segunda-feira, outubro 10, 2005

Oceania, Parte Final

Preparando-se para descer em seu destino, Marcos esforçou-se para conter seu entusiasmo e passou pela imigração com um largo sorriso. Sem muitas perguntas prosseguiu pelo hall principal e encontrou-se com seu mais novo protetor, Alfar, na saída do aeroporto, onde este o esperava perto de uma luxuosa limusine prata. De um só pulo entrou dentro do carro, e como caipira na cidade grande, ficou estupefato com tudo que via, só não se sabia mais se era com a limusine em si ou com a cidade que se abria diante de seus olhos como um botão de rosas em plena primavera. “Já tomou Cristal, filho?”, perguntou Alfar, “O que é isso, senhor?”, espantou-se Marcos que achava tratar-se de uma jóia, e jóia não se toma, se usa. “É uma bebida muito gostosa, pode experimentar!”, respondeu Alfar e assim Marcos experimentou a bebida mais cara de sua vida, só não imaginava o preço que pagaria por ela.

Horas depois, Marcos acorda com uma fina dor de cabeça, está escuro e a última lembrança que vem à sua mente é a do seu mais novo amigo, protetor e empregador na limusine sorrindo para ele. Olha ao seu redor e a claustrofobia de repente o toma pela mão e quase o leva ao desespero, está preso em algum lugar, algum tipo de caverna, não sabe ao certo. Tenta reconhecer o lugar e sente um forte cheiro que jamais sentiu antes, ele anda um pouco, acostumando-se com a o escuro completo e percebe que existem mais pessoas com ele, todos desnutridos, sujos e com olhares vazios. Ele tenta em vão falar com eles e não obtém resposta alguma, corre para a porte e bate desesperadamente à espera de algum sinal que só viria na manhã seguinte quando este é despertado a pontapés e “convidado” a ir trabalhar nas minas de pedras preciosas em algum ponto do deserto australiano onde a fuga torna-se impossível e, assim, o trabalho escravo extremamente viável.

Marcos voltou a trabalhar como escravo, e sonha, sonha em voltar no tempo, em nunca ter saído de seu país não ter dado ouvidos ao seu falso protetor, a nunca ter tomado o mesmo vôo que este sociopata, mais ainda, talvez ter dado ouvidos ao povo ignorante e limitado de sua cidade, ou quem sabe nunca ter nascido, é o que deseja todos os dias, nunca ter nascido, jamais ter sonhado tão alto, jamais ter sonhado.


Eduardo Leite

3 Comentários:

Às 10:13 PM , Blogger DBI disse...

Não li o que veio antes, mas gostei. Pode dar uma cortada em alguns adjetivos e cortar o ", jamais ter sonhado tão alto, jamais ter sonhado.", afinal tudo já foi dito antes.

 
Às 11:02 PM , Anonymous Anônimo disse...

a intenção foi justamente essa, a repetição assim como o arrependimento martelando na cabeça ;)~
agradeço de qualquer forma ;D

 
Às 1:32 AM , Blogger 3 Vozes disse...

Grande reviravolta. Não porque diabos eu pensei que esse conto ia ter um final feliz. Não existem finais felizes. Existem finais possíveis. Show de bola, Dudu. Abraço, Rafael

 

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