Amor, apenas
*Postado originalmente em 30/04/05
Ele não poderia apenas dizer a ela "Eu te amo". Tinha que ir na porta da sua escola, com seu violão e cantar "Don´t Let Me Down" dos Beatles. E ainda levar consigo dois amigos para lhe acompanharem. Seriam três vozes, três instrumentos, com apenas uma finalidade.
Ele não poderia apenas dizer a ela "Eu te amo". Tinha que ir na porta da sua escola, com seu violão e cantar "Don´t Let Me Down" dos Beatles. E ainda levar consigo dois amigos para lhe acompanharem. Seriam três vozes, três instrumentos, com apenas uma finalidade.
Ele imaginava que nos versos "I´m in love for the first time" ela já estaria entregue a sua poesia, pois não sabia os últimos versos da canção.
- Cara, ela vai ficar caidinha, você vai parar no meio da música para ela se jogar em seus braços.
Eles nunca tinham conversado sobre serenatas, e de fato não sabia qual seria a reação dela ao ver tudo isso. Talvez ela acharia graça e acharia “bonitinho” ou correria de volta para dentro do colégio para provavelmente pedir para alguma amiga tirar “aquele maluco de lá”:
- Olha, ela pediu pra você parar com essa bobagem, sumir daqui e se possível nunca mais falar com ela.
Ele iria esperar o horário do término das aulas. Afinar seu violão, seu vocal e cantar. Ela já estava atrasada 3 minutos em relação ao horário final das aulas. Ele já poderia imaginar que ela não tinha ido naquele dia. Mas logo pensava, “não estava doente nem nada. Ela está ai sim, e me viu. Vou embora.” E se ameaçasse sair do lugar, seus amigos o fariam retroceder.
Não era nenhum crime o que iriam fazer. E talvez suas amigas ficassem morrendo de inveja.
Não chegava a suar, mas ele sentia seu coração bater com ansiedade. Temeu esquecer as 3 notas da canção. Desafinar nessa hora estava fora de cogitação.
Distraído, ele não percebeu a hora que ela chegou. Mas já estava próxima o bastante para começar a pensar “porque diabos ele está ai?”.
Rapidamente, ele ajeita seu violão, cutuca os dois amigos e faz os primeiros acordes.
- Don´t Let Me Down…
Os amigos ainda se lembravam que hoje mesmo de manhã, eles haviam assistido a um vídeo da banda cantando a mesma canção. E talvez sem querer, ele já imitava o jeito de John Lennon. Mas ela não era, definitivamente, nenhuma Yoko Ono. Era muito melhor.
Os alunos pararam para ouvir. Quem seria aquele rapaz e para quem ele cantava aquela música? Talvez muitos ali nem sequer conheciam essa canção. Mas ela sim. E ele sabia disso. Restava apenas que ela entendesse que aquela canção era seu sentimento mais sincero.
Ela estava ali em sua frente, e ele ainda não a havia encarado. Quando o fez, estava cantando a penúltima estrofe: “It's a love that lasts forever, It's a love that has no past” e emendou com o refrão “Don't let me down, Don't let me down, Don't let me down, Don't let me down”. A música estava chegando ao fim. Para ele a conquista era certa. Ela seria sua, finalmente. Acontece que ele não contava com aquilo: teria de cantar toda a canção. Tentou em vão se lembrar dos últimos versos, ficaram no instrumental por alguns segundos, repetindo as notas da música. Não conseguiu. Sentindo-se humilhado, chamou seus dois amigos, era hora de ir embora. Seriam amigos para o resto de suas vidas. Eles não sabiam disso. Apenas sentiam. Às vezes, sentir é mais do que saber.
Ele ainda a fitou por alguns segundos antes de virar as costas e dar seu primeiro passo rumo à frustração eterna do amor perdido. Ao dar seu segundo passo, lembrou-se dos versos esquecidos. Parecia até ouvir alguém cantar "And from the first time that she really done me". Deu o terceiro passo e continuou a ouvir “Oooo she done me she done me good”. Olhou para trás. Era ela quem cantava.
Ele ainda a fitou por alguns segundos antes de virar as costas e dar seu primeiro passo rumo à frustração eterna do amor perdido. Ao dar seu segundo passo, lembrou-se dos versos esquecidos. Parecia até ouvir alguém cantar "And from the first time that she really done me". Deu o terceiro passo e continuou a ouvir “Oooo she done me she done me good”. Olhou para trás. Era ela quem cantava.
- Continua a tocar - Disse a ele.
Depois de terminada a canção, ela se aproximava, com suas mãos dava o toque ao rosto dele. Fechava os olhos e o beijava. Depois lhe presenteava com seu lindo sorriso.
- Tenho que ir, mas precisamos conversar depois...
Thiago Augusto
* Participação especial de Rafael Rodrigues
* Participação especial de Rafael Rodrigues
5 Comentários:
Que feliz! gostei
Sensacionalllll!
Traduziu pra mim o que sinto , o amor juvenil , o primeiro amor , embalado pela canção... e o pior é que me sinto tal como Lennon , buscando alguém...
Parabéns!
Adorei!
Finalmente uma história com final feliz!! =D
Bjoos,
KEL
final feliz? beatles?
moço alegre que faz letras
how would dare you?
how old are you now anyway?
Pow, muito bom, muito bom... Abraços e até a próxima!!!
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