sábado, dezembro 31, 2005

Um brinde

Proponho um brinde a todos os que acompanham o blog, desde o começo ou não. Este é o primeiro ano que cruzamos juntos e esperamos todos que não seja o único, e sim o primeiro de muitos.

Foi nosso primeiro ano de blog - e nem doze meses de casa temos ainda. Aqui nós colocamos nossos escritos à prova e vocês foram e são os termômetro de nossos textos. Experimentamos, tentamos inovar, copiamos, tentamos copiar, nos copiaram, tentaram nos copiar. E fomos reconhecidos, porque não, já que estivemos estampados numa segunda-feira, dia 10 de outubro de 2005, no Jornal do Brasil, fato que jamais esqueceremos.

E tudo isso graças a vocês que lêem nossos textos e os comentam (ou não). O nosso muito obrigado pelo apoio de todos.

Um brinde a vocês e um feliz 2006!

* Em janeiro continuaremos com o nosso "Melhor de 3 Vozes", mas alguns inéditos serão postados também, portanto, ótima oportunidade para reler o que gostaram e ler o que ainda não viram.

3 Vozes

sexta-feira, dezembro 30, 2005

2003-04 (Uma crônica levemente inspirada sobre o Ano Novo)

Faltam menos de 3 horas para os fogos iluminarem a escuridão do novo dia. Mais um ano efêmero passa em nossas vidas, mais um ano quase perdido na mediocridade.
A hora é agora, de pegar sua taça de vinho, champanhe e se preparar para o velho ritual. O ritual falso e dissimulado do nascimento do novo ano.
A esperança conduz essa música, fé por dias melhores. O mundo absolve seus pecados e aguarda um novo sol, uma nova equação para verem seus problemas serem resolvidos. Suas vidas se tornarem felizes.
O ano muda. Você não. Há um ano atrás prometi para mim mesmo que faria tudo diferente. Me vendo agora, percebo que não mudei nem a desconfortável posição que sento, que prejudicará em um breve futuro minha coluna.
Vivendo cada misero dia com seus pequenos defeitos: A dormida a mais que você disse que não daria, o cuidado com sua casa que você não fez, o amor que quis amar que você não amou, a árvore que iria plantar em seu jardim que nem existe.
É quando você vê que um mês se passou e nada foi feito. É quando você sente que todos os dias são viciados, e não há dias exatos para mudanças. Elas precisam se encaixar no meio da sua rotina. Mas você já se complicou demais e esqueceu de coloca-la em sua agenda. Mas um ano se passa e nada mudou.
E quando a ultima noite de dezembro agoniza à alguns minutos do novo ano. A espera de dias melhores é explicita no coração. Uma alegria falsamente esperançosa preenche o coração daqueles que quase de nada vivem.
Como se dessa vez, o ano, que não trouxe nada em mudanças passadas, trará agora. Os olhares e as pessoas começam a brilhar, mas logo se apagam na primeira semana do ano que chegou. A esperança cessa como uma criança que cansa logo de seu novo brinquedo.
Se apegam em mudanças tão pequenas e esquecem que são inevitáveis. Não são nelas que devemos nos segurar. E sim em cada pessoa, perdoem o clichê, que fazem com que nossos dias sempre se tornem novos, mesmo que estejam monótonos, chatos, péssimos. São elas que nos farão diferente, e não um velho calendário frio que só nos envelhece.
Pro ano que vem eu quero meus amigos muito mais próximos de mim, não quero falsas esperanças, quero ver minha família diferente, torço para que certas pessoas não se percam, quero conhecer novas pessoas mas que seja para ser verdadeiro, quero continuar a sonhar.
Os amigos que me perdoem o clichê, mas nunca me senti tão esperançoso. E a culpa não é do ano que está vindo e sim de quem...

Thiago Augusto
(escrito horas antes da
passagem de 2003 para 2004)


quarta-feira, dezembro 28, 2005

Ultimamente têm passado muitos anos

“Ultimamente têm passado muitos anos”. Li isso em algum livro de Fernando Sabino, há muito tempo atrás. Se não me engano, quem a proferiu foi o grande Rubem Braga, exímio cronista e amigo de Sabido.

E não há melhor frase para ser dita ou reproduzida em finais de ano. Ultimamente têm passado muitos anos, e muito rápido. O ano novo está logo ali. Assim como estão logo ali os meses que se passaram. Uma sucessão de ontens. Sim, porque tudo parece ontem.

Gostaria de encontrar uma explicação para a passagem tão rápida do tempo. Não costumava ser assim quando era criança.

Naquele tempo, a véspera do natal parecia durar dias e dias. Depois da ceia com a família, saíamos para visitar mais de 300 mil pessoas. Tios, padrinhos, amigos de meus pais. Quase sempre saía da casa da visita com um presentinho na mão. Eu amava muito tudo isso.

E ficava acordado até altas horas da madrugada, ou abrindo presentes ou brincando com eles com meu primo.

Daí para o ano novo, os dias corriam normais, sem pressa.

No dia 31, mesmo roteiro. Comemorávamos em casa ou na casa de algum parente e depois saíamos para visitar os mais próximos. Eu, com meus 8 ou 9 anos de idade, só dormia às 6 da manhã, vendo nascer o sol do dia 01 de janeiro do ano que chegava.

Eram outros tempos. A vida era melhor, mais tranqüila. O mundo não era tão complicado. Existiam os mesmos males que existem hoje, claro, mas nada era tão globalizado, tão rápido, instantâneo. Eu era inocente. Ainda freqüentava a Igreja, acreditava em Papai Noel e na bondade dos homens.

Hoje é tudo muito rápido. As pessoas vêm e vão. Meu primo se casou e tem uma filhinha. A maioria dos amigos de meus pais foram morar em outras cidades. Todos se afastaram. Não que quiséssemos. O tempo se encarregou de fazer isso.

Na véspera do natal, nós ceamos, visitamos o pouco que sobrou da família e dos amigos – quando visitamos – e vou dormir cedo. No ano novo, geralmente discuto com meu pai por causa do show da virada – ele sempre quer assistir, comigo! – e eu quero dormir. Mas nada de muito grave, eu até dou muita risada.

