sexta-feira, outubro 07, 2005

A Triste Exasperação Inócua de um Servo Abandonado

Ele se despera. Olha aos lados e nada vê. Profunda e escura imensidão. Seu medo se propaga cada vez mais como o escasso ar que respira. Sente por um momento vontade de chorar, se desespera muito mais que antes.
Aperta as mãos contra si mesmo. No silêncio ouve seu coração bater. Desritmado, fraco, inconstante e com angústia. Sua respiração ofegante completa sua sina de dor e caos.
Tem medo de andar. Não sabe o que irá encontrar nesse escuro caminho no qual se encontra neste momento. Sentado no chão escuta barulhos alucinógenos por toda a parte e decide que é hora de caminhar.
Levanta quase trôpego e com suas mãos faz o seu caminho. À procura de algo que não sabe mais se irá encontrar. Não sabe se é de noite. Não sabe se é de dia. E nem há quanto tempo esteve ali. Só sente grande desespero quando percebe que quanto mais anda, mais permanece no mesmo lugar.
É forte em seu físico e há pouco trazia consigo um velho machado herdado do pai. Sua musculosa força de nada adianta agora. Seu vigor quase cessou por sua falta de força interna. Se cansa quando no espaço esparso não há rutilância. Seus olhos se umedecem com quentes lágrimas prestes a saírem.
Visualiza um passado próximo e em total escassez de sanidade conclui que é só fim de tempos pungentes e tenta gritar. Sua voz não mais ecoa. Ninguém irá ouvi-la.
Sua cabeça é atacada por sofrimento mortal que o deixa confuso e o faz parar, seus pensamentos se entrelaçam e ele segura com as mãos sua cabeça. Mexendo-se como alguém que sofre muito ele grita. E finalmente uma ressonância é dita.
Senta novamente e uma lágrima escorre de seus olhos. Sente sua face se esquentar e quase perde a razão. Sem caminho. Sem vida. Sem amor.
Pensa com o pouco que resta que é melhor sair dali. Se levanta e continua a caminhar. Rápido demais. O chão o trai. Sangue escorre de uma de suas pernas. A dor se faz de insuportável. Seu corpo inteiro se precipita e aceita a queda de sua fé. Pulsa junto com seu coração que ele ouve como uma batida de tambor.
Se agarra nas pedras da parede. Com muita dor e força se levanta. Tem um grande rasgo em sua perna e pensa não ser mais possível caminhar. Morrer ali mesmo é o necessário.
Mas caminha, sentindo a dor espessa da carne, o toque da alma e constância do coração. E firma a cada passo uma dor lastimável de sua existência, e revê todas as falácias que o tornaram um homem sem honra.
Caminha mais de mil passos à procura de sua verdade, julga cada falta que o faz e sente-se áspero demais pela falta de seu cajado. Mas não se acovarda e caminha. Deixando para trás seu sangue negro que escorre de sua ferida exposta.
Fecha os olhos e nada vê, mas caminha com determinação a nada. E sente que é tempo de descansar de seu caminho em círculos.
Por um momento sente e vê algo áureo na vasta escuridão. Muito acima de sua cabeça e não próximo de seu caminho.
Seu espírito tenta se alegrar. Mas a dor é tão intensa que não o cobre claramente. A perda é tão mortal que seu semblante sangra tristeza venenosa. E olha novamente; sem acreditar no que seus olhos podem ver, acredita que encontrou uma luz casta.
Pensa em caminhar, pensa em desistir. E caminha. Por ora o que ele vê são infindáveis motins de escuridão e toda tepidez transformada pelas trevas. Mas dessa vez não irá desistir.
Ele sabe que a luz poderá lhe consumir ou radiar, mas marca com seus passos inconstantes a trilha dessa luz. Mesmo andando quase sem a ajuda de uma de suas pernas, mantém sua marcha. Sabe, sem dúvida, que talvez só ficará a olhar essa luz. Nunca conseguirá alcançá-la e ela poderá se transformar em sua ruína. Mas por fração alguma de seus difusos sentimentos ele pensa em desistir. Caminha mais do que tudo em sua pífia existência para aquela luz que talvez lhe trará sentido e não pensa em parar.
Por ora, não pára.

Thiago Augusto
(11/09/03)

5 Comentários:

Às 12:40 AM , Anonymous Anônimo disse...

Eu poderia destacar passagens belíssimas do texto. Trechos absolutamente perfeitos tanto estetica quanto artísticamente. Mas sou egoísta, e guardarei-os para mim.

 
Às 10:46 AM , Anonymous Anônimo disse...

maldito thiago
sempre fazendo os textos q eu gostaria de fazer
perfeito kra
palmas de pé
=)

 
Às 10:18 PM , Blogger DBI disse...

Eu acho que estou entendo cada autor do blog. Bati o olho no título e pensei "deve ser o thiago". Corri no autor e era. Fui ler, mas ao contrário dos outros não gostei, sinceramente. Achei excessivamente melodramático.

 
Às 9:06 AM , Anonymous Anônimo disse...

A barretoivoski:
Se vc acha q está entendendo o autor deveria entender os textos deles também...
Eli

 
Às 9:04 AM , Blogger Offic Inadepa Lavras disse...

Excelente narrativa, qdo o texto terminou, lamentei.

 

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