sexta-feira, setembro 30, 2005

É Lei

Sempre que Thiago volta para casa na sexta, seu mundo se cobre de pensamentos. Pois depois de uma semana com a banda ele está solo em seu quarto.
Nesta solidão liberdadora ele volta a abraçar sua velha desventura. Se entristece e decide mais uma vez que deveria fazer algo melhor e diferente para sua vida.
Talvez ele deve tentar novas idéias. Talvez a tristeza venha nessa hora pois ele sabe que nunca a terá. Talvez seja só o fuso horário da viagem. Talvez.

Thiago Augusto
(de volta ao seu lar...)

Oceania - Parte II



Faltava pouco para conseguir o dinheiro completo da passagem e sem suportar mais a espera, Marcos decidiu se desfazer de suas coisas, então vendeu seu computador, sua bicicleta, sua televisão e seu mp3 player e no fim das contas conseguiu o dinheiro da passagem, e ainda ficou, de quebra, com 1.500 dólares, estava satisfeito e não via a hora de comprar sua passagem.

Marcos fazia os preparativos para sua viagem e fantasiava como as coisas aconteceriam por lá, imaginava o quanto teria de trabalhar até conseguir uma certa estabilidade, quem sabe cursar uma pós em alguma universidade australiana, sentia até o prazer de poder ligar pra casa e dizer: “Eu tou numa faculdade australiana, porra!”, mal podia esperar, ao mesmo tempo em que sentia enormes calafrios de pensar em estar num país diferente, com pessoas estranhas e só.

Com seu passaporte em mãos, conseguido meses antes à base de muita expectativa, ele seguiu rumo ao embarque, tomaria um avião pra São Paulo e lá pegaria um vôo conexão para a África do Sul, depois Melbourne, e aí então, seu sonho estaria a um passo de se tornar realidade.

“Chamada para o vôo 0666 com destino à África do Sul, dirigir-se para o portão de embarque”. Ao ouvir a primeira chamada, o Marcos correu freneticamente em direção ao check-in, despachou as malas e chegou a tempo de sentar-se e recuperar o fôlego da corrida: “Idiota, era chama, não ÚLTIMA CHAMADA, não precisaria de tanta correria!” e então aquietou-se ao lado de um senhor de cabelos grisalhos, olhos azuis quase brancos e profundos, sobretudo bege escuro e olhar sereno. “Bom dia” disse o Marcos com um sorriso na boca, “Sorry, didn’t get it!”, respondeu o senhor, “Bom dia, eu disse!” respondeu o Marcos no seu bom inglês e o velho acenou simpaticamente com a cabeça e puxou um assunto aqui e outro ali no decorrer de suas poucas 14 horas de vôo até a África do Sul e dali mais 6 para a Austrália.

Continua..

Eduardo Leite

quinta-feira, setembro 29, 2005

O último - Parte II

Encontrou-a sentada num banco. Pediu para ela se levantar. Queria dar-lhe - e receber - um abraço.
- Senta, meu joelho dói. A casa do teu amigo fica muito longe daqui?
Ele não diria que sim, não queria preocupá-la. Perguntou como ela estava, sobre a faculdade e se queria beber algo. Fazia muito calor.
- Aceito, sim.
Enquanto tomavam água de coco, conversaram. A garota contava o que havia conseguido em tão pouco tempo de faculdade e ele ficou feliz por ela. Levantaram e andaram um pouco.
Ele resolveu questionar sua indiferença na última conversa que tiveram.
- Eu estava normal, foi impressão sua.
Caminharam mais um pouco e ela queria sorvete. Ele não, obrigado. Sentaram novamente. Ela degustava o gelado. Ele se perdia em pensamentos. Começava a desenhar em sua cabeça imagens de um jovem chorando e uma jovem partindo.
- O que você tem?
Assustou-se com a pergunta, e quase responde. Diria que estava tentando entender aquela frieza repentina da parte dela. Mas preferiu dizer que não era nada, para momentos depois resolver colocar as cartas na mesa.
Enquanto ele falava, ela terminava a sobremesa e por alguns instantes ficou a admirar o vazio do nada.
- Olha, acho que isso não está dando certo. Eu aqui, você lá...
Ele poderia ser dado como morto naquele momento. É provável que seu coração tenha parado de bater por alguns segundos. Não conseguiu pensar ou respirar. Seus olhos miravam algum lugar, ou lugar nenhum.
Apenas durante alguns segundos. O tempo que leva para uma mulher acabar com os sentimentos de um homem.

Continua...
Rafael Rodrigues

Canção - O Amor

*[...] "Acabei fazendo uma canção em sua homenagem e criei minha primeira melodia." trecho do texto O Amor e a Morte (Canção)

** O amor vestido de roupagem pop a lá Nando Reis

*** "Nasceu uma Canção uma vez..." trecho do mesmo texto referido acima


Falta dizer que sinto a sua falta
Como um alguém querendo água
para saciar sua sede

Se o tempo for feliz conosco
Talvez terei você de novo para mim

Enquanto as horas não passam
Olho aflito para o relógio pensando
Que o tempo deveria correr...
Como eu corro para ti

E num sorriso o amor se faz presente
Com seu não, meu coração se cala
Se voce muda, eu que fico mudo
É no silencio onde tudo se abala

O que me dá o amor à vida
Tão improvável e insensata
É saber que ela é surpreendente
Como ir te visitar de surpresa

Se o tempo nunca fica de lado
Na vida existe alguma hora certa?
Qual o limite para o sim e o errado?
Para o desejo do amor e da espera?

Se este amor é o dom mais belo do mundo
Por que ainda tem medo de amar?
Não adianta deixar tudo de lado
E da janela ver o tempo passar

Esqueça o que já se foi
A diferença é ser tão diferente
Transformar sua tristeza
Em sorrisos que transbordam

Assistir ao por do sol, e ver a noite, púrpura.
Ver o brilho dos seus olhos, verdes
Invejar a luz da lua

Perder o ar dos meus pulmões
Pra gritar pra todo mundo
- Como eu gosto de você

Thiago Augusto

quarta-feira, setembro 28, 2005

O último - Parte I

Era uma quinta-feira. Precisava organizar suas obrigações para poder vê-la no dia seguinte. A decisão de viajar na sexta foi tomada de última hora. Fazia quase uma semana que não se falavam. Na última conversa que tiveram por telefone, sentiu uma certa indiferença. Decidiu, então, que o próximo diálogo seria pessoalmente, não importando quando ocorresse. Ligou para ela apenas para acertar os detalhes do encontro que teriam no dia seguinte.
Combinou tudo com um amigo. Iria à capital com seu pai e eles se encontrariam em um determinado local. De lá iriam a alguns lugares, afazeres inadiáveis, porém rápidos, do amigo. Depois, iriam dar uma volta pela cidade. À tarde, finalmente, iria vê-la.
Ele não escondia sua ignorância. Nunca fizera questão de conhecer aquela cidade. É certo que já a visitara outras vezes, mas sempre a passeio ou a trabalho. Não ficava na cidade mais que algumas poucas horas. Não escondia seu desgosto, também. Detestava aquele lugar. O trânsito impaciente, as pessoas infernais, o horizonte acimentado. Aquela era a sua opinião.
Comentava isso enquanto almoçava com o amigo, que sairia para trabalhar logo depois. A partir daí estaria sozinho, munido de algumas coordenadas, nomes de bairros e pontos de referência, tudo devidamente anotado por ele.
Assim, foi encontrá-la.

Ele pensava muito nela, desde que partira, há duas semanas, deixando palavras de amor e promessas, que supostamente deveriam servir de consolo para a distância que se colocaria entre eles - e que parecia não ser tão grande.
A caminho do local do encontro, lembrou-se da última vez que a vira. O dia das palavras de amor e das promessas, também foi o dia das lágrimas derramadas por ela. Muitas. A saber: quantidade de lágrimas derramadas e intensidade e sinceridade de sentimentos, são coisas totalmente independentes e passíveis de leituras incorretas.
Continua...
Rafael Rodrigues

segunda-feira, setembro 26, 2005

Oceania - Parte I


Sete meses trabalhando manhã e tarde, folga à noite? Claro, a partir das 10. Assim foi a rotina de Marcos durante 7 longos meses de trabalho quase escravo.

