sexta-feira, outubro 28, 2005

Malsonante

- Preciso conversar uma coisa contigo.
- O quê?
- Não quero que você me leve a mal, nem me entenda errado. É só algo que vem me incomodando há alguns dias, nada de mais.
- Ih... Você quando vem com essas conversas, boa coisa não é. Fala logo.
- Calma, vou falar, ué.

Meu histórico de relações amorosas demonstra que eu não tenho sorte com isso. E o resultado é o de sempre: quem se fode sou eu no fim das contas. Não diga nada enquanto eu não terminar meu raciocínio.

Então.

Eu estou gostando muito de você. Acho que você não imagina o quanto. Pela primeira vez em minha vida - eu, que não gosto de olhar demais pra frente, apesar de ser um sonhador nato, nunca fiz planos pra minha vida afetiva, pois sempre pensei que estaria sozinho boa parte dela - agora coloco uma pessoa em meus planos. E essa pessoa é você.

E as lembranças do que passou, querendo ou não acabam voltando, nem que seja uma vez ou outra. Você é uma pessoa normal, que tem um passado como todo mundo e sabe disso. E por causa disso, eu fiquei a pensar o seguinte: se a cada dia que passa eu gosto mais de você, e se quanto maior a altura, maior o tombo, imaginei o tombo que eu levaria caso acontecesse algo e a gente não fosse mais "nós".

Eu não queria ter essa conversa com você porque primeiro: não queria que de forma alguma você pensasse que eu imagino um fim pra gente, coisa que eu não faço de maneira alguma, muito pelo contrário, só imagino mais e mais coisas juntos. E segundo porque isso demonstra o quão inseguro eu posso ser.

Mas não posso ficar com isso na cabeça o tempo inteiro. Por isso o meu desabafo. Sei que não podemos prever o futuro. A qualquer momento pode surgir alguém em sua vida, ou na minha, who knows. E só te peço uma coisa: caso isso aconteça, caso surja um outro alguém, caso eu não te satisfaça mais, caso você não me ame mais, me diga. Por favor, me diga. É só isso que peço. Se não tiver coragem de dizer isso pessoalmente, me fale por telefone, me mande um email, um sinal de fumaça. Mas não minta pra mim, jamais. Não existe traição maior que a mentira, mesmo que não haja traição. Acredite em mim.
Eu te amo, e não te farei mal algum, jamais. Te amo mais que a mim mesmo, você sabe disso.

Silêncio.

- Acabou?
- Acabei.
- Eu te amo, seu besta. Vem cá...

A seguir, um beijo de novela.
Rafael Rodrigues

quinta-feira, outubro 27, 2005

Artigo Indefinido - Parte I de II

Um ponto em branco. Um sorriso agonizante em uma abóbora que até o final da noite das bruxas virará pó.
Luzes incandescentes. Um homem está parado a beira de nada achando que deveria ter feito tudo melhor para sua própria vida. Esse homem sou eu.

Eu deveria saber o que fazer com minha própria vida, olhar nos olhos, saber a melodia certa das canções que quero compor. Perceber quais palavras servem para aproximação e quais palavras são fobia. Mas os senhores iram me dizer que na margem de todas passarelas o que vivemos são vícios.

Minhas mãos cobrem minha cabeça. Meus olhos talvez queiram expelir lágrimas. Batem-se estacas e perguntas dentro de mim. Palavras que não sei responder. Estou a contemplar o abismo, ele me contempla de volta mas não me diz nada. Querem saber qual foi a última vez que eu tinha certeza de tudo que eu fazia? Qual foi a última vez que eu disse sim?

As memórias são curtas quando você não lembra se, mais esteve na estação vendo os trens passarem, ou se estava sempre dentro deles partindo para lugar algum. Quem fui eu? Será que vivi em outro momento sendo o operador desse trem? Sempre andando pelo mesmo caminho todos os dias. Inutilmente andando pela mesma estrada?

Deveria saber o que fazer. Entender o caminho das horas. O passado do vento. Deveria ser mais centrado e não viver me remoendo.

Tempo.


Thiago Augusto

segunda-feira, outubro 24, 2005

Que outrora

As tuas mãos
Que outrora passearam pelo meu corpo
E me fizeram sentir sensações outras

Os teus olhos
Que outrora cruzaram tantas e tantas vezes com os meus
E me fizeram derramar lágrimas outras

Os teus lábios
Que outrora beijaram os meus e além de...
E me fizeram arfar ares outros

As tuas narinas
Que outrora sentiram os cheiros meus
E me fizeram quase me perder de mim

Os teus ouvidos
Que outrora ouviam meus lamentos
E recebiam com prazer minha língua

Nada disso tem mais sentido
A sete palmos do chão


Rafael Rodrigues

domingo, outubro 23, 2005

Marketing

Siguinte: o Cortiça - www.cortica.org - é um site literário.
Ein? Querem que eu explique mais?
Tá.
Lá vocês encontrarão poesias, crônicas, contos, matérias, entrevistas, enfim, tudo que um site literário deve ter. MAS - e eu disse MAS - lá é o seguinte: a começar pelo visual, ele difere dos outros sites por aí. Recém criado (tem o quê, uns 10 dias? ou um pouco mais que isso) a proposta do site é a seguinte: um local para novos autores e novos leitores. Não desprezando os velhos escritores e os velhos leitores, claro. Entrei e gostei logo da cara do projeto. Daí, bedelhudo que sou, quis logo meter meu dedo lá também. E serei colaborador - colunista, se preferirem - do site. Legal, não?

Entonces, visitem o site e leiam os escritos da galera lá. Dica: vale MUITO a pena ler o que escreve o Urariano Mota, outro colunista. E quando eu recomendo, é porque é muito bom mesmo.

Lembrando também que toda quarta-feira sai um escrito meu no Simplicíssimo - www.simplicíssimo.com.br. E somente um dos textos que lá estão foi publicado em outro local. Os outros só foram publicados lá mesmo, e não sei se serão postados em outro site ou blog.


Abraços,
Rafael Rodrigues

sábado, outubro 22, 2005

Referendo-me




O curioso desse referendo é que de repente o povo se tornou importantíssimo para o país. Porém, o problema é que depois a culpa será toda nossa. Se a economia do país afundar porque gerará vários desempregados, visto que fábricas de arma irão fechar: A culpa será nossa. Se existir mais assassinatos com armas de fogo: A culpa será nossa.

Eu, confesso, sou um analfabeto político. É difícil acompanhar como anda o nosso mundo e entender todas as maracutáias que fazem por lá. Talvez a ignorância seja o melhor caminho. Eu deveria votar "Sim" só porque o Chico Buarque falou. Afinal, ele não deve estar errado, certo?

Esse tal referendo deveria vir com mais uma opção:
[.1.] Não
[.2.] Sim
[.3.] Talvez

Num país cheio de contrastes onde um muito da população não tem acesso a informação e muito menos a uma educação descente, exigir uma resposta a uma complicada questão política é jogar a responsabilidade nas mãos erradas.

Referendo sobre a venda de armas: Vote no Talvez!




