Lutero, o Filme
Começo do século XVI, para ser mais exato, dia 31 de Outubro de 1517, um monge alemão, chamado Lutero, prega 95 teses na porta de uma igreja, como muitas pessoas faziam quando tinham um assunto importante a ser discutido perante o conselho de sacerdotes locais, mas com a diferença que dessa vez esse homem causaria um rebuliço capaz de mexer com os rumos da religião e política mundiais e conseguindo a separação entre o Estado e a Igreja.
Início do século XXI, mês de Janeiro. Começa no país a exibição do filme que retrata a vida e obra deste homem antes descrito, exibido nos cinemas mais próximos. Opa! Não em João Pessoa. Aparentemente o Estado é inteiramente ligado com a Igreja em nosso estado, não só o Estado, mas também os estabelecimentos de exibição de filmes, os quais são particulares e sem vínculo aparente com igrejas e (ou) religiões, ou não?
A pedido de uma igreja católica local, o cine Box e Multiplex não exibirão o filme Lutero (Luther, 2005) na cidade, apesar de aparentemente não haver meios legais de censura em nossa constituição, liberdade de culto e liberdade de expressão. O filme não será exibido na capital, enquanto será nas demais cidades do Brasil.
Talvez porque retornamos à Idade Média, quando os sacerdotes diziam o que podíamos e devíamos ler, fazer; o modo como deveríamos viver, nos vestir e agir. E os efeitos dessa Reforma não chegaram ainda e de forma silenciosa e perspicaz, essa censura imoral e “despretensiosa” impediu que um símbolo de libertação e atitude fosse dividida com a população de pessoas racionais e livres para escolher o que é bom ou mau segundo as leis e seu discernimento. Onde está o Estado que veta os evangelismos em Campina Grande durante o Encontro Da Nova Consciência Cristã ou durante a festa de Iemanjá? Onde está a igualdade garantida perante a lei para as pessoas de todo e qualquer credo?
O que aconteceu nessa cidade não é uma afronta à comunidade protestante local, é simplesmente uma afronta á liberdade de culto que poderia afetar qualquer religião ou movimento que envolvesse qualquer linha de pensamento ou credo. É a volta do cabresto, da censura, do coronelismo, de tudo que é vil e repressor que nossos pais e avós lutaram tanto no período de Vargas. O direito de votar, de opinar, de cantar, de se expressar e que hoje, por ser apenas um filme, deixa que as garras da manipulação voltem ao controle de nossas vidas.
Fico a pensar o que seria isso. Seria medo de que as pessoas despertassem pros erros cometidos antes que voltam a ser cometidos hoje? Não só pelos católicos, mas também por evangélicos e tantos outros religiosos e ateus que dogmatizam seus credos forçando os demais a seguirem sua linha de raciocínio, quando os deixam pensar? Medo da quebra de paradigmas e formação de uma consciência totalmente liberta e livre para tomar suas decisões? Ou o medo de mostrar a diferença que um homem só pode fazer se realmente se doar a fazer o que acredita, a exemplo do principal personagem do filme em questão? É disso que as pessoas têm medo? Que a cultura de massa, de cópias, seja substituída pela cultura de Luteros? Che Guevaras? Gandhis? Paulo de Tarso, apóstolo, teve seus erros e mesmo assim foi o maior evangelista já encontrado até hoje, repreendendo inclusive o “primeiro Papa”, Pedro.
Cansa a todos as brigas entre as igrejas para saber qual delas representa o Supremo Criador, e que se sentem tão responsáveis pela salvação das pessoas que se esquecem de deixar que elas vivam ao menos. Talvez os agnósticos e ateus devessem também pedir ao Box e ao Multiplex que estes não passassem mais filmes religiosos quando algum desses chegasse aos cinemas, não por preconceito, mas por igualdade. Não tenhamos dois pesos e duas medidas. Ou que surja um déspota esclarecido e volte também a vassalagem e os nobres, afundando de vez essa burguesia hipócrita na lama de onde ela surgiu.
Eduardo Leite
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3 Comentários:
Esse texto ainda vai dar o que falar... Já mandei pra algumas pessoas, e elas mandaram pra outras... hehehe Ispia só! E tá excelente o texto :)
Concordo com o texto em número, gênero e grau!
muito bom !!!
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