Homenagem a Fernando Sabino
Feira de Santana, BA 28/01/2003
Fernando,
Passei dias pensando em como iniciar esta carta. É de extrema audácia escrevê-lo, pela pessoa que é e pelo que representa para a nossa literatura. E é no mínimo ambicioso esperar uma resposta. Sendo assim admito: sou audacioso e ambicioso. Fico feliz em ver estas linhas escritas, e melhor, as palavras fluindo naturalmente.
Acho que fiquei inspirado ao iniciar a leitura de "Cartas a um jovem escritor", no volume três de sua "Obra Reunida", o qual tomei emprestado da biblioteca da faculdade. Isso me faz lembrar um detalhe: ainda não me apresentei.
Meu nome é Rafael, tenho 19 anos e estou cursando Licenciatura em Letras Vernáculas na Universidade Estadual de Feira de Santana. Para lhe ser sincero, não me recordo do primeiro contato com alguma obra sua. Quero dizer, a forma como se deu esse contato. A obra me lembro muito bem: "A volta por cima", que rapidamente li, em uma tarde. Gosto muito de crônicas, ainda mais quando elas passam uma mensagem positiva e são bem-humoradas, como as suas. A partir de então, tenho lido livros seus um atrás do outro. Os romances "O menino no espelho", "O grande mentecapto" e "O encontro marcado". Algumas novelas suas (6 delas), e vários livros de crônicas e histórias (7 por enquanto). E ainda vem mais por aí. Definitivamente, tornei-me seu fã.
O senhor deve estar se perguntando: "o que é que esse cara está querendo?" Bem, talvez não esteja, mas mesmo assim, responderei a pergunta acima.
Em primeiro lugar, escrevo com a intenção de demonstrar minha profunda admiração pela sua obra e pela sua pessoa. Tenho aprendido bastante com seus textos. Percebi afinal que no fim dá certo. Se não deu, é porque não chegou ao fim. Também escrevo com a intenção de ter notícias suas, afinal, escritores no Brasil não costumam ser alvo de curiosidade e pouco dão as caras na mídia. Espero que esteja tudo bem com o senhor.
Lendo seus livros e suas crônicas é impossível não sentir uma saudade estranha da sua juventude. Uma juventude que eu gostaria de ter vivido. Seus textos me emocionam muito.
Sinto-me envergonhado em dizer que ainda estou conhecendo alguns autores fundamentais para qualquer homem de letras. Gosto muito de Carlos Heitor Cony, Luiz Fernando Veríssimo (pretendo em breve ler alguma (s) obra (s) do Érico), estou começando a ler Drummond e Machado de Assis, entre outros. Estou lendo também "O processo" de Franz Kafka (comprei de R$ 4,50 no Bom Preço, negócio da China).
Escrevo, grande parte crônicas, poemas (alguns) e me arrisco nos contos também. Na verdade, estou engatinhando. Mas há hoje a falta de alguém para trocar idéias, conversar sobre literatura, trocar experiências. Acredito que haja em mim um escritor que necessita ser acordado, antes que seja tarde demais. Talvez o que me falte seja leitura, visto que no ginásio, desprezei a literatura, e agora quero correr atrás do tempo perdido, temo que seja tarde. Espero que não, a esperança é a última que morre. Além do mais, no fim dá certo.
Estou no segundo semestre do meu curso. Em minha sala não existe sequer uma boa alma voltada para a produção de texto. Para não ser radical, existem dois além de mim. Mas não sei o que acontece, não conseguimos conversar sobre o ato de escrever. Tentarei fazer isso por esses dias. Nossos estilos são bastante diferentes. Eu sou mais chegado em crônicas, o outro é fanático por Jorge Amado, e o terceiro, é na verdade um filósofo. Só ele não admite. O interessante lá, é que poucos realmente querem se formar em Letras. Eu mesmo, tenho vontade de seguir carreira jornalística, e espero poder me especializar ao fim do meu curso.
Ao ler algumas obras suas, pude sentir a atmosfera dos lugares por onde viveu. Meu reino por três amigos boêmios, amantes da literatura e uma praça como a de Minas. Ou um calçadão como os do Rio de Janeiro, onde cada dia surge uma nova história para contar. Em minha cidade, nada acontece. Não há um ponto de encontro onde os intelectuais se reúnam. Na verdade, desconfio que ainda hajam intelectuais do calibre do senhor e dos seus amigos, em qualquer lugar do Brasil. É uma cidade completamente parada. Costumo passar minhas tardes recluso em meu quarto, ouvindo música, tocando, lendo ou dormindo. Fim de semana é pavoroso. Absolutamente nada pra se fazer. Entre shopping e barzinho, prefiro o conforto de minha cama, ou a cara no computador, navegando na web. Vez ou outra consigo reunir alguns amigos para sair por aí. Nos divertimos e tudo mais, mas depois me sinto vazio, como se tivesse perdido meu tempo. Bem não vou continuar me lamentando.
Aqui inicio minha despedida. Mando-lhe através desta um forte abraço, desejando-lhe tudo de bom. Espero que o escritor que há dentro de mim acorde o quanto antes.
De propósito deixei esta pergunta por último: posso lhe enviar alguns textos meus para uma análise sua? Gostaria de saber se vale a pena investir na escrita, e nada melhor que uma opinião sua. Desde já agradeço sua atenção.
Um forte abraço,
Rafael Sousa Rodrigues
rafaelvox@bol.com.br
1 Comentários:
Ele respondeu? :D
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