Thiago Augusto

sexta-feira, outubro 21, 2005

Referendo do Desarmamento?? - FIM



Talvez seja uma própria jogada do Estado, “Vamos mostrar que a população é responsável pela segurança do país, a gente faz um Referendo, eles votam lá e esquecem por um tempo a criminalidade que só aumenta, os impostos que também aumentam, as ondas de seqüestro relâmpago que estão na moda, os roubos de celulares e eles são tão idiotas que nem vão perceber que a AR15, arma utilizada no tráfico, por exemplo, nem é vendida em lojas de armas, são de uso restrito das forças armadas, e se brincar nem na do Brasil (risos maléficos)”.

Uma boa tirada é também as histórias que se contam das crianças que encontram as armas dos pai, geralmente, e POW! matam um amiguinho ou irmão, “Vocês tão vendo? Se a comercialização fosse proibida, provavelmente isso não teria acontecido!” isso sem levar em consideração se arma era ou não legalizada ou que o mesmo poderia ter acontecido com uma faca, pedaço de cano, remédio, produtos de limpeza, resumindo, a responsabilidade pelas crianças são de seus respectivos pais, as mortes que houveram aconteceram por negligência, ignorância.

Existe um novo fator que li recentemente e não sei ainda a validade, mas vale a pena ser considerado e estudado a fim de ser descoberta toda a verdade, existe uma certa lei do comércio exterior que impede a exportação de algo que não possa ser comercializado no país onde é fabricado, ou seja, se o Brasil aprovar a não comercialização, não poderá exportar para os Estados Unidos, país que compra maior parte da produção de armas brasileiras, onde responde por cerca de 20% do comércio naquele país. Assim como aconteceu no caso da Embraer, da carne que, segundo rumores estaria com a doença da vaca louca, e agora por causa da dita alta qualidade das armas de leve calibre fabricadas aqui. Isso sem contar nos clubes de tiro que é um esporte que movimenta o comércio de armas no país, um esporte não tão barato, que produz empregos diretos e indiretos.

Cabe uma coisa mais importante ainda, vivemos num país onde funciona a representação política, elegemos um representante, na maior parte das vezes erroneamente, e este decidirá por nós. Por que será que justo a comercialização tem de ser jogada nas mãos de uma população onde uma minoria tem acesso ao ensino superior, onde as bibliotecas públicas estão sempre vazias e uma partida de futebol tem bem mais valor que um livro? Será que estamos preparados para decidir sobre uma questão tão complexa e racional que é apresentada de forma tão emocional e vazia? Tanto professores universitários quanto parentes de vítimas de armas terão de votar, nem todos terão a maturidade para pensar direito em vez de levar em consideração a voz de bandido do Chorão dizendo: “Sim pela paz, mano! Morou?” ou de um pai chorando pelo filho que morreu por conta de sua própria estupidez em deixar uma arma a seu alcance.

Cada vez mais acho enfadonho conviver numa sociedade onde as classes dominantes usam de subterfúgios tão baixos e manipulação tão acirrada num país onde cada vez mais as pessoas aderem à atitude blazé, passam pelas ruas diante de corpos e pessoas pedindo socorro sem parar devido à pressa de chegar na hora certa no trabalho, por que então fingimos que nos importamos com os filhos dos outros que morrem? São sempre os outros, nunca perto da gente. Mais ainda com uma proibição, quem sabe a ditadura não está voltando já que não podemos mais nos expressar de tantas formas e cada vez mais os religiosos implantam em nosso cotidiano suas expressões de fé que se enraízam cada vez mais no nosso pensamento, deixando de lado o racionalismo e nos guiando pela cegueira completa da fé e pela incerteza da emoção que nada é sem ser associada ao pensar.


Ontem na bandeirantes, mais ou menos às 10 e meia da noite, estava passando um debate da frente do não x a frente do sim com algumas perguntas da emissora e depois de estudantes de direito, foi até interessante, espero que tenham visto ;)


Eduardo Leite

quinta-feira, outubro 20, 2005

Referendo do Desarmamento??


Domingo dia 23 de Outubro, seremos convocados, assim como nas eleições, a nos dirigirmos às nossas seções eleitorais e usarmos a velha urna eletrônica para fazermos uma escolha, se somos a favor da comercialização de armas no Brasil. Você já decidiu no que vai votar?

Eu sei que é um tema bastante capcioso e muitas “autoridades” em publicações de artigos e veículos de comunicação tem tentado manipular, digo, informar às pessoas o suficiente para que possam tomar uma decisão segura e consciente sabendo todos os prós e contras.

Várias estrelas de pesado calibre, se me permitem o trocadilho infame, têm aparecido nos intervalos de programas de emissoras de canal aberto com um sorriso estampado no rosto e uma camisa branca dizendo sim à paz e sim ao desarmamento. Homens sérios e cultos tais como Chorão, vocalista do Charlie Brown Jr., o educador D2, jovens escritores como o Felipe Dylon, a extremamente politizada e excelente que é concluinte do ensino fundamental, me escapa seu nome, mas ela apresenta o Caceta & Planeta Urgente. Ou seja, toda uma gama de pessoas carismáticas e tendo em suas cabeças o mesmo conteúdo que os camarões possuem nas suas fazendo apelos emocionais e contribuindo para a manipulação que os as emissoras abertas sempre foram categóricas. No lado do NÃO já temos algumas vinhetas com jovens desconhecidos, isso quando não é uma voz solitária, e as revistas que atendem uma parcela menos, porém mais próxima à cultura, em nossa sociedade.

Não estou querendo dizer que faltam os argumentos dos a favor da proibição do comércio, existem sim de ambos os lados, se são relevantes ou não é o que vamos tratar, mas acima de tudo me chama muito a atenção todo e qualquer movimento em massa dirigido por um grande manipulador de massas(TV) e isso me aguça mais ainda o sentido crítico e as antenas da desconfiança mandam sinais enlouquecidos e perturbadores para minha cabeça. Vamos a algumas argumentações.

“CAPÍTULO VI

DISPOSIÇÕES FINAIS

Art. 35. É proibida a comercialização de arma de fogo e munição em todo o território nacional, salvo para as entidades previstas no art. 6o desta Lei.

§ 1o Este dispositivo, para entrar em vigor, dependerá de aprovação mediante referendo popular, a ser realizado em outubro de 2005.

§ 2o Em caso de aprovação do referendo popular, o disposto neste artigo entrará em vigor na data de publicação de seu resultado pelo Tribunal Superior Eleitoral(...)”

Esse transcrito acima mostra a grande jogada da campanha do SIM é obscurecer o real papel do referendo que é se vamos continuar ou não comercializando armas e atrelar o SIM ao desarmamento, como se as pessoas fossem obrigadas a entregar suas armas caso o SIM vença, doce engano, apenas ficarão sem acesso às munições, pois essas também serão proibidas de se fabricar.

A maior parte das armas que são usadas em crimes, digo em torno dos 90%, são armas ilegais, ou seja, não registradas e também não vendidas em lojas de armas, ou seja, roubadas da polícia e(ou) exército e(ou) negociada por profissionais corruptos, resumindo, as armas utilizadas em crimes são provenientes do mercado negro.

