raciocínio político – ele devia saber o que está acontecendo. Falo de haver provas contundentes de que o presidente da República participou diretamente de esquemas de corrupção, e nesse sentido eu acho que não chega no Lula. Não chegando, a crise política não deriva em crise institucional."

Entrevista na íntegra

Rafael Rodrigues

domingo, agosto 21, 2005

Mensalão: onde acompanhar as notícias

Perguntei - via email - a um jornalista de credibilidade (ele trabalha no Jornal do Brasil e em uma tv que não digo qual, pois senão todo mundo mata a charada e eu não quero comprometê-lo) por onde acompanhar as notícias sobre o mensalão e tal. Eis o que ele me respondeu:

"Caro,
O melhor e acompanhar o maior número possível de veículos. Entre os jornais, gosto da Folha - mas com ressalvas. Sites eu não leio, pois não tenho tempo para mais essa fonte de informações. Sugiro acompanhar a ... (justamente a tv que ele trabalha), rádio e TV, que ficam 24 horas em cima dos acontecimentos. Revistas eu gosto da Carta Capital, mas ela defende posições (muitas das quais eu concordo) e, portanto, é parcial em algumas análises. Parabenizo-o por detonar a Veja. Aquilo está uma vergonha, a despeito de cravar manchetes aqui e ali. abs."

Introspeccção e Verosimilhança

"É a verdade que assombra
O descaso que condena
A estupidez o que destrói
Eu vejo tudo que se foi
E o que não existe mais"
Renato Russo, Metal contra as nuvens
in Legião Urbana - V

Palavras Repetidas, correto? Eu sempre soube que entre o nosso cérebro e coração existe um caminho difuso cuja interpretação demora para ser processada. Um conflito entre a razão e a emoção. O mesmo enigma da dualidade de "Amor e Sexo".
Sei que me repito muitas vezes. Porque normalmente tenho brilhos de escritas quando meu sono está de ponta cabeça e passo uma noite em claro, ora lendo ora fazendo nada. E depois do almoço, onde o sono já está batendo em minha porta, nasce uma pequena idéia para escrever. Peço para o sono esperar só um pouquinho e componho essas linhas que os senhores agora lêem.
Com isso, já escrevi mais de uma vez a respeito da dispersão dos sonhos e da confusão do sono. Assim como já explorei diversas vezes a dicotomia artista x palco. Minha breve interpretação, baseando-se em um lindo titulo de um livro de Nabokov, de que somos todos arlequins. Interpretando, de uma forma quase original, uma vida real. Onde as palavras as vezes não são exatas. Assunto que abordarei em uma crônica não metalingüística.
As vezes percebo o quanto minha afinação persiste sempre nas mesmas notas. Talvez a procura de um texto dessa maneira que alcance quase a perfeição, que se impossível no mundo real talvez possa ser alcançada no mundo da idéias.
Na classificação de Forrest Gump, meus amigos contam mais histórias do que eu. Normalmente meu estilo é o de Lispector. Que talvez refletisse em excesso, como eu, e sentisse uma necessidade de também racionalizar suas idéias no papel. Ora como Rodrigo S.M. ora como G.H.
Me sinto repetido, mesmo sabendo que um texto ainda não se parece com o outro. O eu lírico quase sempre a olhar para seu reflexo interior embora já tenha voltado a alguns assuntos, nunca os abordou da mesma maneira.
Penso em escrever mais histórias. Gosto delas. Pretendo aos poucos deixar esse lado nascer em mim mesmo. Sem provocar digressões como essa que acabo de cometer.
Mas foi pensando exatamente em mim mesmo. Um pensamento sem nenhum eu poemático, entre minha razão e meu coração que pensei em escrever mais um texto abordando essa dualidade.
O cérebro, o mais belo instrumento recebido por nós, é mais rápido para processar certas informações do que nosso coração. Minha razão pede, com razão, para que eu deixe certas idéias de lado, que meu coração ainda insistem em teimar. Nosso comboio de cordas talvez seja como nossos olhos quando sofrem a agressão de um flash fotográfico: Mesmo que a luz desapareça em alguns segundos, ainda permanece em nossas retinas a memória daquela luz. Onde demora certo tempo para entender que o objetivo alcançado já não está mais lá. Que aos poucos cede e deixa novamente novas águas passarem por si.
Meu coração teima em não esquecer. O cérebro diz que é necessário mudar alguns conceitos. E eu concluo que preciso escrever mais histórias. Com cérebro, coração, alma, catarse, vontade, paixão. Histórias que vão muito além da minha saudade, minha memória e meus pensamentos.

"E nossa história / Não estará / Pelo avesso assim / Sem final feliz / Teremos coisas bonitas pra contar / E até lá / Vamos viver / Temos muito ainda por fazer / Não olhe pra trás / Apenas começamos / O mundo começa agora / Apenas começamos." Renato Russo, Metal contra as nuvens
in Legião Urbana - V

Thiago Augusto

sábado, agosto 20, 2005

Falta

- Não, eu não vou comprar, obrigado. Só estou olhando.
Todos os dias ao voltar pra casa, parava em frente a paredes de vidro recheadas
de luxos e afins.
Bonecos de carne lhe perguntavam em que poderiam lhe ajudar, e novamente
saltavam-lhe pelos lábios as palavras gastas poucos minutos antes:
- Não, eu não vou comprar, obrigado. Só estou olhando.

---

Faltava-lhe algo. E não era somente aquilo que poderia lhe dar algum poder,
alguma felicidade. Algo lhe faltava. E ele não sabia o quê.

---

Tempos depois foi transferido de localidade. Iria trabalhar em uma filial da empresa
numa cidade interiorana, porém, com um cargo elevado.
Todos os dias voltava andando para casa e finalmente sentiu que tudo começava a
melhorar. Mas ainda lhe faltava algo. Aquela sensação não o abandonava.

---

Utilizava os fins de semana para ir à sua cidade de origem. Fez e refez várias vezes
o caminho da ex-casa para o ex-local de trabalho.
Paredes de vidro por todos os lados. E ele sempre:
- Não, eu não vou comprar, obrigado. Só estou olhando.

---

Faltava-lhe algo. E ele nunca chegou a descobrir o quê.


Rafael Rodrigues

sexta-feira, agosto 19, 2005

"O pintor limpa a tela à tinta"

O pintor limpa a tela à tinta
O autor lambe a língua com os dedos
A língua toca língua para não haver razão
Razão que se multiplica pelos meios
que circundam o infinito

Thiago Augusto

quinta-feira, agosto 18, 2005

O ciclo se completa

Primeiro foi o Thiago.
Depois eu.
Agora, o Dudu.