Não ligo mais para 300 pessoas para desejar feliz natal nem feliz ano novo como fazia a até alguns anos atrás. É um ato tão insincero na maioria das vezes que prefiro me abster. Não sou mais inocente, há muito deixei de freqüentar a Igreja e a bondade dos homens pra mim é como ganhar na mega-sena.

Mas ainda acredito em Papai Noel.
Rafael Rodrigues

segunda-feira, dezembro 26, 2005

Enquanto escrevo...

Rafael Rodrigues-> http://3vozes.blogspot.com diz:
bosta
perdi totalmente o rumo da historia
tava ateh ficando legal
por isso q eh melhor escrever à mao
se eu tivesse no meu quarto trancado, fazia ele todinho agora

[-Th-] => "I sold my soul for the second time, cos the man, he don´t pay me" diz:
Todinho?
não sabia q vc fazia todinho
eh bem melhor q o nescau

Rafael Rodrigues-> http://3vozes.blogspot.com diz:
SEU IDIOTA
HUAHUAHUAHUAUHAHUUHAUHAUHAUHAA
TO RINDO AKE
kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

[-Th-] => "I sold my soul for the second time, cos the man, he don´t pay me" diz:
UAUAHAHAUHAA
mas todinho eh bem mais caro

Rafael Rodrigues-> http://3vozes.blogspot.com diz:
nao parei ainda
huahuahuahuauahuhuahuahuahua

[-Th-] => "I sold my soul for the second time, cos the man, he don´t pay me" diz:
um nescau de 1 litro eh 3 e poku o todinho eh 6

Rafael Rodrigues-> http://3vozes.blogspot.com diz:
KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK
VOCE TAH DIGITANDO ISSO SERIO?
UAHUAHUAUHAHUAHUAHUAHAHAHUHAHUAHHAA
MINHA BARRIGA TAH DOENDO
AH
parei

[-Th-] => "I sold my soul for the second time, cos the man, he don´t pay me" diz:
eu to
eh sério
eh bem mais caro

domingo, dezembro 25, 2005

O amor é um tumor

*Publicado originalmente em 12/05/2005


"Como nunca tenho certeza do que penso, não posso dizer se é invenção minha ou se vi isso em algum lugar, mas me parece que as sensações provocadas pelo que chamam de amor atuam de maneira parecida às de uma doença psíquica."*

Bem, na verdade não seria ter certeza do que penso. Trata-se de uma falha de memória. Todos estamos sujeitos a isso. Pode ser que eu tenha lido isso em algum lugar, ou visto alguém dando essa declaração. Ou eu mesmo formulei essa teoria e para não me comprometer acabei colocando a culpa em alguém.

Seja lá qual for a verdade, o que importa é que não seria de todo impossível isso ser verdade. Afinal, todas as nossas emoções são produzidas em algum lugar do cerébro. E, se algumas delas podem ser produzidas por alimentos (não é o chocolate que provoca sensação de prazer?) - por exemplo - por que o amor não poderia dividir o mesmo local do cerébro que é afetado quando alguém tem uma doença psíquica?
Ora, sabemos que o amor - que como tudo o que é abstrato não sabemos realmente o que é - transforma as pessoas. Para além do bem e do mal, parafraseando uma obra de Nietzsche.

Quando se está apaixonado - ou quando se está "amando" - geralmente ficamos aéreos. Pensa-se demais na pessoa "amada". Vai-se à escola, o professor dando aula e você pensando nela (ou nele). Fila do banco, chega a sua vez. Alguém tem que te avisar: "ei, é a sua vez". Enfim, "n" situações. Fica-se mais disposto. Você faz tudo com mais alegria.

Mas há o amor distorcido, que vira obsessão. Não fiz pesquisa sobre o assunto, mas pelo que já vi e vivi, arrisco dizer que tornam-se obcecados por alguém aqueles que são tímidos demais. Ou aqueles que por não ter sua paixão correspondida perdem a noção do que é certo e errado. Essas pessoas se comportam de maneira estranha e fazem coisas que em estado normal não fariam. Ligam várias vezes para a pessoa que "amam" e nada falam, começam a seguir seus "amores" impossíveis, chegando a cometer suicídio ou assassinato - muitas vezes os dois - por não ter seu desejo amoroso realizado.

Não tenho nada contra o amor. Quanto a ele sou bem resolvido. Eu me amo. Amo minha família, amo minha namorada, meus amigos. Mesmo sem saber com certeza o que é o "amor", "amo" segundo a convenção da sociedade e a definição do dicionário. Mas creio que o amor pode se tornar uma doença, assim como o ciúme. Não vejo motivo para dissociar amor de paixão. Para mim ambos são um. A mesma coisa. Dizem que a diferença entre um e outro é a duração. "A paixão é passageira". E amor também não passa? Como então um amor terminar de maneira traumática e tornar-se ódio? Amor é passageiro, pode ou não acabar com um dia, um ano, ou um século. Defendo a idéia de que o amor é uma doença. Pronto, melhor: o amor é um tumor. E ele pode ser maligno ou benigno.


* O primeiro parágrafo entre aspas foi retirado de uma conversa via MSN com minha amiga Crib Tanaka. Ela sugeriu utilizá-la em algum texto. E aí está.


Rafael Rodrigues

Final Feliz, Natal!

* Um poema sobre o natal que vale a pena ser lido.

neste natal
quando o menino jesus
acordar
e escovar os dentes
com ultra brite
tomar
banho com palmolive
servir-se
para o breakfast
com chá mate leão pão pullman
bolachas maria
procurar
a chave do chevette
ir
correndo para a kibon
onde trabalha

neste natal
quando o menino jesus
voltar para o almoço
e comer
fejoada bordon com arroz camil
e na sobremesa goibada cascão

ouvir robertinho do recife
fafá de belém

procurar
a chave do chevete
voltar
correndo para a kibon
e depois do expediente
passar
no bar
encontrar os amigos
e beber da costumeira 51
se atrasar para o jantar
(caldo verde knorr)

neste natal
quando ligar a t.v. mitsubishi
para assistir a plumas e paêtes
terá o menino jesus
crescido
e bêbado com o château duvalier
da última ceia
estará
à margem da vida
morto
crucificado
tendo como chagas
as 5 estrelas do cruzeiro do sul
indicando o caminho de belém

(viaje bem viaje vasp)


Luiz Vitor Martinello

sábado, dezembro 24, 2005

Natal ...