Ter arma não evita crimes e nem é aconselhável que se reaja a assaltos, seqüestros ou qualquer forma de agressão dessas, afinal de contas, os responsáveis em proteger o cidadão são os órgãos de defesa, polícias civil, militar e federal, para isso servem os nossos caros impostos. Mas o fator psicológico conta muito, é o que mostra a pesquisa exposta na veja onde relata que na Inglaterra, após a proibição, o número de assaltos a casas aumentou significativamente já que os ladrões não temiam mais que pudessem ser surpreendidos por donos de casa armados. Tal como a pena de morte, é uma ilusão achar que ela reduz a criminalidade, ao contrário, tem aumentado nos estados americanos onde vigora.


Continua...
Eduardo Leite

Sônia - Parte II

Enquanto esperava sua água, entrou um tipo bastante estranho no pub, ele encaixava-se perfeitamente no ambiente se não fosse pelo anel, havia visto um anel daqueles em algum lugar, era muito caro para estar na mão de alguém que pensasse em entrar em tal antro. Ele entrou tentando não ser percebido, e não foi por nenhum dos bêbados, mas sim pela assassina profissional que estava sentada na mesa, debaixo da penumbra que escondia seu corpo bem delineado dos seus treinos diários de artes-marciais, seus ondulados cabelos castanhos e penetrantes olhos negros, penetrantes tanto quanto os de um felino selvagem preparado para o bote.

Sônia tirou sua beretta, de forma sutil e quando ia encaixar o silenciador pensou novamente, guardou ambos e puxou uma faca, seria mais sutil e ele era grande demais para ser tão ágil quanto ela. O homem percebeu-a no ambiente e aproximou-se da mesa com um rosto cerrado e olhar ameaçador, ela, por sua vez, não fez nenhum movimento brusco, apenas preparou a faca que se encontrava debaixo da mesa. Ele fez um gesto como que pedindo para sentar e ela disse: “Desculpe senhor, estou acompanhada!”, “Não pretendo me demorar senhorita Sônia Rodrigues, apenas quero oferecê-la um serviço.”, respondeu o estranho, “Não sei do que o senhor está falando, chamo-me Anna e meu namorado vai chegar em um minuto.” falou com um leve sorriso forçado, “É uma boa atriz srta Rodrigues, mas o seu “namorado” está lá fora conversando com meretrizes e paguei a elas o suficiente para entretê-lo enquanto faço minha proposta a uma das melhores e mais interessantes mercenárias do submundo.” retrucou o homem, também com um sorriso forçado. Ela posicionou-se na cadeira e achou melhor trocar a faca pela pistola, ele sabia demais, resolveu ouvi-lo, mas precavida. “Comece!”.

“Tem um homem, o que você precisa saber sobre ele está aqui.”, e passou uma ficha lacrada por cima da mesa. Ela abriu voltada para o homem, em caso de bomba ele se machucaria feio também, e puxou as fotos e arquivos. Parecia um sujeito comum, mas era o dono de um albergue para estudantes em Londres. Não havia muitos detalhes do porquê de sua morte, mas o dinheiro escrito no arquivo já compensava os detalhes, 50.000 dólares pela sua cabeça, teria 10.000 para gastar em equipamentos e uma viagem de primeira classe para lá, fora o adiantamento de 25.000 que ele pegaria no carro, caso ela desejasse aceitar.


Continua...
Eduardo Leite

quarta-feira, outubro 19, 2005

Restos Picotados

Das Fábulas

Pinóquio só queria ser
um menino de verdade.
E eu? Que na verdade
já nem sei o que é isso...


Da Ironia

"eu sei que devo resistir
quero a espada em minha mãos."
De fato conseguiu.
E não é o vil metal.


Das Honras

De dez senhores da verdade
alguns se manifestam com afirmação
outros proclamam a ouro suas palavras
cinco deles nunca verão o céu
quatro deles perdidos como o mar
para um tolo que sairá livre.

Thiago Augusto

A rapidez e o comprometimento da nossa polícia

Se eu dependesse da polícia pra prender o meliante que pulou o muro de minha casa esta manhã, não sei o que seria de mim. Sorte que ele estava drogado o bastante para sentar na mesa da varanda, passar alguns minutinhos lá "de maresia" e depois sair pelo portão da frente, como se fosse o dono da casa.

Enquanto isso, um atendente do 190, com uma voz de absoluto sono, dizia que estaria enviando uma viatura. Por volta de 5 da manhã.

São quase 10. Até agora espero.

Vou logo avisando às autoridades os crimes que cometerei: primeiro, comprar uma arma, mesmo que dê "sim" no referendo. Segundo, portá-la, mesmo sem o porte. Terceiro: se esse ou qualquer outro indivíduo se atrever a invadir minha casa, e eu estiver com minha 22 ou 765 na mão, vai levar um tiro no pé. Ou onde bater a bala.


Rafael Rodrigues

E foi viver

Quando percebeu que para conhecer completamente a si mesmo, não deveria ter nascido, desistiu de entender-se.

terça-feira, outubro 18, 2005

Intransitivo

Contou 30 horas pelo relógio. Não completava nem dois dias.
As mãos tremiam, os lábios não negavam e demonstravam abstenção. Pés mais impacientes do que antes. O calendário nem virava dois dias e já se sentia assim.
Incomodava a falta que fazia. Mais de um ano em vício. Quando concluiu que deveria se limpar, fez de uma hora para outra. Não deixando nada para trás. Foi se desintoxicar. Mas só fazia 30 horas.
Em sua memória apareciam histórias que não aconteceram. Um futuro imaginário. Embebido de seu vício entorpecente.
Se pudesse só mais uma vez. Porém prometeu a si mesmo um "fim". O tempo andava devagar quando não havia mais o que consumir e lhe tirar os sentidos.
Contou o tempo para passa-lo. Escutou canções, mas descobriu que qualquer frase levava a ela. Fina estampa sem cor nem forma. Tentou se distrair e olhar a lua, mas sabia que ela talvez olhasse também. Suspirou algumas palavras, "Estou há 30 horas sem Sofia. Meu vício mais doce. Que corre em minhas veias como se fossem as dela. Sem saber que estou morrendo a cada momento".
Com o tempo se acostumou com a idéia. Chorou quando percebeu sua única alternativa viável. Em vez de fugir, abandonar o campo. Entregar todas as armas para não ver o céu rachando sobre seus pés.
Já tinha anteriormente se sentido o homem mais miserável de todo o mundo, essa sensação não seria inédita. Recordar o antigo sentimento de dor e culpa não lhe agradava. Mas talvez seria necessário.
Saber quem era Sofia era quase um enigma. Ele achava difícil afirmar que conhecemos as pessoas que mudam tão rápido. Saber quem era já não estava em seus planos.
Ela simplesmente entrou sem bater em porta alguma. Quando viu, já estava na sala de estar. Se mostrou como nunca tinha visto antes. Sem saber se tornou sua rainha.
O relógio marcava mais uma hora. Seriam trinta e uma desde a ausência. Ele olhava uma de suas fotos, tocava seus cabelos como se fossem reais e pudesse sentir sua textura exata. O sorriso daquela foto não lhe trouxe calor. Prosseguiu. Quis chorar novamente mas sentiu que seria inútil. Talvez não houvesse nenhum culpado nesse crime. Embora ele acreditasse em sua culpa.
Em quais mãos estariam as verdades desse crime? E em quais mãos pesarão o castigo? Quem é a vítima e quem é o réu quando brota-se o amor quase sem intenção? O que cessa e o que prossegue seu ciclo quando ele morre? O que poderia lhe fazer parar se ela consumia seus pensamentos e suas devoções. E ele a amava acima de tudo.
Um dia ao despertar, continuou em sua cama. Notou que as roupas no lugar não faziam mais sentido. E concluiu que a amava desde então. Que seu sorriso de bom dia, todas as manhãs, era como seu despertar divino. Suas frases soltas lhe davam a vida que lhe faltava. A inocência do olhar que não cansava de observar. O perfume doce que ele recordava a qualquer momento. Sua maneira de elucidar as palavras. Buscando uma perfeição que Sofia ainda acreditava ser existente.
Assim a amava. Ela sem nunca suspeitar. Teve dias que quase expressou seu amor. Se ela pudesse ouvi-lo por um só instante. Será que poderia hesitar? Ou o expulsaria dali em definitivo?
Quando choveu por um dia inteiro, percebeu que nunca teria o seu amor. E olhar para ela todos os dias se tornaria sua tortura. Juntou seu fôlego e achou a única alternativa: Ir embora para sempre, por amar demais.
Fazia 32 horas que estava sem Sofia. Ainda não sabia, mas naquele mesmo dia tomariam chá novamente. Ele com amor nos olhos, ela com sorriso nos lábios sem nada saber.
Ainda a abandonaria, e talvez não só ele chorasse. Mas naquela hora, tudo que queria era estar ao lado dela. Mesmo que apenas só restasse um sorriso para servir de abrigo para todas suas noites. Naquele dia seria o bastante. Ele só temia em saber até quando... Até quando?

