Funeral Para Um Amigo - Parte I
Ele só soube da morte de seu primeiro amigo, José, no dia seguinte quando leu os funerais. Enquanto esperava o café, resolveu fazer algo que quase nunca fazia: olhar as notas de falecimento. Joaquim achava esse hábito um desejo mórbido das pessoas, encontrar um conhecido naquela lista para ter o que conversar com os amigos.
Se espantou ao ler e perdeu totalmente o apetite para tomar o suco de laranja que pedira à empregada. O que sentiu foi um imenso aperto no coração. "Meu primeiro amigo", pensou e leu as linhas da nota.
"José Eduardo Galvão. Morto ontem por volta das 18h, em um assalto a mão armada, deixa a esposa Isabela Hernandez de Oliveira de 37 anos e os filhos Angélica de Oliveira Galvão de 14 anos e Gustavo Lúcio de Oliveira Galvão de 7 anos. O corpo será velado hoje no Velório Vá Com Deus e seu enterro se realizará amanhã as 9 horas da manhã."
Joaquim se entristeceu com a memória no passado. Lembrando de seu primeiro amigo de verdade ainda no final de sua infância. Espantou-se por não ter sido contatado, não tinha mudado de telefone, "como esqueceram de me avisar?".
Responsável por muitas histórias que ele podia lembrar, José se tornou distante anos depois. A vida de ambos se afastaram, as convicções e defesas não eram as mesmas. Amigos sim, mas não compartilhavam as mesmas paixões. Isso fez com que a amizade se esfriasse e continuasse sempre nessa constante. Faziam 10 anos que ele quase não tinha noticias do amigo e agora lia incrédulo a nota do jornal.
Joaquim ainda lembrava perfeitamente das conversas que tivera com o amigo que sempre parecia tão mais sábio que ele naquela época. Mas também sentia a dor dessa distancia que ele lutou por muito tempo para não existir. Permaneceu ainda em seu peito uma amargura acrescida a cada ano pela distancia. Ele era um desses homens que jamais aceitava inexplicações que o tempo nos dá de presente.
Só percebeu que o telefone tinha tocado quando sua empregada entregava o aparelho em suas mãos - É uma tal de Dona Isabela. Quem seria? Ele não conhecia ninguém com esse nome.
- Pois não? Sim. É ele que está falando?
Do outro lado da linha, Isabela se identificou como esposa de José. Tinha o visto muito pouco mas ainda lembrava dele no casamento. Joaquim lhe deu as condolências, ela ameaçou chorar e lhe fez um pedido. Se Joaquim ou Sr como ela lhe chamou, como escritor que era, poderia escrever algumas palavras para serem ditas no funeral amanhã.
Sem pensar, aceitou. Mas ao desligar o telefone não sabia o que escrever.
Tomara finalmente um gole de seu suco, ligou seu computador. Sabia que escrever a mão a essas horas seria ainda mais complicado, visto o costume e a emoção.
Acordara tarde na única manhã que deveria chegar no horário. O enterro começaria em 15 minutos e sua casa era distante do cemitério. Mordeu o ultimo pedaço do pão enquanto trancava a porta de casa e o portão abria automaticamente. Entrou no carro e saiu, às pressas.
No cemitério quase não teve tempo de reconhecer os amigos que ainda conhecia. Viu Isabela que se emocionou com a chegada do amigo, "Ele disse que você foi o primeiro amigo dele". Sem palavras, confirmou com a cabeça.
Ele nunca tinha visto Gustavo, mas percebeu o quanto Angélica tinha crescido. Os amigos cumprimentaram-no. Tinha o receio de que alguém soltasse um comentário indevido sobre seu último livro ou qualquer palavra sobre sua carreira. Teve sorte, todos foram sóbrios quando Isabela o apresentou.
Na frente de amigos e parentes naquela fria manhã iniciou seu mais belo discurso:
"Nunca existiu amigo como José. Que sem mais devaneios me ponho a falar. De um homem de coração fiel aos seus pensamentos e puro em suas ações.
Nunca existiu alguém que sonhasse tanto com os pés no chão. E que com trabalho árduo pôs-se a realizar todos seus pensamentos como os velhos cientistas conseguiram fazer.
José atravessou a linha entre os homens normais e se tornou extraordinário por tudo aquilo que foi. Corajoso, sempre, ao falar o que desejava. Nunca fugia de qualquer luta. E sempre o amor e a amizade foram a chama acesa em seu coração.
José faz minhas palavras faltarem. Pois descrições não bastariam para dizer quem esse fantástico homem foi. Mas do pouco delas que me sobraram, digo que estão em luto por José.