Sabe, é bonito compartilhar esse sentimento natalino. Eu imagino que alguém abriu uma caixa gigantesca de lápis de cor Faber Castell e saiu pintando todos os lados de brilho, cores, laços, traçando sorrisos nos rostos de cada pessoa só pelo prazer desta pequena celebração.

Pena que quando nasce o dia 26, cai uma imensa chuva no céu que faz toda essa pintura escorrer como se nada tivesse existido, fazendo o normal cair em nossas mãos de novo.

Talvez, celebramos tanto o natal, que esquecemos do significado dele. Mas triste é saber que tudo é assim. Com o tempo, tudo se torna tão comum, que parece mais só um amontoado de signos. Signos e carros de propaganda trafegando pela metrópole enchendo nossas ruas e nossos ouvidos com os velhos jingles de natal.

Cair no tradicional, dizendo que o natal é um momento de união, celebração, paz, é muito fácil. Pode ser autenticamente verdadeiro, mas anula uma essência muito maior.

Se querem saber, o natal deveria ser todos os dias, então. Pode parecer inocência de meus gestos, cobertos com um estigma de Super Homem, mas se em todos os outros dias fossem cobertos apenas com algumas leves pitadas de toda essa força que está presente, talvez os dias seriam bem mais apetitosos.

Essas cores, que desenham sorrisos, se atrevem a esboçar emoções, são sempre presentes, só nos resta pinta-las.

Talvez seja um clichê minhas próximas palavras - mas me disseram uma vez que a vida é cheia deles. Natal é também amor. E se, como disse um quarteto por aí, ele é tudo que precisamos, poderíamos experimentar e mergulhar muito mais sob ele.

Talvez todas essas palavras sejam gigantescamente tolas de minha parte. Mas o bom é saber que existem ainda homens de bem que acreditam e confiam nelas.


Feliz Natal a todos. E que ele não seja somente a neve desbotada estampada nas janelas dos filmes antigos.


Thiago Augusto
(23-12-05)

De uma vez

* Publicado originalmente em 02/05/2005

Eu podia tê-la deixado de várias maneiras. Mas não era uma atitude simples de ser tomada. Para mim é muito difícil. Teria de pensar muito.

Poderia me livrar dela de uma só vez. Sem demoras, sem rodeios. Poderia também fazer isso aos poucos. Levei algum tempo para tomar essa decisão.

Ela me fazia bem, gostava dela. Mas como tudo nessa vida, havia o outro lado. Ela me incomodava bastante.

Todos diziam que ela me deixara ao menos cinco anos mais velho. Pedi a opinião de meus amigos mais próximos. Uns disseram para eu continuar com ela. Outros diziam o contrário, que me livrasse logo dela.

De volta ao dilema.

Uma semana se passou. Eu a via todos os dias e não conseguia pensar em mais nada. Continuar ou não? Era só isso que me vinha à mente.

Numa sexta-feira à noite decidi: fazer essa barba de uma vez.


Rafael Rodrigues

quinta-feira, dezembro 22, 2005

Dia Cinzento

Publicado deusabequando.


Outra vez o dia está cinzento e da sua cama sente o cheiro de terra molhada que o faz retornar à sua alegre infância onde a ilusão da vida alegre e sem decepções o fazia acordar animado pra brincar com seus amigos, quando o maior problema eram as garotas os convidando para brincar de bonecas, mas isso não mudara mesmo, as garotas ainda eram problema, sendo que de outra forma e nada o convidava a sair da cama com aquele entusiasmo de antes.

Ligou seu celular para ver que horas eram e sua operadora, bastante eficaz no serviço de secretária eletrônica, mostrou suas novas mensagens de voz e quando este o ativou para ouvir as mensagens, surpresa, um amigo que há tempos não conversava o convidara para ir em sua casa e mais tarde na mensagem outra surpresa, precisava que este o ajudasse na decoração de sua cozinha, sua profissão falando mais alto, é claro... mas e o barulho no fundo? Parecia uma festa em sua casa, mais tarde ele explicaria que não o convidara porque sua ex-esposa estava lá e não queria provocar um “mal-estar”. Todos os seus “amigos” deveriam estar por lá, enquanto ele se contentava com uma solitária pizza assistindo a reprise do “Máscara” na televisão e mais tarde dois episódios da primeira temporada de “Friends”, enquanto do outro lado podia sentir o cheiro do peru e da alegria na família vizinha, que bela comemoração de Natal.


Rolou pro outro lado e foi dormir de novo, mas seu celular tocou e sua mãe precisava de vários favores porque estava com preguiça de dirigir e não pôde nem sua tristeza curtir em paz e já estava de volta na rua fazendo tudo para todos acumulando dentro de si o que mais tarde provocaria o estrago de uma bomba de destruição em massa.


Eduardo Leite

quarta-feira, dezembro 21, 2005

Castelo

* Postado originalmente em 15 de fevereiro de 2005

Quem começou com o primeiro tijolo? Quem disse não a todas as notas e esqueceu do trivial? As rosas do seu jardim têm mais perfume porque são do seu jardim?

Quem içou a ponte para ninguém entrar? E se negou a ver todo mal? Já que a maldade, a dor, a tristeza, a vida, as flores, não tem mais importância nesse castelo que você construiu...

Quem colocou os guardas na torre? Para matar quem chegasse perto.
- Pois em meu castelo ninguém vai entrar, construído com toda minha paixão. De meia volta, não quero resposta, que no meu castelo eu sou a luz, viu?

O sol ainda brilha toda manhã? Ou também acha que nisso pode mandar? Em sua alegria não pode perceber, o tanto, tal mal, que o castelo lhe faz. Lá fora o dia ainda pode brilhar.

- Mas o castelo brilha tão mais, viu?

Depois não diga que tudo que é seu morreu aqui, e não há mais o que guardar, e não vá esquecer que eu te avisei que esse castelo só te prendeu.
E o que antes vivo, hoje se perdeu, e do lado de fora, mais um dia nasceu...