Thiago Augusto
(02-10-05)

segunda-feira, outubro 17, 2005

Sônia - Parte I



Era um dia como qualquer outro. Dia de trabalho. Ela estava sentada à mesa daquele pub irlandês à espera de seu informante. Não suportava mais as piadinhas que soltavam quando passavam por ela, gostava de ser paquerada, numa situação comum, não a trabalho, odiava chamar atenção onde passava, mas contentava-se em saber que era muito mais fácil arrancar verdades, sutilmente, que sendo um brutamontes persuasivo, assim como seus “colegas de profissão”.

Sônia já havia contado o número de bêbados e suspeitos dentro do bar, poucos chamavam sua atenção e isso a deixava um pouco mais tranqüila. Estava sentada em uma mesa que ficava em uma das pontas do pub, tendo uma privilegiada visão, o que facilitava sua vigilha. Já havia percebido três portas das quais poderia sair caso alguma emergência acontecesse. O banheiro infelizmente tinha uma janela pequena e não poderia ir parar lá de forma alguma, ficaria encurralada, vulnerável, jamais permitiria isso.

Pediu uma água, não devia beber muita água, não podia ir parar no banheiro, mas devia pedir algo já que esperava o idiota do informante há mais de 2 horas. Onde diabos ele estaria? “Deve estar cortejando alguma puta, bem o estilo daquele canalha!”, pensava, enquanto erguia o braço e chamava o garçom, um robusto loiro dos olhos claros e boca suja, típico irlandês.

Continua...
Eduardo Leite

Tempo de mudar - Parte III (Final)

- Soube que você se separou recentemente, é verdade?
- Sim, mas não quero falar sobre isso.
- Ainda gosta dela?
- Não. Só não quero conversar sobre esse assunto.
- Você ainda gosta dela.
- Menina, eu já disse que não gosto!
- Calma...
- Estou calmo.
- Então tá.
Letícia mergulhou e alguns segundos depois apareceu a um palmo de distância dele.
- Que tal?
- Que tal o quê?
- Eu.
- Ein?
- Ora. Eu, ué. Que tal? O que você acha de mim?
- Letícia, vamos pra casa.
Ela o segurou.
- Não. Não vamos. Nós vamos ali.
Nadou um pouco até poder caminhar em direção à areia. Ele a seguiu.
Andaram por quinze minutos. Já estavam bem distante de onde partiram. Chegaram a um ponto da praia que era deserto, e Letícia atirou-se nos braços de Mauro.
Beijaram-se longamente, e ali mesmo o desejo foi consumado.
Voltaram para casa, mas não juntos. Letícia primeiro, depois Mauro, uma hora mais tarde.
O resto do dia passou como se nada tivesse acontecido.
No dia seguinte, Mauro retomou sua corrida matinal. Estava bem mais disposto. Pensou no que ocorrera entre eles. Não se sentia culpado. Afinal, não fora ele quem se insinuara. Ainda estiveram juntos por mais três vezes. Ela havia deixado bem claro que só queria sexo, nada mais. E ele não precisava se preocupar: além de Mauro sempre se proteger, Letícia tomava anticoncepcionais, pois mantinha relações sexuais com o namorado há algum tempo.
A única preocupação de Mauro era em ser absolutamente discreto. Afinal, se tratava da filha de seu amigo. Para evitar qualquer tipo de suspeita, não se viam diariamente. Ninguém chegou a desconfiar.
Despediu-se de todos no domingo.
Letícia teria de procurar outro alguém para dar.
Não seria difícil encontrar.
Rafael Rodrigues

sábado, outubro 15, 2005

Ps. I Love You

O problema é aquilo que a imaginação projeta e as verdades expostas como uma ferida.
De repente ela o olha e sem querer se apaixona. Passa a escrever seu nome em folhas dos cadernos. Entre corações pintados de rosa e vermelho. O que ela sabe desse sentimento? Nada. E assim nasce a dúvida. O preço de ser puro.

Como também demora para saber que estamos errados. É preciso coragem para mudar de tom e iniciar uma vida diferente. É difícil até perceber que estamos nos desviando lentamente de nossas idéias fundamentais.

O amor deveria ser como bebidas alcoólicas. Proibidas para menores de 18 anos. Talvez só com o tempo aprendamos a desvendar que o maior mistério não é descobrir o amor e sim saboreá-lo.
Mas será que para prova-lo devemos cair antes em suas armadilhas?

Notinhas

- Fui convocado para trabalhar no referendo. Serei secretário em minha zona eleitoral. Ficarei no sistema "cara crachá". Todo eleitor terá de passar por mim antes de entrar na sala pra votar. Pensei em fazer uma camiseta especialmente pra esse evento. Ela seria branca e teria bordado de preto na frente "Não...", e atrás "...estou disponível". Mas isso poderia me trazer problemas...

- Bom, vocês viram que nosso blog foi recomendado pelo Jornal do Brasil. E vocês, recomendam nosso blog por aí? Ajudem-nos!

- O que que eu ia falar aqui meu Deus...

- Ah, lembrei. Vocês sabem que toda quarta-feira é publicado no site www.simplicissimo.com.br um texto meu, né? Se não, ficam sabendo agora. Os textos lá postados são inéditos e (até agora) exclusivos. Portanto, mais uma chance de vocês lerem o papito aqui. Chegando lá, é só procurar meu nome no index da página ou ir em "Colunas ativas" no menu e depois ir em "Trocaditos", que é o nome da coluna.

Bom, é isso. Abraços a todos, e até o próximo post.