Um amigo fiel que agora iluminará outros caminhos. Um homem de honra em todos os sentidos. Um homem para não ser esquecido. Esse foi José."
Se espantou ao ler e perdeu totalmente o apetite para tomar o suco de laranja que pedira à empregada. O que sentiu foi um imenso aperto no coração. "Meu primeiro amigo", pensou e leu as linhas da nota.
"José Eduardo Galvão. Morto ontem por volta das 18h, em um assalto a mão armada, deixa a esposa Isabela Hernandez de Oliveira de 37 anos e os filhos Angélica de Oliveira Galvão de 14 anos e Gustavo Lúcio de Oliveira Galvão de 7 anos. O corpo será velado hoje no Velório Vá Com Deus e seu enterro se realizará amanhã as 9 horas da manhã."
Joaquim se entristeceu com a memória no passado. Lembrando de seu primeiro amigo de verdade ainda no final de sua infância. Espantou-se por não ter sido contatado, não tinha mudado de telefone, "como esqueceram de me avisar?".
Responsável por muitas histórias que ele podia lembrar, José se tornou distante anos depois. A vida de ambos se afastaram, as convicções e defesas não eram as mesmas. Amigos sim, mas não compartilhavam as mesmas paixões. Isso fez com que a amizade se esfriasse e continuasse sempre nessa constante. Faziam 10 anos que ele quase não tinha noticias do amigo e agora lia incrédulo a nota do jornal.
Joaquim ainda lembrava perfeitamente das conversas que tivera com o amigo que sempre parecia tão mais sábio que ele naquela época. Mas também sentia a dor dessa distancia que ele lutou por muito tempo para não existir. Permaneceu ainda em seu peito uma amargura acrescida a cada ano pela distancia. Ele era um desses homens que jamais aceitava inexplicações que o tempo nos dá de presente.
Só percebeu que o telefone tinha tocado quando sua empregada entregava o aparelho em suas mãos - É uma tal de Dona Isabela. Quem seria? Ele não conhecia ninguém com esse nome.
- Pois não? Sim. É ele que está falando?
Do outro lado da linha, Isabela se identificou como esposa de José. Tinha o visto muito pouco mas ainda lembrava dele no casamento. Joaquim lhe deu as condolências, ela ameaçou chorar e lhe fez um pedido. Se Joaquim ou Sr como ela lhe chamou, como escritor que era, poderia escrever algumas palavras para serem ditas no funeral amanhã.
Sem pensar, aceitou. Mas ao desligar o telefone não sabia o que escrever.
Tomara finalmente um gole de seu suco, ligou seu computador. Sabia que escrever a mão a essas horas seria ainda mais complicado, visto o costume e a emoção.
Acordara tarde na única manhã que deveria chegar no horário. O enterro começaria em 15 minutos e sua casa era distante do cemitério. Mordeu o ultimo pedaço do pão enquanto trancava a porta de casa e o portão abria automaticamente. Entrou no carro e saiu, às pressas.
No cemitério quase não teve tempo de reconhecer os amigos que ainda conhecia. Viu Isabela que se emocionou com a chegada do amigo, "Ele disse que você foi o primeiro amigo dele". Sem palavras, confirmou com a cabeça.
Ele nunca tinha visto Gustavo, mas percebeu o quanto Angélica tinha crescido. Os amigos cumprimentaram-no. Tinha o receio de que alguém soltasse um comentário indevido sobre seu último livro ou qualquer palavra sobre sua carreira. Teve sorte, todos foram sóbrios quando Isabela o apresentou.
Na frente de amigos e parentes naquela fria manhã iniciou seu mais belo discurso:
"Nunca existiu amigo como José. Que sem mais devaneios me ponho a falar. De um homem de coração fiel aos seus pensamentos e puro em suas ações.
Nunca existiu alguém que sonhasse tanto com os pés no chão. E que com trabalho árduo pôs-se a realizar todos seus pensamentos como os velhos cientistas conseguiram fazer.
José atravessou a linha entre os homens normais e se tornou extraordinário por tudo aquilo que foi. Corajoso, sempre, ao falar o que desejava. Nunca fugia de qualquer luta. E sempre o amor e a amizade foram a chama acesa em seu coração.
José faz minhas palavras faltarem. Pois descrições não bastariam para dizer quem esse fantástico homem foi. Mas do pouco delas que me sobraram, digo que estão em luto por José.
Um amigo fiel que agora iluminará outros caminhos. Um homem de honra em todos os sentidos. Um homem para não ser esquecido. Esse foi José."
[Continua...]
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