- Fique, então, com seu castelo. Do lado de dentro, livre não está. De onde estou, só há liberdade. E não há construção que me cegue não, viu?

Thiago Augusto
(15/02/2005)

terça-feira, dezembro 20, 2005

Essa é boa

Rio escolhe campeão de air guitar

O Globo

RIO - Acontece neste sábado, na festa Loud, no Cine Íris, o terceiro campeonato carioca de air guitar. Nele, o concorrente toca uma guitarra imaginária ao som de uma música previamente escolhida. Ano passado, o campeão foi Chico Barbosa, que conquistou os jurados ao som de "Money talks", do AC/DC, completando sua performance com um arriscado mergulho na platéia. Chico garantiu que não vai defender seu título este ano. O vencedor do concurso vai ganhar uma guitarra de verdade

sábado, dezembro 17, 2005

Seria vergonhoso, se não fosse engraçado (na verdade, foi vergonhoso mesmo) - Parte Final

Todos estavam do lado de fora, para assistir aquele show. O aniversariante já estava em cima da caminhonete dançando com a stripper, o pai dele olhando tudo empolgadíssimo, o DJ da festa também conosco. Como tudo que é bom dura pouco, aparece a mãe do nosso colega acabando com a alegria de todos. O pai dele, que de bobo não tem nada, logo que viu a esposa, engrossou a voz e disse em alto e bom som: "ei rapaz, acabou a brincadeira".

Se o problema fosse somente isso, seria uma maravilha. Agora entra o pai da garota, citado dois parágrafos antes. Ele foi buscá-la e acabou vendo tudo. É claro, pensou que nosso amigo estava envolvido na brincadeira e quase o namoro dos dois vai por água abaixo por conta disso.

Começaram as discussões. Ele, irritadíssimo com a pagação que levara do recém-sogro, queria descontar sua raiva em todos. Exceto em mim, que sou muito amigo dele até hoje e tentava lhe acalmar. Briga de lá, briga de cá, um outro amigo que até então eu não citei que por sinal faz aniversário no mesmo dia que eu, e às vezes é um chorão, justamente como eu, caiu em prantos.

Eu também, claro.

Estávamos todos bêbados, e o choro serviu para que houvesse uma reconciliação geral. Depois das declarações de amor - sim, um dizendo que amava o outro, depois de uma discussão sem precedentes em toda a história da humanidade - fomos todos em busca de mais cervejas, direto da fonta, o freezer. Mas elas haviam acabado.

Foi um tal de jogar gelo em outro e querer jogar fulano, sicrano e eu, dentro do freezer que não está no gibi.

Depois de esfriarmos as cabeças, fomos para a boate. Eis que agora vem o vergonhoso.

Eu estava sob efeito de cerveja e uísque, em percentagens que até então não havia conhecido. Tentava dançar alguma coisa, não lembro o quê. A única coisa que lembro foi de quando embolei uma perna na outra e saí capengando do meio da boate até o canto em que estava o som do DJ.

Derrubou o som. A boate parou. O povo calou.

Vieram, preocupados, me socorrer. Mas estava tudo bem, o problema era o som. Arrumamos tudo de novo, e demos prosseguimento à festa. Voltei a dançar, com mais cuidado dessa vez. Não falávamos mais em nada, a não ser em como eu consegui fazer aquilo.

Até hoje, quando nos reunimos pra conversar, rimos muito, tentando entender minha proeza. Do resto, esquecemos.


Rafael Rodrigues

quinta-feira, dezembro 15, 2005

Tríade

Tossiu. Culpa da garganta levemente arranhada que odiava tanto. Seu humor não era dos melhores, quem o conhecia sabia o quanto isso o incomodava.
Vestia suas roupas de sempre, nada de extravagante ou ridículo. Chegou depois de meia hora de caminhada. Se aproximou da porta e bateu três vezes compassadas com os nós dos dedos. Esperou.
Do lado de dentro, Rafael não precisava saber quem era, a volta já era esperada. Foi em direção à porta. No caminho falou para Eduardo, "reunidos novamente, acredito".
Ao abrir a porta, sorriu. Os amigos se abraçaram calorosamente. "Seja bem vindo de volta, meu caro". Eduardo chegou logo depois, estava com um livro nas mãos que logo foi deixado de lado, ao perceber quem havia chegado. Repetiu o mesmo ritual feito por Rafael. O amigo olhou para os dois, sem pronunciar nenhuma palavra. Ergueu um de seus braços, com dedo em riste, e soltou suas primeiras palavras em um ritmo cômico: "Eu voltei, agora pra ficar, porque aqui, aqui é o meu lugar". E os três amigos riram. E logo sentaram-se para mais uma conversa.

"É bom estar de volta. Acredito que esse tempo longe das capitais fez bem para mim". Passara um mês fora, e agora as vozes estavam reunidas novamente. Havia uma nova sensação no ar, como se já houvesse sinais dos novos tempos.
"Conseguiu o que queria com isso?", perguntou Rafael servindo lhe uma xícara de café. "Para dizer a verdade, meus caros, teria de responder com uma meia resposta: sim e não. Me desliguei um pouco das minhas palavras para dar um mergulho na minha própria vida. Assim tudo ganha mais intensidade. Conheci novas pessoas. Algumas em especial, que me deram novos ares, até para algumas poucas palavras que escrevi nesse entreato. Mas, ao mesmo tempo, bebi de fontes muito amargas que me deixaram desconfortável".
Nada era melhor do que a volta para casa, depois de tempos longe dela. Parecia tolo, mas cada vício daquele lugar era um conforto pessoal. As folhas do calendário passaram muito rápido nessa jornada. E o tempo não pararia um segundo para qualquer um deles pensar em tudo que lhes havia ocorrido naquele ano.
"Acostume-se com isso. Por mais tentemos de certa forma fugir das dores, sempre encontramos espinhos que perfuram nossa mão. Mas espero que todas minhas palavras tenham lhe servido de ajuda para a sua busca".
"Sim, Dudu. Tanto suas palavras como as do Rafael me serviram em diversas horas. Por isso que volto com uma imensa vontade de continuar de onde paramos e prosseguirmos imediatamente. Talvez eu ache que já perdemos tempo demais aqui".
Rafael bateu as mãos, aquecendo-as. Abriu um velho caderno, retirou uma caneta do bolso e disse: "mãos a obra então, senhores?"
Eles estavam juntos novamente. As três vozes reunidas naquela sala, construindo sonhos que começariam naquele velho pedaço de papel. Às vezes, paravam para uma xícara de café ou para rir de piadas estúpidas que nascem com a convivência. Mas logo voltavam aos seus planos.

