segunda-feira, outubro 30, 2006

Talk to the devil - Parte I

Era a 9ª vez na semana que se embreagava, mas esta noite era especial. Neste dia fazia 1 mês que sua amada esposa havia falecido embora sentisse a mesma dor do dia de sua morte, ou pior. Cada dia que findava levava consigo o pouco que restara de sua sanidade.

O que será?

Já estou aqui há um bom tempo. Não anos, meses ou dias. Horas. Duas. Talvez um pouco mais. Em meu pulso há um relógio. Mas não me preocupei em saber qual era a posição dos ponteiros quando cheguei.

E a exatidão não importa, a bem da verdade. Importa é que aqui estou há pouco mais, pouco menos, de duas horas.

É uma praia. Estou sentado na areia, de frente para o mar. Que está tranqüilo. E eu também. Ao menos aparento. Ou me esforço para aparentar.

E aos poucos acabo mesmo ficando mais calmo.

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sexta-feira, outubro 27, 2006

Percepções

I

Do tempo que passa, percebemos que tudo contem um aprendizado, algo a se ganhar. Seguindo no passo calmo de cada dia, aprendemos a bela sabedoria de fingir.

Dizer amor como bom dia. Parecer revolucionário erguendo o dedo em riste, dizendo palavras mortíferas.

O mal do aprender é descobrir que, mesmo de coração, podemos repetir os passos indefinidamente.

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quarta-feira, outubro 25, 2006

Lira dos vinte anos

Se você procurava algo sobre o livro de Álvares de Azevedo, me perdoe. Tenho o livro, já li boa parte, é um clássico e recomendo a qualquer um. Mas quero apenas deixar um trecho de uma música do cantor e compositor Belchior.

“Meu pai não aprova o que eu faço.
Tampouco eu aprovo o filho que ele fez.
Sem sangue nas veias, com nervos de aço,
Rejeito o abraço que me dá por mês.”

Belchior é um dos melhores cantores e compositores brasileiros, na minha opinião. E, infelizmente, não tem o reconhecimento que merece.


Rafael Rodrigues

Verdades verdadeiras

Eu recebo o horóscopo diariamente em um de meus emails. Não sei por quê. Nunca solicitei. Me cadastrei no site, é verdade, mas isso foi séculos atrás. De uns tempos para cá, começaram a me enviar. Resolvi não cancelar porque de vez em quando rende umas risadas e um post de blog.

O de ontem: “Momento de encontro consigo mesmo/a e de maior percepção de seus males.” Essa foi a dica do dia. O engraçado é que aconteceu algo relacionado a isso, minutos atrás.

Portanto, fica aqui a minha dica: da próxima vez que você xingar e maldizer a si mesmo, preste bastante atenção nas palavras. É muito possível que você esteja ouvindo as maiores verdades de sua vida. Ditas por você mesmo.


Rafael Rodrigues

segunda-feira, outubro 23, 2006

Pergunte ao pó

Arturo Bandini é um jovem americano descendente de italianos que mora em Los Angeles num quarto de hotel simples, muito simples, e que não tem um tostão no bolso.

"Uma noite, eu estava sentado na cama do meu quarto de hotel, em Bunker Hill, bem no meio de Los Angeles. Era uma noite importante na minha vida, porque eu precisava tomar uma decisão quanto ao hotel. Ou eu pagava ou eu saía: era o que dizia o bilhete, o bilhete que a senhoria havia colocado debaixo da minha porta. Um grande problema, que merecia atenção aguda. Eu o resolvi apagando a luz e indo para a cama."

O trecho acima entre aspas é o primeiro parágrafo do romance "Pergunte ao pó" (José Olympio, 208 págs.), do escritor americano John Fante (1909-1983). É complicado falar de um livro tão importante e tão vibrante. "Pergunte ao pó" é venerado por milhares de leitores em todo o mundo. Um de seus admiradores mais famosos é o também escritor Charles Bukowski (1920-1994). Ele escreveu, em 1980, um prefácio para o livro, que faria parte das edições publicadas a partir daquele ano. Ele está presente na nova edição que tenho em mãos, a 6ª, e quase me fez chorar. Resolvi então reproduzir algumas linhas escritas por Bukowski:

"Então, um dia, puxei um livro e o abri, e lá estava. Fiquei parado de pé por um momento, lendo. Como um homem que encontrara ouro no lixão da cidade, levei o livro para uma mesa. As linhas rolavam facilmente através da página, havia um fluxo. Cada linha tinha sua própria energia e era seguida por outra como ela. A própria substância de cada linha dava uma forma à página, uma sensação de algo entalhado ali. E aqui, finalmente, estava um homem que não tinha medo da emoção. O humor e a dor entrelaçados a uma soberba simplicidade. O começo daquele livro foi um milagre arrebatador e enorme para mim."

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sexta-feira, outubro 20, 2006

Trópico de Câncer

" - Mas o que você quer das mulheres, então? - pergunto.

