sábado, novembro 05, 2005

O Fim

Vou lhes contar a história de minha vida. Mas não se preocupem com o tempo, ela é tão rápida que aos senhores será como ouvir uma música.
Sou uma equação matemática. Tire de mim meus amores e minhas palavras que talvez sobre pouca coisa para contar.
Quando ia nascer, Deus olhou para mim, fez o check-up essencial, deu aval de minha existência e preencheu o formulário de como eu deveria ser: "Seras passional acima de tudo. Suas conquistas, seus amores, serão a base do que serás. Lutarás por coisas banais, como Quixote, pois amarás a vida acima de tudo. Todos os valores contáveis serão menores para ti." E assim fui tirado da barriga de minha mãe.
Agora, passados vinte anos, morto de todas as paixões que me arrancaram cada pedaço como quem escora em um espinho, desfalecido de qualquer idéia verbal que seja bela e coerente por mais de alguns segundos, me sinto em coma.
O que me resta do amor é amar alguém que nunca será minha e o que sobrou de minhas palavras são certas frases que possuem valor irreal mas não ganham consistência para se transformar em um texto legível.
No meu monitor cardíaco ainda existe pulso. Lento. Eu olho para esse monitor como quem admira um réptil pronto para o bote. Sem saber seu significado. Tentando compreender o que ainda faz o coração bater. Existe muito mais do que meus amores falsos e minhas palavras erradas. Mas a impaciência da vida não me faz ver.
Cansado estou. E me perco pois não acho mais nada que valha a não ser essas palavras e esses amores em vão. Que ainda não foram embora de minhas cordas.
Por agora não tenho mais nada para falar. Preciso que tudo que passou se resuma em lembrança para que renasçam novas histórias. E assim cesso minhas palavras mas não meu penar.


Thiago Augusto

0 Comentários:

Postar um comentário

Assinar Postar comentários [Atom]

<< Página inicial