Marcos queria ser independente, estava com 25 anos e continuava em casa, estava para terminar seu curso superior, graduação em letras, mas sentia-se bom demais para o Brasil, conseguia até prever seu destino. Em 2 anos estaria dividindo seu tempo dando aula de manhã em colégios da rede estadual, brigando contra o tempo e os alunos para poder terminar seu conteúdo e à tarde estaria ensinando às pedantes crianças de escola particular. Para essa geração que agora estava nas escolas, sabia que ensinar literatura era como atirar pérolas aos porcos. Estudando para fazer concurso público, descobrira que além de 35 anos entregando parte de seu salário ao INSS para ter uma renda segura quando se aposentasse, teria que continuar pagando após aposentado, além de viver num país com uma das maiores cargas tributárias do mundo e com menos benefícios que vários outros onde se pagam menos impostos. Também não agüentava mais a mentalidade do pessoal de sua cidadezinha que mais parecia uma vila, lugar onde, diziam os antigos, “Você peida aqui e fede na esquina”. Ele tinha argumentos suficientes para convencer a si próprio do que queria, havia desistido de convencer os outros fazia tempo, não esperava que ninguém o entendesse, ele sabia o que faria.

Eduardo Leite

O Amor e a Morte (Canção)

Existiu um tempo em que havia aqui o amor. Onde por dentro existiu algum sentimento bom. Ela me inspirava de diversas formas. Acabei fazendo uma canção em sua homenagem e criei minha primeira melodia.
Eu esperava que ela ouvisse a música um dia, mas nunca recebi qualquer atenção para tocar minha canção de apenas alguns minutos.
Esse afeto, se é que existiu, de minha parte foi sincero. Mas não me peçam para contar sua história. Com o tempo tudo se emenda em um fato só. Se eu contasse estaria provavelmente mentido e contando somente o meu lado dos fatos. Seria melhor eu e ela contarmos juntos. Mas ela não se encontra presente.
O que mais me aflige de certa maneira é o eco de tudo que fica nas paredes. Todas as formas de expressão que depois do fim se tornam apenas objetos. O presente de natal dado com carinho é só um presente como todos os outros. Um poema escrito com amor que agora é só mais um poema.
Houve sentimento, mas ele se foi. E agora certas palavras estão sós, e, se ganharam força sozinha, tentam se manter assim. Belas palavras que nasceram da emoção e agora sobrevivem nuas. Como que esperando quem as possa gostar.
Nasceu uma Canção uma vez. Que morreu junto com esse amor.

Thiago Augusto
(18-09-05)

*Nos próximos dias vocês entenderão melhor...

domingo, setembro 25, 2005

Bienal - Pronto!

Opa!

Com esses mini-artigos (alguns deles inéditos), termino minha série de mini-artigos sobre a Bienal de Livros que aconteceu em Salvador.

Eles saíram no Cronópios, e vou colocar o link logo abaixo:

http://www.cronopios.com.br/site/artigos.asp?id=586

Saiu lá também uma crônica do meu ex-professor de literatura e atual guru-literário Mayrant Gallo, justamente sobre a Bienal. Ela já terminou mas vale a pena ler tudo, pois fica de lição para a próxima. E serve de lição para qualquer Bienal:

http://www.cronopios.com.br/site/artigos.asp?id=587

Lá no Cronópios tem também um especial sobre a nova literatura baiana. Eu não estou incluído, ainda. Vai também aqui o link:

http://www.cronopios.com.br/site/prosa.asp?id=585

Acessem! Não paga, não vai ocupar muito do tempo de vocês, e o que é melhor: vocês vão evoluir culturalmente! Ora, claro! Eu garanto!

Abraços a todos, e post novo só na segunda.


Rafael Rodrigues

sábado, setembro 24, 2005

Sei lá

Tem um mal que assola o mundo ultimamente, ele vem em meio a qualquer assunto e... Sei lá.
O sei lá breca qualquer entendimento. É nossa ponte mental para não pensar no assunto, para não dizer alguma coisa coerente. É como os vícios lingüísticos do "tipo assim". E tem suas variáveis, "Sabe lá eu" (Usado de forma mais metafórica, "O Destino sabe lá eu.")
Mas "sei lá" é ainda o mais usado. O que vamos fazer hoje? Sei lá. O que você acha dele? Sei lá. O que você acha do sexo antes de casamento como uma arma de fuga das massas que tentam achar qualquer forma de diversão principalmente em um sábado onde todo mundo espera alguma coisa? Sei lá.
É a lacuna que falta.

Preencha as frases a seguir com "sei lá"
1- Porque eu gosto dele mas ________
2- O filme é ________ mas é legalzinho.

O sei lá é a falta de palavras. De assunto. A correia que liga histórias que no final, sei lá, não levaram a nada. É falta de verbo. A ausência de opinião. A comida estragada das palavras. O nada. Uma dúvida. Sei lá é ficar em cima do muro. É não ter idéias próprias. É não desenvolver o raciocínio para achar respostas adequadas.
O que me assusta é que brincando com o ditado popular, quem talvez nasceu sei lá, talvez, morra sei lá. Vai saber.

Thiago Augusto

Quando a ti vejo

Toda vez que te vejo, tenho vontade de te matar. E a mim mesmo, logo depois. Seria uma espécie de “Romeu e Julieta”, só que mais trágico e mais triste.
(Você sempre me achou exagerado).
Nunca concordei com essa opinião sua. Aí depois você passou a me chamar de exagerado e cabeça dura. Para evitar maiores discussões, eu aceitava tudo o que você dizia. Você até estranhava minha boa vontade às vezes. Mas repito: nunca concordei com seus julgamentos, apenas não queria discutir com você.
Parecia tão segura de si... E se eu passava metade do dia sem te dar notícias, você logo ligava, preocupada. Admita: você realmente se preocupava comigo, mas inventava outros motivos para ligar, só para disfarçar.
Eis algo que eu não gostava em você: isso de esconder os sentimentos. Mas fazer o quê, você é assim (ou era...)
Agora eu te vejo e tenho vontade de quebrar alguma coisa, derrubar qualquer objeto à minha volta. Quando te vejo, só a ti vejo. Esqueço as pessoas que passam, e as coisas que ficam. Apenas a ti vejo.
Não, eu não queria te ver. Mas te vi. E fingi que não. Mas aí alguém que te viu acenou para mim, e eu não pude mais fingir. Nem me esconder por trás dos meus olhos.
(Que raiva daquela pessoa... Eu poderia matá-la também...)
Falei com você, que jeito? Nos cumprimentamos. Eu queria poder arrancar o teu braço com o aperto de mão, e com uma mordida – ao te beijar -, um pedaço do teu rosto. Mas não, eu não podia. Felizmente nossa conversa não demorou. Foi tudo muito rápido, eu estava com pressa. Espero nunca mais te ver.
(Nem lembrar de ti, com saudade).

Rafael Rodrigues
13/12/2003

sexta-feira, setembro 23, 2005

A Atriz

Lá no palco a atriz
pintada de branco, cor e luz.
Do outro lado vejo o público
com olhos atentos e febris.

Ele vai se apaixonar pela atriz.
Na falsa concupiscência do papel.
Sem saber que quando acaba o espetáculo
Ela tira seu véu e volta a ser infeliz.

Thiago Augusto

Parece brincadeira...

"A fabricante de cigarros Souza Cruz foi condenada a indenizar um ex-fumante em R$ 350 mil por danos morais. O consumidor, do Rio Grande do Sul, entrou com ação contra a empresa após desenvolver doença vascular e precisar amputar três dedos do pé esquerdo."

Clique aqui para ler a notícia inteira.
Me perdoem a frieza, mas isso não existe. O cara fumou porque quis. Ele é algum tipo de retardado? Todo mundo sabe que cigarro não faz bem, pombas. Ele começou com o vício em 1988.

"A empresa alegou que antes de 1988, quando o consumidor começou a fumar os produtos da empresa, não existia a exigência de divulgação de cláusulas de advertência de consumo. Por isso, não poderia ser acusada de omissão de informações" (também retirado do link).

E mesmo que a empresa pudésse ser acusada, na década de noventa a campanha anti-tabagista foi intensificada, até chegar ao que vemos hoje. Carros de F-1 sem propaganda de marcas de cigarro, fotos ilustrando pessoas com problemas de saúde em decorrência do uso de tabaco no verso dos maços de cigarros, propagandas banidas da TV, essas coisas.

Na minha opinião isso é uma injustiça. Se o cara tem o conhecimento de que o cigarro não presta e ele continua fumando, problema dele. A empresa não tem nada a ver com isso. Aposto que por diversas vezes na vida dele, ele pensou: "putz, preciso de um cigarro". Ou "o que eu não daria por um cigarro agora".

Quem fuma sabe do que eu estou falando. Essa indenização que a Souza Cruz vai pagar a esse cara só tem um nome: hipocrisia.

