quarta-feira, maio 18, 2005

O Vento Uivante

Não importava se lá fora o tempo estava úmido ou seco. Era noite e isso bastava.

Sentado sobre as mãos, pensando em se perder, pensando em se encontrar. As estrelas ainda estavam lá. Tinha quase 19.

Da janela não se via a rua, uma janela sem esperança. Negra. Ele chorava ouvindo canções que não se podia entender.

Era um dia de festa. Não em seu coração. Conseguia enganar todo o mundo. Mas não o aniversariante, Augusto, seu irmão mais novo. Eram unidos, e mesmo o irmão tendo apenas 12 anos, já teciam várias conversas de amigos.

Augusto se sentia adulto quando ouvia as conversas sobre amor e ainda se perguntava porque o rosto do irmão sempre estava em prantos.

Ele fazia comparações para o mais novo entender. Falava da lua. Dos carros. De sonhos. Contava histórias que seus pais não sabiam. Augusto atento gostava de ouvir.

Era como uma tradição. Antes da hora de dormir, uma história para se acalmar. E dormiam. Augusto feliz.

Seu irmão permanecia acordado, pensando na história recém contada. “Será que meu irmão um dia irá desvendar o que eu menti para ele nessa poesia?”, pensava.

Nessa noite, Túlio não saiu para a festa. Ficou no quarto que dividia com o irmão. Tentava ver o céu. Mas nada havia em sua janela.

Eram seis horas da tarde quando ele abraçava o irmão. E dizia o quanto ele havia crescido nesses últimos tempos, não só de tamanho, como de caráter. Pedia desculpas por não ir a sua festa, mais que ouviria de lá. E prometeu que sairia na hora dos parabéns. “Para tirarmos a nossa foto”.

Augusto tinha o sorriso mais lindo que se pode descrever, ainda era inocente. Feliz. Com sua melhor roupa, lá estava. Esperando os amigos.

Por uma vez ou outra, voltava ao seu quarto. Chamava Túlio, lhe trazia alguns salgados e bebida. Para seus pais ele só estava com dor de cabeça. Para seu irmão era só preguiça de se animar. Para ele, tristeza.

O relógio marcava nove horas quando o bolo estava impecável na mesa. Os jovens reunidos. Faltava alguém.

Corre Augusto a caminho de seu quarto para chamar seu irmão, que logo comparece. Os olhos de Túlio pareciam mudados. Diferentes desta manhã. Piores.

Um sorriso para enganar e se encontra com a família. Um breve comprimento aos parentes que ali visitavam, uma desculpa qualquer para evitar a festa, e um olá para seus próprios pais.

A mãe se sente preocupada. Mas logo ele diz que não é nada e afinal, é a hora do bolo.

A vida parecia tão diferente nos olhares do irmão, pensava Túlio. Ele ainda era vivo e consistente. Seu tempo era agora. Túlio já estava velho demais.

Foi em uma noite escura de janeiro. Quando o dia morria para o outro nascer.

No fim dessa celebração. Quando o irmão invade o quarto para pedir mais uma história. E percebe o quão vazio jazia o ar.

Chamando pelo irmão, logo percebe. “Meu irmão já não está mais aqui”. Seus pais se desesperam com a afirmação do irmão. O chamam pelos quatro cantos da casa. Mas só o eco de suas vozes é recebido como resposta. Suas roupas ainda estavam ali. Era possível sentir o aroma quente de seu travesseiro.

Eles encontraram um bilhete: “Vou ser feliz e já volto”.

Augusto perdeu seu único amigo. E Túlio nunca mais voltou.

Thiago Augusto
(13-03-04)

1 Comentários:

Às 12:42 AM , Anonymous Anônimo disse...

Bom, como tow com soninho, vai ser um comentário bem curto:
Adorei seus textos, aliás, adoro os textos de tds aki, Tiago, Eduardo e Rafa, estão de parabéns... =DD Nunca me canso de vr aki e ler esses textos super bem feitos... qdo eu crescer, queru ser q nem vcs =DD
Bjooos,
KEL

 

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