terça-feira, fevereiro 28, 2006

Neurose Coletiva

Queria ter escrito antes sobre o lamentável tumulto ocorrido em Gaza, mas os deveres de um estudante medíocre desempregado para sobreviver numa cidade de 13º mundo(note o 13, número de azar) me impediu de fazê-lo antes.

Estudando Psicologia do Desenvolvimento I, matéria que se presta a nos inserir no mundo infantil e fazer reviver esta experiência através do ponto de vista das mesmas, vemos o quão se mostra importante as ilusões, o quão saudável pode ser o mundo das histórias...

domingo, fevereiro 26, 2006

Voltamos

Sempre chega a hora de voltar das férias. Guardar os chinelos nos armários, fechar a cadeira da praia, tirar a preguiça do corpo, voltar. Depois de um longo periodo de férias, as 3 Vozes voltam à ativa. Postando novos escritos.

Descansar foi muito bom. Mas não ficamos parados. De dezembro para cá escrevemos, lemos, experimentamos, vivemos. Do tempo que não pára, acreditamos que pudemos tirar ao menos um pouco. E talvez isso reflita nos nossos textos futuros como mais um pouco de nossa conquista literária.

É com grande prazer que abrimos de novo nossas cortinas aos senhores e senhoras. Eduardo, Rafael e Thiago estão de volta trazendo consigo boas novas e novos textos. Com esperança e com olhares desconfiados pelos cantos desse admirável mundo que nos cerca. Prontos para contar novas histórias.

Deixem a imprenssa correr o seu jornal por enquanto, não é preciso parar as maquinas. Mas as vozes voltaram.

Geografia

Acho que o motivo de ser do texto que escrevo nesse momento é sentimento de inferiorização e estou tomando o segundo método de resolução deste problema interno, o primeiro seria a negação e o terceiro a autopiedade; neste momento achei por bem exorcizar meus demônios no teclado.

Nasci em um país injusto, não um pouco injusto, bastante injusto e que, com certeza todos que têm o mínimo de curiosidade e paciência comprar um jornal e realmente ler conhecem de cor e salteado as freqüêntes notícias sobre o problema da exploração do menor, a fome, a seca, e o problema base para a estagnação de todos nessa situação deplorável que inclusive trata-se de um dado até um pouco recente: o... [Clique para ler o texto na íntegra]

Via Crucis

É passado. Relíquia de outra estação, já foi moda estampada nos jornais. Hoje não passa de anuncio das revistas já extintas. Hoje é uma lembrança que os pais contam com emoção.
Havia de verdade um tempo onde existia o amor. Mas hoje, nem se fala mais nele. Está em cada esquina dos becos das prostitutas. Todas recebendo nomes carinhosos para algo já crucificado há muito tempo. [Clique para ler o texto na íntegra.]

O caso Katilce

Segunda-feira (20/02/2006), show do U2 no estádio do Morumbi, em São Paulo. São mais ou menos 23:30, e Bono Vox, vocalista da banda, convida uma garota para subir no palco e lhe fazer companhia enquanto canta "With or without you", talvez a mais romântica das canções da banda.

Os fãs do quarteto irlândes já estão acostumados a assistir tal cena. Na turnê "Pop-Mart", em 1998, no Rio de Janeiro, Bono fez o mesmo... [Clique para ler o texto na íntegra.]

segunda-feira, fevereiro 20, 2006

Carta de um suicida

* Postado originalmente em 13/09/2005


O que dizer a vocês amigos?

Sinto-me perdido e covarde, talvez pela concepção geral de que isso é uma fuga, um não querer enfrentar os fatos e dar a volta por cima. Não concordo muito com essa concepção, o que dizer dos etíopes? São covardes, burros e preguiçosos por morrerem de aids e inanição? Será que do mesmo jeito que se alimenta o corpo com proteínas, vitaminas sais e água também não devemos alimentar a mente pra que não morramos por dentro e apenas completemos o processo com o corpo?

É, eu morri por dentro. Por favor, não se sintam culpados, não havia nada que vocês poderiam ter feito pra me ajudar, e talvez até tentassem se eu desabafasse com alguém minha intenção de fazer o que devo ter feito já que estão lendo minha despedida.

Várias coisas me mataram aos poucos por dentro, consumiram minha vontade de tentar. As coisas muitas vezes dão errado e aquela história de que “Deus sabe o que faz” ajuda por um tempo, engana um pouco a gente e faz com que tenhamos a esperança que um dia as coisas vão mudar de figura, que vai pra frente, mas às vezes não vai, essa desculpa ficou tão vazia pra mim quanto o conceito de Deus, ou ele está em algum universo paralelo ou está muito alto lá em cima que meus soluços e gritos por clemência não conseguiram acordá-lo.