Um ano já havia se passado desde que se conheceram. Ano que agora agonizava seu fim. Um ano de desventuras e amores. Milhares de histórias contadas por aquelas mãos. Histórias que cruzavam ou não a fina linha entre o real e o imaginário. Palavras expostas para quem quisesse ler. Ora contando uma simples história, ora querendo ferir o leitor como quem os machucou.

Quando o relógio virou meia noite, eles brindaram. Um ano, diziam. Aquele tinha sido o melhor ano de suas vidas. Naqueles sorrisos, o que estava escondido, era uma estranha sensação guardada no fundo do coração. Onde eles já se atreviam a imaginar o futuro. Tinham uma leve sensação de que tudo que estava por vir seria melhor ainda.

Eduardo, Rafael e Thiago tomaram um dos maiores porres de suas vidas naquela noite. Mas pouco se importavam com a ressaca do dia seguinte. Sabiam que muito em breve, as anotações daquele papel seriam, por fim, construídas. A Tríade estava de novo formada e voltaria quando tudo estivesse em seu lugar.

Thiago Augusto
(11-12-05)

quarta-feira, dezembro 14, 2005

Seria vergonhoso, se não fosse engraçado (na verdade, foi vergonhoso mesmo) - Parte I

* Post inspirado no blog de Saulo Szinkaruk, o Mujique -> www.insanus.org/mujique


Deveria ser um dia de festa, aniversário de 18 anos de um colega com uma situação financeira bem confortável. Ou seja, "festa de arromba".

Iríamos todos da sala, praticamente. Estávamos no 3º ano do colégio e, para nós, tudo era festa. Era o último ano que teríamos juntos. Depois, cada um iria pro seu lado, como de fato aconteceu. Poucos mantiveram contato.

Sempre que saíamos juntos falávamos na despedida, no dia em que nosso ano letivo teria fim, nos vestibulares que faríamos e nas amizades que durariam eternamente. Acontece que palavras ditas regadas à cerveja podem ter a graça de uma boa notícia e a infelicidade de um mal entendido. Foi o que aconteceu naquele dia.

Enquanto tomávamos uísque 12 anos e cerveja que desce redondo, um de nós propôs: "vamos chamar uma stripper". Não com essas palavras, claro.

Todos concordamos imediatamente. O plano era o seguinte: fazer uma surpresa nossa para o aniversariante. Ela não entraria no espaço que a família dele alugara, faria o striptease na carroceria de uma caminhonete. Seria tudo discreto, só nós saberíamos disso.

Bem, esse ERA o plano.

Recolhemos o dinheiro, e apareceu o primeiro entrave: um de nossos amigos, que estava acompanhado de sua namorada, não concordou. Tentarei ser o mais sucinto possível: ele conseguira a muito custo que o sogro a liberasse para ir a essa festa. O pai dela é bem conservador. Eles passaram quase dois anos namorando escondidos por causa disso, só a mãe dela sabia.

Mesmo sem sua bênção, chamamos a stripper.


Rafael Rodrigues

terça-feira, dezembro 13, 2005

Get Back

Aquela simples ausência, onde tudo que pode ser feito é deixar as mãos nos bolsos. Um dia depois de caminhar no infinito, quando vem o choro sem motivo.
Tudo, ao mesmo tempo, agora. Confuso. Pelas palavras, sentimentos, mentiras no equilíbrio da verdade. O silêncio que precisa ser transformado em grito. Às vezes é necessário se ver de longe, para ficar mais perto.

Corri por diversas vezes, deixei o amor no meio fio só para descobrir sua essência. Perdi o fôlego mergulhando infindos mares em busca da pérola que me revelasse a verdade suprema. Fui inimigo de mim mesmo e quase me prendi numa dolorosa camisa de força.

Mas sempre há o sol e a hora de voltar. E estou aqui, presente, de novo. Retornando com breves palavras à minha casa. Completando essa equação de três incógnitas chamada 3 Vozes.

Parti sem explicação nenhuma, cresci em todo esse tempo. O querido amigo Eduardo sabe que é difícil visualizar nosso passado para compreender o futuro. E o grande Rafael compreende que há horas que tudo parece ser tão pouco.

É visitando e revendo esse passado, nesse maravilhoso e vasto ano que nos aconteceu. Que volto a escrever minhas palavras no 3 Vozes. E anuncio que aproveitaremos esse mês de dezembro e janeiro para recordarmos a nossa história.

Uma breve seleção de nossos melhores textos, recontados novamente. Ao amigo leitor que as perdeu entre tantas memórias. Aos velhos companheiros que sabem que algumas histórias têm um sabor ainda melhor quando relidas. A nós mesmos por admirar nosso passado e ter força de irmos muito além no futuro.

Vale lembrar que entre tanta bagagem do passado, também teremos algumas novas histórias para vocês.

Agradeço imensamente o amigo Victor Caparica por aceitar meu convite, preencher meu espaço ausente e nos brindar com textos belíssimos.

E finalmente aos nossos leitores, meu maior agradecimento por sua leitura. Pela nossa cumplicidade adquirida durante todo esse ano. Muito Obrigado. Àqueles que se emocionam com nossas palavras, se sentem como nossas personagens e nos ajudam a sempre escrever ainda mais. Se possível, peço, para sempre que puder, divulgar, se gostarem, nosso querido endereço.

Para o ano que vem, além das imprevisíveis listas de resoluções do ano novo, traremos na bagagem muitas e novas surpresas. Nosso descanso será regado de planos em construção e muitas idéias.

E por fim, finalizo minhas palavras. Apresento no dia 15 um último texto escrito. Que não anula, de forma alguma, eventuais histórias que poderão surgir de repente em um dia ensolarado.


Um grande abraço a todos.

