domingo, dezembro 25, 2005

O amor é um tumor

*Publicado originalmente em 12/05/2005


"Como nunca tenho certeza do que penso, não posso dizer se é invenção minha ou se vi isso em algum lugar, mas me parece que as sensações provocadas pelo que chamam de amor atuam de maneira parecida às de uma doença psíquica."*

Bem, na verdade não seria ter certeza do que penso. Trata-se de uma falha de memória. Todos estamos sujeitos a isso. Pode ser que eu tenha lido isso em algum lugar, ou visto alguém dando essa declaração. Ou eu mesmo formulei essa teoria e para não me comprometer acabei colocando a culpa em alguém.

Seja lá qual for a verdade, o que importa é que não seria de todo impossível isso ser verdade. Afinal, todas as nossas emoções são produzidas em algum lugar do cerébro. E, se algumas delas podem ser produzidas por alimentos (não é o chocolate que provoca sensação de prazer?) - por exemplo - por que o amor não poderia dividir o mesmo local do cerébro que é afetado quando alguém tem uma doença psíquica?
Ora, sabemos que o amor - que como tudo o que é abstrato não sabemos realmente o que é - transforma as pessoas. Para além do bem e do mal, parafraseando uma obra de Nietzsche.

Quando se está apaixonado - ou quando se está "amando" - geralmente ficamos aéreos. Pensa-se demais na pessoa "amada". Vai-se à escola, o professor dando aula e você pensando nela (ou nele). Fila do banco, chega a sua vez. Alguém tem que te avisar: "ei, é a sua vez". Enfim, "n" situações. Fica-se mais disposto. Você faz tudo com mais alegria.

Mas há o amor distorcido, que vira obsessão. Não fiz pesquisa sobre o assunto, mas pelo que já vi e vivi, arrisco dizer que tornam-se obcecados por alguém aqueles que são tímidos demais. Ou aqueles que por não ter sua paixão correspondida perdem a noção do que é certo e errado. Essas pessoas se comportam de maneira estranha e fazem coisas que em estado normal não fariam. Ligam várias vezes para a pessoa que "amam" e nada falam, começam a seguir seus "amores" impossíveis, chegando a cometer suicídio ou assassinato - muitas vezes os dois - por não ter seu desejo amoroso realizado.

Não tenho nada contra o amor. Quanto a ele sou bem resolvido. Eu me amo. Amo minha família, amo minha namorada, meus amigos. Mesmo sem saber com certeza o que é o "amor", "amo" segundo a convenção da sociedade e a definição do dicionário. Mas creio que o amor pode se tornar uma doença, assim como o ciúme. Não vejo motivo para dissociar amor de paixão. Para mim ambos são um. A mesma coisa. Dizem que a diferença entre um e outro é a duração. "A paixão é passageira". E amor também não passa? Como então um amor terminar de maneira traumática e tornar-se ódio? Amor é passageiro, pode ou não acabar com um dia, um ano, ou um século. Defendo a idéia de que o amor é uma doença. Pronto, melhor: o amor é um tumor. E ele pode ser maligno ou benigno.


* O primeiro parágrafo entre aspas foi retirado de uma conversa via MSN com minha amiga Crib Tanaka. Ela sugeriu utilizá-la em algum texto. E aí está.


Rafael Rodrigues

1 Comentários:

Às 12:05 PM , Anonymous Anônimo disse...

Oie!
Vivo andando e cruzando blogs...
talvez tenha encontrado seu blog por causa de uma msg sua enviada no orkut, pois participamos da comunidade do F.Sabino!

Lindo texto!
Inteh!!

 

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