quarta-feira, outubro 12, 2005

Tempo de mudar - I

Fim de ano. Augusto resolveu convidar Mauro para passar com ele e sua família alguns dias na sua casa de praia.
- Ele não anda bem, Marta. Essa separação o deixou péssimo. Acho que vai ser bom pra ele passar uns dias conosco.
De férias, não havia motivo para Mauro recusar o convite. Se o fizesse, ficaria em casa. E na situação em que se encontrava, solidão não era a melhor saída. Costumava lembrar-se das palavras de Sílvia, ao sair de casa:
- Mauro, não adianta mais. Você não se importa comigo, só pensa no seu trabalho. Eu quero ter um filho! E você não dá a mínima para isso. Nem sexo você quer mais! Tenho quase certeza que você tem outra.
Mas Mauro não possuía outra. O casamento deles chegou àquela situação devido a sua displicência natural com tudo o que se pode chamar de sentimentos humanos. Não conseguia manter um sentimento, qualquer que fosse, num mesmo nível por um longo período. Não conseguia amar uma mulher senão por meses ou por alguns poucos anos. Com ela foram cinco.
- Sílvia, por favor, entenda. Não existe outra. Só você. Eu te amo. Eu faço o que for preciso. Me diga o que fazer!
Não havia mais o que ser feito. Àquela altura, ela já estava com outro homem. Sílvia foi-se. Passou por Mauro sem dizer palavra. Malas nas mãos, destino certo: a casa do outro.
- Volto pra pegar o resto de minhas coisas.
Providencial, portanto, aquela viagem. Ficaria alguns dias na casa de praia de Marta e Augusto. Iriam também alguns parentes deles: seus pais e alguns irmãos com seus respectivos cônjuges.
A casa era espaçosa. Muitos quartos, toda mobiliada. Não era uma casa de praia qualquer: quase uma cópia da casa do casal na cidade. Todo conforto da vida urbana fora colocado ali. Mantinham um caseiro durante todo o ano para garantir a segurança do local.
Mauro fora o último a chegar, no segundo domingo do mês. Iria passar apenas alguns dias. Não queria ser um incômodo nas férias da família de Augusto, seu amigo de longa data.
- Mas você também é da família, meu caro.
Augusto tentava confortá-lo, deixá-lo à vontade. Aos poucos Mauro foi-se deixando levar pelo clima e pelo aconchego da casa. Ao fim de cinco dias, quando havia programado ir embora, resolveu que iria prolongar sua estadia ali por mais uma semana. Aos poucos esquecia, ao menos temporariamente, a condição de recém-divorciado.
Seus dias encontraram uma rotina que o satisfazia e o fazia esquecer da vida. Pela manhã ia à praia. Corria alguns minutos, para depois cair n’água. À tarde, depois do almoço, geralmente dormia um pouco e lia algum dos livros que levara. À noite, dominó ou baralho com os outros convidados, regados a cerveja e churrasco.
No sábado, uma movimentação. Letícia, filha de Marta e Augusto, chegara de viagem. Passaria o restante de suas férias com a família, fazendo respeitar o combinado: quinze dias com uma amiga, quinze dias com os pais.


Continua...
Rafael Rodrigues

0 Comentários:

Postar um comentário

Assinar Postar comentários [Atom]

<< Página inicial