domingo, dezembro 11, 2005

Sônia - Parte Final


Sônia voltou para o albergue e resolveu deitar um pouco e pensar sobre o assunto, estava a considerar coisas que não faziam parte de sua rotina e ética de trabalho. Mesmo sabendo que o não questionar e trabalhar pela eficiência, pelo seu nome, era uma questão de sobrevivência, ela pensou se gostaria de ser somente mais uma engrenagem na imensa máquina alienatória que movimenta o mundo ou resolver ser uma dissidente, pela primeira vez fazer alguma diferença e contribuir para alguma coisa que não fosse sua obsessão na perfeição e sucesso.

Jesus caminhava em direção a uma multidão para ensinar, quando se depara com Sônia, o homem barbudo com olhos piedosos se ajoelha e implora, “Deixe-me existir, dependo de você para continuar no coração das pessoas e para que o caos não se apodere do mundo, continue matando em troca de dinheiro, mas deixe-me viver, você vai pro céu por isso!”. Assustada, Sônia levantou-se da cama e percebeu-se no albergue. Paul que estava a inspecionar uma goteira no quarto de Sônia, provavelmente oriundo de um encanamento velho, virou-se para ela: “Você perdeu o café da manhã, mas acho que a Sra Marlow não se importará de arrumar-lhe uns biscoitos e um copo de leite.”. Ainda desnorteada, Sônia sacou sua Glock e apontou para o homem: “Feche a porta lentamente e aproxime-se, qualquer movimento brusco e seu cérebro vai decorar a parede! Fui paga pra isso, mas vou dar-lhe uma chance de me convencer do contrário.” e com os olhos esbugalhados e tremendo como se fosse possuído pelo mal de Parkinson em último estágio, Paul aproximou-se dela, engoliu no seco e disse: “Não poderão enganar a todos por todo tempo, uma hora a máscara irá cair e não será preciso que um arqueólogo o faça, o Papa nazista vai se encarregar de expulsar todos da Igreja Mãe e os negociadores evangélicos expulsarão os outros, é uma questão de tempo! Atire se quiser, um dia meu nome será mais inabalável que o do próprio construtor da Igreja.” fechou os olhos e ajoelhou-se preparando-se para o tiro.

A assassina disparou o golpe e quando Paulo deu por si estava dentro de um ambiente estranho, amarrado e amordaçado com seu algoz diante de si, perdida em pensamentos. Sentiu o gosto de sangue na boca e perguntou-se por que ainda estaria vivo, com certeza ela queria algo e enquanto ele pudesse suprir esse desejo, manter-se-ia vivo. Posicionou-se na parede atrás de si e encarou-a com um olhar penetrante, questionador, mas não mais que o dela.

Sônia levantou-se de seu estado contemplativo e caminhou em direção a Paulo, olhou-o por um momento e quebrou o silêncio: “Fui contratada para matá-lo, pela primeira vez eu estou exitando, pois admiro seu trabalho, mas não posso deixar de fazer o que fui contratada para fazer, entende?”; não, ele não entendia e por isso a olhava com os olhos vidrados, mas ela continuou: “Você pretende revolucionar o mundo Paulo e quebrar a máscara de milhares de idiotas que envenenam nossas crianças com datas especiais em Dezembro e Abril, que reprimem e maltratam nossas mulheres e condenam o melhor dos nossos instintos básicos, o sexo. Acho que você está fazendo algo bom e isso prejudica meu discernimento, me faz vacilar com a arma em punho, mas eu sei que o mundo perdeu o sentido pra mim faz anos, hoje não me importo muito com o que vai acontecer com o resto das pessoas, elas não se importam comigo mesmo.” ela fez uma pausa e respirou, seus olhos outrora marejados, voltaram à frieza inicial “Só queria lhe dizer que o admiro Paulo, muito, e sinto muito.”.

Sônia recebeu seu dinheiro e deu o endereço da lápide de seu último serviço para o seu contratador, avisou sobre a carbonização dos ossos, quis fazer de conta que fora um acidente e por isso tocou fogo na casa com ele dentro, desmaiado, sem cordas, sem tiros. O empregador deu um sorriso e entregou-a uma pequena maleta, “Este é um adicional pela discrição, a Maçonaria agradece seus serviços e espera contar com você novamente!” disse o homem estendendo mais dinheiro para a assassina, “Obrigada, mas este foi meu último serviço religioso.” ela respondeu enquanto pegava a maleta e pensava que era melhor que ele não desconfiasse que ela sabia de seu segredo.

Cinco anos se passaram, algumas mortes misteriosas aconteceram no alto clero da Igreja Católica, investigadores foram colocados no encalço de um possível assassino, apesar de poucas provas conclusivas, A Santa Igreja temia por seus membros e passou a retrair-se cada vez mais e nada fez quando surgiu um novo achado de um pesquisador no Norte da África, ele e sua assistente haviam achado documentos que provariam que Cristo não passara de um mito inventado por seus apóstolos.

Eduardo Leite

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