terça-feira, junho 21, 2005

3 Vozes convida... Marcelo Barbão

A morte da literatura

Ontem, a noite foi de sofrimento e angústia. Olhava minha mesa, meus cadernos, meus escritos e a vontade era jogar tudo pela janela. Minha cabeça doía, meu estômago doía e a única pessoa que me observava, meu gato, não tinha respostas para nenhuma das minhas perguntas.

Quase desisti, pensei seriamente em deixar de escrever e virar apenas tradutor. Eu adoro traduzir. Dormi, desmaiei perdido, confuso, enfermo. Acordei de madrugada, fiquei andando pelos corredores de meu apartamento. Na verdade, caminhava indo e voltando pelo mesmo corredor já que só tenho um em casa. Li, enquanto andava sem destino. Arrotei tudo de ruim que tinha ingerido naquele dia.

Quando olhei novamente para minha mesa, meus cadernos e meus escritos, tudo fez sentido de novo. Eu sabia que a literatura de histórias estava morta e que havia perdido tempo com ela. Eu sabia que meus escritos não poderiam sair de minha cabeça como meras histórias. Então, tudo ficou claro, apesar de ser uma noite sem estrelas.

Quero continuar a escrever, mas não quero contar histórias, quero fazer literatura. Minha opinião? O cinema e a televisão contam histórias de uma forma muito melhor que a literatura. E a maioria dos escritores, hoje em dia, não escreve mais com palavras, mas com imagens. Não quero isso pra mim e condeno quem o faz (sim, não quero ser politicamente correto).

Literatura experimenta, literatura modifica a forma, literatura mexe com o tempo e a estrutura. Literatura só conta histórias interessantes quando esse não é o seu fim único. Para ser mais radical ainda, se a história permanece boa quando lida em voz alta, então o escritor não foi ao extremo nas possibilidades de criação. Sou radical mesmo, não quero escrever para leitores mesmo, não quero escrever coisas simples mesmo.

Se o texto sai fácil, não me interessa. Isso vai me levar a muito sofrimento? Não tenho nenhuma dúvida. Que vou escrever muitos outros posts sobre noites em que quase queimo tudo o que escrevi? Outra certeza. Que isso vai valer a pena quando (e se puder) olhar para trás? Mais uma certeza.

Agora, preciso re/de/formar algumas coisas que tinha escrito. É na forma que se esconde a salvação da literatura.

* Marcelo Barbão não é um dos integrantes do Los Hermanos. Ele é jornalista, escritor, editor, e entre outras coisas é também fundador da Amauta Editorial. Abaixo links para seu blog e para o site da Amauta.

http://www.gardenal.org/barbao
http://www.amautaeditorial.com

2 Comentários:

Às 10:49 PM , Anonymous Anônimo disse...

apesar de n concordar totalmente com seu ponto de vista foi um texto mto bom =D

 
Às 4:37 PM , Anonymous Anônimo disse...

Hum... legal o textin...
Tb não concordo totalmente, mas minha opinião não importa, anyway...
Excelente convidado =D
Essas vozes viu... cada dia mais metidas =P
Bjoos...
KEL

 

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