Por dentro jaz o que outrora foi um sonhador, visionário, otimista e desafiador. Simplesmente acomodei-me com a dor, lutar só a aumentava, parar de me debater poupou o mínimo para que eu tivesse uns poucos momentos de satisfação na minha vertiginosa queda rumo ao abismo que me encontro. Meu rosto sem expressão, essa melancolia estampada em meu ser de forma residente é o fedor que ultrapassa a barreira metafísica e se manifesta no físico. Já não consigo dormir, pensar, sonhar, amar. Estou morto! E sou ateu o suficiente pra reconhecer que a fábula da ressurreição de Lázaro é apenas um conto literário como qualquer outro, como a minha vida que não passou de uma piada de mau gosto.

Não culpo ninguém e culpo tudo e a todos. Foi o momento, a situação, as mazelas absorvidas ao longo de anos de humilhação, lutas, esforços, todos em vão.

Não quero que lembrem de mim como um covarde, quero que lembrem de mim como alguém que teve coragem suficiente para assumir um fato já consumado e torná-lo finalmente físico. Alguém que resolveu dar um salto em meio a toda amargura e desespero, que abriu os braços e pulou daquela cachoeira, fugindo dos zumbis que o circundavam, que também estavam mortos, sendo que ao contrário de mim, eles mentiam pra si mesmos sobre isso.


Eu

sábado, fevereiro 18, 2006

Recomendadíssimo

Venho aqui recomendar a leitura de um texto que saiu no site Pessoas do Século Passado, da fotógrafa, jornalista, atriz, escritora e minha amiga, Rocca Stockler.

Eis o link: http://www.pessoasdoseculopassado.com.br/interna.asp?tid=1579&sid=1

E eis a observação: proibido para menores de 18 anos :P


Rafael

segunda-feira, fevereiro 13, 2006

Opa!

Siguinte,

Escrevi pro blog do Paralelos uma crônica sobre o Padre Pinto. Se vocês não sabem que é, tá bom de ler o texto ein? Ele foi parar na capa da seção de cultura do Globo On-Line, mas não sei até quando fica lá. No momento, o link está embaixo da foto do Mick Jagger. Eis o link pra seção: http://oglobo.globo.com/online/cultura/default.asp?1

E vou deixar o link direto pro blog do Paralelos, porque em breve isso deve sair da capa: http://oglobo.globo.com/online/blogs/paralelos/


Abraços a todos,
Rafael

Arrependimentos - Parte III

* Postado originalmente em 04/06/2005


“Acho que o senhor bateu na porta errada, moço.” “Boa tarde, senhora! Me chamo Fernando e vim falar com a Carla.” – os olhos daquela velha senhora encheram-se de lágrimas e convidou-o para entrar. Fernando entrou meio sem jeito e aconchegou-se num simples sofá, porém bastante confortável. “Vou lhe trazer um café, fique à vontade, moço.” – disse a simpática velhinha que foi para a cozinha o deixando com as palavras engasgadas. Um cheiro forte e gostoso de café saia da cozinha, “Parece o café da Carla!” lembrou o Fernando, e 2 minutos mais tarde a senhora apareceu com um prato de salgadinhos numa simples bandeja de plástico e o café com o açúcar do lado. “Então moço, de onde o senhor conhece a Carla?” – perguntou a senhora com a fronte baixada, ainda, “Pode me chamar de André senhora.” – falou temendo que ela não contasse onde ela estaria se dissesse o verdadeiro nome, “Vim da cidade, viajei muitos dias de carro pra falar com ela, temos um assunto pra conversar e eu não sabia onde ela estava.” – olhando agora seriamente em seus olhos a velhinha estava com os olhos marejados e balbuciou alguma coisa. “Me desculpe! Não entendi senhora.” “Ela está interna no hospital da cidade meu filho, ela não andava muito bem, estava muito mal, não agüentou...” e pôs-se a chorar inconsoladamente. Fernando ficou sem entender a princípio, sentiu-se meio tonto, como se um vazio fosse aos poucos se formando dentro de si, mas tomou fôlego e perguntou gaguejando: “Co-como assim? O que houve? Onde ela está?” “No hospital psiquiátrico meu filho (choro). Ela estava empregada aqui, tava me ajudando muito quando alguém da cidade ligou e disse que ela era mulher da vida e ela foi demitida (mais choro), xingada, jogaram pedra aqui em casa, uma coisa, meu filho!” – Fernando não conseguia entender, será que tinham batido nela, tentaram matá-la? Sentiu seu chão sumindo, um frio percorreu-lhe a espinha e com os olhos cheios de lágrima continuou ouvindo a conversa. “Ela ficou deprimda seu André, chorava todos os dias dizendo que não acreditava que a pessoa que mais havia amado queria acabar com a vida dela desse jeito. Ela ficou muito mal, parou de comer, de tomar banho, todos os dias chorava até que um dia não fazia mais nada. Não falava, tinha o olhar vago e ficou muito desnutrida. Tive que levar ela pro hospital e eles acharam melhor colocar ela no hospital pra ela se recuperar, mas parece que a cada dia que passa ela piora, só fala no nome desse Fernando, ele estragou a vida dela seu André, estragou!” – e continuou a chorar inconsoladamente. Fernando levantou-se se sentindo completamente perdido e agradeceu pelo café. Falou que tentaria visitá-la e encaminhou-se para o carro.