E pode ter outro: oportunismo.


Rafael Rodrigues

quarta-feira, setembro 21, 2005

Requiem

Minha cara,

O tempo muito vezes não é como gostaríamos. Os anos passaram, muitos desde nossa despedida. Eu envelheci e espero que tenha amadurecido o que outrora ainda não havia conquistado.
Lhe escrevo pois, ao relembrar de meu passado, não sei ao certo o que pensar. Dentro de mim ainda guardo aquilo que se merece, e quase não há mais espaço para seu nome.
Esta carta demonstra o quanto estou bem melhor agora, sem você. Sem suas mentiras, onde era sempre o último a saber. Sem sua traição. Por diversas vezes meu maior desejo foi ser maior que ti. Para te ver cair e chorar cada um de seus pecados cometidos.
Cresci, minha cara. Aprendi a confiar somente em quem realmente merece. Mas às vezes minha memória cai em você. E sinto pena por existir tão pequena alma neste mundo, tão material, tão falsa. O mundo que te cercava não era pior do que você já foi.
Estou bem e me sinto bem. Feliz. Plenamente feliz. E se mesmo em seus devaneios você diga que também está, sei que é mentira. Já conheci seu coração falso uma vez e sei que pessoas assim em nada mudam. Só se jogam ao abismo para serem mortas com o tempo.
É uma pena o que se tornou. Comum demais, chorando pelas palavras que todos sabem dizer. Sem saber o que é mesmo amar.
Se te amei outrora, me amaldiçôo a cada dia por isso. Por ser cego ao ponto de te dar uma rosa, quando deveria te açoitar com espinhos.
Nosso caminho foi a entorpecida escuridão. E não mais do que isso.
Espero que chore por cada lágrima de sua vida perdida, vivida em falso improviso, como se a calmaria habitasse seu coração.
Meu prazer é saber que, no fim, minha história ainda será lembrada. Por aqueles que realmente me amaram. A sua será uma lenda, que uma vez ou outra habitará a mente de algum jovem perdido. A lenda de alguém que nunca soube dizer a palavra amor.
Minha memória falha ao lembrar de seu rosto juvenil, se apagou como tudo se foi. Aonde você irá quando todas suas pinturas se extinguirem?
Estou mais velho do que o tempo em que nos conhecemos, e agora sou feliz. Pois fiz tudo aquilo que não fez: Viver, sem suas máscaras que nem mesma sabe se ainda as usa.
O tempo será severo contigo. Quanto a mim, ainda lembrarei de ti. Pois não se esquece quem transforma sua vida em escuridão.

Mas aqui o sol surgiu. Ao seu lado só as máscaras permanecem.

Deus te abençoe, se ainda for capaz.


Pierrot
(20/03/04)

Eu na rede

Olá pessoal.

Eu agora posso também ser lido no site www.simplicissimo.com.br

É um site onde várias pessoas escrevem sobre diversos temas, de diversas formas diferentes. Fui convidado pra preencher o espaço de uma coluna pelo "capitão" do site, o Rafael Reinehr.

O Rafael foi um dos nossos convidados no "3 Vozes convida". Ele também é o idealizador do www.armazemdeideias.org

A coluna será de textos apenas inéditos e exclusivos. Ao menos serão exclusivos por, no mínimo, uma semana. Ou seja: pode ser que os textos publicados no Simplicíssimo venham a ser postados aqui, mas não é uma regra. O que eu tentarei ter como regra vai ser o seguinte: não colocar lá textos postados aqui. Quero me valer da oportunidade de exercitar o compromisso de fazer um texto para colocar em tal local com tal regularidade. Deu pra entender, né?

Meu xará é gaúcho. Médico, escritor, fotógrafo (amador, como ele mesmo diz, apesar de ter ganho um prêmio recentemente), entre outras coisas mais. Minha coluna lá no Simplicissimo tem o nome de "Trocaditos" e não me perguntem o porquê. Basta dizer que sou péssimo para títulos. Já existem dois textos lá. Na verdade, um é uma apresentação, e o dessa semana fala sobre o romance "O encontro marcado" de Fernando Sabino.

Bom, era isso.

Abraços a todos.
Rafael Rodrigues

Conversa Descontraída

"Nós contemplamos continuamente o mundo e ele se torna opaco a nossas percepções." Frase do Dr. Manhattan no maravilhoso quadrinho de Alan Moore, Watchmen.

Respeitável publico, meus cumprimentos a todos vocês.
Isto não é, de fato, um texto. Só uma conversa descontraída. Pensamentos que não quero deixar em um texto e nem em minha cabeça, mas sim em um diálogo (mesmo que unilateral).
Estamos em Setembro, já na porção final desse ano. E confesso que alguns acontecimentos de janeiro já me parecem distantes. Prova de que o tempo passou e muita coisa nasceu desde então.
Até agora houve momentos para tudo. Ou quase. Para cantar With a Little Help From My Friends com os amigos, chorar ao som de Creep pela ex-amada. Ter idéias interessantes não só para textos. Rir das bobagens que acontecem no dia a dia.
Nas próximas semanas ficarei mais tempo fora de casa. O que implica em selecionar mais textos para guardar no blog para o Sir Rafael postar pra mim. Desde que iniciei o curso de letras em outra cidade, deixei as postagens a cargo dele, pois é a voz que mais frequentemente acessa. Infelizmente eu não tenho um computador por lá.
Interessante é escolher os textos. Sempre faço uma média entre novos e velhos. Poesia e prosa.
Nisso tudo percebo quanto é bom achar um texto antigo que ainda tem seu valor. Que quando chego ao fim, penso, "Uau, ficou realmente bom e sobreviveu ao tempo". Certos textos são assim. Passam o tempo e eles se concretizam e ficam mais fortes ainda.
O tempo passa, às vezes depressa, às vezes devagar. E encontrar sinais de luz no passado é reconfortante. Saber que desde lá estamos evoluindo. Daqui a pouco já é ano que vem.
Mas talvez ainda não seja tempo de pensar no futuro. Já que nesse presente, perder um segundo já pode ser nosso fim.

E Nós estamos apenas no inicio daquilo que vamos ser.

Um abraço,
Thiago

terça-feira, setembro 20, 2005

Lugar comum

Deitado aqui na rede pensando em tudo o que passamos, não consigo entender o que te fez desistir de nós. É certo que não passamos longo tempo juntos, mas eu não esperava um fim tão brusco.
Foi pela manhã que cheguei. Rodrigo foi me buscar no aeroporto.
- Ora, ora. Seja vem vindo, meu amigo!
Meu sempre amigo Rodrigo. Nunca deixamos de manter contato. Seja por telefone ou através de emails, estávamos sempre nos comunicando.
- Rodrigo! Muitíssimo obrigado por ter vindo me buscar. Faz tempo que não venho aqui.
Fazia algum tempo que não ia àquela cidade. Você sempre passava os fins de semana com seus pais. E comigo. Quando você não podia vir, eu não podia ir. Desencontros. Depois daquela conversa que tivemos foi que você deixou de vir. De vez.
- Pois é, nem uma visita sequer! E ainda se diz meu amigo.
- Ora, deixe disso. Quando me dou o trabalho de vir aqui procuro passar o mínimo de tempo possível. Você sabe que não suporto esse lugar.
Você também sabia. Hoje não sabe mais.
Seguimos para o apartamento de Rodrigo, bem localizado, quase a beira mar. Conversamos por horas.
- Quem diria... Você, um escritor de sucesso.
- Ora, eu sempre disse que isso iria acontecer.
- Sei disso, sempre soube. Só não esperava que fosse acontecer tão rápido.
- Ah! Melhor que eu, só ele - falei, apontando para o espelho.
O uísque começava a fazer efeito.
- E você, Rodrigo? Pensa que não te vi no jornal por esses dias? Quem é o famoso aqui?
Nunca duvidei do seu potencial. Para mim era só uma questão de tempo Rodrigo se dar muito bem na vida. Aos 27 anos ele já se encontrava entre os mais requisitados economistas do país.
- Você não vai ligar pra ela?
- Não. Para ela eu só chego amanhã. Hoje o dia é nosso.
- Ótimo! Vou te levar num restaurante formidável. Como bom apreciador de massas, você vai gostar. E sim, hoje você está solteiro. Isso não se discute.
Além de ser conhecido pela fama de grande profissional – apesar da pouca idade – Rodrigo era famoso por sempre estar cercado de belas mulheres.
Aproveitamos bastante a noite.
Acordei tarde no dia seguinte. Rodrigo acordara cedo para ir ao escritório. Deixou um bilhete e as chaves de um dos seus dois carros:
“Ligue para ela. O carro é seu – mas não vá me bater esse!”
Foi notícia em todos os jornais: sofri um acidente de carro, você viu e logo me ligou, lembra? Nada de muito grave. Sofri apenas alguns arranhões.
Tomei banho, fiz a barba, te liguei. Não conversamos muito, você achou melhor deixar tudo para depois, quando nos encontrássemos.
- Seja feita a vossa vontade.
À tarde nos encontramos. Conversamos muito.

