quarta-feira, dezembro 28, 2005

Ultimamente têm passado muitos anos

“Ultimamente têm passado muitos anos”. Li isso em algum livro de Fernando Sabino, há muito tempo atrás. Se não me engano, quem a proferiu foi o grande Rubem Braga, exímio cronista e amigo de Sabido.

E não há melhor frase para ser dita ou reproduzida em finais de ano. Ultimamente têm passado muitos anos, e muito rápido. O ano novo está logo ali. Assim como estão logo ali os meses que se passaram. Uma sucessão de ontens. Sim, porque tudo parece ontem.

Gostaria de encontrar uma explicação para a passagem tão rápida do tempo. Não costumava ser assim quando era criança.

Naquele tempo, a véspera do natal parecia durar dias e dias. Depois da ceia com a família, saíamos para visitar mais de 300 mil pessoas. Tios, padrinhos, amigos de meus pais. Quase sempre saía da casa da visita com um presentinho na mão. Eu amava muito tudo isso.

E ficava acordado até altas horas da madrugada, ou abrindo presentes ou brincando com eles com meu primo.

Daí para o ano novo, os dias corriam normais, sem pressa.

No dia 31, mesmo roteiro. Comemorávamos em casa ou na casa de algum parente e depois saíamos para visitar os mais próximos. Eu, com meus 8 ou 9 anos de idade, só dormia às 6 da manhã, vendo nascer o sol do dia 01 de janeiro do ano que chegava.

Eram outros tempos. A vida era melhor, mais tranqüila. O mundo não era tão complicado. Existiam os mesmos males que existem hoje, claro, mas nada era tão globalizado, tão rápido, instantâneo. Eu era inocente. Ainda freqüentava a Igreja, acreditava em Papai Noel e na bondade dos homens.

Hoje é tudo muito rápido. As pessoas vêm e vão. Meu primo se casou e tem uma filhinha. A maioria dos amigos de meus pais foram morar em outras cidades. Todos se afastaram. Não que quiséssemos. O tempo se encarregou de fazer isso.

Na véspera do natal, nós ceamos, visitamos o pouco que sobrou da família e dos amigos – quando visitamos – e vou dormir cedo. No ano novo, geralmente discuto com meu pai por causa do show da virada – ele sempre quer assistir, comigo! – e eu quero dormir. Mas nada de muito grave, eu até dou muita risada.

Não ligo mais para 300 pessoas para desejar feliz natal nem feliz ano novo como fazia a até alguns anos atrás. É um ato tão insincero na maioria das vezes que prefiro me abster. Não sou mais inocente, há muito deixei de freqüentar a Igreja e a bondade dos homens pra mim é como ganhar na mega-sena.

Mas ainda acredito em Papai Noel.
Rafael Rodrigues

6 Comentários:

Às 11:39 PM , Anonymous Anônimo disse...

Cara, nem sei o que falar deste texto...
Excelente Rafael...
Parabéns Escritor... hehehe...
Valeu, um abraço...

 
Às 1:19 AM , Anonymous Anônimo disse...

É assim mesmo.Para mim também, não é muito diferente os finais de ano.Agente cresce e as coisas mudam de "cor" (infelizmente). Semanas atrás escrevi que não acreditava mais em papai noel...mas,em contradição ano passado até que o "bom velhinho" foi gente fina comigo. Então, depende do ponto de vista acreditar ou não. Muito bom seu texto ;)

 
Às 11:33 AM , Anonymous Anônimo disse...

Rafa, depois de ler este (belíssimo) texto, lembrei de uma frase que eu amo, da Clarice Lispector: "Com o tempo, perdi o jeito de ser gente". Acho que isso ilustra bem o que estamos vivendo nos dias atuais.. =|

De qualquer forma, desejo a vocês um Feliz Ano Novo! Tudo de bom pra vocês!

Beijokas e pipokas!

 
Às 7:31 PM , Blogger Tha V. disse...

Putz.. q texto maravilhoso!
Uns dias atrás, qdo coloco a cabeça no travesseiro, isso me veio a cabeça...
Sinto que os 10 segundos, que separam um velho ano daquele fresquinho que está chegando, estao cada vez mais rápidos.. Não há tanta graça como antes.. a nao ser pelo meu irmao que sempre é um fracasso tentando estourar a champanhe... hehe
:)
Bom, é isso!
Mais uma vez, ótimo texto!

 
Às 12:15 PM , Blogger David Nascimento disse...

É epígrafe do livro "Cartas perto do Coração", em que foram publicadas as cartas entre Sabino e Clarice Lispector.

 
Às 4:38 PM , Anonymous Anônimo disse...

triste concordar com vc, mas as coisas que tinham importância quando éramos crianças parecem não valer mais nada pra grande parte do mundo. às vezes, até pra nós!

 

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