domingo, julho 24, 2005

O troco

O filho da puta pensou que fosse escapar dessa ileso. Não se ameaça a mãe de alguém e fica impune. Ele disse: “eu vou comer sua mãe, seu porra!”

Fiquei pensando em que tipo de psicótico imbecil liga pra casa de alguém e fala uma merda dessas. Pois sim. Descobri o tipo.

Por conta de algumas paranóias e por conta dos ciúmes de minha mãe, colocamos em casa um aparelho identificador de chamadas. No mesmo segundo em que o idiota desligou, levantei da cama para ver de onde havia vindo aquela ligação. Com o número do telefone em mãos, liguei para a operadora da cidade.

- Rosângela, boa tarde.
- Boa tarde, Rosângela. Me informe o seguinte, por favor: se eu lhe der o número de um telefone haveria como você me fornecer o endereço da linha?
- Qual o número por favor?
Não pensei que fosse tão fácil.
- Posso ajudá-lo em mais alguma coisa?
- Não, obrigado.

Que coisa, não? Uma rua depois da minha. Liguei para um amigo. Lembro da hora exata em que vi o filho da puta no telefone, calça jeans, camisa amarela – muito feia por sinal – porque perguntei ao Fernando que hora era aquela. Há muito não ando com relógio, vêem? Estou sem relógio. Três e meia da tarde. Aquilo era hora de fazer ameaça? Trote, que seja. Um senhor já, cabelos brancos. Isso é coisa pra um homem dessa idade fazer?

Liguei pro Fernando porque poderia ser algum marginal e eu poderia precisar de ajuda. E ele sempre tem boas idéias, sensatas. Se fosse outra pessoa naquele telefone com certeza eu teria feito uma merda ali mesmo. Mas era aquele coroa. Eu o conhecia. Meu vizinho, porra. Como é que pode?

Fernando ainda me disse “ele tá aí agora, pode ter sido outra pessoa.” Mas não, não era. Eu sabia que aquele verme não prestava. Nunca fui com a cara dele. E a irmã dele então? Velha coroca. Falava com ela só por educação. Até sorrir eu sorria. Sorriso falso. Coisa boa isso de a gente poder fingir.

Aquela puta furou umas três bolas minhas quando eu era guri. Porra, a gente não podia brincar de bola na rua? Às vezes a bola caía na casa dela. Que custava devolver? Gente feliz não fura bola de ninguém. Aquela vadia tava era carente. Carente de uma boa vara. Velhos filhos da puta. Moravam todos juntos os desgraçados. A irmã e o irmão. Dois bastardos.

Pois sim. Pra encurtar a história, esperei anoitecer. O velho psicótico sempre saía à noite pra beber. Alcoólatra.

Ele estava voltando pra casa, lentamente. Me escondi atrás de uma árvore que fica algumas casas antes da dele. Quando ele passou pela árvore, ele nem viu quem foi que chutou sua muleta. Derrubei a outra e ele caiu no chão. Começou a gritar. Eu lembro de ter dito: “você vai comer a mãe de quem seu filho da puta?”, e atirei. Na cabeça.

Poderia ter fugido, mas sabia que alguém tinha visto ou ouvido aquilo. E realmente foi o que aconteceu, como vocês me disseram. Esperei vocês chegarem, e aqui estamos. Querem saber mais alguma coisa?



Rafael Rodrigues

3 Comentários:

Às 12:00 AM , Anonymous Anônimo disse...

Palavras violentas como um tapa, hein?

 
Às 12:14 AM , Anonymous Anônimo disse...

Que história ei, no começo pensei que fosse de verdade. Abraço para todos.

 
Às 12:08 PM , Anonymous Anônimo disse...

E não é?

 

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