Rafael Rodrigues

sexta-feira, outubro 14, 2005

Tempo de mudar - Parte II

Fazia algum tempo que ele não a via. Para sua surpresa Letícia se tornara uma linda jovem. Cabelos castanhos claros, olhos verdes e um belíssimo corpo. Em poucos instantes estava encantado por ela. E a desejava.
No domingo pela manhã, quando retornava de sua corrida matinal, encontrou-a sentada na areia de frente para o local que fora escolhido como ponto de partida e chegada. Ali ele iniciava seu cooper e ali ele sentava para descansar um pouco antes de entrar no mar.
- Bom dia, Mauro.
- Bom dia, Letícia.
- Gosta de correr?
- Estou tentando recuperar a boa forma. Mas pelo visto, não tenho tido sucesso.
- Você era melhor que isso?
Levantou-se. Virou-lhe as costas, tomou o caminho de casa. Mauro olhou para ela por alguns segundos, surpreso com o comentário. Ficou admirando a bela jovem que estava ali em sua frente e sentiu seu sexo enrijecer. Entrou na água.
Quando voltou para casa, Augusto comentou:
- Correu um pouco mais hoje?
- É, é. Dei uma esticada.
Por conta do atraso, fora o último a almoçar. Sem sono, ficou lendo durante o resto da tarde. À noite, no já tradicional dominó e churrasco, seus olhos se cruzaram várias vezes com os de Letícia. Percebia nela o mesmo olhar com o qual ele a contemplara pela manhã: olhar de caçador observando a caça.
Já na cama, Mauro lembrou-se de Letícia. Seu rosto. Não tinha feições de menina. Seria aquela a sua face por muitos anos. E sua carne. Sua pele macia, seus pêlos dourados, o corpo de mulher. Sentiu novamente seu sexo manifestar-se e dessa vez resolveu ceder a seus instintos. Satisfeito, dormiu.
No dia seguinte, não foi correr. Acordara cansado. Tomou seu desjejum e foi direto para a praia. Dessa vez de short. Poderia encontrar Letícia no meio do caminho e não queria causar qualquer tipo de constrangimento a si mesmo.
Lá estava ela, sentada no mesmo lugar do dia anterior.
- Não foi correr hoje?
- Não, acordei cansado.
- Pena... Você fica muito bonito suado... Ao invés de virar-lhe as costas e ir para casa, Letícia foi para a água. Mauro também, afinal, fora ali com aquela intenção.


Rafael Rodrigues

Sem Mais Dizer

* Outra canção composta também com melodia singela.

Ninguem
Disse que era assim:
Navegar sem porto algum

Talvez
Não houve amor
Ou se quer compaixão
Do tempo que vai sem previsão

Sei lá
Não há motivo algum
Sentar e fingir que não há mal

Eu sei
De agora em diante
Deus há de concordar
Que a vida é só o começo do sofrer

E só um amor
Será a razão
Enquanto restar a luz dessa chama...

Vai lá,
Muito além de onde eu possa saber

Eu,
vou ficar, me entregar
sem mais dizer

Vai ver
Que o tempo não vai mais mudar
E eu já serei
O que não há

Talvez, nunca nada irei encontrar
Vai só meu tempo dizer

Mas antes que morra outra flor
Antes que o céu caia em pedaços
Ainda há vida pra percorrer

Thiago Augusto

quinta-feira, outubro 13, 2005

3 Vozes no Jornal do Brasil

* Post do dia 10 de outubro. Coloquei-o no topo porque uma notícia dessas não vê todo dia.

Sim, isso mesmo.

A coluna "Conexão Blogger" de Cid Andrade recomenda blogs toda semana. Fomos a bola da vez.

Em nome do 3 Vozes, essa voz não identificada gostaria de agradecer imensamente a todos os nossos - poucos, porém fiéis - leitores, e claro, ao Cid Andrade, que não deve fazer a mínima idéia da força e do estímulo que está nos dando.

Vou deixar abaixo o link da coluna do Cid (que essa semana apresenta o 3 Vozes), e logo abaixo o link exato pra coluna que fala de nós. Acho que vocês entenderam, né?

Abraços a todos, e novamente o nosso muito obrigado.

Conexão Blogger - Cid Andrade

Link exato para 3 Vozes no Conexão Blogger



P.S. (16:27): Queremos também dar as boas vindas aos novos leitores. Esperamos que gostem dos nossos escritos e que continuem frequentando o blog. :)

quarta-feira, outubro 12, 2005

Nasceu homem, morreu menino


Foto do querido Fernando Sabino.
Se não tivesse falecido no ano passado, na véspera de seu aniversário de 81 anos, estaria hoje fazendo 82.
Nasceu no dia das crianças. Perguntado sobre o que queria ser quando crescer, uma vez falou "queria ser menino".
E foi.
Fernando Sabino, que nasceu homem e morreu menino.
Nunca o conheci, nem o tive por perto.
Mas sinto uma falta danada.

Tempo de mudar - I

Fim de ano. Augusto resolveu convidar Mauro para passar com ele e sua família alguns dias na sua casa de praia.
- Ele não anda bem, Marta. Essa separação o deixou péssimo. Acho que vai ser bom pra ele passar uns dias conosco.
De férias, não havia motivo para Mauro recusar o convite. Se o fizesse, ficaria em casa. E na situação em que se encontrava, solidão não era a melhor saída. Costumava lembrar-se das palavras de Sílvia, ao sair de casa:
- Mauro, não adianta mais. Você não se importa comigo, só pensa no seu trabalho. Eu quero ter um filho! E você não dá a mínima para isso. Nem sexo você quer mais! Tenho quase certeza que você tem outra.
Mas Mauro não possuía outra. O casamento deles chegou àquela situação devido a sua displicência natural com tudo o que se pode chamar de sentimentos humanos. Não conseguia manter um sentimento, qualquer que fosse, num mesmo nível por um longo período. Não conseguia amar uma mulher senão por meses ou por alguns poucos anos. Com ela foram cinco.
- Sílvia, por favor, entenda. Não existe outra. Só você. Eu te amo. Eu faço o que for preciso. Me diga o que fazer!
Não havia mais o que ser feito. Àquela altura, ela já estava com outro homem. Sílvia foi-se. Passou por Mauro sem dizer palavra. Malas nas mãos, destino certo: a casa do outro.
- Volto pra pegar o resto de minhas coisas.
Providencial, portanto, aquela viagem. Ficaria alguns dias na casa de praia de Marta e Augusto. Iriam também alguns parentes deles: seus pais e alguns irmãos com seus respectivos cônjuges.
A casa era espaçosa. Muitos quartos, toda mobiliada. Não era uma casa de praia qualquer: quase uma cópia da casa do casal na cidade. Todo conforto da vida urbana fora colocado ali. Mantinham um caseiro durante todo o ano para garantir a segurança do local.
Mauro fora o último a chegar, no segundo domingo do mês. Iria passar apenas alguns dias. Não queria ser um incômodo nas férias da família de Augusto, seu amigo de longa data.
- Mas você também é da família, meu caro.
Augusto tentava confortá-lo, deixá-lo à vontade. Aos poucos Mauro foi-se deixando levar pelo clima e pelo aconchego da casa. Ao fim de cinco dias, quando havia programado ir embora, resolveu que iria prolongar sua estadia ali por mais uma semana. Aos poucos esquecia, ao menos temporariamente, a condição de recém-divorciado.
Seus dias encontraram uma rotina que o satisfazia e o fazia esquecer da vida. Pela manhã ia à praia. Corria alguns minutos, para depois cair n’água. À tarde, depois do almoço, geralmente dormia um pouco e lia algum dos livros que levara. À noite, dominó ou baralho com os outros convidados, regados a cerveja e churrasco.
No sábado, uma movimentação. Letícia, filha de Marta e Augusto, chegara de viagem. Passaria o restante de suas férias com a família, fazendo respeitar o combinado: quinze dias com uma amiga, quinze dias com os pais.