Rafael Rodrigues
* Texto escrito em algum dia frio do longínquo ano de 2003

domingo, setembro 18, 2005

Prova Dos Nove ou O Amor em Pedaços

*Poemas também publicados no dia de hoje no Jornal da Cidade de Bauru-Sp :-D


Da Pergunta

Mas se ela me desconcerta
apenas com poucas palavras.
Como posso, então, afirmar
que toda maçã é igual?


Do Amor

Se cada um que chega,
rouba um pedaço de meu coração,
muito em breve, já sei,
que precisarei de um transplante.


Das Opções

Foi bom enquanto durou
ou nunca foi tarde?
E como fica o amor nessa parada?
Parado!


Das Razões

E foi dito "Eu não te mereço"
Meses depois, ele tinha razão.
"Ela não merecia mesmo..."


Das Probabilidades

É conclusivo pensar que,
quando se escolhe uma,
perde-se todas as outras possibilidades.
O problema está nos canalhas.
- Os canalhas querem as possibilidades!


Daquilo que nasceu e morreu

O Amor nasceu e morreu
em menos de um minuto.
- Eu te amo, mas e
você? O que me diz?
- Ignoro


Do Tempo

O Amor é tão curto
(Posto que é chama)
Que só cabe em um poema minuto


Do Passado

O Amor passou. Machucado.
E agora é só isso.
Passado.


A.M.O.R.

Arma como uma Vingança
Mata De Tanto Esplendor
Organiza seus proprios desejos (para no final)
Ruir-se como uma flor. Morta.


Thiago Augusto

Pensamentos desordenados

Gostaria muito de saber como vou acabar. Sim: prever o futuro. Por que não? Afinal, não tenho escolha alguma. Ou achas que escolhi escrever isto? Óbvio que não. Fui escolhido. E pode dar em nada.
Vivo – não só eu, mas todos – pela dúvida. Vivemos porque somos curiosos e egoístas. Queremos saber até quando vamos durar e onde vamos chegar.
Ao admitir-me mais complicado do que imaginei que fosse, acabo caindo em contradição. Ora, se eu mesmo digo isso, significa que eu mesmo entendo minha complexidade, o que, conseqüentemente, acaba provando que não sou tão complicado assim. Pois se eu mesmo entendo minha complexidade?
O mesmo aplico para o fato de eu às vezes dizer que sou humilde demais. Se a opinião que tenho sobre mim é essa, ela não deveria ser externada, pois afirmando isso, deixo de ser humilde. Quando digo que “às vezes sou humilde até demais”, é porque, na verdade, meu narcisismo está à flor da pele.
Enfim. O que preciso mesmo é de uns dias sozinho, um tempo pra pensar. Colocar os pensamentos em ordem, e no lugar.

Rafael Rodrigues

sexta-feira, setembro 16, 2005

Augustus - Parte V

Leia: Augustus - I , II , III , IV

V

Já fui mais belo, mais mesquinho, vil, e mentiroso.
Hoje me falta tudo para voltar a sê-lo.
Me falta a forca motriz das emoções.
Estou frio dos sentimentos que não Amor.
Mas ainda minha vontade pela vida permanece.
Minha composição me soa tão mentirosa.
Escrevo quase sem catarse, pois, para chorar nesse papel
Me falta um impulso humano. (Que sinto) morto em mim.
E se pudesse traria dos mortos essa reação.
Faria com todo meu gosto. Mas falta-me uma pílula de humanidade
Que não sei se consigo digerir. Sempre fui fechado e quase repugnava
a Humanidade. Mas ao dar uma chance, derrubar Minha fortaleza,
quase nunca recebi benefícios duráveis.
E agora nesse turbilhão quero fechar a porta Invisível.
Desde que a destranquei me sinto afônico e desesperado.
Algo que devo regurgitar em breve.
E enquanto chove e me molha eu vejo lá fora, passeando, a luz do sol.
Eu calo. Fecho os olhos para perder a imagem.
Penso na vida de meus antepassados e quase afirmo
Que suas dores passaram para mim.
Mas enquanto o tempo ri da minha cara, ninguém me conduz com simpatia.
As vezes, dias de exceção, encontro sorrisos sem nunca saber os lábios.
A vida me traz sabor e asco, e eu sem perceber permaneço na mesma sina.
- Sem voz, cansado, confuso na tempestade.
Caminhando pelas ultimas ruas iluminadas.
Trago nas palavras minha faca de corte.
No coração uma disritmia espontânea.
Os pés me doem pelos espinhos
E as mãos permanecem nos bolsos.
Aflitas. Atônicas. Esperando palavras. Apenas.

Thiago Augusto

Fora de lugar

Mas que bosta de lugar. Quase dentro do banheiro. Se entrar um ali, pronto, danou-se. Um fedor desgraçado.
Culpa minha. Quem mandou se atrasar? Era pra ter saído cedo, pra pegar o de quatro horas. Mas que se dane, agora já passou. Chorar por causa do ônibus esgotado não adianta.
O que me resta é tentar tirar um cochilo até chegar lá. Dá pra descansar um pouco. Se eu conseguir ignorar essa porcaria de tv ligada... É uma droga mesmo. Vou deitar pra ver se consigo dormir. Ainda bem que esse banco não tá quebrado.
Mas o que aquele cara tá fazendo? Ele tá ali mexendo na mala... Por que não deixou ela lá embaixo? Ou ali em cima? Que que ele tá pegando ali?
Olha só que burro... Abre o zíper todo, idiota. Um saco amarelo... Que será que tem dentro? Ele parece nervoso, tá com o rosto todo vermelho. Aquela barba grande...
Terrorista? Não, não é possível. Aqui? No interior da Bahia? Nesse fim de mundo? O pior é que ele tem cara de doido. E com essa barba...
Vou gritar, vou sair correndo. Mas aí ele explode tudo e aí já era.
E se eu levantar e falar com o motorista?
Merda!
Acho que ele me viu olhando pra ele. Se eu levantar agora ele pode achar suspeito. E aí já era também.
Ah, não. Que bomba o quê! Não era nada. É só uma máquina fotográfica. Que loucura a minha, eu ein.
Mas que bosta de lugar. Quase dentro do banheiro. Se entrar um ali, pronto, danou-se. Um fedor desgraçado.


Rafael Rodrigues

Augustus - Parte IV

Leia: Augustus - I , II , III

IV

Vejo nos casais uma felicidade falsa que não tenho e nem compreendo.
Casais se tornam tão apáticos vivendo em seus feudos como todas as
pessoas que exalam sua apatia. Mesmo depois de um calor de um abraço.
Oh, vã lamentações que faço...
Mas meu destino é tão incerto. Quanto essas mal traçadas linhas.
Já ontem na estação me contaram que o trem que esperava
Passara mais cedo. E assim o perdi.
E mais tarde descobri que meu amor - citado em linhas de outrora -
estava dentro dele, indo embora, levando não só as malas, os vestidos passados, mas também meu coração. Levou embora meu relicário precioso.
Deveria eu buscar quem me transplanta-se um novo conjunto de meras carnes ou espero para que ele nasça de novo?
Horas que penso em viver sem nada a corroer-me na caixa toráxica,
seria sem medo alguém por completo.
Nada é mais tolo do que todo sentimento.
E somente falo porque desse cálice já muito provei.
Mas por mau ventura só o mau pude encontrar;
Quem me trouxe afeto era tão menor e tão pequeno que até a forca
que tenho em minhas lagrimas foram maiores do que elas.
E jogo a culpa em mim mesmo, maior que o espelho e não menor que
a palidez que sinto agora.