PARABÉNS!!! MEU QUERIDO! E falo também em nome do Thiago, que está ausente essa semana, pois como todos sabem - ou não - está em Agagaquaga, onde se localiza o campus da USP no qual faz seu curso de Letras.

Dudu, o psicólogo, o Freud, o Ringo Star do 3 Vozes, completa anos hoje e tudo o que podemos desejar a ele é: tudo de bom, ora pois.

Muita saúde, felicidade, amor, juízo, criatividade, paciência, perseverança, enfim, não posso ficar listando o que se enquadra dentro do "tudo de bom", mas já dá pra ter uma noção.

Companheiro de blog, analista de nossas personalidades, e um cara legal, pra resumir.

Parabéns, do fundo do coração.

Faltou só eu desejar uma coisa: mais tempo procê postar aqui, mano véio!

Aquele abraço, e comemore com moderação,

Rafael Rodrigues / Thiago Augusto

Para entender a CPI do mensalão

* AVISO: Se você chegou aqui através de sites de busca, preste atenção: o texto abaixo é apenas uma brincadeira que fiz com toda a história do mensalão. Leiam, se tiverem vontade, mas é apenas uma brincadeira.

Neste blog existem outros posts sobre a crise, os links eu deixarei logo em seguida. Maiores informações, acessem os portais dos maiores provedores brasileiros. Neles vocês encontrarão notícias minuto a minuto.


Trecho da revista Carta Capital

Texto sobre Delúbio Soares de uma convidada do nosso blog

Texto meu sobre a cobertura da mídia e alguns episódios da crise

Outro post sobre a cobertura da mídia

Trecho de entrevista do Franklin Martins

Mais um sobre a mídia, informação de um jornalista o qual não posso identificar

A ordem dos links é cronológica. O primeiro post sobre a crise política foi esse link aí em cima e o mais recente é o trecho da Carta Capital, ok?

Sem mais,
Rafael Rodrigues
(31/08/2005)


Não sou o mais indicado para explicar o começo da CPI do Mensalão e seus desdobramentos. Tentarei ser superficial ao tratar do início da história, pois estou mais a par dos acontecimentos mais recentes.
Tudo começou com Bob Jefferson abrindo a boca e dizendo que o PT pagava a alguns parlamentares uma determinada quantia para que eles votassem a favor do governo no congresso.
Daí a coisa foi engrandecendo e agora estamos assistindo a investigações dos fundos das campanhas do Partido dos Trabalhadores. Sinceramente não sei como se deu tal evolução, mas procurarei me informar.
A grande revelação deste post é sobre as dívidas do PT.
É muito mais simples do que andam falando por aí. Os envolvidos não podem admitir o que de fato aconteceu para não ridicularizá-los.
O que realmente aconteceu foi o seguinte: o PT contraiu uma imensa dívida em suas campanhas. Contratação de Duda Mendonça para comandar o marketing do atual presidente Lula, gastos nos diretórios estaduais, suporte para partidos aliados, coisas assim. Isso começou pouco antes de 2002 e se extendeu até os dias atuais, pois os juros estão rolando e foi feito um novo contrato no início desde ano com o Duda de R$ 300.000,00 para a elaboração de outdoors, salvo engano deste que vos escreve.
Essa dívida foi se acumulando e no caixa oficial do PT - onde fica guardado o dinheiro arrecadado oficialmente para a campanha (leia-se oficialmente: dinheiro doado por empresários e pessoas físicas que foi contabilizado perante a lei, cumprindo todas as exigências fiscais) - não havia a grana necessária para honrar a tal dívida.
Mandaram o Delúbio Soares resolver. E o que ele fez, então?
Simples.
O Delúbio pediu ajuda a um empresário. O empresário quis ajudar Delúbio e cedeu a ele um jipe Land Rover. Foi aí que ele teve a idéia suprema, a grande idéia, a idéia salvadora: iria rifar o Land Rover.
Saiu espalhando a rifa por aí. Marcus Valério comprou milhares de números, e um tal de Sílvio Pereira comprou um só, a R$ 1,00, que era o preço da rifa.
Sílvio Pereira foi sorteado.
Valério, que queria muito o Land Rover, se sentiu enganado e resolveu colocar no Delúbio a culpa de todo seu prejuízo e agora cobra dele o dinheiro de volta, pois o sorteio daquela rifa não parece ter sido 100% honesto.
Delúbio agora deve milhões ao Marcus Valério e os parlamentares estão buscando explicações lógicas e comprovadas para toda essa pendenga.
Para não parecerem ridículos, eles inventaram toda essa história de caixa 2, lavagem de dinheiro no exterior e coisa e tal.
Espero que os envolvidos admitam logo o que de fato aconteceu. Essas CPI's já estão dando no saco.

Rafael Rodrigues

Promessas de Mais um Ano


"Tenho andado distraído
Impaciente e indeciso
E ainda estou confuso, só que agora é diferente
Estou tãoo tranquilo e tão contente..."


Tenho andado ausente desse blog e apesar de não ser uma coisa que faço para outro alguém que não seja para mim mesmo(exorcisar meus demônios), tenho me sentido relapso e ausente, coisa que pretendo compensar nem que seja com leves aparições durante a semana e vou tentar anotar mais algumas coisas nos lugares onde tiver para passar praqui.


Essa foto embaixo traduz um pouco do que eu ando fazendo. Não, não estou saindo com esse esqueleto, foi apenas uma foto que eu tirei na sala de Anatomia pra aliviar o estresse, também respeito os mortos, mais ainda os que me ensinam alguma coisa.