Continua...
Rafael Rodrigues

terça-feira, outubro 11, 2005

No Mercado

Acendem-se as luzes. Faz-se o foco. Estou parado olhando as pessoas. Meus pés intactos no chão.
Cruzo os braços. Apoio minha mão no queixo. Não paro de olhar. Há centenas de mulheres aqui exibindo suas belezas. Me atraio. Meu olhar se divide em um milhão de sentidos. Foco. Meus pés. Dão alguns passos em direção a qualquer vazio. Silêncio. Pausa. Levo as mãos atrás do corpo. Pessoas. Não digo. Só olho. Eu deveria saber o que fazer da minha vida. Vestidos. Pernas. Posso ver a marca que a calcinha faz na roupa dela. Seria o belo ou o vulgar? Movimentos. Passam sem me perceber. Eu olho. Atento.
Sinto um perfume inebriar meu sentido. Corpo. Atração. Penso em sexo. Eu deveria saber o que fazer com a minha vida. Tristeza em questão de segundos. Meu olho. Pernas. Belo. Qualquer bunda que se movimenta eu faço uma prece. Deus é sábio em criar os desejos. Foco. Pés. Os Meus. Ando atrás de alguém só para admira-la. Loucura. Trombam em mim. Não pedem desculpas. A vida já foi mais educada.
Filas. Grupo de garotas. Garota de azul e branco. A calça branca ressalta as nádegas. Me atrai. Insisto em olhar. Ela olha de volta. Conversa com a amiga. Sorri. Usa aparelho. Meu fetiche me excita. Me lembra Ana. Sexo. Lágrimas. Desventura. Eu deveria saber o que fazer com meus pecados.
Cubro a cabeça. A mente grita em devaneios. Pessoas. Pessoas. Crianças vestidas como adultas. Para um pedófilo seria um prato cheio. A vida já foi menos estranha. Nunca gostei de crianças. Mas garotas me fascinam.
Roupas. Quis experimentar. Cinco minutos esperando a atendente me deixar entrar num provador. Provei. Levaria ela minutos depois. Seminu me olhei no espelho. Corte. Minha mãos e cabelo. Marcas. Pele branca. Mexi no meu cabelo. Achei que isso mudaria minha vida. Eu deveria saber aonde tudo iria me levar.
Corte. Eu deveria me matar ontem a noite. Sem coragem. Mentiroso. Nunca faria isso. A vida é estúpida mas é a minha. Relógios. Passam o tempo. Quando acordamos perdemos a largada. Canções. Time. Hey You. Pessoas gritando. Eles não conseguem ficar quietos. Barulhos. Trombam em mim. Minha vida. O que fazer? Pernas. Sexo. Sentidos. Olhos. Dedos. Boca. Cabelo.
Olho uma garota vestida de verde. Sapatos All Star Rosa. Me olha como se nunca tivesse sido desejada. Ela é uma anti-heroina. Terá um só amor na vida? Morrerá infeliz? Eu queria tê-la em meus braços. Desejos. Houve um tempo em que os instintos não me guiavam.
Marcas. Marcas. Vou ficar velho um dia. Nada irá subir. Nunca mais. A gravidade sempre vence. Filas. O mundo vai as compras no domingo. Homens. Mulheres. Bonitos e feios. A beleza é relativa. Quase todo mundo tem uma essência. O resto é maquiagem banal. Mulheres. Bundas. Saias curtas. Pernas que fazem mover meu músculo. Elas sabem que olhamos. Elas querem ser amadas. Seu corpo é artifício.
Compras. Casa. Entrei no carro. Corte. Sacolas no porta mala. Liguei a chave. Sem música. Radio Quebrado. Um carro se aproximava. Esperei as duas mulheres saírem deles. Corpos. Atração. Bundas. Pernas. Peitos. Desejos. Desejos. Desejos. Lobos. Sentidos. Vontade. Olhar.
Cheguei em casa depois de 10 minutos. As pessoas me assustam. Infeliz. Vida. Fome. Desejos que não param. Tic Tac. Preciso de alguém. Preciso de mim mesmo. Chave. Me encontrar. Abrir as portas. Humanos são estranhos. Eu sou estranho. Espelhos.
Eu. Marcas. Óculos. Ilusão. Alívio. Respiração. Olhos. Interior. Quem está dentro de mim que não conheço? Solidão. Estou só de novo. Pensamentos. Invasão de idéias. Porque não posso ser diferente. Paz. Me deixem em paz. A vida já foi, definitivamente, mas sã. Corte. Cessa a Luz.

Thiago Augusto
(11-09-05)

segunda-feira, outubro 10, 2005

Oceania, Parte Final

Preparando-se para descer em seu destino, Marcos esforçou-se para conter seu entusiasmo e passou pela imigração com um largo sorriso. Sem muitas perguntas prosseguiu pelo hall principal e encontrou-se com seu mais novo protetor, Alfar, na saída do aeroporto, onde este o esperava perto de uma luxuosa limusine prata. De um só pulo entrou dentro do carro, e como caipira na cidade grande, ficou estupefato com tudo que via, só não se sabia mais se era com a limusine em si ou com a cidade que se abria diante de seus olhos como um botão de rosas em plena primavera. “Já tomou Cristal, filho?”, perguntou Alfar, “O que é isso, senhor?”, espantou-se Marcos que achava tratar-se de uma jóia, e jóia não se toma, se usa. “É uma bebida muito gostosa, pode experimentar!”, respondeu Alfar e assim Marcos experimentou a bebida mais cara de sua vida, só não imaginava o preço que pagaria por ela.

Horas depois, Marcos acorda com uma fina dor de cabeça, está escuro e a última lembrança que vem à sua mente é a do seu mais novo amigo, protetor e empregador na limusine sorrindo para ele. Olha ao seu redor e a claustrofobia de repente o toma pela mão e quase o leva ao desespero, está preso em algum lugar, algum tipo de caverna, não sabe ao certo. Tenta reconhecer o lugar e sente um forte cheiro que jamais sentiu antes, ele anda um pouco, acostumando-se com a o escuro completo e percebe que existem mais pessoas com ele, todos desnutridos, sujos e com olhares vazios. Ele tenta em vão falar com eles e não obtém resposta alguma, corre para a porte e bate desesperadamente à espera de algum sinal que só viria na manhã seguinte quando este é despertado a pontapés e “convidado” a ir trabalhar nas minas de pedras preciosas em algum ponto do deserto australiano onde a fuga torna-se impossível e, assim, o trabalho escravo extremamente viável.