quinta-feira, setembro 15, 2005

Augustus - Parte III

Leia: Augustus - I , II

III

Me parece que agora, presente a sombra das horas e dos dias,
meu cansaço se impera de mim. Pedindo me para - quase doente
permanecer em minha cama. Mas o que chamo de força me faz
levantar e prosseguir. A ode, amarrado, sufocado. Rumo a onde?
Não sei. Não sei. Não sei. Estou apaixonado e vivendo uma ilusão
Onde está a amada? Não sei. De fato se não sei nem o que ela sente...
Tendo isso me sinto amargo e triste com todos os pesares.
Uma força invisível berra aos meus ouvidos. - Desista amigo do fútil amor!
Mas meu ser ainda implora por ele, que nem se ela sente sabe eu.
Se tudo fosse tão claro quanto uma manhã alta e brilhante,
meu mundo seria melhor.
Apegado a um sentimento egoísta e confuso como este
E de fato me consomem os casais.
Há uma esperança leve e sempre presente em todos achando que
o próprio amor nasce para sempre. Mas se esquecem que ele se
consome cada dia e morre, morre, morre em nossas mãos.
Se olhares e afetos salvassem o mundo,
O mundo não terminaria em solidão.
Cedo ou tarde só nos restará cada um. Só.
Sentado a olhar o por do sol - nossa ultima fronteira de calor -
e apodrecer em uma cadeira qualquer.
Quem será o podre ou o salvo, não sei.

quarta-feira, setembro 14, 2005

Augustus - Parte II

Leia: Augustus - I

II

Oh Esteves, afaste-se de mim! Eu sinto, amo, vejo tudo tão intenso
Que minha sentença só pode ser a nobre guilhotina.
Afinal me assusta nem saber que é Esteves.
O homem que passou um dia pela rua a incomodar.
Vivo sem ter a quem abrir dialogo e Esteves por ora me basta.
Se a precisão foi o dom de vossas senhorias,
me digam quando começamos a ser juizes do mundo.
Eu também quero ser juiz e mandar cortar cabeças.
A minha parece apodrecer no cesto.
Percebo que não sou como querem que seja.
Teimo e insisto em honrar meu próprio ego.
Quão pequena são vossas almas.
Surdas. Mudas. Marionetes de si mesmo.
Permaneço intacto e sozinho. O ser, ao menos o meu, não é sexo e estomago.
Meu comboio de cordas bate sem parar.
E meu cérebro, tão menino e fraco, sempre cede ao que diz meu coração.
Tum Tum. Tum Tum. Tum Tum.
(Não seja de todos.
Não se contrarie quando você quer fazer.
Ache razões para que tenha sua própria vida.
Seu sangue é mais do que hemoglobina.)

terça-feira, setembro 13, 2005

Bienal - Segunda e última rodada

Mais um fim de semana na Bienal de Livros em Salvador.
Dessa vez foi um pouco diferente. Eu não estava tanto interessado em ir assistir aos Cafés Literários. A não ser meu professor, Mayrant Gallo e o Marçal Aquino. Eles deveriam estar juntos no sábado, dia 10, mas Aquino não compareceu e até ontem, dia 11, não foi explicado o motivo de sua ausência. Queria também ver João Filho, no Porto da Poesia, e o vi.

Bussunda e Afonso Romano Sant'Anna peguei apenas alguns minutos de cada.

Curioso foi que eu acabei gostando mais do Café Literário com um escritor que não conhecia até então. Ele é baiano e tem anos e anos de estrada, Ruy Espinheira Filho. Ele fala muito bem e é sempre seguro e sincero em tudo o que diz. Gostei bastante.

As conversas com Mayrant e João Filho sempre rendem bons frutos. Mayrant e suas dicas literárias, João e seu sempre bom humor. Incríveis figuras.

Pra terminar, a lista de livros que adquiri nesses dois dias de Bienal:
Livro do desassossego - vol. 2 - Fernando Pessoa
Ô, Copacabana - conto longo + 2 curtos inéditos - João Antônio
As boas coisas da vida - crônicas - Rubem Braga
Ficções fraternas - contos - Vários autores (org. Livia Garcia-Roza)
Romance negro com argentinos - romance - Luisa Valenzuela
Contos - vol. 1 - Ernest Hemingway
Contos - vol. 3 - Ernest Hemingway
As filhas do falecido coronel e outras histórias - contos - Katherine Mansfield
Uma curiosa aventura e outros contos - contos - Mark Twain

Vale destacar: estes dois últimos são uns livrinhos pequeninos, custaram 1 real cada; os livros do Hemingway custaram 10 e 20 reais cada, sendo que em livrarias você não compra por menos de 30 ou 40 reais. Pena foi eu não encontrar o volume 2. Livros novos a preço de sebo. "Ô, Copacabana" também, 10 reais, edição da Cosac&Naify, belíssima edição, vale-se dizer. Novo em folha.

Tirei mais algumas fotos e coloquei no mesmo endereço que havia colocado as da semana anterior. Coloquei poucas porque infelizmente poucas ficaram boas.


Cya,
Rafael Rodrigues

Augustus - Parte I

O poema apresentado a seguir é divido em 5 partes e será apresentado até o final da semana. Cada segmento será postado integralmente para todos os leitores acompanharem um a um todos os dias.

I

Olhem só. Vejam que hilário:
Chove nas ruas e só se preocupam em não molhar os pés.
Vejam que alegria retumbante do peito nasce despertada.
Um casal passa pela praça dizendo promessas ridículas.
Eu, no espelho, espero os relógios pararem ao meu redor.
Abri de manhã os jornais e achei meu retrato.
Falado. Fichado. Exposto.
E, vejam que espetáculo único, embora não tenha palavras
quando tento minha compreensão, descobri que os outros
- ah os outros - tiveram tempo para me definir no mundo.
"Oh amigo, tenha cuidado, as vozes não veladas
estão murmurando contra você"
E, se por um lado, me incomoda a pele ao receio, o outro
tão cruel não vê importância alguma.
Pois vão para o inferno sem mim ou me deixem ir sozinho?
Nascerá o dia em que só viverei pela razão. Sou humano.
O que me sobra de tanta onipotência é quebrar dogmas ridículos.
Obra do acaso por minhas próprias palavras que são meu único tesouro.
Me carimbam com palavras rotas só porque tenho a arte que vocês não tem.
E se faço por mim. Deixem-me fazer só por mim e mais nada, pois,
choro, porque incomoda o tempo. Vivo, pelo próprio prazer e canto,
quando quero e posso, pois, até mesmo a solidão tem sua sinfonia.
Triste e dolorosa sinfonia

segunda-feira, setembro 12, 2005

Silêncio




Silêncio...
No vazio do quarto, ensurdecido pelo som melancólico de uma banda qualquer de adolescentes, me afundo no silêncio do meu interior
Reflito o que te sem tornado essa vida, divagante e confuso fecho os olhos em meio a um rápido entreabrir de olhos
O tempo se arrasta, as vozes cessam, a batida do coração confunde-se com o vacilante pulsar de meu coração, cansado, apenas exausto
As sirenes da cidade me despertam do torpor e caio em mim
Essa música seria interpretada de forma de forma diferente em outros tempos, subestimada com toda certeza, mas hoje ela faz sentido, todo o sentido do mundo
Escuro, uma fresta de luz me lembra teu sorriso, lindo em sua frieza, apaixonante em sua malícia, inebriante em sua maldade
Você é tudo que quero e o que mais me faz mal, o que fazer pra me livrar de um tumor no cérebro sem afetar alguma função importante, como extirpar meu braço gangrenado, arrancar você, câncer, de minha vida pra que eu possa viver em paz?
Te odeio mais que te amo e te quero longe, os problemas existentes são insuportáveis por si mesmos, você os torna letal, tudo que toca apodrece, assim como seus sentimentos
Jamais me toque de novo, deixe-me repousar dessa vez para sempre, na gélida paisagem polar, de beleza fatal, de solidão imensurável, porém sustentável em si
Em minha prisão pessoal, recuso-me a olhar alguém como já te olhei, confiar como confiei, me desapontar como você fez, chorar de novo, nem mais uma vez
Deito no leito de abismo profundo, adormeço nos braços eternos do silêncio mórbido e digo adeus ao câncer que o coração consumiu, mas a alma jamais alcançará agora.


Eduardo Leite

domingo, setembro 11, 2005

Puxando uma angústia

"E você, Eduardo. Você, o puro, o intocado, o que se preserva, como disse Mauro. Seu horror ao compromisso porque você se julga um comprometido, tem uma missão a cumprir, é um escritor. Você e sua simpatia, sua saúde... Bem sucedido em tudo, mas cheio de arestas que ferem sem querer. Seu ar de quem está sempre indo a algum lugar que não é aqui, para se encontrar com alguém que não somos nós. Seu desprezo pelos fracos porque se julga forte, sua inteligência incômoda, sua explicação para tudo, seu senso prático - tudo orgulho. O orgulho de ser o primeiro - a vida, para você, é um campeonato de natação. Sua desenvoltura, sua excitação mental, sua fidelidade a um destino certo, tudo isso faz de você presa certa do demônio - mesmo sua vocação para o ascetismo, para a vida áspera, espartana. Você e seus escritores ingleses, você e sua chave que abre todas as portas. Orgulho: você e seu orgulho. De nós três, o de mais sorte, o escolhido, nosso amparo, nossa esperança. E de nós três, talvez, o mais miserável, talvez o mais desgraçado, porque condenado à incapacidade de amar, pelo orgulho, ou à solidão, pela renúncia."