Promessas de Mais um Ano


Um ano de vida se vai, vai e não volta mais
Ano de aprendizados, erros e acertos, vitórias e muitas derrotas
Frustrações, muitas, elas ensinam mais que os acertos
Mesmo assim me pergunto, quem quer aprender desse jeito?
Amigos vieram, amigos se foram
Amores passaram, mas poucos realmente ficaram
Com uma marca boa, uma saudade estranha
Que não aperta no peito, nem move as entranhas
Arrependimentos mil, risos das situações no mínimo profanas
Prometo, porém, mudanças drásticas
Quero ser menos ingênuo, sem muita malícia
Mais maduro, sem perder, da infância, a mandinga
Aprender a valorizar quem pra mim tem real valor
E deixar de lado todo o torpor
Que se passou e não volta mais
Tudo que há de vir, serão lembranças reais
Quero aproveitar, aprender a melhor me divertir
Quero estudar também, muito, sem deixar de sair
Fazer sentir quem eu amo meu real amor
Me expondo que seja, desafiando a dor
Nesses meus vinte e poucos anos não cabe tristeza
Apenas regojizo pelas barreiras vencidas
Pelos momentos impagáveis que os que me amam me deram tanto
E as fotos que jamais ficarão pinduradas em molduras em cima da cama
Foram vividas, ficarão na lembrança
Com toda alegria, paixão, loucura e calma
Tudo ficará guardado dentro de minha alma.

quarta-feira, agosto 17, 2005

Papéis

Não levou muito tempo para que pudéssem apresentar, identificar e se acostumar com seus defeitos. Tanto ele quanto ela interpretaram muito bem os papéis de apaixonados que a vida real insistiu em lhes pedir.

Os scripts estavam em suas mãos há tempos, mas só recentemente ele teria lido o tal roteiro. Possuía duas propostas de personagem em mãos (ele estava no meio de outra produção) e precisava decidir-se em qual filme atuar. Ela, por sua vez, havia jogado fora roteiros passados e agora queria aquele papel.

Acontece que para aceitá-lo como parceiro de um sem número de cenas, ela exigia que ele também tomasse sua decisão. Afinal, ele não poderia interpretar dois papéis simultâneamente. Bem, poder até poderia, mas não deveria. E ela não deixaria aquilo acontecer. Ou se concentrava naquele novo personagem, ou a deixasse procurar algum outro candidato para lhe acompanhar naquele projeto.

A verdade é que a produtora já havia rejeitado a película que estava sendo rodada, e eles insistiam em prosseguir aquele filme. Não demoraria para ser cortado todo o orçamento. Aquela fita, que tentava um remake melhor que o original, estava fadada ao fracasso. O ator principal reclamava da atriz, que nunca conseguia deixar sua deixa de maneira digna. Mas também admitia sua culpa, dizendo ao espelho que não se esforçava bastante.

Após algumas conversas com os produtores, ele, que também era o diretor, teve de romper o contrato e jogar aquele rolo fora. Despachou sua ex-parceira de cena e pouco tempo depois começou a trabalhar no novo roteiro que lhe foi apresentado.

O filme ainda está sendo rodado, depois de o roteiro ter sido modificado por ele e aprovado pelos produtores e pela atriz, mas não se sabe ao certo quando estréia. O que se sabe, apenas, é que todos os envolvidos estão contentes com os resultados obtidos e prometem levar ao público um sucesso de bilheteria. O clima nas filmagens é animador, descontraído. Amigos e colegas dos atores dizem que essa pode ser uma das mais belas histórias de amor da história...


Rafael Rodrigues

terça-feira, agosto 16, 2005

Funeral Para Um Amigo - Parte Final

Primeira Parte: Funeral Para Um Amigo - Parte I

Os amigos aplaudiram em lágrimas. Isabela chorava no ombro da filha. O caixão finalmente encontrava seu abrigo final e a terra lhe traria o conforto.

Joaquim pode conversar com alguns de seus amigos mais antigos, "Foi muito bonito o que você disse lá na frente". Alguns desconhecidos também aplaudiam, "Excelente, Joaquim" e lhe davam leves abraços.

Na fila de carros que se estendia quarteirão abaixo, Joaquim encostado em seu veiculo, olhava todos os amigos e parentes saírem daquele enterro. Alguns não pareciam nem transtornados, outros traziam a dor estampada no rosto. Gustavo, o filho mais novo, talvez ainda não entendera que o pai nunca mais voltaria. Já Angélica, caminha em direção a ele.

- Angélica, tudo bem? - Joaquim não gostou de sua pergunta. Dizer isso para uma filha no enterro do próprio pai não era nada sábio.

- Oi Joaquim. Foram belas palavras o que você disse lá dentro. Eu gosto do que você escreve. Eu lembro que você ia em casa antes mesmo de ser famoso. Eu ainda tenho aquele livro que você me deu.

Ele sorriu, agradeceu, e nasceu um silêncio estranho que incomodava aos dois. Talvez existia algo mais para se dizer. Angélica olhava o chão.

"Há algo mais que queira dizer?", perguntou. E ela, ainda receosa.

"Sei que suas intenções foram maravilhosas. Mas você conheceu meu pai. E sabemos que algumas de suas palavras foram exagero. Meu pai foi sim uma pessoa feliz mas eu não encontrei vestígios dele em várias de suas frases. Foi um belo discurso, Joaquim. Mas papai tinha uma essência mais comum do que você pode imaginar. Só se ele mudou tanto assim desde que te conheceu. ... Papai não era um super-herói".

Desconcertado, Joaquim se pôs a olhar. Angélica foi a garota mais sincera que ele tinha visto desde então. Sem palavras prolongadas, abriu a porta do carro, disse um "tenho de ir. Se cuida" e prometeu, a pedido dela, enviar um exemplar de seu novo livro que sairia em breve. E foi embora.

No caminho para casa, Joaquim só pensava que se talvez José não foi uma pessoa ilustre, sua filha, com certeza seria pelos dois.

- Meu pai não era um super-herói... Quem diria, José. Quem diria...

Thiago Augusto
(01-08-05)

Amizade

Vocês conhecem. Aquelas mensagens que vira e mexe nos enviam por email. Mas não estou falando daquelas de tragédias, ou que o Zezinho não tem dois braços e duas pernas e precisa de um dinheiro pra fazer uma cirurgia no quinto dos infernos. O tipo de mensagem em questão é daquelas que falam de amizade. Quem me conhece sabe como sou. Desligado ao extremo. Só ligo pra quem me liga - e olhe lá se eu ligar. Invento desculpas, digo que estou sem tempo ou que perdi o telefone... Desculpas existem e eu sou - modéstia à parte - um mestre nessa arte.

Admito meus erros, não tenho porque negar. Mas preciso dizer uma coisa, de peito aberto: nunca esqueço dos meus amigos, jamais. Por mais que eu não responda email, por mais que eu não envie torpedos, por mais que eu não vá na casa deles ou não ligue pros seus telefones, enfim, eu carrego todos na lembrança.

Não citarei nomes aqui porque não há necessidade. E eu teria que passar, talvez, horas, digitando. E nem todos lerão isso aqui.