Marcos voltou a trabalhar como escravo, e sonha, sonha em voltar no tempo, em nunca ter saído de seu país não ter dado ouvidos ao seu falso protetor, a nunca ter tomado o mesmo vôo que este sociopata, mais ainda, talvez ter dado ouvidos ao povo ignorante e limitado de sua cidade, ou quem sabe nunca ter nascido, é o que deseja todos os dias, nunca ter nascido, jamais ter sonhado tão alto, jamais ter sonhado.


Eduardo Leite

sábado, outubro 08, 2005

Veja apronta mais uma

Depois de ofender descaradamente os queridos escritores João Filho e Marcelino Freire gratuitamente, a revista Veja faz mais uma trapalhada. Em uma "matéria" sobre o novo disco da cantora Maria Rita, Veja acusa jornalistas de falarem bem do novo cd da artista em troca de um iPod, player de mp3 da Apple.
Alguém foi mais rápido que eu e escreveu sobre isso. E com muitas informações e tudo mais. Coisa que eu não poderia fazer, pois - AINDA - não tenho os devidos contatos. Vou colar aqui no blog trechos da reportagem dos jornalistas do site www.comunique-se.com.br Cassio Politi e Miriam Abreu.

"Alvo de críticas ao longo desta semana, a reportagem da revista Veja cometeu, deliberadamente, erros que ferem os princípios básicos do bom jornalismo. A reportagem "O mensalinho da filha de Elis" atingiu em cheio duas de suas concorrentes: Época e IstoÉ, além da derivada IstoÉ Gente. Concorrência nas bancas à parte, a questão principal é a seqüência de deslizes cometidos por uma das mais importantes publicações do País, de propriedade da Editora Abril. Faltou à matéria, publicada na edição 1.925, de 05/10, cumprir um mandamento primordial: ouvir todas as partes envolvidas. E, não menos grave, publicou informações erradas.

O jornalista Luís Antônio Giron, de Época, foi o centro das acusações. A matéria de Veja afirma que ele recebeu um iPod (tocador portátil de MP3) da gravadora Warner e, em troca, teceu elogios à cantora Maria Rita tanto na publicação onde trabalha quanto na Bravo!, para onde escreve resenhas ocasionalmente. Não é verdade. A assessoria de imprensa da Warner confirmou que Giron "devolveu o iPod intacto", dia 15/09, dois dias depois de ter-lhe enviado o aparelho. Em um texto encaminhado por e-mail espontaneamente pelo jornalista ao Comunique-se nesta semana, Giron afirma que recebeu o iPod, sim, junto com CDs e DVDs. Descartou o iPod e ficou com o restante do material, que serviria de base para suas críticas. Para isso, consultou o diretor de redação e editor responsável de Época, Aluizio Falcão, no dia 14/09. Foi aconselhado a devolvê-lo sem usar e seguiu a instrução. A informação foi confirmada por Falcão.

A reportagem de Veja não está assinada. Pode ter sido escrita por uma ou mais pessoas. Uma delas é Sérgio Martins. Ao atender o telefonema da reportagem do Comunique-se, na quarta-feira (05/10), ele se limitou a informar que "o texto é de cunho editorial" e passar os contatos de quem deveria responder. No mesmo dia, foram feitas seguidas tentativas de contato por telefone com Eurípedes Alcântara, diretor de redação de Veja. Não houve retorno nem uma posição oficial. Nesta quinta, um mesmo e-mail foi enviado três vezes. Até a publicação desta matéria, nenhuma resposta foi encaminhada por e-mail.
"

Vocês podem ler a matéria inteira no site do Comunique-se. É preciso o cadastro, mas ele é gratuito. E vale a pena se cadastrar, é um bom site. Quem tem meu MSN, é só me pedir que eu passo a matéria inteira.


Abraços,
Rafael Rodrigues

sexta-feira, outubro 07, 2005

A Triste Exasperação Inócua de um Servo Abandonado

Ele se despera. Olha aos lados e nada vê. Profunda e escura imensidão. Seu medo se propaga cada vez mais como o escasso ar que respira. Sente por um momento vontade de chorar, se desespera muito mais que antes.
Aperta as mãos contra si mesmo. No silêncio ouve seu coração bater. Desritmado, fraco, inconstante e com angústia. Sua respiração ofegante completa sua sina de dor e caos.
Tem medo de andar. Não sabe o que irá encontrar nesse escuro caminho no qual se encontra neste momento. Sentado no chão escuta barulhos alucinógenos por toda a parte e decide que é hora de caminhar.
Levanta quase trôpego e com suas mãos faz o seu caminho. À procura de algo que não sabe mais se irá encontrar. Não sabe se é de noite. Não sabe se é de dia. E nem há quanto tempo esteve ali. Só sente grande desespero quando percebe que quanto mais anda, mais permanece no mesmo lugar.
É forte em seu físico e há pouco trazia consigo um velho machado herdado do pai. Sua musculosa força de nada adianta agora. Seu vigor quase cessou por sua falta de força interna. Se cansa quando no espaço esparso não há rutilância. Seus olhos se umedecem com quentes lágrimas prestes a saírem.
Visualiza um passado próximo e em total escassez de sanidade conclui que é só fim de tempos pungentes e tenta gritar. Sua voz não mais ecoa. Ninguém irá ouvi-la.
Sua cabeça é atacada por sofrimento mortal que o deixa confuso e o faz parar, seus pensamentos se entrelaçam e ele segura com as mãos sua cabeça. Mexendo-se como alguém que sofre muito ele grita. E finalmente uma ressonância é dita.
Senta novamente e uma lágrima escorre de seus olhos. Sente sua face se esquentar e quase perde a razão. Sem caminho. Sem vida. Sem amor.
Pensa com o pouco que resta que é melhor sair dali. Se levanta e continua a caminhar. Rápido demais. O chão o trai. Sangue escorre de uma de suas pernas. A dor se faz de insuportável. Seu corpo inteiro se precipita e aceita a queda de sua fé. Pulsa junto com seu coração que ele ouve como uma batida de tambor.
Se agarra nas pedras da parede. Com muita dor e força se levanta. Tem um grande rasgo em sua perna e pensa não ser mais possível caminhar. Morrer ali mesmo é o necessário.
Mas caminha, sentindo a dor espessa da carne, o toque da alma e constância do coração. E firma a cada passo uma dor lastimável de sua existência, e revê todas as falácias que o tornaram um homem sem honra.
Caminha mais de mil passos à procura de sua verdade, julga cada falta que o faz e sente-se áspero demais pela falta de seu cajado. Mas não se acovarda e caminha. Deixando para trás seu sangue negro que escorre de sua ferida exposta.
Fecha os olhos e nada vê, mas caminha com determinação a nada. E sente que é tempo de descansar de seu caminho em círculos.
Por um momento sente e vê algo áureo na vasta escuridão. Muito acima de sua cabeça e não próximo de seu caminho.
Seu espírito tenta se alegrar. Mas a dor é tão intensa que não o cobre claramente. A perda é tão mortal que seu semblante sangra tristeza venenosa. E olha novamente; sem acreditar no que seus olhos podem ver, acredita que encontrou uma luz casta.
Pensa em caminhar, pensa em desistir. E caminha. Por ora o que ele vê são infindáveis motins de escuridão e toda tepidez transformada pelas trevas. Mas dessa vez não irá desistir.
Ele sabe que a luz poderá lhe consumir ou radiar, mas marca com seus passos inconstantes a trilha dessa luz. Mesmo andando quase sem a ajuda de uma de suas pernas, mantém sua marcha. Sabe, sem dúvida, que talvez só ficará a olhar essa luz. Nunca conseguirá alcançá-la e ela poderá se transformar em sua ruína. Mas por fração alguma de seus difusos sentimentos ele pensa em desistir. Caminha mais do que tudo em sua pífia existência para aquela luz que talvez lhe trará sentido e não pensa em parar.
Por ora, não pára.