Muito Obrigado,

e é bom estar em casa,

Thiago Augusto

segunda-feira, dezembro 12, 2005

1 ano de nós 2

* Texto a ser publicado essa semana no site www.simplicissimo.com.br. Por conta da ocasião especialíssima, vocês terão acesso a ele com alguma antecedência.

O texto dessa semana não é uma crônica, ou um conto. Muito menos um poema. São palavras reunidas com um objetivo, talvez dois. Um deles é o seguinte: dividir com vocês um pouco de minha alegria, já que esta semana minha namorada e eu comemoramos 1 ano de nós 2. O outro eu não sei.

Se eu contar pra vocês que nesses 12 meses nós não tivemos uma briga sequer, vocês acreditam? Pois acreditem.

Mas isso, vocês me diriam, não tem nada de mais. Afinal, casais não devem mesmo brigar, discutir. Devem é se amar, respeitar e sim, beijar. Beijar muito.

Isso a gente fez.

E partilhar de momentos bons e ruins.
E falar besteiras juntos.
E um ajudar o outro nas atividades da universidade.
E deixar um repousar sobre o ombro do outro, sem dizer palavra, pois o cansaço de uma semana corrida vencera um dos dois. Ou ambos.
E fazer o possível para incentivar o outro, mesmo quando as dificuldades são bem maiores do que parecem ser.
E enxugar as lágrimas que ora derramam dos olhos de um, ora derramam dos olhos do outro.
E agüentar os pormenores de cada um, pois ninguém é perfeito. Muito menos eu.
E muitas coisas mais, que todos os casais devem fazer.

Além de comemorar sempre os aniversários de namoro. Não precisa jantar à luz de velas, não precisa ir a alguma festa, ou ir ao cinema. Pode-se fazer tudo isso, mas apenas o fato de estarem juntos, ou no sofá assistindo a um dvd, ou na rede olhando para o céu de algumas estrelas, já basta. O importante é estarem juntos. Não importa onde, não importa como.

E eu fico por aqui. Parabéns para nós!

(Com a licença do egoísmo.)

Rafael Rodrigues

domingo, dezembro 11, 2005

Sônia - Parte Final


Sônia voltou para o albergue e resolveu deitar um pouco e pensar sobre o assunto, estava a considerar coisas que não faziam parte de sua rotina e ética de trabalho. Mesmo sabendo que o não questionar e trabalhar pela eficiência, pelo seu nome, era uma questão de sobrevivência, ela pensou se gostaria de ser somente mais uma engrenagem na imensa máquina alienatória que movimenta o mundo ou resolver ser uma dissidente, pela primeira vez fazer alguma diferença e contribuir para alguma coisa que não fosse sua obsessão na perfeição e sucesso.

Jesus caminhava em direção a uma multidão para ensinar, quando se depara com Sônia, o homem barbudo com olhos piedosos se ajoelha e implora, “Deixe-me existir, dependo de você para continuar no coração das pessoas e para que o caos não se apodere do mundo, continue matando em troca de dinheiro, mas deixe-me viver, você vai pro céu por isso!”. Assustada, Sônia levantou-se da cama e percebeu-se no albergue. Paul que estava a inspecionar uma goteira no quarto de Sônia, provavelmente oriundo de um encanamento velho, virou-se para ela: “Você perdeu o café da manhã, mas acho que a Sra Marlow não se importará de arrumar-lhe uns biscoitos e um copo de leite.”. Ainda desnorteada, Sônia sacou sua Glock e apontou para o homem: “Feche a porta lentamente e aproxime-se, qualquer movimento brusco e seu cérebro vai decorar a parede! Fui paga pra isso, mas vou dar-lhe uma chance de me convencer do contrário.” e com os olhos esbugalhados e tremendo como se fosse possuído pelo mal de Parkinson em último estágio, Paul aproximou-se dela, engoliu no seco e disse: “Não poderão enganar a todos por todo tempo, uma hora a máscara irá cair e não será preciso que um arqueólogo o faça, o Papa nazista vai se encarregar de expulsar todos da Igreja Mãe e os negociadores evangélicos expulsarão os outros, é uma questão de tempo! Atire se quiser, um dia meu nome será mais inabalável que o do próprio construtor da Igreja.” fechou os olhos e ajoelhou-se preparando-se para o tiro.

A assassina disparou o golpe e quando Paulo deu por si estava dentro de um ambiente estranho, amarrado e amordaçado com seu algoz diante de si, perdida em pensamentos. Sentiu o gosto de sangue na boca e perguntou-se por que ainda estaria vivo, com certeza ela queria algo e enquanto ele pudesse suprir esse desejo, manter-se-ia vivo. Posicionou-se na parede atrás de si e encarou-a com um olhar penetrante, questionador, mas não mais que o dela.

Sônia levantou-se de seu estado contemplativo e caminhou em direção a Paulo, olhou-o por um momento e quebrou o silêncio: “Fui contratada para matá-lo, pela primeira vez eu estou exitando, pois admiro seu trabalho, mas não posso deixar de fazer o que fui contratada para fazer, entende?”; não, ele não entendia e por isso a olhava com os olhos vidrados, mas ela continuou: “Você pretende revolucionar o mundo Paulo e quebrar a máscara de milhares de idiotas que envenenam nossas crianças com datas especiais em Dezembro e Abril, que reprimem e maltratam nossas mulheres e condenam o melhor dos nossos instintos básicos, o sexo. Acho que você está fazendo algo bom e isso prejudica meu discernimento, me faz vacilar com a arma em punho, mas eu sei que o mundo perdeu o sentido pra mim faz anos, hoje não me importo muito com o que vai acontecer com o resto das pessoas, elas não se importam comigo mesmo.” ela fez uma pausa e respirou, seus olhos outrora marejados, voltaram à frieza inicial “Só queria lhe dizer que o admiro Paulo, muito, e sinto muito.”.

Sônia recebeu seu dinheiro e deu o endereço da lápide de seu último serviço para o seu contratador, avisou sobre a carbonização dos ossos, quis fazer de conta que fora um acidente e por isso tocou fogo na casa com ele dentro, desmaiado, sem cordas, sem tiros. O empregador deu um sorriso e entregou-a uma pequena maleta, “Este é um adicional pela discrição, a Maçonaria agradece seus serviços e espera contar com você novamente!” disse o homem estendendo mais dinheiro para a assassina, “Obrigada, mas este foi meu último serviço religioso.” ela respondeu enquanto pegava a maleta e pensava que era melhor que ele não desconfiasse que ela sabia de seu segredo.