Ele esfrega as mãos, solta o lábio inferior. Parece completamente frustrado. Quando consegue gaguejar algumas frases soltas é com a convicção de que atrás das palavras há uma enorme utilidade.

- Quero conseguir me entregar a uma mulher - declara. - Quero que ela me tire de dentro de mim. Para isso, precisa ser melhor do que eu, precisa ter cabeça, não só buceta. Tem que me convencer que eu preciso dela, que não posso viver sem ela. Você acha uma puta dessas pra mim? Se fizer isso, eu lhe dou meu emprego. Não ia me incomodar mais com o que ia me acontecer, não ia precisar de emprego nem de amigos, livros, de nada. Se ela pudesse me convencer de que existe algo mais importante no mundo do que eu. Porra, eu me odeio! E odeio mais ainda essas fêmeas filhas-da-puta porque nenhuma presta."

Trecho do romance "Trópico de Câncer", de Henry Miller.

quarta-feira, outubro 18, 2006

Pulsos

Não era afiada. Mas sua ponta fora o bastante para fazer sangue escorrer. Meus braços quase vermelhos ardiam nesse momento. Sempre gostei dessa coloração.

Minha cabeça latejava como se meus sentidos tivessem se duplicado. Achei que tinha perdido meu toque e minha humanidade. Mas meu sangue ainda estava lá.

Não foi um suicídio. Eu estava vivo até demais. Mas conforme fui passando cada etapa de minha vida, fui me prendendo em espinhos, perdendo minha humanidade.

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segunda-feira, outubro 16, 2006

O encontro marcado: 50 anos

Em alguma manhã de 2002, encontrei em uma das estantes da biblioteca da UEFS, um exemplar do livro A volta por cima, de crônicas. Lembro que li o livro naquela mesma tarde, como escrito está na carta. A partir daquele dia, tentei ler todas as obras de Fernando Sabino disponíveis na biblioteca. Hoje me orgulho de poder apontar quais livros do escritor mineiro eu não li. Apesar de admitir que preciso reler muita coisa. As leituras que fiz, naquela época, foram as de um jovem deslumbrado, que acabara de redescobrir a paixão pela literatura, no ginásio perdida.

Mas uma dessas leituras fora especial. Me refiro ao romance O encontro marcado (Record, 2006, 288 págs.), que completa, neste mês de outubro, 50 anos de publicado, e acaba de ganhar uma edição especial comemorativa. (**)

Considerado por muitos como a obra-prima de Fernando Sabino, O encontro marcado é um romance como poucos. Por que? Responderei fazendo algumas perguntas.

[O restante vocês lêem no Digestivo Cultural]

sexta-feira, outubro 13, 2006

Duzentas

Duzentos. Cinquenta vezes quatro. Ou quatro vezes cinquenta. A ordem dos fatores não altera o produto. Depende.

E aí cem vezes dois. Ou duas vezes cem. Duzentos vezes um, e vice-versa. Mas não acabou.

Quarenta vezes cinco, cinco vezes quarenta. Acabou?

Duzentos. Duzentas! Eu contei: duzentas.

Duzentas vezes eu disse "eu te amo", só para você. Duzentas vezes.

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quarta-feira, outubro 11, 2006

Métricas

Pode parecer ressentimento meu, ou talvez uma afirmação completa. Mas palavras feitas, clichês e outras regalias me incomodam.

Costumo ver a felicidade como partículas. Chuvas que caem, grão em grão, que se bem aproveitadas viram uma tempestade saudosa. Assim, me incomoda qualquer pessoa que soe feliz demais. Contradiz a idéia natural das coisas de que somos honestamente tristes.

Leio muitas mensagens entre amigos, deitadas no senso comum. Elogios automáticos sobre a foto, a roupa. Tudo é tão banal que perdeu sua beleza. A garota comum escreve querendo ser mais selvagem, como se fosse resposta para sua vida incompleta. O verdadeiro instinto está naquilo que forma nossa essência impossível de ser roubada.

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domingo, outubro 08, 2006

Impressões a respeito do debate na Band

Hoje teve debate entre os candidatos à presidência da República na Band.



O que vi foi um candidato (Alckmin) atacando o outro (Lula). Acusando sem nem ao menos saber exatamente o que estava falando. Lula, por seu lado, ficou nervoso algumas vezes, mas se controlou na maior parte do tempo. Óbvio que tem uma hora que não dá pra ficar calado enquanto o outro fala absurdos. Mas isso dá pra relevar.

O que não dá pra relevar é Alckmin garantir que não vai privatizar nada. O PSDB é péssimo para dar garantias. Basta ver o seu histórico.

Fernando Henrique Cardoso, quando presidente, pediu que esquecermos tudo o que ele havia dito no passado, quando era um sociólogo discutindo os problemas do Brasil.

José Serra garantiu ao povo de São Paulo que não iria deixar a prefeitura para concorrer a outro cargo público, mas deixou, para concorrer ao governo do estado. Acabou ganhando porque o povo de São Paulo não sabe votar. Acabou de eleger Maluf e Clodovil como deputados.