Mas para vocês que estão lendo, vocês que considero como amigos ou me consideram como amigo, podem ter certeza: eu tenho vocês na minha mente e no meu coração. Tanto aqueles que eu vi há poucos minutos, ou aquelas que há anos eu não vejo, ou ainda aqueles que eu nunca vi na vida.

Resolvi escrever isso devido a uma mensagem que minha amiga virtual (e isso não impede de ela ser uma grande amiga, a única que citarei nesse "depoimento", digamos assim, pra aproveitar a mania das CPIs) Eliane me mandou. A mensagem é tão boa que eu vou deixar um link aqui pra vocês poderem baixá-la.

Um grande abraço a todos,
Rafael Rodrigues

http://www.megaupload.com/?d=379O7PJA

Instruções: O link vai abrir e vocês precisam esperar alguns segundos para carregar o link. Vai aparecer "Please Wait xx seconds..." Tem que esperar a contagem terminar. Quando terminar, vai aparecer "Click Here to Download". Daí vocês clicam. Daí vai aparecer uma janelinha que vou colocar a imagem aqui embaixo:




Onde está circulado de vermelho, vocês irão clicar pra fechar essa janelinha e atrás dela vai estar o "Click here to download". Pronto. Aí é só clicar, baixar o arquivo "amizade.pps", salvar e depois ver a mensagem. É bem legal.

domingo, agosto 14, 2005

Funeral Para Um Amigo - Parte I

Ele só soube da morte de seu primeiro amigo, José, no dia seguinte quando leu os funerais. Enquanto esperava o café, resolveu fazer algo que quase nunca fazia: olhar as notas de falecimento. Joaquim achava esse hábito um desejo mórbido das pessoas, encontrar um conhecido naquela lista para ter o que conversar com os amigos.
Se espantou ao ler e perdeu totalmente o apetite para tomar o suco de laranja que pedira à empregada. O que sentiu foi um imenso aperto no coração. "Meu primeiro amigo", pensou e leu as linhas da nota.
"José Eduardo Galvão. Morto ontem por volta das 18h, em um assalto a mão armada, deixa a esposa Isabela Hernandez de Oliveira de 37 anos e os filhos Angélica de Oliveira Galvão de 14 anos e Gustavo Lúcio de Oliveira Galvão de 7 anos. O corpo será velado hoje no Velório Vá Com Deus e seu enterro se realizará amanhã as 9 horas da manhã."
Joaquim se entristeceu com a memória no passado. Lembrando de seu primeiro amigo de verdade ainda no final de sua infância. Espantou-se por não ter sido contatado, não tinha mudado de telefone, "como esqueceram de me avisar?".
Responsável por muitas histórias que ele podia lembrar, José se tornou distante anos depois. A vida de ambos se afastaram, as convicções e defesas não eram as mesmas. Amigos sim, mas não compartilhavam as mesmas paixões. Isso fez com que a amizade se esfriasse e continuasse sempre nessa constante. Faziam 10 anos que ele quase não tinha noticias do amigo e agora lia incrédulo a nota do jornal.
Joaquim ainda lembrava perfeitamente das conversas que tivera com o amigo que sempre parecia tão mais sábio que ele naquela época. Mas também sentia a dor dessa distancia que ele lutou por muito tempo para não existir. Permaneceu ainda em seu peito uma amargura acrescida a cada ano pela distancia. Ele era um desses homens que jamais aceitava inexplicações que o tempo nos dá de presente.
Só percebeu que o telefone tinha tocado quando sua empregada entregava o aparelho em suas mãos - É uma tal de Dona Isabela. Quem seria? Ele não conhecia ninguém com esse nome.
- Pois não? Sim. É ele que está falando?
Do outro lado da linha, Isabela se identificou como esposa de José. Tinha o visto muito pouco mas ainda lembrava dele no casamento. Joaquim lhe deu as condolências, ela ameaçou chorar e lhe fez um pedido. Se Joaquim ou Sr como ela lhe chamou, como escritor que era, poderia escrever algumas palavras para serem ditas no funeral amanhã.
Sem pensar, aceitou. Mas ao desligar o telefone não sabia o que escrever.
Tomara finalmente um gole de seu suco, ligou seu computador. Sabia que escrever a mão a essas horas seria ainda mais complicado, visto o costume e a emoção.

Acordara tarde na única manhã que deveria chegar no horário. O enterro começaria em 15 minutos e sua casa era distante do cemitério. Mordeu o ultimo pedaço do pão enquanto trancava a porta de casa e o portão abria automaticamente. Entrou no carro e saiu, às pressas.
No cemitério quase não teve tempo de reconhecer os amigos que ainda conhecia. Viu Isabela que se emocionou com a chegada do amigo, "Ele disse que você foi o primeiro amigo dele". Sem palavras, confirmou com a cabeça.
Ele nunca tinha visto Gustavo, mas percebeu o quanto Angélica tinha crescido. Os amigos cumprimentaram-no. Tinha o receio de que alguém soltasse um comentário indevido sobre seu último livro ou qualquer palavra sobre sua carreira. Teve sorte, todos foram sóbrios quando Isabela o apresentou.
Na frente de amigos e parentes naquela fria manhã iniciou seu mais belo discurso:
"Nunca existiu amigo como José. Que sem mais devaneios me ponho a falar. De um homem de coração fiel aos seus pensamentos e puro em suas ações.
Nunca existiu alguém que sonhasse tanto com os pés no chão. E que com trabalho árduo pôs-se a realizar todos seus pensamentos como os velhos cientistas conseguiram fazer.
José atravessou a linha entre os homens normais e se tornou extraordinário por tudo aquilo que foi. Corajoso, sempre, ao falar o que desejava. Nunca fugia de qualquer luta. E sempre o amor e a amizade foram a chama acesa em seu coração.
José faz minhas palavras faltarem. Pois descrições não bastariam para dizer quem esse fantástico homem foi. Mas do pouco delas que me sobraram, digo que estão em luto por José.
Um amigo fiel que agora iluminará outros caminhos. Um homem de honra em todos os sentidos. Um homem para não ser esquecido. Esse foi José."

[Continua...]

sábado, agosto 13, 2005

Boa nova

João Filho, baiano cabra da peste, escritor arretado e um cara gente boa pra caramba, postou em seu blog um conto meu.

