quarta-feira, março 23, 2005

Recorte De Carta

Eu li hoje de manhã um poema estranho, que a cada frase se contradizia mais e mais. Porém, uma pergunta tirada desse mesmo poema, ficou em minha cabeça.
Se, por acaso, eu soubesse antes tudo o que sei agora, o que faria? Cometeria os mesmos erros da mesma forma ou iria embora antes de tudo acabar?


Talvez os erros aparecessem da mesma forma, Clarice. Mesmo se errássemos ou não. O fim já estaria em nossa porta. Com uma mão nos dando carinho e com a outra nos apunhalando.

O que mais me assusta, Clarice, é a maneira inerte que muitos corpos acrescidos de almas permanecem por ai. Porque o certo, afinal, é lido como intensidade?
Já sentiu o vento bater sobre seus olhos e seus pensamentos serem levados pela felicidade do impulso? Ah, Clarice, não existe nada melhor. Meu ser se torna mais leve ao andar por essa estrada, que insisto em afirmar que não é uma prisão...

Em minha humilde opinião, Clarice, não há palavra pior como aquela de duas consoantes e uma vogal: Fim. É pior do que a própria morte.
O posto dado à morte é de final definitivo, é lá que nunca mais podemos amar, ver ou caminhar. Porém, os fins contemporâneos me comovem a ponto de chorar.

Eu devia ser amante dos números, eles nunca mudam. E embora digam que seria uma rotina amar os números, eu replicaria dizendo que para o mesmo numero existem infinitas formas de dize-lo. E assim, nunca, nada seria repetido.
Porém, Clarice, resolvi amar a humanidade. Tão instável como um átomo de meu coração implodido por seu silêncio. Tão instável quanto a felicidade de um tolo da colina a espera da chuva que molhará seu rosto...

E descobri, em menos de um ano, que todos estão surdos, cegos. E talvez o faro os faça se aproximar do aroma mais próximo que estão em sua volta. E assim permanecer intactos.

Hoje eu joguei todas minhas palavras no lixo, rasguei meus quadros e odiei cada pessoa que eu pude chamar de amor. Pois, Clarice, quando não se tem mais nada, não se perde nada. Dessa forma, voltei ao silêncio que primeiramente existiu. Para não ter mais nada que pudesse me trazer lembranças de algo que um dia eu fingi que fui.

Clarice, meus olhos doem. E não quero chorar por palavras que já morreram. Eu queria uma alma perfeita. Mas os anjos ainda me fazem chorar.

Clarice...

Ainda há sol lá fora..

Mas ainda há alguém são, Clarice?

Lord Bernault (05/12)

2 Comentários:

Às 1:08 AM , Anonymous Anônimo disse...

Eu diria que é uma mistura de filosofia e literatura, e que não dá pra distinguir ou separar as duas. Justamente por estarem muito bem misturadas e balanceadas.

Muito bom mesmo. Já li duas vezes e vou ler outra.

Abraço,
Rafael.

 
Às 1:04 PM , Blogger :) !!!!! disse...

Para vocês que gostam de cartas, conhecam essas aqui:

http://www.cartarecorte.concatena.org/

http://catarse.me/pt/projects/723-ineditos-e-guardados-carta-recorte

 

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