Chorei.

("O encontro marcado", Fernando Sabino; Ed. Record, 75ª edição, pg. 88)
Postado por Rafael Rodrigues

Crimes Sem Culpa

* É com orgulho que Thiago Augusto informa aos leitores dos Três Vozes que esse conto marca o trecentésimo post (300º) do nosso blog.

O mundo anda ao contrário só para mim. Fui mal visto quando trazia no peito a paz. E cumprimentavam me com sorrisos quando me banhava de tristeza.
Deixei uma paixão fugaz sem me consumir e fui tratado como canalha. Nutri um grande amor por alguém que - disse que - me amava e perdi as flores no final. O mundo anda ao contrário só pra mim.
Me apaixonei pela terceira vista por uma garota, não era uma Amélia mas caia no samba. Fui sincero, fiz votos, flores, poemas. De tanto gingar me derrubou no chão.
Nosso amor tinha ido embora. Mas pra ela, a história foi só um filmes desses da tv. Acabou, ela mudou de canal, foi assistir novela. Mas pra mim, pobre de mim, fui conhecer a rua dos infelizes, chorando, cachaça, tristeza, esperança.
Mulheres. Quem deveriam entende-las? Mas foi uma que me mostrou o caminho certo. Foi assim: Eu descobri que se você ama pouco, você perde a garota. E ela me disse que amor demais, do bom, do sincero, do puro, que é melhor do que tudo na vida, daqueles que é o motivo pra que nós vivemos, assusta as pessoas. E dá medo se entregar pra outra pessoa com uma imensidão tão linda dessas.
Foi então que eu parei, pensei, tomei um banho pra clarear as idéias e resolvi que se meu amor é grande demais, do bom, do puro, e assusta alguém que quero chamar de meu amor. Tenho que ter dois deles.
Foi o que falei, "Terei dois deles". Mas o povo não gostou muito da idéia, "Qual é, Augustinho? Ficou maluco? Vai ter duas mulheres pra uma vê a outra e criar problema?". Mas tentei explicar a idéia. "Seu Geraldo, se eu tenho uma e não do amor ela me larga. Se eu amo uma e faço tudo, ela me diz que é amor demais, então vou ter duas. Divido meu amor. 12 horas cada uma. 'I love you, morena' pra uma , 'vem cá, meu benzin' pra outra e estamos feitos. Mas eu não sou canalha pra não amar as duas de verdade. Aqui o sistema é sério. Vai ser de coração."
E eles não me levaram a sério. Diziam que era loucura. Mas a culpa é minha? Eu tenho culpa, meus senhores? Meu pecado é amar. Tentei uma vez. Outra. E todas elas vão embora quando tudo está perfeito. Cansei. Vou dividir tudo. Nem que elas se revezem por dia.
Não sou culpado de minha própria sentença. Sou uma vítima do maior pecado da humanidade: O medo do infinito.

Thiago Augusto
(10/09/05)

sábado, setembro 10, 2005

Vontade

O que eu quero é esconder.
Atrás de palavras colocar
Minhas dores, meus amores,
Meus arrependimentos e anseios.

O que eu quero é confundir.
Misturar ficção e realidade,
Mentira com verdade,
Prosa com poesia,
Pra depois você vir me perguntar quando ou com quem aquilo aconteceu e eu dizer que com ninguém, pois que aquilo quem inventou fui eu.

O que eu quero é polemizar.
Falar mal assim de Machado de Assis.
E dizer que a maior obra já escrita não existe.
Porque eu ainda não escrevi.

O que eu quero é não ter que rimar.
Ir assim escrevendo pra ver aonde vai dar.
Até porque se não for assim,
Não vai ser escrito por mim.

O que eu quero é acabar
Com toda essa história de que tudo tem
Começo meio e fim.
Por que não pode ter apenas um?
Rafael Rodrigues

Obsessão em 3 atos

*Mini conto inspirado nas peças teatrais de Nelson Rodrigues

Ato I
Ele a viu

Ato II
Ele a desejou

Ato III
Ele a matou

Thiago Augusto
(30/08/05)

sexta-feira, setembro 09, 2005

Bienal - Mais um artigo

Saiu mais um artigo meu - na verdade, estão mais para posts de blog do que para artigo - sobre a Bienal de Livros em Salvador no Paralelos.

São dois comentários em um link. Um deles eu postei aqui no blog, "Entre pessoas e livros". O outro não.

Confiram lá:

www.paralelos.org


Tá logo na capa.

Cya!


Rafael Rodrigues

quinta-feira, setembro 08, 2005

Desejo Do Ano

Para saber mais: O Homem Do Ano, A Mulher Do Ano, O Verdadeiro Homem Do Ano Tem a Palavra

Ele lembrava do pai que quase nunca esteve presente. Sentia uma leve pontada de indiferença. Sempre recebia dinheiro e agrados com qualquer presente. E só.
Seus álbuns de retratos estavam espalhados pelo quarto. Fotos de quase todas suas idades. Ele contava sem parar. Lembrava seus aniversários. A primeira vez que se apaixonou e a primeira vez que uma garota inocente disse não. Contava sem parar.
Escurecia lá fora. Seu quarto com todas as janelas fechadas. Além das fotos no chão não havia outras da família. Só retratos de artistas famosos talvez.
Parou. Foi até o espelho. Sua roupa molhada de suor. Levantou a camisa. E odiou o que viu. "Droga. Droga”.Gritou.
Pegou um estilete e marcou quinze centímetros com a navalha em sua carne. Sangrou. Sentiu arder o coração. Ajoelhado, sussurrou: "Eu vou conseguir. Vou ser melhor. Vou me tornar um homem do ano para ter tudo que eu quiser".
Estava apoiado nas mãos em contato com o chão. Havia sangue em suas roupas. Ele precisava conquistar seus músculos. Mesmo com o braço vermelho iniciou novamente suas flexões. Começou a contar.

Thiago Augusto
(07-09-05)


Lado a lado

Estávamos lado a lado, o amor da minha vida e eu. Fazíamos uma viagem. O destino não importa. Estávamos de férias, em busca de descanso e paz.

Lembro que quando a vi pela primeira vez, meu coração bateu mais forte, minhas mãos gelaram e eu fiquei sem ação por alguns segundos. Amor à primeira vista.
Não sei se ela sentiu o mesmo. E nunca vou saber.

Trocamos poucas palavras durante a viagem. Sou muito tímido. E além disso, estava intimidado pela beleza dela. Linda, linda, linda.

Desembarcamos e nos despedimos.

Não mais a vi depois disso.


Rafael Rodrigues

quarta-feira, setembro 07, 2005

Carta a meu pai

Achei por bem escrever um e-mail ao invés de falar sobre isso pessoalmente porque acho que vou conseguir me expressar melhor e espero me fazer entendido melhor também.

O senhor me pediu pra tirar o piercing e me deu alguns argumentos que me pareceram de certa forma rasos e vou explicar o porquê desse meu pensamento.

Como explicado pra minha mãe e agora para o senhor, eu não pretendo usar por toda minha vida, pelo menos não a princípio, apenas é uma fase antes de clinicar que pretendo aproveitar bastante, tanto me divertindo quanto utilizando todo meu potencial pra, acima de tudo, viver, coisa que não me foi permitida por muito tempo enquanto dentro da instituição alienadora, vulgarmente chamada de Igreja. A alienação, segundo Marx, é nada mais nada menos do que o encobrimento das reais possibilidades e reais motivos por trás do que nos cerca e de determinadas ações que são jogadas sobre nós e impostas. Foi isso que a Igreja Católica fez durante a Idade Média e que perdura até hoje incrustada em nossas mentes nos impedindo de sermos realmente livres e de conviver com as outras pessoas com o mínimo de tolerância e respeito.