O texto ("Passageiro")já foi publicado aqui no 3 Vozes, mas pode ser que vocês não tenham lido, ora pois. Eis o link do blog dele:

http://www.cabezamarginal.org/joaofilho

* João Filho é escritor, natural de Bom Jesus da Lapa, Bahia. Seu livro, o volume de contos "Encarniçado", foi publicado pela Editora Baleia e aclamado pela crítica e pelo público. Revelação recente da nossa literatura, João Filho foi autor convidado da FLIP (Festa Literária Internacional de Paraty) deste ano. Infelizmente isso ainda não possibilita a João viver tranquilo. Atualmente em Salvador, procura emprego para sustentar-se. Tive o prazer de conhecê-lo e conversar por horas, na ocasião de um lançamento de livro em Salvador.



Rafael Rodrigues

Brainstorm


Pensamentos emergem
Embaralhados, encriptados
Jamais emancipados
De sonhos, paixões
Desesperos, decepções
Cheiro, gosto, tudo se mistura
Querer e poder logo são um
Desejar e tentar
Perder, sofrer andam de mãos dadas
Céu, mar, ondas
Teu rosto num quadro
Horizonte parede
Cai, desfaz
Não vem, nem fica
Não chega e nem vai
Pranto, espanto
Terror, frio
Solidão, compaixão
Eixo, queixo
Quebrado, partido, amordaçado
Sofrido, deixado, enterrado
Crime, assassinato
Seqüestro, abandono, desamparado
Sangue, dentes, navalha
Chuva, vento, calha
Ondas, ressaca, deriva
Respiração, cessão, óbito
Choro, lágrimas, desespero
Arrependimento, dor, náusea
Flores, vida artificial, simbolismo
Meio, começo, segredos
Revelações, transgressões, frustrações
Sem volta, tarde demais
Beco sem saída, fim.



Eduardo Leite

PS.: Desculpem a ausência, faculdade consome minha vida. Vejam o resultado.

sexta-feira, agosto 12, 2005

Sem Destino

Por essa nem o destino previu.
Iriam se encontrar, sem saber,
quando tropeçassem na frente
da catedral do centro.

Ele, antes de sair, tinha
esquecido o guarda chuva.
Atrasou-se. E ela, tropeçou
e escorregou. Sozinha.

Thiago Augusto
(05-08-05)

quinta-feira, agosto 11, 2005

O verdadeiro homem do ano tem a palavra

Eu nunca tive problemas com os outros. Eles é que têm comigo.

Para mim, o que eles pensam ou não sobre minha pessoa, não importa. Modéstia à parte, eu me basto a mim mesmo. E meu estar bem vale mais do que a opinião desses reprimidos hipócritas.

A verdade é que eu incomodo. O fato de eu poder me vestir da maneira que eu quiser, tatuar meu corpo inteiro, se tiver vontade, morar em um local agradável e privilegiado, incomoda muita gente.
Elas olham para mim com um misto de nojo e desprezo. Mas, no fundo, o que elas sentem é inveja.

Eu não sou como elas. Que estão presas a um emprego ridículo. Eu faço o que eu gosto e ganho muito bem para isso. E seria feliz, mesmo não lucrando tanto.

De tudo que eu já li, uma frase me marcou bastante e resume todo o meu desprezo a essa sociedade de merda: “O inferno são os outros”. Dizem que é de Sartre.

E o paraíso sou eu mesmo. Me amo, acima de todas as coisas.

Não sou egoísta, nem arrogante. Quem me conhece sabe como eu sou. Todos que têm um maior contato comigo dizem que sou uma boa pessoa. Se bem que isso não importa. Não dou a mínima para o que os outros pensam de mim.

Os outros que se fodam.


Rafael Rodrigues

Passando a Limpo

Vamos deixar algumas coisas bem claras: eu não sou um homem político. Eu não beijo criancinhas! Porque elas me irritam e eu não gosto das que babam, e não cumprimento toda a nação pedindo votos.

Não estou com saudades de todos, certo? Alguns não sabem da minha existência, e assim, mantendo a recíproca, eu também não ligo para a existência deles.

Pretendo não ter inimigos, mas não posso negar que existem, ao menos, desavenças. Meu humor não tolera a todos. Assim como eu não agrado a maioria. De modo que direi um "Olá, Bom Dia" a essas pessoas, somente por respeito. Isso se por acaso cruzar com elas. Sem politicagens, já que respeito está acima de tudo.

A felicidade vem dentro de potes de palmito. São difíceis de abrir. Partículas de felicidade melosa não são tão interessantes ao meu ver. Principalmente depois, ao ver o que se sobra, do que se resta.

Há saudades, claro. Mas as minhas são direcionadas às pessoas que gosto. Minha saudade é implícita e pude perceber somente hoje ao me despertar. Eu sentia saudades de quase tudo, como se tivessem me privado de algo. Fui lembrar que estava distante temporariamente só depois de alguns segundos. Ninguém tinha me privado de nada. Logo logo o elenco se reuniria novamente.

Eu odeio maniqueísmos e odeio exageros. Ninguém aqui vai cantar "We Are The World" de mãos dadas. Vamos voltar ao que somos de verdade, cortar a veia artística e viver. Não há um diretor fazendo as cenas. Somos nós. Somente.

Thiago Augusto
(02-08-05)

quarta-feira, agosto 10, 2005

O engenheiro

Quebrando cabeça.
Procurando sinônimos.
Verificando grafias.
Checando concordâncias.
Plantando cópias.
Sondando opiniões.

Em uma fazenda de letras
Colhendo palavras.

Fortificando raízes
Da literatura transgênica.

Rafael Rodrigues
(10/05/05)

O Que Fomos Nós

Fez do imã uma lágrima atraída pela dor
de um amor que bebeu do lapso a sobrevivência
Inculto, imperfeito somando os belos erros
que sentiu a pena da dor do que do florescer.

Da tênue visão entre o sonho e o parecer
dissipado não pelas palavras, mas pelo cessar
das letras que nasceram nas mãos e morreram
no seu olhar sem caminhar, sem porque, sem razão.

De um simples afeto, tão único, que veio enfeitar
a casa singela e sem luxo chamada de "nosso lar"
viva de trôpegos, sussurros, calma e construção
queimada pelo incêndio que agora a deformou.

Aconteceu uma história tão bela e singular
onde cessaram as sílabas e seus pensamentos.
Nasceram perguntas que morreram como os barcos
naufragados pela solidão distante de tanto a/mar.

Na sepultura, na galeria, havia flores, havia vida.
Borboletas vestidas de bela inocência sepultavam-se
sem saber que o que fomos nós estava nos restos ao chão
Um amor inculto. Tão nobre. Morto. Pelas mãos de seus algozes.

