terça-feira, julho 05, 2005

3 Vozes convida... Rafael Reinehr

Crônica do Crítico Literário

Comece dizendo que o autor foge do hiper-realismo. Que mantém uma escrita sóbria sem concessões ao coloquialismo excessivo.

Siga afirmando que não usa linguagem chula nem escatológica, tão comum em nossos dias que está prestes a formar uma nova corrente.

Diga que é um representante legítimo do ideário contemporâneo. Se escreve textos curtos, diga que são fortes porque concisos. Se os textos são longos, diga que são fortes porque se esmeram em detalhes.

Lembre o leitor que (não) há nuances de experimentalismo.

Se for um contista, diga que os contos de Fulano de Tal invadem a realidade, recriando-a num espelho de múltiplas faces.

Em caso de romances, afirme que nos textos do autor, o leitor é convidado a participar, quer seja pela ambigüidade intencional do discurso ou pelo “subtexto tramado com perícia”, acentuando que esses são “reflexos óbvios da prática do conto” (se o autor não for conhecido por seu trabalho como contista, suprima este trecho ou insinue que o mesmo tem um manancial de contos guardados em suas gavetas).

Se possível identifique algum cacófato e o enumere.

Refira que o autor usa (evita) doses maciças de humor, privilegiando o trocadilho, a metalinguagem e a paródia.

Para concluir, diga que o autor consegue com primor evitar filigranas e pirotecnias, usando adequadamente a força intrínseca das palavras. Termine com “O escritor Fulano de Tal mostra, assim, consciência de seus instrumentos de criação, mantendo a coerência durante toda sua obra”.

Na próxima crítica, ajuste o nome da obra e do autor, inverta a ordem de aparecimento das sentenças e dê uma enfeitada aqui e acolá com passagens da obra e pronto: mais uma crítica literária fresquinha estará saindo do forno!

* Rafael Reinehr é médico endocrinologista mas não consegue viver sem as artes (literatura, música, cinema, fotografia). Acabou de estrear seu primeiro curta-metragem (O Envelope Azul) como Diretor de Produção e Fotógrafo Still. É editor do sítio literário cultural Simplicíssimo (http://simplicissimo.com.br), de blógue Escrever Por Escrever (http://escreverporescrever.blogspot.com) e no dia primeiro de julho inaugurou seu novo sítio Armazém de Idéias Ideais (http://armazemdeideias.org). "O tempo não pára, quem pára no tempo somos nós " (Ludovico Antena)

P.S.: E o Rafael Reinehr comemorou aniversário dia 01 de julho, parabéns pra ele também.

3 Comentários:

Às 1:19 PM , Anonymous Anônimo disse...

Texto realmente sóbrio, tou com aquela velha sensação de "Puta que pariu! Tenho que ler mais", ou seja, ótimo texto =)

Dudu

 
Às 4:27 PM , Blogger Rafael Reinehr disse...

Este é o primeiro texto da Série "Crônica do Crítico...".

Na seqüência teremos a "Crônica do Crítico de Arte", a "Crônica do Crítico de Cinema", a "Crônica do Crítico Político", a "Crônica do Crítico Econômico" e, por fim, uma autocrítica na "Crônica do Crítico Crônico"...

 
Às 5:07 PM , Anonymous Anônimo disse...

Esse negócio de crítica é muito pessoal. Já comprei coisas depois de ler maravilhas obre elas, e me arrependi. Também já deixei de comprar coisas depois de ler as não recomendações e também me arrependi depois. Outras críticas acertaram, em relação ,à minhas expectativas e gostos. Acho que, para que a crítica de alguém funcione melhor, é preciso que o crítico seja alguém com os gostos e idéias sobre o mundo semelhantes às minhas. Isso não garante em 100% a recomendação, mas contribui muito para que não me arrependa.

 

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