Cinco anos se passaram, algumas mortes misteriosas aconteceram no alto clero da Igreja Católica, investigadores foram colocados no encalço de um possível assassino, apesar de poucas provas conclusivas, A Santa Igreja temia por seus membros e passou a retrair-se cada vez mais e nada fez quando surgiu um novo achado de um pesquisador no Norte da África, ele e sua assistente haviam achado documentos que provariam que Cristo não passara de um mito inventado por seus apóstolos.

Eduardo Leite

sábado, dezembro 10, 2005

E eu esqueci de avisar...

Putz! Siguinte: eu fiz a resenha do livro de contos "O livro dos homens" (Cosac Naify, 2004, 176 págs), de Ronaldo Correia de Brito, escritor genial e super gente boa nascido no Ceará e que hoje mora no Recife.

Eu também fiz uma entrevista com o Ronaldo Correia de Brito.

Além disso, resenhei o "Contos Negreiros" do caramigo Marcelino Freire.

Tudo isso pra Cortiça. Não tudo de vez, claro. Fomos colocando lá e esqueci de avisar aqui. Acho...

Tudo isso vocês podem ler acessando www.cortica.org e clicando em "Matérias".

Abraços!

Rafael

sexta-feira, dezembro 09, 2005

Por trás de um motoboy II - O retorno do Jedi

Agradeço a Deus por não ser um daqueles caras que estão sempre envolvidos em algum tipo de história maluca. Acho que depois dessa, só tenho mais uma pra contar. Acho.

Se bem que essa não é uma "história maluca". É, talvez, engraçada. Bobinha.

Estava eu indo para a casa de minha namorada à bordo de um motoboy. Em meio a falta de opções, tive de pegar um desconhecido.

Ele começou a puxar conversa, disse que havia entrado água no tanque de gasolina, e isso estava fazendo com que ela "morresse" de vez em quando. Falava isso enquanto dirigia por um caminho que eu nunca passara antes. Uma estrada de terra deserta e sem iluminação.

Lembrei nessa mesma hora de histórias que ouvira de pessoas que foram mortas por motoboys. Sim, assassinadas. Justamente aqui na cidade. Daria pra fazer um "Linha Direta" sobre isso.

Enfim, eu já estava preparado pra, no caso de a moto parar, eu correr feito um doido. Sou bem magro, a exemplo dos quenianos campões de todas as maratonas já feitas na face da Terra ou fora dela, e isso deveria me dar alguma vantagem.

Felizmente foi só mais um devaneio de uma mente que só é criativa em horas impróprias. Cheguei são e salvo à casa de minha amada. Podem perguntar a ela...



Rafael Rodrigues

quarta-feira, dezembro 07, 2005

Eu sei

Eu sei tudo que você vai dizer. Que eu confundi as coisas, que o que você sente por mim é afeto. Que nossa amizade é muito importante para você e que gosta de mim de uma forma diferente e especial. Eu sei perfeitamente que você não vai ficar comigo, que eu não vou beijar você e que eventualmente vou desenvolver uma úlcera ou coisa pior, por te ver com outro cara.

Mas pelo menos me deixa fingir. Me deixa achar, ainda que delirantemente, que tenho você. Deixa eu te olhar caminhando e pensar que vem em minha direção. Deixa eu acreditar que você não me beija porque tem vergonha das pessoas, não porque não me quer. Deixa eu me deitar na cama no escuro, pensar que você está deitada ao meu lado. Me deixa pelo menos abraçar o travesseiro e dizer boa noite, como se fosse para você. Me deixa dormir e sonhar com você ao meu lado, rindo e me abraçando. Deixa eu acordar e ficar de olhos fechados na cama achando que você está a poucos centímetros dormindo. Quando eu abrir os olhos e não te ver, deixa eu crer que você levantou mais cedo e já saiu.

Me prive de você, mas não de sua memória. Porque viver sem ter sua boca é uma dor aguda e latejante, mas viver sem sonhar com eles é ter o corpo inteiro dormente e insensível, sem vida. Eu consigo aceitar que você não quer estar comigo mas, por favor, aceite que pelo menos em minha imaginação eu te dê tudo que tenho. Porque se você pode viver sem receber meu beijo, eu não posso viver sem dá-los, mesmo que a uma mentira.

Porque eu prefiro a mentira dos seus lábios do que a verdade do seu desprezo.

Victor Caparica tem 24 anos, é escritor, cronista, aluno da Faculdade de Ciências e Letras da UNESP e, quando fala sozinho, nem sempre está falando consigo.

terça-feira, dezembro 06, 2005

Por trás de um motoboy

Não sei como são chamados esses profissionais autônomos que fazem entregas de encomendas e transporte de pessoas à bordo de motocicletas em outros locais do Brasil. Não deve ser muito diferente daqui, da Bahia. "Motoboy" ou "mototáxi". Espero que só existam essas duas variações. Mais que isso é um desperdício de letras, além de um excesso de criatividade dispensável.

Não é aconselhável andar com qualquer motoqueiro. Para falar em tragédia, uma ex-colega minha de trabalho (ela continua na empresa, eu não) estava na garupa de um deles pensando que chegaria em casa logo, pois seu filho precisava de cuidados - ele é uma criancinha ainda - quando em poucos segundos tudo acontece e ela está no chão - felizmente não muito machucada, mas teve de passar bons 15 dias de atestado. O motoboy, todo coberto, não teve mais que uns poucos arranhões, e um senhor está estirado, morto, no meio da avenida. O motoqueiro se mandou, óbvio.

Essa e muitas outras histórias me fazem pensar duas vezes antes de pegar um motoboy, sobretudo de dia, quando o movimento nas ruas é bem maior.

É à noite que faço mais uso deles, mas apenas de conhecidos. Geralmente com o mesmo cara, sempre. Que já virou amigo, pode-se dizer. Vira e mexe está levando algo a pedido de minha mãe, ou até ela própria, justo ela que tem trauma de moto - sofreu um acidente quando tinha minha idade, mais ou menos.