Thiago Augusto
(30-07-05)

segunda-feira, agosto 08, 2005

Portas

Estava só, em um corredor longo, escuro, com muitas portas. Não conseguia enxergar muita coisa. E ele precisava encontrar uma saída.

No fim do corredor havia uma porta, mas trancada. Além dessa, outras várias. Uma delas seria a saída. Provavelmente.

Ele foi abrindo cada uma. A primeira abriu para uma sala vazia, escura, quase totalmente escura. Ele andou pela sala, procurou outra porta ou janela, mas suas mãos só encontravam a frieza das paredes. Abriu outra porta e percebeu que ela dava acesso a outra sala vazia e escura. Passou então para outra porta, e mais outra, e outra. Salas. Vazias e escuras. Paredes frias. Não havia saída.

Abriu mais uma. Dessa vez ouviu vozes vindas de um canto da sala. Não conseguia entender o que diziam, falavam muito baixo.

Devagar, ele foi se aproximando. Ouvia fragmentos: “nunca vai encontrar”, “está bem guardada”. A sala na qual ele agora estava não era vazia como as outras. Percebeu isso quando se chocou com um objeto e o derrubou no chão. As vozes calaram-se, e após alguns segundos do mais absoluto silêncio - apenas ouvia sua respiração, forte e nervosa - alguém gritou:

- O que quer aqui? O que procura? Seja lá o que for, não encontrará. Não aqui, não dessa forma.
Com algum esforço, conseguiu falar:

- Me ajudem! Não sei o que está acontecendo. Não sei como vim parar aqui! Quero encontrar uma saída, ou ao menos um lugar no qual eu possa ficar.

A voz agora parecia mais dura, pesada e fria - como as paredes da sala:

- Grande idiota! Pode ter encontrado a saída, e não sabe. Pode encontrar, e não vai saber. Não há nada aqui nesta sala para você. Vá embora e não nos incomode.

Saiu daquele cômodo. Abriu mais algumas portas, mas tudo o que encontrou foram mais salas escuras e vazias. Com paredes frias. Resolveu sentar no meio do corredor.

Pela primeira vez refletiu sobre aquela situação. Não sabia como havia chegado ali. Simplesmente acordara naquele lugar. Seus pensamentos foram cortados por vozes.

Vozes. Pessoas conversando. Portas se abrindo e fechando. Ele achou melhor continuar parado onde estava.

Dormiu. Pensou que talvez pudesse acordar em outro lugar.

Não foi o que aconteceu.


Rafael Rodrigues

domingo, agosto 07, 2005

Cara Prudência (Uma carta a mão)

Sei que eu não deveria fazer isso.

Sei que já acabamos e nosso final foi deveras trágico.

Você sumiu de vez. Deve achar que é melhor assim. Sua escolha foi viver sem mim e perder o melhor amor que poderia ter. Eu devo aceitar e entender. Pois fiz tudo que estava em minhas mãos para que desse certo. Mas não é esse o motivo dessa carta.

Amanhã volto às aulas e sei que também começa algo novo. Embora magoado por tudo que você me fez, ainda existe um afeto. E talvez parte de mim ainda teime em achar que vive contigo. E um pedacinho, no fundo, ainda gostaria de ter você só para mim. Mas entre me fazer feliz e me magoar, foi feita a segunda opção.

Mas te desejo boa sorte nesse novo caminho que deseja percorrer. Eu mesmo já quis te dar novos caminhos. Mas acredito que você não os aceitará. Então siga o que quiser. Caso se engane, procure voltar a tempo de começar algo novo. Ainda desejo que se transforme em uma nova pessoa em vários conceitos. Que com certeza te fariam muito muito melhor. Se torne um alguém que eu nunca verei.

Um novo caminho aberto a sua frente. Onde eu fico para trás e você inicia tudo sozinha. Não que fosse eu algum apoio. Mas agora você tem ele para se apoiar. Não que, na minha opinião, ele tenha servido para isso nesse um ano e meio que te conheço.

Quer saber o que eu mais sinto falta? Das banalidades. Lembra da canção que te falei? "Todo esse ar", do Ludov. É uma verdade quando ela diz que "o mundo é pequeno sem ter com quem dividir coisas banais". E foi um fato que dividimos muito o exercicio de nossas pequenas coisas. Eu estive em você muito mais do que ele está ou esteve nesse tempo. E você sabe que não é mentira.
Sinto falta de saber que alguem por aí gosta de mim. Mas as pequenas confissões. Dores de cabeça. Momentos de felicidade que eram divididos entre nós dia a dia fazem uma falta tremenda. Uma pequena coisa que falta de forma gigantesca.

No mais deixo minha despedida em forma de versos de Marcelo Camelo. Não que a música toda se encaixe. Mas saiba que quando quiser eu posso estar aqui. Eu nunca negarei nosso passado que existiu, foi belo e agora morto. Mas não pelas minhas mãos.

Aquele abraço.

--

Adeus Você
(Marcelo Camelo)

Adeus você. Eu hoje vou pro lado de lá.
Estou levando tudo de mim
que é pra não ter razão pra chorar.
Vê se te alimenta e não pensa
que eu fui por não te amar.
Cuida do teu pra que ninguém
te jogue no chão.
Procure dividir-se em alguém,
procure-me em qualquer confusão.
Levanta e te sustenta e não pensa
que eu fui por não te amar.

Quero ver você maior, meu bem.
Pra que minha vida siga adiante.
Adeus você. Não venha mais me negacear.
Seu choro não me faz desistir,
seu riso não me faz reclinar.
Acalma esta tormenta e se agüenta,
que eu vou pro meu lugar.

É bom, às vezes,
se perder sem ter porque, sem ter razão.
É um dom saber envaidecer, por si,
saber mudar de tom.
Quero não saber de cor, também,
Para que minha vida siga adiante.

Thiago Augusto

Minha porção mulher

Porção mulher? Eu até tenho. Mas a minha é lésbica.

sábado, agosto 06, 2005

A mulher do ano

* Mini-conto inspirado no conto "O homem do ano", de Thiago Augusto. Vocês podem lê-lo clicando no seguinte link: http://3vozes.blogspot.com/2005/07/o-homem-do-ano.html

Não preciso de meias palavras. Ou arrodeios. Vou ser curta e grossa: pra mim, o que importa é a opinião dos outros, e fodeu.

