quinta-feira, novembro 23, 2006

A favor da ortotanásia (e da eutanásia também)

Até alguns dias eu não sabia sequer da existência da ortotanásia. E com o pouco que sei hoje, quando escrevo este texto, declaro-me desde já a favor do procedimento. Sou e sempre fui a favor da eutanásia. Uma vida prolongada por medicamentos e aparelhos, multiplicada em dor e sofrimento – tanto do paciente quando da sua família –, não é vida.

A diferença entre ortotanásia e eutanásia é mínima. Nesta, o médico age de maneira ativa sobre o paciente, introduzindo-lhe alguma droga ou desligando os aparelhos que vinham mantendo-o vivo. Naquela, o médico tem a possibilidade de, no caso de ter o aval do paciente ou da família dele, nem iniciar um tratamento que vá prolongar a vida do enfermo, mas apenas em casos de pacientes que não têm possibilidade alguma de cura. Resumindo: na eutanásia, a morte é provocada após uma internação médica que a evitou e continua evitando. Na ortotanásia, a vida segue seu caminho natural, rumo à morte, sem intervenção médica.

Recentemente o Conselho Federal de Medicina (CFM) aprovou uma resolução que dá aos médicos o direito de praticar a ortotanásia, se o paciente ou a família dele optarem por ela, claro.

Mas mesmo com a resolução aprovada pelo CFM, os médicos ainda não podem se sentir tranqüilos. Eles podem ter problemas judiciais, já que a medida não é uma lei. O profissional que fizer uso da ortotanásia, mesmo que a pedido da família do paciente ou por ordem do próprio, pode ser acusado de homicídio.

Até alguns dias eu não sabia sequer da existência da ortotanásia. E com o pouco que sei hoje, quando escrevo este texto, declaro-me desde já a favor do procedimento. Sou e sempre fui a favor da eutanásia. Uma vida prolongada por medicamentos e aparelhos, multiplicada em dor e sofrimento – tanto do paciente quando da sua família –, não é vida. E casos de pessoas que passaram cinco, dez, quinze anos em coma e despertaram não me fazem sequer pensar em mudar de opinião.

O desgaste, em casos como esses, para o profissional e para a família do paciente não vale a pena. As seqüelas do período passado em coma também não fazem valer a insistência. Sem contar o dinheiro gasto em todo o período.

A aprovação da resolução pelo CFM é só o início de uma grande discussão, que se estenderá por um longo tempo. Só resta torcer para que o bom senso seja soberano, e que a resolução possa ser, em breve, chamada de lei. Abrindo assim espaço para uma discussão ainda mais ampla e polêmica, sobre a eutanásia.


Rafael Rodrigues
* Texto inspirado na matéria do jornalista Demétrio Weber, publicada no jornal “O Globo” do dia 11/11/2006

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