segunda-feira, agosto 08, 2005

Portas

Estava só, em um corredor longo, escuro, com muitas portas. Não conseguia enxergar muita coisa. E ele precisava encontrar uma saída.

No fim do corredor havia uma porta, mas trancada. Além dessa, outras várias. Uma delas seria a saída. Provavelmente.

Ele foi abrindo cada uma. A primeira abriu para uma sala vazia, escura, quase totalmente escura. Ele andou pela sala, procurou outra porta ou janela, mas suas mãos só encontravam a frieza das paredes. Abriu outra porta e percebeu que ela dava acesso a outra sala vazia e escura. Passou então para outra porta, e mais outra, e outra. Salas. Vazias e escuras. Paredes frias. Não havia saída.

Abriu mais uma. Dessa vez ouviu vozes vindas de um canto da sala. Não conseguia entender o que diziam, falavam muito baixo.

Devagar, ele foi se aproximando. Ouvia fragmentos: “nunca vai encontrar”, “está bem guardada”. A sala na qual ele agora estava não era vazia como as outras. Percebeu isso quando se chocou com um objeto e o derrubou no chão. As vozes calaram-se, e após alguns segundos do mais absoluto silêncio - apenas ouvia sua respiração, forte e nervosa - alguém gritou:

- O que quer aqui? O que procura? Seja lá o que for, não encontrará. Não aqui, não dessa forma.
Com algum esforço, conseguiu falar:

- Me ajudem! Não sei o que está acontecendo. Não sei como vim parar aqui! Quero encontrar uma saída, ou ao menos um lugar no qual eu possa ficar.

A voz agora parecia mais dura, pesada e fria - como as paredes da sala:

- Grande idiota! Pode ter encontrado a saída, e não sabe. Pode encontrar, e não vai saber. Não há nada aqui nesta sala para você. Vá embora e não nos incomode.

Saiu daquele cômodo. Abriu mais algumas portas, mas tudo o que encontrou foram mais salas escuras e vazias. Com paredes frias. Resolveu sentar no meio do corredor.

Pela primeira vez refletiu sobre aquela situação. Não sabia como havia chegado ali. Simplesmente acordara naquele lugar. Seus pensamentos foram cortados por vozes.

Vozes. Pessoas conversando. Portas se abrindo e fechando. Ele achou melhor continuar parado onde estava.

Dormiu. Pensou que talvez pudesse acordar em outro lugar.

Não foi o que aconteceu.


Rafael Rodrigues

2 Comentários:

Às 2:14 PM , Anonymous Anônimo disse...

Fiquei tensa lendo isso, o final foi ótimo...
Parabéns mais uma vez.
Eli

 
Às 9:55 PM , Anonymous Anônimo disse...

Um bom conto! Melhorou muito de quando eu li tempo atrás.
Abraço!

 

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