Até que eu gosto dele, é verdade, mas não faz meu tipo, apesar de ser legal comigo. Inteligente, bem-humorado e tudo mais. Mas olha só pra ele. Olha aqueles óculos, aquela camisa... Ridículo!

O que as meninas diriam se me vissem com ele? Amanhã minha reputação iria por água abaixo. Que reputação? Ora, eu sou uma das garotas mais desejadas do colégio. Muitas de minhas amigas têm inveja de mim. E veja só: o Marcinho está afim de mim. Elas estão se mordendo...

Ele não tem nada na cabeça, mas, e daí? É bonito, gostoso, e tem um carro lindo! Não custa nada passar algum tempo com ele.

Sou vaidosa mesmo. Não me sinto bem com a maioria das roupas que visto, mas preciso andar na moda. Elas sempre me incomodam de alguma forma. Exatamente como as pessoas com as quais tenho mais convívio. Não posso chamá-las de amigas, pois nossas relações são todas baseadas em algum interesse. Isso não é amizade. Disso eu sei.

Não sou tão vazia e boba para ignorar o fato de que basta eu passar a ser – na frente delas – quem eu realmente sou pra elas começarem a se afastar. Mas enfim, são escolhas que fazemos. E eu escolhi ser assim: fútil, superficial e materialista.

Não devo nada a ninguém, mesmo...


Rafael Rodrigues

sexta-feira, agosto 05, 2005

Ele x Ela Na Cidade Sem Fim - Parte Final


[...]

Chegou na casa da tia Nina por volta das 11 horas da manhã. Sabia que Maria já estaria fora da cama, seu plano inicial não seria realizado.
Tocou a campainha, cumprimentou tia Nina e perguntou por Maria. "Saiu, meu filho, faz tempo, mas acho que volta logo. Sente-se e espere por ela".
Fez uns minutos conversando com os outros parentes, e foi sentar se em uma varandinha no segundo andar da casa. Lia o jornal para distrair.
Passou os olhos pelo caderno de esporte, leu uma ou duas notícias no "cultura", riu das tirinhas do dia e começou a olhar o movimento das ruas.
Reconheceu o carro que chegava. Era dona Eulália, mãe de Maria. Provavelmente estariam juntas.
O carro parou, demoraram um pouco a sair. E saíram: Dona Eulália, Maria Eduarda e Bruno, que Vinícius conhecia muito bem.
Há quase dois anos atrás, quando conheceu Maria, ela parecia chateada por ter terminado um recente namoro de não sei quanto meses. Bruno era o tal rapaz, que as vezes ainda a procurava e insistia em ligar.
Eles se beijavam nesse exato momento, as portas do carro. Segurando pacotes e parecendo felizes. Lá em cima da varanda, Vinícius não podia acreditar na cena que via. Por um instante perdeu seu rumo, e só encontrou a cadeira que sentava quando já estava nela.
Não soube quanto tempo passou até Maria Eduarda aparecer em seus olhos.Talvez logo quando tia Nina dissesse quem estava na varanda a esperar por ela, seus olhos tivessem se assustado. Ela pediria para Bruno não se intrometer no assunto e iria lá, nervosa.

Frente a frente. Ele sorria com lágrimas no rosto. Deveria sentir que as saudades tinham ido embora, mas só havia dor. Ela tentou se explicar, mas ele negou suas mãos quando ela pediu, pegou as chaves do carro. E assim como chegou foi embora. Não viu Bruno dentro da casa. Deveria estar escondido.
Não foi imediatamente embora da cidade. Parou o carro em um shopping e andou sem sentido algum. Em menos de meia hora, tinha entrado em 5 lojas e saído com pacotes. Gastar seria sua terapia. Foi embora quase no início da noite. Voltaria para sua casa só. Sem amor algum, somente com objetos caros sem valor.

Naquela tarde, a porta de Maria Eduarda estava encostada, um fato raro naquela casa, onde tudo parecia tão livre. Bruno bateu na porta e entrou. Encontrou-a sentada no canto da cama, com um tesouro exposto no meio dela. A surpresa tinha chegado naquela tarde do acontecido. Foi extraviada sem querer pelos correios, que pediram desculpas pelo ocorrido.
Maria segurava a carta em suas mãos, molhada pelas lágrimas de seus olhos. Bruno tinha um semblante sem expressão, tentou abraça-la, mas ela negou. Talvez ele só poderia ser um espectador daquela cena.
Do gravador saia uma canção, a primeira faixa daquele cd feito exatamente para ela. A voz era de Vanessa da Mata e Maria sabia muito bem qual era aquela canção. Não sabia se chorava somente por ela ou pelo quão irônico a vida poderia ser.

Ainda Bem
(Vanessa da Mata / Liminha)

Ainda bem,
Que você vive comigo
Porque, se não
Como seria essa vida?
Sei lá!

Nos dias frios em que nós estamos juntos
Nos abraçamos sob o nosso conforto de amar.

Se há dores, tudo fica mais fácil
Seu rosto silencia e faz parar
As flores que me manda são fato do nosso
cuidado e entrega.
Meus beijos sem os seus não daria
Os dias chegariam sem paixão
Meu corpo sem o seu, uma parte
Seria um acaso e não sorte.

Nesse mundo de tantos anos
Entre tantos outros
Que sorte a nossa, hein?
Entre tantas paixões
Este encontro
Nós dois, este amor.


Thiago Augusto
(04-08-05)

A festa

* Conto já postado anteriormente neste blog.

Meus pais não vieram. Não sei o porquê, e nem muito me importa. Melhor assim. Ali estão meus amigos. O Jorge me emocionou bastante. Até o Sílvio veio. Logo ele, estávamos brigados até bem pouco tempo atrás. Aliás, não lembro de termos feito as pazes.

Algumas ex-namoradas também vieram. Gostaria de saber quem as convidou. O pessoal do escritório também veio. Só não a Marina...

Todos estavam muito emocionados. O clima era de união. Uns cumprimentavam os outros. Vi gente que não se dava lá muito bem de mãos dadas. Ao menos isso de bom.

A maioria falava em futuro, em como iria ser daqui para diante. Era justamente o que menos importava para mim. Que se dane o futuro, pensei. Não que estivesse desgostoso com a vida que levara, não era isso. Em todos esses anos, a vida me tinha sido por demais generosa. Tive amigos, tive amor, sempre tive uma boa condição financeira, nunca me faltou nada. É claro que nem tudo são flores, mas olhando agora para tudo o que ficou para trás, tudo o que fiz e deixei de fazer, vejo que tive uma ótima vida. O problema foi que sempre fiz tudo pensando no amanhã, no futuro. Todos os meus passos, todas as minhas ações, tudo era planejado milimetricamente. E isso tirava a graça, o prazer da vida.