FHC, só para dar outro exemplo, disse, quando presidente, que seu governo não roubava nem deixava roubar. Pois foi ele quem subornou deputados para aprovarem a emenda que permitiu que ele concorresse à reeleição em 1998.

Aí vem Alckmin dizer que não vai privatizar nada, quando foi o governo PSDB/PFL quem privatizou a TeleBrás, a Vale do Rio Doce e as companhias elétricas. Além de outras coisas que eu não lembro agora.

Outra coisa: Alckmin se vale de exemplos absurdos para criticar o governo Lula. Falou das demissões na fábrica da Volks no interior de São Paulo. As demissões seriam sumárias. Os sindicalistas conseguiram fazem com que se tornassem voluntárias. Aquele programa de demissão voluntária, espero que vocês conheçam. Se não conhecem, procurem se informar.

A Volks passa por uma crise. Não é apenas no Brasil que ela demite. É em todo o mundo. Alckmin parece ignorar isso e maquia o fato, colocando a culpa no governo. O governo não tem culpa alguma nessas demissões. Até na Alemanha a Volks demitiu.

Alckmin não respondia as perguntas. Usava seu tempo de resposta para acusar e difamar Lula. O ex-governador de São Paulo demonstrou ser um péssimo candidato, e comprovou aquilo que eu já sabia: não tem preparo algum para assumir a presidência da República do nosso país.

* Foto retirada do portal Terra.


Rafael Rodrigues

sexta-feira, outubro 06, 2006

The older you get...

The older you get, the less you dream.

Para tudo na vida existe um preço, uma troca, ganha-se e perde-se, conseqüentemente. É uma constante.


quarta-feira, outubro 04, 2006

Antenas quebradas

Me pergunto se, caso os artistas, escritores, intelectuais, fossem mais politizados, como eram há algumas décadas, o Brasil seria um país melhor. Não estou dizendo que artistas deveriam se candidatar a cargos públicos. Apenas acho que eles deveriam se aproximar mais da política, para quem sabe assim despertar, nos cidadãos comuns, um maior interesse no assunto. E, é claro, defendo que os artistas exponham suas opiniões, desde que sensatas e defendidas com bons argumentos. Sem politicagem barata.

Pensando nisso, e fazendo uma comparação com os Estados Unidos, fico inclinado a acreditar que sim, nosso país seria melhor se os artistas fossem mais engajados. Vejamos.

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segunda-feira, outubro 02, 2006

A cobertura da eleição na TV

Vou falar apenas do que vi, pois parte deste domingo eu passei trabalhando como mesário na eleição. Quando cheguei em casa, tentei assistir o máximo de tv que pude, mas houve um apagão de pelo menos duas horas, tempo esse que utilizei para tirar um cochilo no sofá.

A Rede Bandeirantes, já estava cobrindo a apuração dos votos ao menos desde o momento em que cheguei em casa, pouco depois das 18:00. Enquanto isso, Faustão mostrava as video-cassetadas na Globo, um filme muito ruim era transmitido pela Record e o Gugu abalava no SBT, com flashes de Ana Paula Padrão, é verdade. Mas o destaque mesmo foi a Band.

Passei pela TV Cultura, mas só uma vez. Então nem posso falar nada. Mas acredito que eles tenham feito uma bela cobertura. Mas a Band, creio eu, ninguém supera.

Não se limitando a flashes ao vivo, a Band mobilizou uma enorme quantidade de jornalistas in loco (na frente das casas de alguns políticos, na sede do TSE, nas sedes de alguns TRE’s) e um senhor corpo de outros jornalistas e entrevistados nos programas ao vivo, mesas-redondas, na verdade.

Joelmir Beting, Ricardo Boechat, Franklin Martins (já tive a honra de trocar alguns emails com os dois últimos), Fernando Mitre e outros comandavam as mesas. Que contaram com candidatos e convidados especiais, como o senador Eduardo Suplicy, a deputada Luiza Erundina, o assessor do presidente da república (não anotei o nome dele, me perdoem), o coordenador da campanha do candidato Geraldo Alckmin (também não anotei o nome dele, Eduardo alguma coisa) e outros.

Enfim, foi um show de cobertura. Um banho mesmo, nas outras. Na tv fechada, o GNT entrou com o Manhattan Connection já não seu que horas, mas o Diogo Mainardi lá estava presente para comemorar efusivamente o segundo turno na corrida presidencial. O GloboNews bem que tentou, com Lucia Hipólito e aquela outra menina, a cheinha, Cristiana Lobo, e mais dois jornalistas, fazer uma espécie de mesa redonda, mas faltou timing a eles. Não tiveram entrosamento.

Eu fiquei realmente surpreso com a brilhante cobertura da Band. A Globo vem vacilando, e seu jornalismo, apesar de constantemente se premiado, não é mais aquele. Boechat, Beting e Franklin Martins na Band, todos eles já foram globais, estão arrebentando.

É bom ficar de olho neles.


Rafael Rodrigues