Thiago Augusto
(11/09/03)

quarta-feira, outubro 05, 2005

Oceania - Parte III

Em certo ponto, o homem de cabelos grisalhos chamado Alfar, um Marroquino radicado na Austrália, passou a lhe contar detalhes de sua vida e sua batalha assim que chegou à Austrália, seus dias varrendo chão, suas madrugadas lavando louça ou entregando pizza e toda sorte de sub-empregos que um estrangeiro submete-se para sobreviver num país desenvolvido que valoriza empregos, e o contou como finalmente, após anos juntando dinheiro, conseguiu comprar sua “permanência” naquele país, pago sua faculdade de Publicidade e como ele abrira sua própria empresa de publicidade.

Os olhos do Marcos enchiam-se de brilho ao ouvir como aquele velho senhor conseguira tamanha realização em sua vida e parando para olhá-lo, pôde perceber que usava um Bvlgari no braço, escondido por sua camisa longa, uma aliança com brilhantes, ou seriam diamantes? “Por que será que ele estaria na classe econômica?” perguntou a si mesmo em voz baixa e com olhos introspectivos até que tomando coragem indagou o senhor sobre a sua escolha, que prontamente lhe respondeu: “Sou muçulmano, obedeço os desígnios de Alá, meu Deus e Senhor, e este me falou em oração que viesse na classe econômica para ajudar um jovem em mudança, pois assim Ele quis.”. Marcos sobressaltou-se e balançou a cabeça como que sem entender e o senhor disse: “Gostaria de trabalhar em minha empresa? Não posso garantir nada muito bom de início, mas se você se esforçar, poderá crescer bastante. Ateu que era, Marcos não colocava muita fé naquilo, mas adorou a idéia de ter um emprego à sua espera e não pôde conter as lágrimas e agradeceu compulsivamente ao senhor que sorria de largo e dizia que agradecesse a Alá.


Continua...

terça-feira, outubro 04, 2005

O último - Considerações depois da agonia (ou Prelúdio de retalhos de memória)

Só ouvindo uma história que de tão real chega a parecer inventada, é que pude finalmente perceber a gravidade do que você fez comigo.
Relembrando: você quis terminar nossa relação. Até aí tudo bem. Meses mais tarde quis voltar, desistindo logo depois. Mais alguns blocos de trinta dias e novamente você ao telefone propondo uma conversa.
Esquecido das lágrimas que havia derramado há pouco tempo por você, aceitei te encontrar num fim de semana qualquer. Voltamos, afinal.
Depois de algum tempo juntos, achei que era hora de conhecer os verdadeiros motivos de: você terminar comigo de uma hora para outra e de depois você ligar afim de uma reconciliação para sumir logo em seguida, sem dar explicações.
O motivo fora apenas um, em ambas ocasiões: ele.
Não me importei na época, pois você disse que me amava. Vejo agora que tuas palavras todas foram sempre mentiras.
No sofrimento que vejo nos olhos de meu irmão, nas palavras graves que ele profere e que eu também gostaria de fazê-las explodir, enxergo a mim e a ti.
Você, vil. Eu, idiota. Nunca consegui ter por você qualquer tipo de sentimento repulsivo. Nunca. Até hoje.


Rafael Rodrigues

Canção - A Morte

* [...] "Nasceu uma Canção uma vez. Que morreu junto com esse amor." trecho do texto O Amor e a Morte (Canção)
** E assim, depois da Canção. Fiz sua segunda versão. Datando a Morte de tudo.

Faltou dizer que sinto a sua falta
Como um alguém querendo água
Para saciar sua sede

Em um tempo não tão distante
Quis ter você pra mim

Enquanto as horas não passam
Olho aflito pro relógio pensando
Que o tempo deveria correr...
Como eu já corri pra ti

O sorriso nasceu do nosso amor
Que morreu quando você se calou
Você mudou, mas eu que fiquei mudo
E no silencio onde tudo se abala

Se o tempo nunca fica de lado
Na vida existe alguma hora certa?
Qual o limite para o sim e o errado?
Saber aonde está o pode de ouro

Se o amor é o dom mais belo do mundo
Porque ainda tem medo de amar?
Adiantaria deixar tudo de lado?
E da janela ver o tempo passar?

Esqueça o que já se foi
O que não foi, não é
E pensar que eu só queria
Transformar sua tristeza
Em sorrisos que transbordam

Mas não houve por do sol
Nenhuma noite púrpura.

Nunca houve uma estação
Nenhum beijo de amor.
Dor. Primeira ou despedida.

Será que um dia houve o amor?
Pra ser cantado nessa canção?

Thiago Augusto

domingo, outubro 02, 2005

O último - Parte III (final)

- Fala alguma coisa, não precisa ficar assim.
Ele quis saber se deveria pular e sair urrando de alegria.
- Não precisa falar assim.
Definitivamente, ele não queria que aquilo acontecesse. Ficou espantado com a decisão dela. Perguntas do tipo “quer dizer que as coisas mudam assim, de repente?” e “o que aconteceu, afinal?”, era o máximo que ele conseguia balbuciar diante daquela situação.
- Não aconteceu nada. Nada além do que já lhe disse.
Ele não tinha forças para argumentar o que quer que fosse. Preferiu deixar que ela decidisse pelos dois.
Enquanto dizia isso, lembrava-se de diversos momentos que passaram juntos. Sorrisos, conversas, afagos, silêncios, olhares. Pequenas coisas. Nada seria esquecido por ele. Tinha certeza disso. E sabia que aquelas lembranças o fariam sofrer por muito tempo.
Não havia mais o que dizer ou o que conversar. Exceto uma coisa. Demorou criar coragem para fazer as palavras soarem. Disse que se era assim que ela queria, assim seria. E que gostava muito dela. Quase chorou. Quase engasgou com o próprio orgulho, que por pouco não rasga-lhe a garganta.
- Foi bom enquanto durou.
Ela citou Vinicius. E ele pensou em quão injusto era se valer das palavras do poetinha uma hora daquelas. Tentou elaborar uma resposta à altura, mas não conseguiu, óbvio.
- Um abraço?
Seria o último. Naquele instante pensou na ironia da vida ou do destino. Quando começaram aquele breve romance, o céu estava cinza, e choveu pouco depois do primeiro beijo. E ali, quando tudo terminava, o sol, em um céu desanuviado, assistia àquele abraço.
O último.
Rafael Rodrigues