terça-feira, julho 12, 2005

3 Vozes convida... Mauro Castro

* O 3 Vozes Convida desta semana é no mínimo original. É, na verdade, uma recusa ao convite. Bem, talvez “recusa” não seja a palavra correta a ser usada. “Impossibilidade momentânea”, utilizaremos esse termo. O ilustre convidado foi chamado por conta das boas histórias contadas no seu blog. Engraçadas, tristes, reais. Topou imediatamente, mas depois percebeu que as obrigações do dia-a-dia tomavam-lhe quase todo seu tempo. E o convite precisou ser colocado de lado.
Depois de um tempo sem contato com o Mauro, resolvi mandar-lhe um email, lembrando que quando tivesse o texto pronto, me enviasse, para ser postado. E eis que ele me manda uma resposta sensacional e sincera. Literatura. Para vocês verem que literatura não é só aquilo que é publicado e chamado de romance, conto, novela ou crônica. É também uma carta, um email, uma frase rabiscada ao léu.
E é este email que vocês lerão. Sem cortes, sem edição. Correção não foi necessária. O cara manda bem demais. Façam bom proveito. E acessem seu blog, vale muito a pena.


"Caro Rafael,
Sei que estou em dívida com o 3 Vozes, que estou devendo um texto e tal, mas a coisa tá preta, meu velho. Fico lisonjeado, mas tenho, infelizmente, que declinar do convite para postar alguma história no teu blog.
Tenho até me esforçado, paro às vezes diante do computador, um novo documento do Word em branco desafiando minha falta de vontade. Aquele tracinho piscando, como que o monitor em branco balançasse a bunda para este escritorzinho de meia tigela, e eu, intimidado, acabo deixando pra lá.

Muita falta de tempo e excesso de preguiça. Minha filha passa me convidando para jogar bolinha de gude e eu vou: exige menos dos neurônios, sabe cumé.

Tenho pensado em relatar uma velha passagem de minha infância, de uma primavera longínqua perdida na velha Viamão, onde nasci. Da vez em que peguei um pincel e um resto de tinta acrílica que sobrou da pintura de um paiol, e pintei os cílios da égua Moura, a mais linda égua do meu avô.
A Moura ficou linda com os cílios verdes, uma beleza. No outro dia fui acordado a golpes de cinta, uma surra que nunca mais esqueci, pois a égua acordou e não conseguiu mais abrir os olhos colados pela tinta. Putz, a primeira surra a gente nunca esquece, Rafael.

Mas é uma longa história, cheia de detalhes, e, tenho que confessar, não tenho paciência para os detalhes, cara.

Tem também o caso da igreja, da época que tocava com o grupo musical da paróquia perto da minha casa. Minha devoção era pouca, mas meu apetite pela garota do violoncelo era enorme, tu sabes, né? Adolescente, tocava teclado às sextas com um pessoal barra-pesada e domingo na igreja, pra ver minha violoncelista. Ocorreu que lá pelas tantas, em um daqueles hinos sacros cansativos tinha uma passagem que pedia um algo mais do teclado, sabe cumé? Um acorde sétimo maior. Estava um pouco entediado e resolvi enfiar ali uma escala de blues, tipo Little Richards. Ficou uma beleza, colorido, mas senti que causou um certo mal estar. Um leve frêmito nos terços, um desviar de olhos... O pessoal do grupo musical adorou, quase riram, mas o padre, bah. A música deu a volta e o tal compasso veio chegando novamente. O pessoal do grupo me controlando, angelicais, queriam que eu fizesse novamente. Não tive dúvida, aumentei alguns decibéis o teclado e meti a tal escala de Blues no novamente. Agora bem arregaçado mesmo, todo torto, como fazia lá na minha banda bagaceira.

Rapaz, pra te encurtar a história, fui expurgado pelo padreco que engasgou com o vinho e tudo, quase caiu do altar.

Histórias... tem que ter tempo, tu sabes Rafael, tu escreve, tu sabes. Ainda mais com uma guria de 10 anos pedindo para pular corda na praça. É fogo.
Mas um dia te mando algum texto decente, prometo. Por enquanto fica o convite para aparecer quando em vez lá no Taxitramas, que eu vou no 3 Vozes, combinado?Há braços!!"


* No seu blog, TAXITRAMAS, Mauro Castro - que mora em Porto Alegre, Rio Grande do Sul - se apresenta da seguinte forma: “Taxistas são terríveis: reparam em tudo! Alguns, o que é pior, ainda escrevem na Internet”.

2 Comentários:

Às 2:11 PM , Anonymous Anônimo disse...

Oiee...
Quanta maldade para com a Égua Moura. Tsc, tsc, tsc... realmente imaginei a cena: a bichinha não conseguia abrir os olhos! Qta maldade no coração... rs
Actually, brincar pede menos dos neurônios... experiência própria rs..
Parabéns pelo "e-mail", boa literatura =D
Bjooos,
KEL

 
Às 10:38 AM , Blogger 3 Vozes disse...

achei mto manero
imagina se ele fosse preparar o texto hehe
essas histórias reais são mto interessantes
abração

Dudu

 

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