terça-feira, novembro 01, 2005

Artigo Indefinido - Parte II de II

Você os vê, não? Sei que estão aqui. Toda vez que apago a luz, quando o mundo se silencia por alguns segundos. Você, além de tudo, os vê. Mas sei as formas que eles se parecem. Não gostaria de sentar por alguns segundos e me dizer quem eles são? Só para ter certeza de quem são os fantasmas que me assombram. Quem se cobre com lençol quase todas as noites e grita em meus ouvidos, arrastando correntes que parecem anunciar meu cárcere.
Suas amarras rasgam o interno, deixando a ferida exposta. Cabe a mim restar com a vida que eles me sobraram. Viver sem nenhum progresso. No pico de palavras sem sentido algum, sem respostas, nem relógios, nem passado, presente, futuro. Futuro algum. Somente espaços repetidos.
Fantasmas me perseguem. Me abalam. E por ter caído em meio a valsa de Strauss, senti muito mais sangue do que gostaria. Fantasmas me perseguem. Não sei o que fazer. Não existem paginas para se virar até encontrar o momento feliz. Não existe nem Julieta, nem Forrest Gump. Somente eu. E um abismo. A qual todos se atirarão em breve.
Todas minhas palavras não me trarão respostas. Preciso de pessoas distantes, passados não consumados. Tenho que me olhar no espelho e saber quem sou. Perceber que não existe grande mal corroendo minhas veias. Que não sou um ator a ler as falar de um papel. Que não posso me esconder por trás de vossas risadas. Que perdi qualquer parte da minha memória e não sei mais compreender o que falta. Talvez me falte ópio.
A vida se propaga lá fora. Comigo ou sem. Sou um preâmbulo de estatística. Um número na carteira de identidade. Um artigo. Indefinido. Sem cor. Cheiro. Papel. Visão. Solução. Formula. Um amontoado de proteínas que deveria saber o que fazer com a sua vida.
Onde se encontra o papel com tudo que deveria fazer nesse momento? Aonde esta a pedra fundamental que me partia em mil e me transformava em todos os seres? Me tornei a vitima de meus próprios dilemas. De autor virei minha personagem. Se alimentasse meus pulsos com uma lâmina, será que voltaria ao inicio do primeiro erro? Ao inicio da primeira vez que disparei o gatilho das minhas falácias?
Hoje meu desejo transcendeu as janelas e se perdeu pelo espaço. Amanhã me contorce o olhar o que virá.
Hoje eu toco as cordas do violão para, amanhã, elas cerrarem meu pescoço. Há muito não sei mais qual é a essência original de meu ser. Qual verso foi mesmo composto por mim.
Sou um reflexo. Um cuco que pode imitar qualquer palavra que ouvir. Mas qual delas nasceram comigo e quais foram remontadas... Abro espaço para uma das piores falas dos homens: Não sei.
As luzes continuam acesas. A abóbora já exala um odor ruim. Um gato negro corre por qualquer lugar. Alguém comete suicídio nesse momento manchando as cortinas da casa. O Homem Aranha salva mais uma dama inocente. Meus sonhos se despedaçam a cada instante. E eu me desfaço. Indefinidamente.


Thiago Augusto
(26-09-05)

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