domingo, outubro 02, 2005

O último - Parte III (final)

- Fala alguma coisa, não precisa ficar assim.
Ele quis saber se deveria pular e sair urrando de alegria.
- Não precisa falar assim.
Definitivamente, ele não queria que aquilo acontecesse. Ficou espantado com a decisão dela. Perguntas do tipo “quer dizer que as coisas mudam assim, de repente?” e “o que aconteceu, afinal?”, era o máximo que ele conseguia balbuciar diante daquela situação.
- Não aconteceu nada. Nada além do que já lhe disse.
Ele não tinha forças para argumentar o que quer que fosse. Preferiu deixar que ela decidisse pelos dois.
Enquanto dizia isso, lembrava-se de diversos momentos que passaram juntos. Sorrisos, conversas, afagos, silêncios, olhares. Pequenas coisas. Nada seria esquecido por ele. Tinha certeza disso. E sabia que aquelas lembranças o fariam sofrer por muito tempo.
Não havia mais o que dizer ou o que conversar. Exceto uma coisa. Demorou criar coragem para fazer as palavras soarem. Disse que se era assim que ela queria, assim seria. E que gostava muito dela. Quase chorou. Quase engasgou com o próprio orgulho, que por pouco não rasga-lhe a garganta.
- Foi bom enquanto durou.
Ela citou Vinicius. E ele pensou em quão injusto era se valer das palavras do poetinha uma hora daquelas. Tentou elaborar uma resposta à altura, mas não conseguiu, óbvio.
- Um abraço?
Seria o último. Naquele instante pensou na ironia da vida ou do destino. Quando começaram aquele breve romance, o céu estava cinza, e choveu pouco depois do primeiro beijo. E ali, quando tudo terminava, o sol, em um céu desanuviado, assistia àquele abraço.
O último.
Rafael Rodrigues

1 Comentários:

Às 5:29 PM , Anonymous Anônimo disse...

Talvez o sol apareceu no "fim" por ironia da vida ou do destino para avisar que um raio de sol iluminaria sua vida...pensou nisso? Bj - "CR"

 

Postar um comentário

Assinar Postar comentários [Atom]

<< Página inicial