Uma coisa que os pais precisam entender a fim de viver mais harmoniosamente com os filhos é que nós somos criados a partir de uma combinação MUITO complexa da metade dos genes de cada um e que nossa personalidade é determinada por parte dessa genética e parte pela influência do meio, isso é muito muito discutido nos meios acadêmicos se somos determinados por genes somente, pelo meio somente ou pelos dois em conjunto, eu particularmente prefiro acreditar que são os dois. Portanto eu não posso ser 100% o que você e minha mãe esperam de mim, eu sou produto da época em que vivo, dos livros que leio, das pessoas com quem me relaciono e pessoas não são como quadros que podem ser pintados de acordo com a vontade do pintor, pessoas vivem sobre a constante do relacionamento que nem é tão constante assim e envolve compreenção da subjetividade e individualidade de cada um, respeito nas diferenças de cada um. Os motivos que me levaram a colocar um piercing é alheio ao motivo que leva o senhor a deixar uma barba crescer, eu não sou uma vitrine assim como o senhor também não é e somos cada um responsáveis por nossas atitudes e escolhas. Eu tenho meus sonhos e aspirações, assim como meus valores e desejos. Sou ateu, cético, entre outros adjetivos bons e ruins que construí diante da minha vida e tenho convicção de todos eles. Me incomoda que regulem o uso ou não de um piercing da mesma forma como incomodava quando regulavam meu peso, são coisas de controle ou não meus que são influenciadas por nossa sociedade "provincial" de pensamento atrasado que faz com que nos preocupemos mais com a vida do próximo do que com a nossa, com uma tal alienação que nos faz ter desinteresse pela CPI do mensalão, pela enorme carga tributária paga em nosso país, pela obrigatoriedade de pagamento da Previdência e faz nos interessar pelo filho homossexual de fulana, da filha de cicrano que engravidou ou da briga do casal da casa vizinha. Isso é um retrocesso no tempo que carregamos como fardo e perpetuamos inconscientemente.

Tenho desejo de ser independente por ter de escrever um e-mail desses ao senhor e explicar tudo em alto e bom som a minha mãe todos os dias mesmo sabendo que esse discurso gera revolta, ira sem contar com o esquecimento que será certo em algumas semanas, ou dias. E trabalharei com afinco a fim de atingir a meta de viver minha vida de maneira mais leve em relação a contra-tempos de problemas de ideologias e valores.

Eu mandei um texto falando de paradigmas e como eles se formam, espero que o senhor leia e reflita sobre ele, acho que o senhor tem um paradigma quanto a esse assunto. Sobre meu problema de dicção, ele só ocorre porque gaguejo um pouco quando me interrompem muito durante uma conversa ou quando não consigo expressar uma opinião contrária a da pessoa por algum motivo, o que acontece com freqüência conosco, pois a cicatrização da minha língua foi completa e voltei a falar como falava antes, tanto é que alguns amigos nem percebem que coloquei piercing quando converso com estes ao telefone, fato que não ocorria quando a mesma encontrava-se ainda inchada.

Espero que entenda o e-mail e possamos conversar depois sobre ele, se bem que espero ter deixado claro meu pensamento sobre isso. Um grande beijo do seu filho,


Uma voz

terça-feira, setembro 06, 2005

Bienal - Mini-artigo

Saiu no Paralelos.org um "mini-artigo" (assim denominei-o) sobre o Café Literário com o Luiz Vilela.

Olha o link aí embaixo:

http://www.paralelos.org/out03/000755.html

Abraços!

Rafael Rodrigues

segunda-feira, setembro 05, 2005

Bienal - Entre pessoas e livros

Para que serve uma Bienal de Livros? Bem, existe uma série de respostas para essa pergunta. Vamos a algumas delas.
Se você perguntar a um escritor que foi convidado para participar da Bienal, é muito provável que ele diga que é uma ótima oportunidade de divulgar sua obra e falar para seus leitores.
Um literato responderia essa pergunta dizendo que é sempre bom assistir escritores dissertando informalmente sobre seus livros, sua carreira, seu processo de escrita, ainda mais se isso for feito pessoalmente. E que também é uma boa ocasião para comprar livros baratos.
Há ainda aqueles que não são escritores ou que não consomem literatura regularmente. Estes vão passear, assistir palestras por curiosidade, tentar impressionar alguém, enfim, várias possibilidades.
Durante três dias de Bienal, foi isso que pude sentir. É um evento que agrega diversos tipos de pessoas, com finalidades diferentes. Consegue também reunir um grande número de livros e editoras num só local, facilitando o acesso a obras difíceis de ser encontradas, além de causar uma concorrência de preços, o que beneficia tanto a escritores quanto a leitores.
É uma excelente e providencial apologia à literatura.


Rafael Rodrigues

Fotos da Bienal

Pessoal, tirei algumas fotos durante a Bienal, e quem quiser ver pode ir no link abaixo, ok?

Abraços!

domingo, setembro 04, 2005

Minha ida à Bienal

* Escreverei algo mais elaborado e mais formal sobre esse assunto, semana que vem coloco aqui.

Olá queridos leitores do 3 Vozes! (puxei o saco de vocês geral, não foi? hehehe)

Bem, alguns sabiam, outros não: tá rolando a Bienal de Livros da Bahia em Salvador. Começou sexta-feira dia 02 e vai até domingo, dia 11. E eu fui conferir a coisa lá. Cheguei em Salvador na sexta e voltei hoje pra Feira.

Na sexta eu queria ter pego o Café Literário, que é uma entrevista bem intimista com autores convidados e tal. O espaço é todo de madeira, bem aconchegante. Se fosse descoberto e à beira mar, poderia dizer que se parece com um quiosque de praia, mas bem chique. Na sexta os convidados foram Marcelino Freire e João Filho. Este último não foi, trocou as datas, acontece. Ele vai estar lá novamente no dia 10, no Porto da Poesia. Meu amigo João, cabra retado, vou lá ver ele, espero. E não pude ver o Marcelino, porque quando cheguei lá já havia acabado o café e ele já havia ido embora. Justo ele que eu tava doido pra conhecer e tal. Mas tudo acontece por um motivo. Fiquei lá rodando, olhando uns livros, comprei um livro só e tal.

No sábado, o convidado do Café foi o Luiz Vilela. Contista dos melhores do país. Dessa vez fui com mais calma e antecedência, passeei mais, assisti ao Café, encontrei meu mestre Mayrant Gallo por lá e tal. Ele me deu uma preciosa dica de livros baratos e bons. Mas bons mesmo. Tipo, você procurando o livro em livrarias e na internet, o livro é 30, 40, 50 reais, estavam sendo vendidos a 10, 15 reais. Comprei alguns, claro. Além disso, o Mayrant ainda me deu um livro. O segundo que ele me dá.

Tirei fotos do café - que não ficaram muito boas - gostei muito do Vilela, mas nem pude falar com ele. Nem tive cara de pau, pra falar a verdade. Apesar de ele parecer muito gente boa.
Eis que acontece algo no mínimo curioso no sábado. O Marcelino, que eu tanto queria conhecer pessoalmente, estava sentado bem perto de mim no Café. E eu não vi. Entrei no Café depois que havia começado e entrei todo cabisbaixo e tal. Quem me disse isso foi o Mayrant. Imediatamente liguei pra ele, pra ver se ele ainda se encontrava por lá pela Bienal. Mas não. Gente boa que é, marcou comigo de eu passar no hotel que ele estava hospedado pra gente bater um papo. O hotel fica de frente pro Centro de Convenções, onde está acontecendo a Bienal. Fui lá ver o Marcelino.

E show de bola. O cara é fora de série. Conheci também sua amiga Adrienne Myrtes, que é editora do Cronópios. Muito gente boa também. Gente finíssima! (Puxo o saco mesmo porque é verdade.)
Lá no hotel, enquanto eles tomavam café, a gente conversava. E aí o Walcyr Carrasco - ele é o autor de "Alma gêmea", novela das 6 da Globo - apareceu pra tomar café também. E o Marcelino chamou ele pra sentar com a gente. Aí danou-se. Muita conversa, muita risada. Muito legal mesmo.