Entrando no carro ele chorou compulsivamente, pensou quem teria feito tal atrocidade, tal crime contra a pessoa que mais amava em sua vida. Pensou em sua família, alguém tinha feito aquilo com certeza. Não tinha tempo de pensar naquilo, queria poder tentar salvar o seu amor e rasgando o pneu do carro correu para o hospital.

“Ela está catatônica. Estado geralmente evidenciado em pessoas que sofreram uma perda muito grande, um grande trauma. Não tenha muitas esperanças, ela dificilmente vai reagir. Toma os remédios via soro já que não se alimenta.” – explicou a enfermeira levando-o para o quarto. Entrando lá, Fernando a viu sentada na cadeira em frente à janela, juraria que estava olhando a paisagem, se não fosse por seu olhar vago. “Vou deixar você à vontade com ela, não acredito que irá precisar de mim aqui.” – disse a enfermeira enquanto fechava a porta atrás dele.

Aproximou-se com certa relutância e sentou-se em frente a ela. Mostrou as flores e ante sua inércia começou a chorar novamente. “Meu amor, sou eu! Não lembra do Fernando? Vim lhe ver, tava com muita saudade e tou arrependido de tudo que eu disse, de tudo que eu não fiz. Por favor me perdoa, Carla! Me perdoa!” – repetia desesperadamente enquanto ela continuava com seu olhar vago, perdido. Tentou balançá-la, abraçá-la, mas não mostrou nenhuma reação. Resolveu ir pra um hotel e voltar no outro dia, agora que estava perto do seu amor, iria ficar com ela indefinidamente.

Foi na enfermeira, pegou o número do hospital e disse que ligaria mais tarde para dizer o nome do hotel onde ficaria. Pediu que lhe relatasse o que acontecesse e despediu-se dela indo em direção a um hotelzinho barato de beira de estrada, “Você merecia ficar na praça com os cachorros” pensou consigo mesmo e desabou na cama.

No outro dia acordou com muita dificuldade, pois não havia dormido bem á noite, tivera muitos pesadelos com a Carla morrendo ligou para o hospital com muita pressa, pois estava tão cansado que não ligara na noite anterior, queria saber como a Carla estava. Chamou a enfermeira, falou com ela por cerca de 1 minuto e meio. Soltou o telefone no chão, seu chão sumira novamente, as lágrimas desciam incontrolavelmente e berrou como um louco. Quebrou o quarto inteiro, não conseguia acreditar no que havia ouvido. A Carla morrera, não havia sido um pesadelo, ele a veria num caixão sim. Poucos minutos após sua saída, ela saiu do quarto, como não estava trancado ainda, ela saiu e foi na enfermaria, pegara um bisturi e cortara os pulsos.

Cronos pulava em cima dele como que percebera as nuvens que circundavam sua cabeça e assim Fernando assustado voltou à realidade. Mais de 20 anos que ele se dirigia àquele lugar e pensava as mesmas coisas, queria-a de volta, ela estava morta e jamais a veria de novo. Arrependia-se de não ter tido a coragem de ir ao encontro dela, onde quer que ela estivesse, mas sabia que merecia esse castigo, viver para sentir todos os dias a dor de ter deixado o verdadeiro amor de sua vida partir.

Eduardo Leite

A Velocidade Do Som

* Postado originalmente em 15/05/2005


Não era tão tarde da noite. O telefone tocava sem saber quem era. Sem saber que em um dos lados eu usava a linha para me comunicar.