Um dia desses hoje precisei chegar correndo num lugar e não tive escolha: tive de pegar um motoboy. Acabei indo no mesmo ponto em que minha colega havia ido no fatídico dia do acidente.

Estavam dois parados. Um mais jovem e um que aparentava uns 35 anos. O mais novo saiu para outra corrida. Achei bem melhor, pois aquele "senhor" deveria ser mais prudente, não iria correr tanto. E eu estava certo. Não fosse por um detalhe: ou ele é barbeiro ou estava praticamente dormindo na moto.

Ao dobrar uma esquina meu joelho passou raspando por um poste. Perto do local onde eu iria "desembarcar", ele passou tão perto de um carro que meu pé quase foi esmagado.

Exageros à parte, está tudo bem comigo. Com ele também, espero. Porque do jeito que ele estava, nunca se sabe...



Rafael Rodrigues

segunda-feira, dezembro 05, 2005

Lição do Antonio Saraiva

Nem todo conselho é bom.
Nem todo automóvel é táxi.
Nem todo sopro é de sax.
Nem todo filé é mignon.
Nem toda arte é um dom.
Nem todo voto é secreto.
Nem todo amigo é discreto.
Nem todo batuque é samba.
Nem toda casa é de bamba.
Nem todo malandro é esperto.


Victor Caparica tem 24 anos, é cronista, aluno da Faculdade de Ciências e Letras da UNESP, e gosta para burro dessa música.

Uma boa compra

Hoje fui ao shopping que trabalhava para conhecer a filial das Lojas Americanas recém inaugurada aqui na cidade.

Mas não fui apenas com essa intenção. Na verdade, o que fui fazer lá foi comprar os ingressos pro show do Capital Inicial aqui na cidade dia 11 de dezembro. Domingo que vem, portanto. Véspera do dia em que Cássia e eu faremos 1 ano de namoro :)

Voltemos ao primeiro parágrafo. Passei nas Americanas. Fui direto à seção de cds e dvds, óbvio. Não sem antes passar pela pequenina estante de livros em promoção (R$ 9,90 qualquer título). Vi pouca coisa interessante. Nada digno de se levar logo. Mas acabei comprando um: "Razões para Bater Num Sujeito de Óculos", de Eugênio Mohallem (Planeta, 2004, 157 págs.). É um livro de frases. O autor é publicitário e fez algumas frases para os brinquedos Estrela, para as sandálias Havaianas e mais algumas empresas que não lembro agora e nem posso pegar o livro pra falar pra vocês, pois ele está no quarto de minha mãe e ela está dormindo.

Li o livro em meia hora, mais ou menos.

A razão de tê-lo comprado é que estou tentando entrar nesse tal mercado publicitário como redator de uma agência de publicidade. Mas falarei sobre isso no próximo post. Ou não.

Tempo também que dura o cd "João Voz e Violão", do João Gilberto. Trinta minutinhos do mestre cantando baixinho e acariciando o violão. Uma beleza! E a míseros R$ 9,99.

E ainda não ouvi o "The essential of" do The Clash, que vi por lá a R$ 14,99 e não poderia deixar de comprar. Ora, pois! Cd duplo, do Clash, 14,99. Mais que obrigação minha. O cd é lindo, o encarte tem algumas (poucas, infelizmente) fotos da banda em preto e branco e um resumo da história deles em inglês. Bruce Dickinson (deve existir apenas um, e esse que existe é o vocal do Iron Maiden) foi quem produziu o cd.

E tinha mais um monte de coisa por lá, mas não tinha nem grana pra comprar mais nem barriga que aguentasse, pois saí de casa sem almoçar e a fome já estava batendo na porta.

Bom, é isso.
Abraços procês!


Rafael Rodrigues

quinta-feira, dezembro 01, 2005

Semente de Cânhamo

Verde e efusivo, o aroma das relvas adentra as narinas. O tempo se contrai e a noção do tempo se dilata. Instante a instante, em um lento e entorpecente processo, o odor se torna um com os pulmões. O mundo muda em minutos que mais parecem segundos.

A música não é mais nem menos música, é outra música. A luz não brilha mais nem menos, mas brilha de outra forma. Os cheiros não ficam mais fortes, mas causam outras sensações. O vinho não azeda ou adoça, mas seu sabor é único. Mas a palavra - ah, a palavra - esta sim se torna mais poderosa.

A palavra, que nos passa desapercebida a cada segundo, a cada dia, ganha vida. Não a palavra em si, porque a palavra não é senão imagens sonoras em nossa mente. O que se amplia é o significado que atribuímos à mesma. Bola é uma palavra bastante simples: uma bilabial surda e uma líquida aberta. Mas o universo que se abre na mente quando a imagem sonora da bola se forma na mente é infinito. É possível observar palavras como paralelepípedo e desconstruí-las com a naturalidade de quem a criou. Paralelos. Paralelas. Parabólicas. Paranomásias. Paralelo e paranomásia são paranomásias. Então há uma metaparanomásia.

Seria a palavra uma metáfora da própria palavra? As idéias se misturam e um dilúvio de pensamentos e divagações toma a lógica dos paralelepípedos. Em alguns segundos tudo terá desaparecido. Tão rápido como um fósforo sendo aceso ao meu lado. Tão logo a chama prenda minha atenção e me atire em uma superfilosofia a respeito da chama.

O odor vai se tornando suave e, ao tornar-se suave, volta a ser perceptível. O aroma verde da relva abandona os pulmões e o tempo retoma seu fluxo natural. O olhar se desvia para as ruas enquanto um cigarro é aceso. O sabor é o mesmo de sempre. As luzes são as mesmas de sempre. O mundo volta ao normal. A boca, expelindo fumaça e nicotina, está sedenta. Sedenta de água. Sedenta por palavras. Mas todas as palavras parecem iguais. Tudo é cinzento como a realidade.

A realidade é imprescindível. Sem ela, não há valor algum no êxtase. Sono. Vou dormir.

Victor Caparica tem 24 anos, é cronista, aluno da Faculdade de Ciências e Letras da UNESP, e acredita que projeção mental se trata de mais do que ser louco.