domingo, maio 29, 2005

Música

Se o relógio de seu quarto estivesse na hora certa, marcaria dez horas da noite e dezessete minutos. Rafael estava cansado por quase nada. Ficou o dia inteiro em sua casa. Mais um dia quase comum. E triste. Mariana iria hoje em uma festa de família que ele se recusara a ir. “Eu não gosto de cumprimentar todo mundo. Olham pra mim querendo saber quem é o cara que está namorando você”. Dissera naquela manhã ao telefone.
O dia demorou a passar e fazia muito frio, pensava. Ela estava fazendo falta naquele quarto. Com suas conversas e seu calor único que não o fazia sentir-se sozinho.
Rafael sempre aproveitava sua solidão para se organizar. Espalhava caixas pelo quarto, relia antigas cartas e ainda pensava se tudo aquilo era necessário para sua sobrevivência. E, se não fosse, esses papeis estariam reciclados logo em breve.
Se o relógio de seu quarto estivesse na hora certa, marcaria dez horas da noite e dezessete minutos. A família dormia cedo naquele dia, por simples coincidência, já que seu pai sempre assistia televisão até a madrugada lhe dizer “Boa Noite”.
Ele escutou por poucos segundos a voz distante de Mariana.sem perceber que ela estava lá. Em sua porta. À sua espera. Distraído com suas canções, só percebeu o telefone ao seu lado, com Mariana do outro, vestindo uma voz nada habitual.
- Sou eu, abre a porta para mim...
- É uma boa surpresa, mas o que você faz aqui?
- Abre...
Ao colocar o telefone no gancho, sentiu uma leve retração que não sentia há muito tempo. “Algo aconteceu”. Pensou.
Não choveu naquele dia, mas ela estava gelada quando o abraçou. Mariana mentiu quando disse que não havia chorado. Ele sentia que suas lagrimas tinha escorrido provavelmente naquela tarde enquanto ele olhava retratos antigos. Ficaram abraçados por alguns minutos que Rafael não soube contar. Talvez ela só queria sentir seu corpo protegido pelo dele. Não poderia ser só saudades.
- Nos precisamos conversar.
Rafael já podia prever o que aconteceu. Ouvia de longe a canção que tocava em seu quarto antes de perceber o telefonema. Pensou por alguns instantes no momento em que a conheceu e como tudo até lá fora tão irônico quanto a música que tocava agora. Talvez ela quisesse chorar naquele instante, mas ele se antecipou.
- O dia estava quieto demais hoje, meu amor. Sente-se que talvez essa será uma noite deveras triste e longa.
As horas já tinham perdido a importância, mas sabia que talvez naquela manhã não iria existir nenhum alvorecer.

Thiago Augusto

2 Comentários:

Às 1:15 AM , Anonymous Anônimo disse...

ficou manero meu velho
contou td sem precisar falar mto
=)
abração

Dudu

 
Às 1:19 AM , Anonymous Anônimo disse...

Ficou bem legal, gostei... =DD
Bjoos..
KEL

 

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