terça-feira, julho 12, 2005

Retrato De Um Artista

* Para ler ouvindo: Pink Floyd - The Great Gig In The Sky

"She’s not a girl who misses much"
John Lennon - Happiness is a warm gun
in White Album


Olhem para mim. Eu que já enchi casas completas. Fui a atração principal durante muito tempo. Estive nos corações amados e queridos.
Vejam só aonde fui levado. Estou só e não sei porque tal solidão. Fui banido de meu circulo sem motivo algum.
Ainda me lembro de certas... Certos retratos que não consegue desaparecer de minha mente. Como eu tinha sonhos, com amigos que sempre me rodeavam. E amores. Ah, os amores. Que se antes tinha o frescor de uma rosa, hoje tem a frieza de um punhal.
Sei que continuo jovem. Mas o sabor de antes não é o que provo agora. Sinto um gosto acre em minha boca. E dentro de meu peito meu coração tenta sobreviver de circunstâncias.
Qual foi o erro que verti para chegar aonde não quis estar? Porque voltei a andar despercebido por seus olhos que fingem que ainda não sou o teu artista.
Mal conseguia me locomover nas ruas. Garotas chamavam pelo meu nome e os garotos queriam saber de onde eu tirava tanta inspiração. Mas tudo, de repente, acabou-se.
Minha memória jovem se ausenta por alguns instantes e não acha razão alguma para tudo ter sido perdido. Eu trazia meu melhor sorriso. Todas as minhas palavras foram com amor. Minhas mentiras já tinham morrido há muito tempo. Nunca minha atitude foi de superioridade. Sempre tentei ao máximo ser eu mesmo.
Via nas ruas muitas pessoas abrindo meu corpo através de meus escritos. Me dissecando por completo. Tentando entender o impossível. Encontrar interpretações para minhas palavras. Mas todos esses de nada ganharam. Os textos já não são mais meus assim que os finalizo. São de todos vocês.
Mas eu quis te dar muito mais que isso, eu dei o coração por trás de todos os poemas.
Não encontrava sequer notas sobre mim em jornais. Me sentia velho como alguém que perdeu um triunfo que talvez nunca tivesse ganhado.
Me senti personagem de minhas próprias palavras. Minhas desilusões ficcionais. Meus dramas que nasceram em minha mente, morreram no papel e sobrevivem na mente dos meus leitores. Meu best seller passional agora se transformava em minha vida.
Eu chorei pela falta do seu amor como um personagem que escrevi. Mas ao contrario dele, onde eu era o senhor de suas palavras, nada posso fazer contra as suas.
Minhas confissões soam demais como o que escrevi. Será que andei construindo demais as palavras de minha vida e deixei de lado as ações que elas possuem? Será que deixei demais minha vida aqui e ela se espalhou por todos esse cantos?
Queria achar uma palavra ideal, que se colocada aqui fosse a chave para trazer um novo brilho ao que suspiro. Mas a vida, tanto a minha quanto a do papel, não ganha milagres.
Eu poderia dizer mais de um milhão de sentenças. Mas o personagem se confunde com o autor. E saber quem é o escravo de quem já não é mais possível.
Thiago Augusto

2 Comentários:

Às 10:10 PM , Anonymous Anônimo disse...

preciso ler de novo, pensar e depois comento de novo

Dudu

 
Às 5:26 PM , Anonymous Anônimo disse...

Será que estamos nos perdendo ao escrever? Perdendo nossos rumos?

 

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