Eu chorei nesse dia por algum motivo que eu não consigo me lembrar. Mas quando a tristeza me abraça novamente eu lembro dos dias que chorei, mas o motivo sempre me falha.

Esperei uma palavra amiga, que não veio. Um beijo de namorada que não existiu. E um troféu em um pódio que eu nem mesmo competi.

Minha vida se divide entre miserável e maravilhosamente miserável. Mas acho que eu colhi o que plantei, certo? Mas e se nunca imaginei plantar nada o que agora nasce para eu colher? E afinal para aonde eu vou levar isso tudo se minha casa é demais pequena para caber qualquer um? Ao contrário de meu coração.

Aqui do alto as coisas parecem diferentes. É tarde da noite, eu gostaria que o vento cortasse meu rosto em mil pedaços. Os carros lá embaixo parecem minúsculos assim como as lágrimas.

O que eu desejo procurar entre os homens talvez seja inalcançável ou trabalhoso demais. E tudo me cansa antes mesmo de começar. Já que tudo o que tenho nunca é completo. É como um quebra cabeça que me falta sempre muitas peças, que não acho em lugar algum, pois sempre estão longe demais.

Quando do outro lado do telefone alguém atendeu, eu esperei por uma ajuda que nem lembro se veio. Só sei que aquele dia eu chorei esperando que talvez a pessoa do outro lado pudesse resolver todos meus problemas.

Eu queria me jogar daqui de cima, simplesmente para sentir o vento por todo meu corpo. E para, ao menos uma vez, eu sentir somente o sabor da liberdade.


Thiago Augusto

quarta-feira, fevereiro 08, 2006

A volta

* Postado originalmente em 09/06/2005

Ele voltou sem mais nem menos. Poderia ao menos ter avisado. Pegou todos de surpresa. A mim, inclusive.
Realmente eu não esperava. O que estava acontecendo no momento era praticamente impossível, era o que eu achava. Mas enfim, aconteceu.
E ele não voltou mudado. Não. Voltou igualzinho. Com as mesmas qualidades e defeitos. Com o mesmo jeito. A mesma aparência. E o pior: queria seu lugar de volta.
Sim, porque seu lugar foi ocupado algum tempo depois, por outro. E é quem está nele até o momento. Decidir se ele vai continuar ou se será substituído é uma decisão minha, infelizmente.
E eu não sei o que fazer. Quer dizer, soa estranho isso. Eu sabia perfeitamente o que fazer, antes dele voltar. Claro que sabia o que fazer: nada. Afinal, ele não voltaria, não poderia. O subestimei.
E agora pago o preço.

Passado e presente, frente a frente.
E eu.
No meio.



Rafael Rodrigues

sexta-feira, fevereiro 03, 2006

Tudo ao mesmo tempo agora

* Texto inédito no blog


Onze da manhã. Tirou do bolso o maço de cigarros.

Sentado esperando o ônibus, pensava em como chegou àquele ponto.

Tudo o que lhe servia de chão desabou enquanto corria.

“Aconteceu tudo muito rápido”, pensou.

Enquanto caía, lembrou que não havia rede de proteção. Ela foi removida no apagar das luzes. Quando se deu conta de que podia se levantar, começou a procurar saídas.

Tudo o que tinha em mãos se resumia a algumas roupas, um maço de cigarros e algum dinheiro. Com muita sorte e o mínimo de gastos poderia talvez passar dois meses morando naquele lugar que evita chamar de casa. Precisava encontrar um emprego o quanto antes.

Cigarro entre os lábios, buscou o isqueiro. Foi forçado a alterar o horário de seu vício. Costumava fumar à noite. Antes da queda. Agora seu vício acompanhava sua angústia. Se seus cigarros não lhe custassem boa parte do pouco dinheiro que lhe restava, fumaria durante todo o dia. Precisou impor limites. Eram dois pela manhã, dois à tarde e um à noite. Nessa conta não entram os que ele consegue com estranhos.

Era uma manhã tranqüila. Debaixo da sombra de uma árvore ele aguardava pacientemente o ônibus que em poucos minutos viria a seu encontro.

Sacou o isqueiro. Acendeu o cigarro na terceira tentativa.

Quando deu a primeira tragada, um vento agradável passou por ele trazendo a notícia de que em breve sua angústia chegaria ao fim.

Como que esquecido da realidade, assustou-se ao ouvir repetidas vezes a buzina do ônibus.

Cada vez mais perto.


Rafael Rodrigues