sexta-feira, agosto 05, 2005

A festa

* Conto já postado anteriormente neste blog.

Meus pais não vieram. Não sei o porquê, e nem muito me importa. Melhor assim. Ali estão meus amigos. O Jorge me emocionou bastante. Até o Sílvio veio. Logo ele, estávamos brigados até bem pouco tempo atrás. Aliás, não lembro de termos feito as pazes.

Algumas ex-namoradas também vieram. Gostaria de saber quem as convidou. O pessoal do escritório também veio. Só não a Marina...

Todos estavam muito emocionados. O clima era de união. Uns cumprimentavam os outros. Vi gente que não se dava lá muito bem de mãos dadas. Ao menos isso de bom.

A maioria falava em futuro, em como iria ser daqui para diante. Era justamente o que menos importava para mim. Que se dane o futuro, pensei. Não que estivesse desgostoso com a vida que levara, não era isso. Em todos esses anos, a vida me tinha sido por demais generosa. Tive amigos, tive amor, sempre tive uma boa condição financeira, nunca me faltou nada. É claro que nem tudo são flores, mas olhando agora para tudo o que ficou para trás, tudo o que fiz e deixei de fazer, vejo que tive uma ótima vida. O problema foi que sempre fiz tudo pensando no amanhã, no futuro. Todos os meus passos, todas as minhas ações, tudo era planejado milimetricamente. E isso tirava a graça, o prazer da vida.

O dia começou ensolarado. Quase insuportável o calor que fazia. Na parte da tarde, já perto do fim, iniciou uma chuva, primeiro fraca, com ares de dizer "estou só de passagem", depois mais forte, como que dissesse, "vou passar um tempo por aqui". Alguns prevenidos estavam com guarda-chuva em mãos, os outros tiveram de se molhar mesmo.

Mesmo chovendo, ninguém foi embora, o que me envaideceu muito. Senti que era muito querido. Pensei em agradecer, um discurso talvez, mas Sílvio encarregou-se disso. Lembrou bons momentos nossos, nosso tempo de colégio e faculdade, nossas farras, nossa briga. Que amigo me foi o Sílvio! Se não fosse ele, eu não teria conhecido a mulher da minha vida, Verônica.

Não estávamos casados ainda, fazíamos planos. Já estávamos na fase de procurar uma casa, discutir quantos filhos teríamos e até os nomes das crianças. Nosso amor era verdadeiro, a velha história de “feitos um para o outro”.

Era triste ver Verônica tão linda, tão perfeita, tão elegante, chorando. E eu nada podia fazer. Eu via tudo aquilo e nada podia fazer. Meu tempo havia se esgotado.

Pouco depois a chuva se foi. Todos se foram. Mas eu fiquei.


Rafael Rodrigues

1 Comentários:

Às 2:21 PM , Anonymous Anônimo disse...

Fúnebre hen!!!
Eli

 

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