O dia começou ensolarado. Quase insuportável o calor que fazia. Na parte da tarde, já perto do fim, iniciou uma chuva, primeiro fraca, com ares de dizer "estou só de passagem", depois mais forte, como que dissesse, "vou passar um tempo por aqui". Alguns prevenidos estavam com guarda-chuva em mãos, os outros tiveram de se molhar mesmo.

Mesmo chovendo, ninguém foi embora, o que me envaideceu muito. Senti que era muito querido. Pensei em agradecer, um discurso talvez, mas Sílvio encarregou-se disso. Lembrou bons momentos nossos, nosso tempo de colégio e faculdade, nossas farras, nossa briga. Que amigo me foi o Sílvio! Se não fosse ele, eu não teria conhecido a mulher da minha vida, Verônica.

Não estávamos casados ainda, fazíamos planos. Já estávamos na fase de procurar uma casa, discutir quantos filhos teríamos e até os nomes das crianças. Nosso amor era verdadeiro, a velha história de “feitos um para o outro”.

Era triste ver Verônica tão linda, tão perfeita, tão elegante, chorando. E eu nada podia fazer. Eu via tudo aquilo e nada podia fazer. Meu tempo havia se esgotado.

Pouco depois a chuva se foi. Todos se foram. Mas eu fiquei.


Rafael Rodrigues

quinta-feira, agosto 04, 2005

Ele x Ela Na Cidade Sem Fim - Parte I

Um mês de viagem. Foi visitar a casa da tia em Minas Gerais. Não completavam nem duas semanas de ausência e Vinícius já morria de saudade de sua namorada.
Sucedeu tanto tempo para ficarem juntos - um confronto teimoso com o destino - que não gostaria nunca de soltar a mão de Maria Eduarda.
- Talvez eu apareça por lá - brincava com ela. Mas trabalhava diariamente. Mesmo com imensa vontade, não poderia. Talvez se sua vontade aumentasse, pegaria o carro e iria até lá em um súbito impulso.
Vinícius as vezes era imprevisível, sempre gostava de surpreender quem amava. Depois de muito procurar, encontrou um presente ideal. Algo que ela esperava há muito tempo.
Mas demoraria duas semanas para ela voltar. O jeito seria enviar pelos correios. Assim, ela receberia nos próximos dias pela manhã, ficaria imensamente curiosa, e ao abrir o presente ficaria feliz com aquilo que sempre procurou.
Compro-o imediatamente, pediu "para presente" e colocaria nos correios, quem sabe, naquele mesmo dia. Voltando para sua casa, deixou o presente em cima da mesa e teve novas idéias. Sentou-se à mesa, caneta e papel, e escreveu uma carta que iria junto com o pacote. Morria de saudade, dizia.
Achou que ainda estava incompleto. Faltava o toque final. Decidiu lhe mandar um cd, uma coletânea musical dizendo o quanto morria de saudades e a amava.

Já somava-se quatro dias desde o envio de seu presente. E embora tivessem trocado breves ligações, Maria Eduarda não mencionou absolutamente nada de sua surpresa. "Provavelmente ainda não chegou, que droga!".
Era quinta-feira quando sentiu um leve impulso. O chefe devia uma folga para ele. Se fosse pra lá amanhã logo cedo, poderia ficar o fim de semana e só voltar domingo a noite. Era perfeito. Ele matava a saudades e até lá a supresa iria chegar.
O Chefe concordou. Aquela folga estava atrasadíssima. Vinícius poderia voltar ao trabalho somente na segunda, sem problema algum.
Dormiu cedo naquela quinta, iria acordar antes do sol para chegar lá a tempo de acorda-la para o café.

Continua ...

quarta-feira, agosto 03, 2005

Mais um na multidão

Sou apenas mais um na multidão. Sim, o velho clichê. Mas é verdade. Diante de tudo o que acontece à minha volta, e em todo o mundo, sou apenas mais um brasileiro indignado com tudo o que ouve e lê a respeito de governo, brasileiro assassinado na Inglaterra, brasileiro desaparecido no Iraque e assuntos afins.

Ao invés de assistir jornais, ler revistas e impressos afins, para entender melhor toda essa crise política, saber o que realmente aconteceu com esses brasileiros que foram mortos e estão vivos nos noticiários, me confraternizo com meu egoísmo. Comemoro minha negligência e torço para tudo passar e melhorar. Afinal, o Brasil é o país do futuro. Ou não?

Como vocês já devem imaginar, eu não sei. Torço, apenas.

Não precisa alguém dizer que a situação não está boa. Todos sabem disso. Principalmente na política. Dos três assuntos que citei, apenas em relação a ela pode-se fazer ainda alguma coisa. Os outros dois casos, infelizmente, não há mais saídas. Apenas se conformar e lembrar que brasileiros foram mortos por causa de uma guerra de mentirinha que os americanos inventaram de fazer.

Voltando à política. Eu votei em Lula. Não tenho vergonha de dizer isso. Admirava José Dirceu, José Genuíno, João Paulo Cunha... Eu os via como exemplos, homens honestos que suaram bastante para chegar onde estão. E agora vejo suas reputações escoando pelo ralo, junto com suas dignidades e o meu apreço. Não sei bem o que dizer de Lula, nem se todos os acusados são mesmo culpados. Mas é o que parece.

Mediante toda essa crise, não existem veículos de informação confiáveis para acompanhar a crise. A Revista Veja é a mesma de sempre. Preciso falar algo dela? Uma revista parcial, que só Deus sabe porquê, inventa histórias, destrói reputações e faz acusações infundadas. É difícil saber quando eles publicam verdades. Tantas foram as mentiras explicitadas em suas páginas.

A Época, nem se fala. É da Globo. E não preciso dizer mais nada. Sobre a Istoé, fiquei sabendo que um dos donos da revista, se não me engano, está envolvido num esquema de suborno para a não publicação de uma entrevista que seria um grande incômodo ao senhor Marcos Valério.

Não citarei outros jornais e revistas. Teria de passar horas e horas destrinchando cada um. E no final das contas, não encontraria nada de bom, de válido, de sincero.

Além do mais, eu deixei bem claro no início de texto: sou apenas mais um na multidão. Indignado com tudo o que está aí, mas me restrinjo à minha negligência.


Rafael Rodrigues