sexta-feira, abril 15, 2005

O Reencontro

Ela era uma das mais bonitas do colegial. Você ainda pode se lembrar. Sorriso estonteante, aquela mexida com o cabelo que deixava você e os outros colegas de boca aberta.

Ta certo que já faz algum tempo que isso aconteceu. Você já tem barba, ela muitas histórias para contar. Mas o destino é assim mesmo. Naquela rua movimentada você foi justamente encontrar-la.

Ela ficou feliz ao te ver, você mais ainda. Ela cresceu muito bem, obrigado. Depois da troca de comprimentos, perguntas sobre a vida de cada um. Você diz que esta bem, ela diz que está bem e com pressa.

A única alternativa é trocar telefones, e marcar um jantar. Um encontro, pensa. E conclui que os colegas iriam ficar estupefatos por você, finalmente, ter um encontro com a “queridinha”.

Jantar acertado, as 20h30 nessa mesma noite. Vocês se encontram lá. Assusta um pouco, rápido demais um encontro súbito depois de anos sem contato.

Depois do trabalho, você está leve, flutuando. Feliz. Demora no banho, canta alto e desafinado uma canção do Legião. Dança, faz piruetas. Um encontro com a “queridinha”.

Sai do banho, coloca um roupão e parte para a difícil escolha do figurino. Essa combina. Não, não. Muito antiga. Talvez essa com a calça caqui. Mas assim você parece um jogador de tênis. Essa é muito colorida. Muito fúnebre. Muito menino do rio. E por fim você escolhe a velha calça preta, com a camisa branca. Comum porém agradável.

Pronto com uma hora de antecedência, enrola com alguma parte do jornal que você ainda não tinha lido, passeia rapidamente nos canais da tv e resolve ir.

Chave do carro na mão, a ultima olhadinha no espelho. Respira profundamente para sentir se seu perfume está levemente agradável. Tranca o apartamento e caminha para o elevador.

Já no carro, verifica se as pastas do banco de trás estão levemente organizadas e os tapetes aceitavelmente limpos, quem sabe você a leve de volta para a casa. Coloca o cd da Norah Jones, que acalma agora e poderá ser perfeito para depois.

Chega no restaurante com vários minutos de antecedência e espera ansioso. As mãos começam a suar. Você vai ao banheiro, lava as mãos, volta a mesa e espera. E enfim, toquem os tambores, ela chegou.

Caminha suavemente em direção a mesa, sua colega manteve o mesmo rebolado dos tempos do colégio, só que agora está muito mais feminina e madura. Você fica sem jeito, ainda mais com ela sorrindo assim.

Como um cavalheiro, você levanta, afasta a cadeira dela, ela lhe diz “Olá” e senta. “É hoje. Com certeza” passa por sua cabeça. E você senta. Quando finalmente ela diz as primeiras palavras da noite...

-Voltei com o meu namorado! Estou super feliz.

Você se congela. Paralisado. Tentando controlar seu desapontamento, você ergue a sobrancelhas e dá um tapa na sua bebida e disfarça dizendo um “que legal” nada sonoro. Você pensa em sumir, fingir convulsão e sair correndo. Será que o restaurante tem porta dos fundos?

Nas próximas horas o tempo passará caoticamente, você fingirá interesse pelas histórias chatas que ela contará e se lembrará que era bem melhor ter ficado em casa vendo a reprise de “Os Brutos Também Amam”. Sua noite foi aniquilada e sim, a conta quem pagará é você.


Thiago Augusto
(03/03/04)

1 Comentários:

Às 1:31 PM , Anonymous Anônimo disse...

Hum...Eu já havia lido este texto antes....:)
Abraço da Vanessa

 

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