sexta-feira, fevereiro 11, 2005

Continhos

I

Se Eduarda não tivesse tido aquela idéia absurda de saltar daquele prédio, eu ainda estaria vivo.

"Se você se jogar eu também me jogo."

"Se joga então que eu quero ver."

E eu me joguei.

Quando ela me viu, lá de cima, espatifado no chão, a poça de sangue me engolindo, virou as costas e foi  para o apartamento.

Chorar. Depois, ver tevê.
.

Sem sentido

Estava escuro e abafado. Ele mal conseguia respirar. Suas narinas já não trabalhavam bem. A boca, seca, já não produzia mais saliva. Sem nada enxergar, não sabia que não havia paredes para se apoiar. Já não sentia dor nenhuma. Caísse ele, ali mesmo ficaria.

Jogado à própria sorte. A morte certa.


II

Ela chorava copiosamente por sobre meu ombro enquanto gaguejava algumas palavras de amor - e reconciliação. Eu pensava em coisas vãs.

E em como ficaria minha camisa depois daquilo.


Quem de nós dois

Depois de todo aquele barulho e do que parecia ser o inferno, entre mortos e feridos pude vê-la chorar. Foi quando tive a certeza de que nos amávamos.

Pena que foi tarde demais.


III

O problema não era ele estar ali, sozinho, cigarro aceso, pensando no que fazer.

O problema era justamente isso: ele não tinha ideia alguma do que fazer, nem a quem recorrer.

O problema não era ele estar ali, sozinho. Era seu único amigo ser aquele cigarro.


Rafael Rodrigues

Marcadores:

1 Comentários:

Às 5:55 AM , Blogger 3 Vozes disse...

Alguns são pra rir e outros são mais poéticos.

Continhos são bons por isso. Sintetizam um pensamento nosso que as vezes poderia ser bobo em pequenos bons textos.

Th//

 

Postar um comentário

Assinar Postar comentários [Atom]

<< Página inicial