terça-feira, setembro 20, 2005

Lugar comum

Deitado aqui na rede pensando em tudo o que passamos, não consigo entender o que te fez desistir de nós. É certo que não passamos longo tempo juntos, mas eu não esperava um fim tão brusco.
Foi pela manhã que cheguei. Rodrigo foi me buscar no aeroporto.
- Ora, ora. Seja vem vindo, meu amigo!
Meu sempre amigo Rodrigo. Nunca deixamos de manter contato. Seja por telefone ou através de emails, estávamos sempre nos comunicando.
- Rodrigo! Muitíssimo obrigado por ter vindo me buscar. Faz tempo que não venho aqui.
Fazia algum tempo que não ia àquela cidade. Você sempre passava os fins de semana com seus pais. E comigo. Quando você não podia vir, eu não podia ir. Desencontros. Depois daquela conversa que tivemos foi que você deixou de vir. De vez.
- Pois é, nem uma visita sequer! E ainda se diz meu amigo.
- Ora, deixe disso. Quando me dou o trabalho de vir aqui procuro passar o mínimo de tempo possível. Você sabe que não suporto esse lugar.
Você também sabia. Hoje não sabe mais.
Seguimos para o apartamento de Rodrigo, bem localizado, quase a beira mar. Conversamos por horas.
- Quem diria... Você, um escritor de sucesso.
- Ora, eu sempre disse que isso iria acontecer.
- Sei disso, sempre soube. Só não esperava que fosse acontecer tão rápido.
- Ah! Melhor que eu, só ele - falei, apontando para o espelho.
O uísque começava a fazer efeito.
- E você, Rodrigo? Pensa que não te vi no jornal por esses dias? Quem é o famoso aqui?
Nunca duvidei do seu potencial. Para mim era só uma questão de tempo Rodrigo se dar muito bem na vida. Aos 27 anos ele já se encontrava entre os mais requisitados economistas do país.
- Você não vai ligar pra ela?
- Não. Para ela eu só chego amanhã. Hoje o dia é nosso.
- Ótimo! Vou te levar num restaurante formidável. Como bom apreciador de massas, você vai gostar. E sim, hoje você está solteiro. Isso não se discute.
Além de ser conhecido pela fama de grande profissional – apesar da pouca idade – Rodrigo era famoso por sempre estar cercado de belas mulheres.
Aproveitamos bastante a noite.
Acordei tarde no dia seguinte. Rodrigo acordara cedo para ir ao escritório. Deixou um bilhete e as chaves de um dos seus dois carros:
“Ligue para ela. O carro é seu – mas não vá me bater esse!”
Foi notícia em todos os jornais: sofri um acidente de carro, você viu e logo me ligou, lembra? Nada de muito grave. Sofri apenas alguns arranhões.
Tomei banho, fiz a barba, te liguei. Não conversamos muito, você achou melhor deixar tudo para depois, quando nos encontrássemos.
- Seja feita a vossa vontade.
À tarde nos encontramos. Conversamos muito.

Rafael Rodrigues
* Texto escrito em algum dia frio do longínquo ano de 2003

1 Comentários:

Às 5:58 PM , Anonymous Anônimo disse...

Te convido a visitar o blog http://drika.cat.blog.uol.com.br, onde a manda chuva do espaço honrou-me com a inclusão de um texto meu. Aproveite e conheça o talento de escritora dessa moça. Eu gosto muito do blog dela.

 

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