Do hotel, fomos dar uma passeada pela bienal. Rodamos por lá, o Marcelino - vejam só que cabra da peste! - me comprou o livro dele lançado há pouco tempo, "Contos negreiros" e me deu!
O Marcelino e a Adrienne foram embora e ficamos o Walcyr e eu rodando ainda um pouco por lá. Depois ele também foi almoçar e aí fiquei sozinho lá na Bienal. Aproveitei pra comprar os últimos livros que queria e voltar logo pra Feira.
Se eu fico lá, meu dinheiro ia todo embora. E eu tava morrendo de saudades de minha adorada Cássia também.
É bem provável que eu volte à Bienal sexta ou sábado novamente. Vai depender do que rolar nessa semana.
Abaixo a lista de livros que adquiri por lá:

Livro do desassossego (Volume 1) - Fernando Pessoa
Pedro Páramo & Chão em chamas (2 livros em uma edição, o primeiro é um romance, o segundo é de contos) - Juan Rulfo
Um cartão de Paris - Rubem Braga
Ai de ti, Copacabana - Rubem Braga
Os movimentos simulados - Fernando Sabino
Sobre o ofício do escritor - Arthur Schopenhauer
Cenas de uma vida - J.M. Coetzee
O estrangeiro - Albert Camus

Contos negreiros - Marcelino Freire (ele mesmo me deu)
O marcador de página - Sigismund Krzyzanowski (o Mayrant que me deu esse)

Pronto, cabei. Abraços!

Rafael Rodrigues


P.S.: O Walcyr Carrasco, pra quem não sabe, tem vários livros publicados. A maioria infantis. O mais recente dele é um de crônicas, "Pequenos delitos".

P.S.2: Faltou incluir na lista de livros um que foi adquirido especialmente para meu amor, Cássia: "A falta que ela me faz", Fernando Sabino. Preciso explicar algo?

Sinfonia

O céu ainda estava escuro, mas eles já estavam acordados e resolveram subir ao terraço do prédio para ver o nascer do sol.
Fazia frio, estavam abraçados. Iniciava-se aos poucos a sinfonia da cidade. Nasciam os primeiros ruídos e pouco depois despontava o sol.
Gostar de ver o nascer do dia era algo que tinham em comum. Quase todas as manhãs faziam aquilo. Quando não, acordavam para ver da janela, a chuva que caía lá fora.
Voltaram para o apartamento para dar prosseguimento à rotina. Banho, café da manhã, trabalho. À noite estariam novamente em casa.
Todas as noites eles jantavam juntos, conversavam sobre o dia que em breve terminaria, depois dormiam, para no dia seguinte tudo se repetir. Mas aquela noite seria diferente.
Dissera que iria jogar bola com o pessoal do trabalho, apenas para agradar o chefe. Ela não acreditou, afinal ele não fazia aquilo há tempos. Justificou dizendo que havia o boato de que seria promovido. Teria que ir de qualquer jeito. E saiu.
Ela ficou em casa, desconfiada. Mas não poderia fazer nada. Adormeceu.

Quando acordou, ele não estava a seu lado. Mas sabia que ele estivera em casa, suas roupas estavam logo ali à sua frente. Procurou-o nos diversos cômodos do apartamento e não o encontrou. No banheiro viu marcas e sentiu cheiro de sangue.
O dia amanhecia e iniciava-se a sinfonia da cidade. Foi ao terraço e lá estava ele: absorto, olhando para o céu. Esperava por ela.
- O que você fez? – Perguntou, aos prantos.
- Ele ainda teve a audácia de dizer que você me ama! Parece até brincadeira. Adeus.
Deixou seu revólver no chão e jogou-se dali. Ela pegou o revólver e voltou para o quarto chorando.
Depois daquele dia ela nunca mais assistiu o nascer do sol.


Rafael Rodrigues

sábado, setembro 03, 2005

Significados

A história é feita da vida. Nossa Vida. De sua essência enérgica que nasce dos homens, belos ou podres. Nosso passado, impávido colosso, agora enterrado nos livros.
Uma guerra foi travada por uma única mulher. E só foi cessada quando tudo calava-se ao chão. Uma pequena e simples palavra fez mudar o curso inteiro de uma nação. Uma guerra iniciada foi interrompida mais cedo pois as armas se perderam no caminho. Ele nunca a amou, pois nos planos do destino, ela não morreria antes no abismo.
Do verbo que tanto insisto, foi-se feito o homem. "Faça-se a luz" E acendeu a primeira lâmpida. Não só de recitais o mundo se moveu. Foi necessário a ação do barro sob nossos pés, das dores, e da espada proclamando a primeira republica... das bananas.

Pequeníssimos detalhes que somados ao uma equação milenar nos dá a nossa receita do que somos hoje. Pequenos acasos unificados que talvez fizeram o primeiro homem a falar, o segundo a gritar e o terceiro a berrar por silêncio de novo.

Um único ato que pode mudar tudo. Um minuto a mais poderá nós trazer o beijo da morte. Sete passos a frente a rainha dará o xeque mate. 20 segundos a menos e o queijo da pizza não se derreterá por completo. Detalhes que do Amor nasce a Morte.

Eu vi uma flor ceder a salvação que se perdeu enebriando-se pela vasta cor do oceano que vagava conforme a luz alourada do sol, voando como um inseto que pousa nos ombros de Mariana. Tudo isso em um piscar de olhos.

Tudo é valido. E apenas uns segundos a mais poderiam mudar o curso de nossas vidas. Viver talvez nunca foi tão precioso e impreciso.
Se a flor não brotasse na hora certa seu tempo não morreria nas mãos de uma salvação que, sem ver o sol, nunca pousaria nos ombros de Mariana. Que nada tinha a ver com o destino e nunca veria o inseto que pousou em seu ombro. Talvez só o coelho de Alice que passava por lá, atrasado, contando os segundos.

E do Tic Tac, frenético, o que se menos vê é o tempo. Que não tem receio em nos dar mais um segundo que mudará todo o rumo de nossas vidas.

Thiago Augusto

Humanidade

Eu não gosto das pessoas.
As pessoas me dão nojo. Se esbarram em você, não pedem desculpas. Se pisam no teu pé, acontece o mesmo. Entram num local e não dizem um mísero bom dia, boa tarde ou boa noite. Se você faz isso, poucos são aqueles que respondem.
Parece-me que as pessoas perderam o senso do ridículo. Elas gritam quando deveriam falar baixo. Jogam lixo no meio da rua, quando poderiam esperar encontrar um local apropriado para jogá-lo.
Elas vão te empurrando quando você entra no ônibus. Se você esbarra nelas e pede desculpas, te olham de cara feia e resmungam qualquer coisa de ruim.
As pessoas estão um saco.
A maioria delas. Uma pequena parte ainda resiste a tudo isso. São pessoas educadas e de bom senso, coisa rara hoje em dia.
Humanidade. É isso que anda faltando à maioria das pessoas.
Humanidade.

Rafael Rodrigues

sexta-feira, setembro 02, 2005

Frases

Das frases que aparecem livremente e ficam anotadas no caderno esperando seu uso:

"Chega de falso moralismo:
Ou você é puta ou você é santa, Caralho!"

"É facil dizer eu te amo,
dificil é manter a promessa."

"Quem deixa o peito aberto,
corre o risco de levar um tiro."

Thiago Augusto

quinta-feira, setembro 01, 2005

Dizendo adeus

Quando alguém lhe pergunta “o que você faria se o mundo acabasse amanhã?” geralmente a resposta é bem humorada, dita em tom de brincadeira. O fato é que nunca levamos a sério tal questão. Eu sei que tudo acabará amanhã, e isso não me torna melhor que ninguém. O mundo acabará amanhã, apenas, e isso não muda em nada o presente de minha vida. O que farei hoje? Bom, nada de extravagante. Seguirei minha rotina, como faço todos os dias. A diferença é que sei, de verdade, que será a última vez que verei este mundo com meus próprios olhos, que tocarei pessoas e objetos, que andarei por essas calçadas.
Depois de amanhã, nada mais terá serventia para mim. Eu poderia hoje matar alguém ou estuprar minha vizinha. Mas não. Jamais faria algo desse tipo.
Estou tranqüilo. Minha vida vem se deteriorando já faz algum tempo. O que acontecerá amanhã é apenas a coroação de um fracasso. Morrerei sem ter feito algo digno, algo que tenha realmente valido a pena.
Morrerei sozinho, pois não há alguém para estar comigo quando o momento chegar. Melhor assim. É deprimente morrer nos braços de alguém.
Triste. Muito triste.
Mas morrerei em paz. Apesar de não ter realizado coisas importantes, não fui um completo idiota. Minha vida foi vivida de maneira sóbria. Se a sorte não foi minha companheira, a mediocridade foi, no seu melhor sentido, minha melhor amiga.
Sou um homem mediano. Em tudo. Classe média, estatura mediana, nem inteligente nem idiota, nem gordo nem magro. Sou um medíocre, no fim das contas.
Espero não sujar o quarto. Colocarei um plástico por cima do tapete para evitar qualquer tipo de transtorno.
Gostaria de dizer obrigado a todos que algum dia fizeram algo por mim. E a quem não fez também, por que não?



Rafael Rodrigues